📚Diário De Rebecca📚
25/04/2017
Querido diário, resolvi lhe escrever após muitos anos. Sei que já estou um pouco velha para essas coisas, mas preciso desabafar com alguém.
O Maurício anda muito ocupado com o trabalho e meu pai raramente está em casa. Sempre indo até a delegacia. Logo, não me restou ninguém para conversar. Foi por isso que me lembrei que quando era menina eu ganhei um diário. Foram anos e anos escrevendo cada pequeno detalhe que acontecia nos meus dias. Era divertido e aliviava minha ansiedade.
A partir de hoje, vou anotar cada detalhe que ocorre comigo.
Quem sabe um dia sirva de referência para um roteiro de filme?
Sobre hoje...
Nada me aconteceu. Somente estive na ONG e atribuí algumas tarefas ao pessoal. Alguns voluntários apareceram para ajudar no projeto que criei para limparmos o Rio Muqui.
Espero do fundo do meu coração que dê certo!
Vou ficando por aqui, até amanhã, querido diário...
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29/04/2017
Querido diário...
Hoje meu dia foi estranho.
Desde muito nova, uma de minhas maiores qualidades é nunca ficar doente. Só que hoje passei o dia todo com náuseas. Foi horrível!
Provavelmente foi algo que eu comi. Tenho que me lembrar de ser mais rigorosa quanto a data de vencimento dos produtos que chegam para a ONG.
Não duvido nada de que estejam mandando comida estragada.
Bem, espero que após uma boa noite de sono meu corpo se recupere.
Ate amanhã!
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30/04/2017
Querido Diário...
Minhas náuseas não passaram. Acho que após tantos anos saudáveis, irei visitar um quartinho de hospital.
Acho que desde que me machuquei em uma luta, nunca mais precisei voltar ao hospital. Meu pai conta que até quando eu era criança o pediatra ficava gabando o quanto eu era saudável.
Preciso correr para o banheiro...
Até amanhã!
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01/05/2017
Maio estreou comigo enfrentando uma pequena fila de hospital. Eu não queria ir ao médico, não via necessidade, mas Maurício insistiu tanto que acabei cedendo.
Sério, eu nunca tinha enfrentado uma fila de hospital.
Tirando o constrangimento do atendimento!
Quando falei sobre as náuseas, o médico insistiu no termo “gravidez”. Eu afirmei, veementemente, que não havia possibilidade disso, porém o homem de meia idade não acreditou.
Vê só, ele queria saber mais do que eu!
No final das contas, o médico apenas me receitou um remédio para cortar as náuseas e disse que se persistissem os sintomas, eu deveria retornar, já que vivemos um período repleto de casos de dengue.
Após tomar o tal medicamento, me senti um pouco melhor, graças a Deus...
Espero acordar 100% amanhã.
Até mais!
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02/05/2017
Querido diário...
Acho que realmente estou com dengue. Não é possível. Me senti mal o dia todo e para piorar, uma dor de cabeça infernal está me perturbando.
Já liguei para Maurício e ele combinou de amanhã me levar em Cachoeiro para uns exames.
Ele andou me examinando hoje e disse que estou mais pálida do que geralmente sou.
Isso me incomodou um pouco, por isso estou com uma sensação ruim.
Mas espero que seja bobeira minha...
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03/05/2017
Querido diário...
Tenho algo bom e algo ruim para contar. Por qual deveria começar?
Ok, vamos pela notícia ruim primeiro.
Como eu disse, Maurício me levou até o laboratório do amigo dele para eu fazer alguns exames. Foi extremamente chato passar por todos aqueles procedimentos.
Tiraram amostra de sangue, de urina e depois vieram com um papo de que eu deveria fazer uma ressonância.
Achei super desnecessário tudo isso. Tirando o enjoo e a dor de cabeça, estou ótima. Forte feito um Touro.
Segundo Maurício, eles vão analisar os resultados e quando estiverem prontos me chamarão novamente.
Bem, agora a coisa boa.
Em meio a esse inferno astral, eu senti meu coração acelerando por alguém pela primeira vez na vida!
