CAPÍTULO 3 - Diretório
Francis sorriu para Nessie assim que ela desceu do táxi, agradecendo pela facilidade que foi encontrar um livre para lhe levar em pleno sábado na 7ème arrondissement – o bairro mais rico de Paris – e avançou em direção ao prédio. Ele lhe desejou boa tarde de uma forma animada de quem sabia que ela ainda estava bêbada e acenou enquanto Nessie subia até o seu andar pelo elevador.
Observou a comodidade do seu apartamento e suspirou, jogando a bolsa sobre uma mesa de vidro, passando pela cozinha de inox intocada e seguiu até o quarto, arrancando os saltos, ligando o celular no carregador e arrancando a roupa diretamente para o banheiro.
Foram quase uma hora de inspeção ao constatar que não, ela não havia transado com ninguém na noite passada até sair enrolada no roupão e com uma toalha na cabeça. O celular já estava ligado e com bateria quando ela o pegou em mãos e notou o desespero de Judith e Gabrielle para saberem onde ela estava.
Se limitou as poucas palavras para dizer que estava viva e que nunca na vida iria passar por outra experiência como aquela. Tequila e Judith não era uma boa combinação, principalmente quando vinha acompanhada de uma bela dose de ressaca.
Se aconchegando nos edredons da sua cama, ela tentou descansar antes de ver os e-mails da conta da Acier que havia aterrissado no seu colo, feito uma bomba prestes a explodir e se preparar para a reunião que teria com o diretório na segunda-feira de manhã.
Por volta das 20h o celular que ela estava ignorando começou a tocar de forma fervorosa e incansável. Se fosse alguém do trabalho teria desistido da primeira vez que ela não atendeu e só insistira se fosse algo realmente importante.
Tateando a cômoda onde ele se entrava, Ness atendeu o telefone sem nem notar quem ligava.
— Oui. — Deu o típico cumprimento francês. A voz que chegou aos seus ouvidos foi uma surpresa quem e agradável.
— Oui, Nessie. — Respondeu Maximillian Le Blanc com sua voz rouca e sensual. — Te atrapalhei? — Ela engoliu a seco enquanto o francês arrastava seu sotaque por seu ouvido.
— Não, está tudo bem. – Disse fechando o computador no seu colo e o afastando para o lado. — Precisa de alguma coisa? Está tudo bem?
— Eu ia te chamar para tomar alguma coisa comigo. — Só a ideia de ingerir qualquer gota de álcool fazia uma pontada de dor assolar sua cabeça. — No pub que tem perto do Champ de Mars. Tem uma vista ótima para o Rio Sena... — Ele começou com teu jeito encantador.
— Max, eu... — Ness estava pronta para cortar o assunto quando ele pigarreou audivelmente, sobrepondo sua voz.
— Eu não aceito não como resposta, Nessie. Estou passando na sua casa daqui 20 minutos, esteja pronta. — E desligou.
Ness olhou para a tela do celular estupefata. Havia quase se esquecido que Max era capaz de derrubar todas as suas barreiras e a convencer a fazer coisas que normalmente ela seria contra. Foi esse um dos motivos que a levou a querer se afastar e terminar o relacionamento, já que apesar dele ser o cara mais bonito que ela colocou os olhos, eles seriam melhores como amigos.
Erguendo-se relutante da cama, ela foi até o banheiro e tomou um banho rápido, secando o cabelo da melhor forma que pode para que ele parecesse menos do que completamente lisos e se maquiou com mais afinco do que normalmente. Era quase involuntária a vontade que tinha de parecer bonita perto dele, talvez fosse seu ego não querendo ser ofuscado, talvez fosse a expectativa de que ele a olhasse por mais de uma vez – o que normalmente era algo que acontecia.
Ao findar dos 20 minutos impostos, Nessie jogou o casaco sobre a camisa decotada – seus seios eram grandes demais em relação ao restante do seu corpo e para os parâmetros franceses de roupas e mulheres, sempre seria difícil encontrar algo que lhe caísse perfeitamente bem.
O jeans escuro combinava com as botas de cano curto e ela estava com um estilo casual e descolado que normalmente deixava de lado. A campainha tocou e ela tomou um susto, secando as mãos nos jeans e pegando o celular e o enfiando dentro da bolsa preta e pequena que pegou.
