19 De Maio De 2017 - Parte 3
O sol que passa pela persiana bate em meu rosto, então eu acordo. Para o sol estar nessa posição, deve ser tarde.
Pego o celular e vejo que já são 13h.
Estou com o corpo dolorido. Porra, não nasci para esse trabalho duro.
O domingo passa voando – comigo parecendo um zumbi. Quando percebo já está na hora do jantar.
Nos domingos nossa empregada – a única mulher que entra nessa casa além de minha mãe – não vem, então ora o Caiã inventa algo para cozinhar, ora pedimos delivery.
Optamos por pedir comida, hoje. Após comer, tomo banho e depois me jogo na cama. Estou olhando para o teto. Não sei bem o motivo, mas tô pensando no diabo. Opss! Rebecca – se bem que a comparação faz jus.
É uma pena ela ser tão bipolar. Será que ela tem rede social? Dou-me uma tapa mental. Otário. Todo mundo tem rede social hoje em dia.
Procuro por 'Rebeca Martins' no facebook e aparecem vários perfis, mas nenhum é o dela. Bem, como ela é um pouco estranha, o nome dela deve estar no mesmo nível. Por isso acrescento um 'c' a mais e então aparece o perfil dela.
Hesito um pouco antes de clicar, mas a curiosidade está me matando, o que me faz abrir a página dela.
Pelo visto o Maurício falou a verdade ao dizer que é o melhor amigo dela, porque puta que pariu, o que tem de marcação dele com ela. Se fosse eu teria bloqueado esse babaca há muito tempo.
Na biografia dela tem as referências básicas e uma frase de efeito: "Treinar e lutar é o melhor para fortalecer o corpo e a alma.".
Poético.
Também explicita a profissão dela – que é professora de defesa pessoal. Pelo visto ela já ganhou várias competições de judô e jiu-jitsu.
Faço outra nota mental de não zangá-la o suficiente para ela me bater.
Rolando a página vejo uma foto que me chama a atenção. Nela Rebecca está ao lado de um homem mais velho fardado. Pelo visto é um PM.
Troco de rede social – vou para o Instagram – e puta que merda, como ela está linda nessas fotos.
Ao que parece ela foi escolhida para uma campanha de "Salve o meio ambiente" em que posou para as fotos em um estilo bem Katty Perry no clipe "Roar".
No perfil dela também tem muitas fotos com um Pastor Alemão preto – rolando a página vejo fotos dele filhote.
Na primeira foto com o fedorento ele está com o focinho enfaixado e na descrição ela diz que o encontrou na rua e que ele estava extremamente machucado.
Há muitas fotos dela, sozinha e com outras pessoas, ajudando mendigos, famílias pobres, fazendo protesto contra derrubada de árvores e coisas do gênero.
Nas fotos de cinco anos atrás ela está com famílias de algumas localidades da África (a parte mais pobre pelo jeito).
Porra, quem é Madre Teresa perto dessa garota?
Fecho a página e percebo o quanto estou excitado pelas descobertas que fiz sobre Rebecca Martins.
Não consigo tirar as fotos da campanha da cabeça. O estilo meio Tarzan valorizou tudo o que ela esconde com aquela camisa tamanho GG.
Bato uma, pensando na foto dela e depois vou dormir.
Nunca mais olharei para ela do mesmo jeito.
***
Cheguei no horário na segunda-feira. Rebecca saiu logo depois que falamos com ela. Caiã teve que voltar para o escritório. Maurício ficou atendendo pacientes e eu tô aqui nesse sol desgraçado. Carregando coisas pesadas.
Cerca de três horas se passam. Estou exausto. Olho ao redor procurando uma árvore – ou qualquer outra coisa que sirva de abrigo – e só vejo as construções e reformas.
O jeito é descansar aqui mesmo.
Que mundo injusto, com tantas outras coisas que tenho para fazer, sou obrigado a ficar aqui sob esse sol escaldante, carregando peso e descansando sobre papelão igual a um mendigo.
Puta que pariu.
— Tio, quer água?
Abro os olhos e vejo a garotinha magricela, estendendo a mão com uma garrafa de água.
— Até que enfim.
— Agradecer é sempre bom...
Rebecca sentou-se do meu lado e a magricela em seu colo.
— Vai mandar seu papai me prender se eu não agradecer?
— Se dependesse do que eu quero você já estaria preso.
— O que eu te fiz para você me odiar tanto?
— Você também não fez nada para que eu goste.
— Tia... Posso brincar ali com a Hanna?
— Pode sim, só tome cuidado e fique por perto.
É a primeira vez que eu fico sozinho com ela e, puta que pariu, não sei o que dizer.
— Como soube que meu pai é um PM? – Rebecca quebra o silêncio.
Puta merda, como falo que fucei as redes sociais dela? Melhor enrolar.
— Você é bem durona. Deu para perceber que não foi criada para ser frágil.
— E só por isso deduziu que meu pai é policial? – Seu olhar me analisou por um instante.
— Na verdade eu vi no seu perfil do Facebook. – Nem sei o porquê, mas a verdade saiu por minha boca.
— Imaginei.
— Você luta?
— Lutava. Agora eu só treino as crianças.
— Por que parou?
— Acho que sou melhor cuidando das pessoas do que batendo.
— Você venceu muitos campeonatos?
— Alguns. – Acho que minha expressão revela minha curiosidade, porque ela respondeu — Dez. Venci dez campeonatos. No último eu... – ela suspira profundamente — eu quebrei a perna de uma competidora.
Acho que ela não está a vontade falando sobre isso, mas mesmo assim ela respondeu. Ela está se abrindo comigo. O máximo que posso fazer é dar um sorriso complacente.
— Eu não queria. Meu lance sempre foi a competição. Lutar simplesmente, mas ela sussurrou algo e eu perdi o controle por um momento. Eu tinha apenas dezesseis anos na época.
Os lindos olhos verdes estão agora inundados. Porra, nunca vi ninguém – além da puta da Ana – chorar na minha frente. Não sei como devo agir. Meu único impulso foi dar tapinhas nas costas dela.
Ela enrijeceu.
Por uma fração de segundos passa por minha cabeça que ela sentiu o mesmo que eu: um calafrio percorrer seu corpo.
Mas esse devaneio se vai ao momento em que ela se levanta, passa as mãos pelo rosto e fecha a cara.
O diabo está de volta. Por um instante pensei que ela fosse uma mulher normal.
Me enganei.
— Volte a trabalhar. O promotor não gostará de saber que você está gastando o seu tempo com conversa fiada.
Bipolar do caralho.
Ela olha para os lados freneticamente e seu rosto se empalidece.
— Cadê a Celly?
— Ela disse que ia brincar, não disse? – Não entendi o chilique.
— Ela não pode ficar sozinha.
— Por que não? Ela já é bem crescidinha.
— Ela tem diabete aguda!
Eu gelei. Não entendo muito de medicina, mas isso me parece ser grave. Afinal tem o 'aguda' no meio.
— Ela está tendo desmaios constantes. Temos que encontrá-la.
Rebecca está claramente desnorteada. Em apenas um dia ela está me mostrando mais faces do que imaginei.
Temos que encontrar essa pirralha.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro