Parte 2
O primeiro mês após o acidente foi muito difícil para Alana. Ela sentia muita falta dos seus amigos. Só saia de casa para ir ao trabalho e comprar coisas de necessidades básicas. Ela não queria nada de sua mãe, nem ao menos falava com ela direito, somente quando extremamente necessário e palavras monossilábicas quando sua mãe tentava alguma conversa.
O que mais irritou Alana nesse período, foi que dona Lígia estava sempre fazendo com que a filha se encontrasse com Marcos. Lígia não tinha desistido que sua filha se aproximasse do jovem.
Nisso ela ganhou, seis meses depois do acidente Alana e Marcos começaram a se aproximar. Não ficarão juntos, como sua mãe queria, mas se tornarão bons amigos. Poucas coisas haviam mudado. Alana começou a trabalhar em um ateliê de arte que tinha na cidade, trocando seu antigo trabalho fora de sua área profissional. Ela decidiu procurar um apartamento que seu salário poderia pagar. Não queria mais morar na casa com sua mãe, ela já a tinha aguentado por muito tempo.
Mesmo parecendo que Alana havia superado o acidente, ela era assombrada por este passado. Nunca saiu de sua cabeça o que tinha acontecido naquele carro. Ela se culpava pelo que tinha acontecido.
Vitor teve uma discussão com a garota, por motivos fúteis, mas que o deixou com a cabeça nervosa. Uma consequência do álcool ingerido na festa, já que aquele garoto raramente ficava com a cabeça quente.
Tinha muitas coisas que Alana queria esquecer, decidiu então apagar aquele triste ano da sua mente, decidiu que deixaria sua mãe moldá-la, quem sabe ela não conseguiria esquecer tudo o que tinha acontecido naquele início de verão? Destrancou o curso de arquitetura e esqueceu a ideia de se mudar. O trabalho no ateliê, se demitiu, creia que só iria destrai-la do seu objetivo.
Mas ela cometeu um terrível engano, não se pode mudar a personalidade de uma hora para outra, jamais. Era, exatos, um ano desde o dia do acidente. Alana estava indo para um evento, quando passou pelo cemitério. E por ironia do destino, ela decidiu olhar para o lado, se lembrando que dia era aquele.
Se ela não tivesse olhado, se ela tivesse mantido os olhos para frente naquele maldito sinal, ela não teria se lembrado, ela teria deixado aquela dor trancada em seu peito, por mais algumas horas.
Seguiu para o túmulo de um dos seus amigos, Pedro. Ele era seu amigo de infância, um vivia na casa do outro, noite e dia. Sua mãe o adorava, como ela teve coragem de ignorar a morte do seu próprio afilhado. Por um momento, Alana teve ódio de sua mãe, pensando que ela era um monstro por ser tão fria com algo tão sensível. A mãe de pedro, ficará arrasada, foi pedir ajuda para Lígia, mas a mesma não quis ajuda-la. Ela percebeu que sua melhor amiga, não era o que ela sempre acreditou ser.
Alana afastou aquele pensamento, quando percebeu que ela também era um monstro por ter deixado aquele acidente acontecer. Pobre criança.
Afinal ela era a culpada por esse acidente, bom, era o que ela pensava, mas aquele acidente não foi só um erro do destino, realmente tinha um culpado. O caminhão que tinha colidido com o carro estava fugindo da polícia, ele estava carregado de drogas pesadas, como LSD e crack, além de armas de fogo.
Apesar de Alana estar de joelhos no túmulo de seu amigo, as lágrimas não vieram, não porque ela era uma pessoa sem coração ou porque sua mãe havia lhe tirado a capacidade de chorar ou que ela não era mais capaz de sentir luto por uma amigo falecido, mas porque ela sabia que ele não a queria triste, porque Vitor se sacrificou para manter ela salva, e ela sabia disso.
Pegou em sua bolsa um caderninho e uma caneta escrevendo as um pequeno texto ao amigo falecido:
"Eu sei que deveria seguir a minha vida, não me prendendo ao passado. Mas não importa o que eu faça, o passado não sai de mim. Eu me pergunto se estaríamos todos juntos nesse momento se eu não tivesse descoberto aquele bilhete no porta-luvas do carro. Ou se tivéssemos ido mais cedo ou mais tarde da festa. Não sei se quero seguir em frente, eu quero a minha vida antes do acidente, onde não tinha que carregar o fardo de vocês estarem mortos.