Enquanto eu aguardava o Maurício no estacionamento, um rapaz chegou em uma grande moto. Quando ele retirou o capacete, senti meu coração saindo pela boca. O cabelo preto sedoso combinando com os olhos também pretos. A camisa cinza emoldurando seu corpo másculo.
Só que tudo ficou ainda mais estranho quando outro rapaz, muito semelhante, somente a frieza nos olhos do primeiro que os diferenciava, se aproximou chamando pelo nome.
Caio.
Uma chuva de memórias me inundou.
Caio e Caiã.
Como eu poderia me esquecer?
Quando eu era pequena, durante um tempo precisei morar em Cachoeiro, por conta do serviço de papai. Me recordo de estar morando com minha tia Marta, em um período de férias de verão.
Eu já praticava artes marciais, logo não era igual as outras meninas. Minhas ações e corpo eram um pouco diferentes, e minhas sardas não me agradavam — com um tempo aprendi a gostar de mim como sou.
Na casa da frente — na realidade, uma mansão — haviam dois garotinhos. Idênticos. E lindos.
A casa era frequentemente visitada. Várias crianças entravam e saíam diariamente.
Minha tia conhecia a dona da casa, aparentemente, eram amigas de cabeleireiro. Por isso, em um churrasco, fomos convidadas.
Me lembro de não querer ir. Sempre ficava excluída nesses lugares. Contudo, acabei cedendo ao pedido de minha tia.
Assim que cheguei, percebi as menininhas me olhando torto. E eu as fuzilei com os olhos.
Foi então que os dois irmãos se aproximaram.
Perguntaram se eu queria ir brincar com o videogame novo deles. Eu acabei aceitando.
Eles eram incríveis. Mesmo que fossem um pouco mimados, eram também gentis.
Quando eu fui ao banheiro, um garoto que aparentava ter uns 13 anos — isto é, dois anos mais velho do que eu — ficou me esperando sair. Assim que pus meus pés para fora, ele se aproximou de forma indelicada.
Recuei e o empurrei.
Ele ficou bravo. E me chamou de “machinho”.
O sangue subiu e na tensão do momento acabei partindo para cima dele.
Foi injusto.
Mesmo ele sendo mais velho e mais alto, eu já era faixa preta.
Dei alguns socos nele, o que abriu um corte por cima da sobrancelha. Quando por fim ele conseguiu ficar por cima de mim e se preparou para me dar um soco, Caio e Caiã chegaram.
Não demorou muito e Caio é quem estava batendo no garoto, enquanto Caiã me acudia.
Os dois só pararam de brigar quando os mais velhos chegaram.
Os pais do garoto saíram enfurecidos, dizendo que isso não ficaria assim e os pais de Caio o colocaram de castigo.
Minha tia fingiu que não me conhecia. Pagou de sonsa, porque sabia que provavelmente eu que tinha atiçado a confusão.
Ela me conhecia bem.
Assim que os adultos voltaram à festa, Caiã e eu fomos escondidos até o quarto de Caio. Levamos gelo, um pouco de álcool e algodão, para tratar dos ferimentos dele.
Quando contei sobre o que houve, eles riram.
No entanto, Caio, carinhosamente, segurou minha mão e disse:
— Não precisa resolver tudo com violência. Machucar outras pessoas e se machucar, não resolve problema nenhum. Apenas gera outros.
Eu pensei comigo: “Nossa! Ele é incrível! Como pode um garoto de nossa idade ser tão maduro?”
Passamos o restante do dia se divertindo. Jogando e comendo.
Depois que fui embora, meu pai voltou e disse que poderíamos ir para casa.
Não demorou muito e minha tia se mudou para o Rio de Janeiro. Então, nunca mais tive contato com os meninos.
Eu também foquei em minha carreira como lutadora, então abri mão de várias coisas durante minha adolescência. Logo me esqueci daqueles dois garotos.
Quem poderia imaginar que apareceriam em minha frente assim?
Infelizmente, não pude ir falar com eles. Maurício chegou um pouco nervoso, querendo voltar logo para casa.
Bem, se for da vontade de Deus, hora ou outra vou me esbarrar neles novamente...
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