"Pedro, eu preciso de você, de todos vocês. Minha mãe está mais paranoica do que nunca, as coisas que ela faz com a minha vida estão me deixando cada vez mais maluca. As vezes eu acho que eu não posso confiar em ninguém, nem mesmo em mim.
"Eu sinto muito a sua falta."
Terminou de escrever a carta, dobrou-a e colocou em um lugar na lápide que ninguém conseguiria ver. Assim que terminou, seu celular começou a tocar, era Marcus.
Marcos estava preocupado. Eles tinham combinado de se encontrar um pouco antes do evento começar. Ele queria pedir um favor para ela. Mas isso nunca aconteceu por motivos que já serão explicados.
-Onde você está? - Ele perguntou com sua voz mais singela de preocupação. - Estão todos te esperando para poder começar. - Falou do outro lado da linha.
- Eu não estou com cabeça para isso. - respondeu tentando esconder ao máximo a voz de choro. - Vocês podem começar sem mim. Eu não sou tão importante nesse evento. Quanto você e minha mãe.
-O que ouve? - Ela nem precisou responder, ele já a conhecia bem para saber o que era. - Me diz onde você está que eu vou lhe buscar!
- Não precisa eu estou de carro. - Falou tentando mostrar o máximo de confiança possível, não queria ver ninguém naquele dia
Sem mais nem menos ela desligou o celular, e foi embora. Ela não sabia para onde ia, na sua casa não era uma opção. Seria o primeiro lugar que procurariam ela. Ficou vagando pela rua até se lembrar de um lugar onde poderia ficar, um lugar que ninguém imaginaria que ela iria querer ir. O apartamento do Marcos.
Enquanto ela ia para o apartamento, que por sinal, possuía a chave reserva, Marcos teve uma séria conversa com a mãe de Alana. Mesmo sabendo do que ela já lhe havia causado, ele creia que ela a tinha perdoado. Mas só tinha deixado tudo no fundo do coração.
-Lígia, eu acho que a Alana está com com problemas.
- Porque diz isso? - Lígia perguntou calma. Não se importava com a filha, tanto quanto a sua reputação
-Ela estava com uma voz fraca, - Descreveu a sensação que teve ao ouvir a voz da garota ao telefone. - parecia que ela estava chorando. E também disse que não vai vir.
-Vamos procurar-la. - Afirmou, mas na verdade, ela não estava afim de procurar a filha. Estava muito bem onde estava.
-Não, eu vou, você ainda tem o discurso. - Era isso que Lígia queria ouvir. Era isso que ela queria. - Eu vou.
Ele saiu do evento onde estavam e foi para a casa de Alana, pensando que ela poderia estar lá. Porém quando chegou em seu destino, lembrou que a chave que a Dona Lígia havia lhe dado na metade do ano anterior porque Alana sempre pegava a chave da mãe quando ela saia para que a mesma não voltasse, estava em sua casa.
Alana estava sentada no sofá, acariciando os pelos da gata albina, quando ficará branca com o barulho da porta sendo destrancada.
- O que você está fazendo aqui?- Marcus perguntou espantado ao se deparar com a garota sentado no sofá do seu apartamento e segurando a sua gatinha de olhos bicolores. Para ele a garota estaria em sua casa assistindo filme no seu quarto comendo pipoca, e não sentada no seu sofá com a pequena Nevasca no colo.
- Eu precisava de um lugar para pensar. - Respondeu depois de um tempo, colocando a gata de lado ao se levantar. - Não sabia que voltaria mais cedo.
- Tudo bem. - Ele chega mais perto dela. - Eu estava te procurando."
- Eu acho melhor eu ir.- Afirmou pegando sua bolsa do sofá.
- Não precisa. - Ele a interrompeu, seu caminhar ao pegar em sua mão - Quer conversar?
Ela se sentou no sofá novamente, com a mão na cabeça e os cotovelos apoiados em suas pernas.
- Você sabe que dia é hoje? - Pergunta tocando ainda mais na ferida já aberta.
- O dia em que sua mãe vai dar um discurso no lugar do diretor do hospital? - Ele não se lembrava muito bem do que tinha acontecido no ano anterior. Ele se lembrava mais das discussões que tiveram ao se conhecer.
- Hoje faz exatamente um ano que houve o acidente.- Olhou discretamente para o lado em que Marcos estava. Alana deu eu suspiro antes de continuar -Eu não aguentei tudo que está acontecendo, então vim para cá, imaginando que esse seria o último lugar em que me procurariam."
Houve um silêncio ensurdecedor, ninguém conseguia dizer uma única palavra. Alana estava se esforçando para não chorar naquele momento, não queria que ele a visse naquele estado, que parecesse ainda mais fraca. Já Marcos, começou a se lembrar do dia em que seu irmão morreu, quando uma lágrima escapou de seus olhos
- Eu sei como é perder alguém que amamos. - Revelou pegando em sua mão. -Meu irmão morreu quando eu estava no primeiro ano, ele era meu melhor amigo.
-Eu sinto muito, eu não queria que você se sinta mal - ela fala segurando em sua mão.
- Você não precisa sentir pena dos outros nesse momento tão delicado de sua vida, o que passou, passou. Não tem como mudar. -Marcos percebeu que a garota estava quase chorando, segurando as lágrimas para não escapar. Ela deu um longo suspiro, e ele segurou seu rosto com suas duas mãos. - Escuta, seus amigos podem ter morrido naquele acidente, mas eles não iriam querer ver você triste por causa deles, eles iriam querer que você seguisse em frente.
Por um momento, Alana sentiu que isso poderia ser um começo, mas lembrou-se de sua mãe, que nunca deixaria ela recomeçar verdadeiramente, ela a teria em sua mão até o momento em que saísse de sua vida
Marcos deslizou suas mãos até os ombros da garota imaginando o que ela estaria pensando.
- Não importa o que sua mãe faça, você não pode deixar ela fazer as escolhas por você, você tem que tomar a frente de sua vida. - Ele não era a primeira pessoa que falava isso a ela. Vítor também falou, logo antes dela decidir mudar de curso.
Era aquilo que Alana queria. Ser independente de quem quer que fosse, mas se ela decidisse ser ela mesmo, acabaria entrando em uma depressão sem fim. Naquele momento ela desabou. Não aguentou, as lágrimas começaram a rolar descontroladamente pelo seu rosto. Marcos abraçou a garota. Ela precisava de todo o apoio o possível.
As lágrimas foram rolando, uma por uma per seu rosto. Apesar de já ter se passado um ano, Alana sente como se nem tivesse passado um dia. Para ela é um pesadelo. Pensou na amiga, que não veio a falecer.
Izadora estava em coma, nada que fizeram foi o suficiente. Alana se afastou, criou a esperança de que a Dora estava em uma longa viagem para a casa de algum familiar e que estava passando pelo seu luto se afastando.
Por isso ela fugiu, por isso ela não foi ao hospital ver a sua mãe discursar. Izadora estava lá, em algum dos quartos. As lágrimas pouco a pouco foi cessando e ela apenas ficou abraçada em Marcos, que tentava de qualquer maneira tranquilizá-la. Ele se afastou um pouco e ficou observando ela. Os olhos inchados, as bochechas vermelhas, a alma cansada. Essa era a melhor descrição para ela, cansada.
- Você quer que eu faça um chá para você? - Marcos ofereceu preocupado. Alana apenas balançou a cabeça positivamente, não queria parecer mal educada. Ela já tinha invadido a casa dele.
Marcos se levantou e foi até a cozinha, colocou a água na chaleira para ferver e voltou a se sentar no sofá.
Alana não queria pensar em nada, só gostaria de estar no mesmo lugar que a amiga. Não queria carregar a culpa em seus ombros. Em um ingênuo movimento, encostou a cabeça no ombro do homem do seu lado que lhe abraçou da maneira mais protetora o possível. Ninguém fazia ela se sentir assim, segura, não desde o ano anterior. Marcos realmente se tornará um grande amigo, um confidente para Alana, mas ele não queria ser um simples amigo. Ele realmente se apaixonou pela garota, mas sempre respeitou o seu espaço. Sempre respeitou seu luto
A chaleira começou a chiar na cozinha e Marcos se levantou para poder pegar o chá. Serviu em duas canecas e entregou uma para Lana, que olhava para baixo. Ela pegou a caneca e agradeceu baixinho, respirou fundo e ergueu a cabeça.
Marcos tinha razão, ela não podia ficar assim, mas como ela iria ficar melhor naquele dia? Mas como um fleshs de lembrança, se ligou que é melhor compartilhar sofrimentos do que sofrer sozinho.
- Você nunca me contou do seu irmão. - Disse sem querer ser intrometida. Só querendo alguém que sofreu algo parecido -Eu nunca soube que você tinha um irmão até hoje.
Marcos olhou para a garota que o estava observando. Realmente ele nunca fala do irmão, mas não é algo que ele goste de se lembrar. Ao olhar para o olhar perdido da garota, ele percebe que ela está sofrendo tanto, que a dor dele pode amenizar a que ela está sentindo.
- Ele teve leucemia. - Respondeu com a cabeça entre as pernas. Levantou a cabeça respirando fundo, passa a mão nos cabelos e volta a falar. - Descobrimos tarde demais, não pudemos salvá-lo."
- Por isso você virou um oncologista. - Ela sussurra tímida. - Por causa do seu irmão.
Aquilo não era uma pergunta, era uma afirmação. Ele realmente se tornou médico por causa do irmão. Depois que Alan morreu, Marcos desistiu do seu sonho de ser jornalista para poder ajudar mais e mais pessoas no mesmo estado que a sua família, para poder vencer aquela dor, decidira ajudar muitas pessoas a vencerem essa doença terrível que mata tantas pessoas pelo mundo.
- Ele ficaria muito orgulhoso de você.- Alana finalmente encara seus olhos claros. Seu coração, que antes batia em um compasso triste, começa a acelerar, no som da esperança.
Marcos coloca uma pequena mecha do cabelo da garota atrás da orelha e começa a se aproximar, cada vez mais perto até que seus lábios finalmente encontram os daquela garota que estava em seus sonhos por tempo demais.
Alana não tenta impedir, ela não querria. Apenas retribui o beijo tentando esquecer a dor em seu peito. Ela precisa superar, não podia simplesmente viver no passado. Uma lágrima escorre do seu rosto e ela se afasta, abaixando a cabeça. Ela não queria estar pronta para abrir o seu coração, mas ao mesmo tempo, ela não quer ficar com ele fechado para sempre. Se ela teria que abrir o coração um dia, qual seria o problema de ser naquele momento?
- Desculpe. Eu não deveria"
- Tudo bem. - Ela colocou a mão em cima da dele. - Eu sou tão culpada quanto você.
- Você quer que eu prepare um banho para você? - Ele oferece preocupado por ter beijado ela, mas sente realizado e ao mesmo tempo.
- Não. - Ela fala mais calma, mas com a voz ainda pesada por conta do choro. - Eu só quero descansar.
- Você pode dormir no meu quarto. - Ele oferece. Não queria que ela voltasse para casa naquele estado, nenhum deles estavam em condição de dirigir por causa do momento sentimental que tiveram.
Eles se levantam e ele a leva para seu quarto. Abre a porta do quarto e deixa a garota passar.
- Você pode me chamar se quiser, ou vou estar na sala. - Ele começa a fechar a porta, mas antes de fazer, Alana segura em seu braço e fala baixinho, como se não quisesse que ele ouvisse, mas ao mesmo tempo não querendo ficar sozinha.
- Por favor, fique.
Eles se deitaram na cama. Alana se aconchega mais no peito do Marcos e fechou os olhos, querendo apertar o botão de reset da vida e começar tudo de novo, mas ela não podia, então apenas adormece nos braços dele. Pela primeira vez eles dormem assim, um protegendo o outro de seus pesadelos, pela primeira vez de muitos.
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Fala mon amour!
Foi muito dificil reescrever esse capitulo, ele é muito sentimental. Eu espero que vocês entenderam que pulou um ano desde o primeiro capitulo. Este é uma novela, e novelas são um formato mais curto, sem tantos detalhes assim. Mas eu to fazendo bastante detalhado até!
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