Abriu a porta e Max abriu o sorriso.
Max era lindo. A pele negra entrava em contraste com os dentes brancos, os olhos de um castanho brilhoso, tão escuro que contrastava com as maças do seu rosto, os cabelos raspados, tão alto e musculoso quanto um jogador da NBA e carismático como nenhum outro.
— Oi. — Ela disse assim que abriu a porta, vislumbrando sua aparência. Um jeans largo, botas e uma camisa preta que quase dava para contar os músculos do seu abdômen. — Vamos?
— Ness, você não cansa de ser bonita? — Ele questionou enquanto ela fechava as portas do apartamento e jogava as chaves dentro da bolsa. O encarou com os olhos verdes de forma debochada e ele abriu um sorriso digno de comercial de pasta de dente.
Max beijou sua bochecha e colocou a mão na base da sua coluna, como sempre fazia. Ela não sabia se aquele era um gesto protetor ou possessivo na maioria das vezes.
— Eu nem me arrumei. — Piscou os enormes cílios para ele, que riu.
Apesar de não ser muito longe dali, eles entraram no carro de Max que estava estacionado no meio-fio em frente o seu prédio e seguiram durante nem 15 minutos até o pub. Era um lugar bonito, as paredes rústicas e a maioria dos móveis pareciam de carvalho, janelas de vidro davam para o rio Sena e as luzes alaranjadas eram aconchegantes e davam um clima de intimidade.
Não estava vazio, mas também não era como se fosse fácil achar uma mesa. O movimento animado fez com que Nessie encolhesse os ombros e se animasse para um único drink, ainda que torturante para seu estado ébrio da noite passada.
— A gente precisa muito conversar. — Max disse quanto puxava uma cadeira para que ela se sentasse e ditava o seu pedido para o garçom com agilidade. Nessie ergueu as sobrancelhas para ele enquanto esperava sua animação ser explicada.
— Finalmente arranjou uma namorada? A que você apostou depois de mim não era lá essas coisas. — Ele revirou os olhos, a fazendo rir.
— Olívia era bem legal, ok? Tinha alguns problemas com ciúmes? Tinha sim, mas no fundo no fundo, era uma boa pessoa.
— No fundo do fundo do fundo, você quer dizer. — Afirmou. — Ela era louca, Max. Ela foi até o meu prédio e atormentou minha vizinha durante dois dias!
Ele deu os ombros erguendo as mãos.
— Sinto muito, mas... — Ela revirou os olhos. — Não foi minha culpa exatamente. Nossa relação mesmo depois de termos terminado é boa demais e as pessoas não entendem como pessoas maduras resolvem as coisas nos dias de hoje.
A cerveja artesanal que ele tinha pedido chegou e Nessie ergueu a caneca gigante e deu um gole. O líquido desceu por sua garganta, menos agressivo do que as que ela costuma tomar e sorriu pela escolha que ele fez.
— Certo, isso é verdade. — Concordou. — Você precisa deixar bem claro que somos amigos ou elas serão todas piradas.
— Amigos? Eu e você? — Subiu uma das grossas sobrancelhas em sua direção. — Yverness Amanda Ross, se eu não encontrar ninguém até os 30 anos eu te sequestro, te levo de volta para a Escócia, caso com você e vivo o resto da vida usando saia com o peru balançando feito um escocês nato! Iremos nos casar!
Ela jogou a cabeça para trás, gargalhando.
— Só tenho mais dois anos de solteirice então?
— Está animada com a hipótese ou duvidando da minha capacidade de encontrar um amor nos próximos dois anos? — Ela ergueu a sobrancelhas.
— Eu opto por não fazer comentários, mas — Ergueu o dedo pontual. — Digamos que a segunda opção...
Max riu, um som animalesco e afrodisíaco que fez com que todas as mulheres próximas olhassem para eles. Ele colocou a mão sobre o peito, se sacudindo em meio ao riso e ela negou com a cabeça.
Aí, Aí Max....
Mas o pub não estava sendo frequentado somente por eles. Do outro lado, perto do bar ao lado do Rio Sena, um grupo de amigos conversavam alto e animadamente quando Marcel cutucou Kristoff que voltava com a caneca de cerveja na mão.
— Ei. — Ele chamou, indicando a mesa há alguns metros de distância. — Aquela não é a menina bêbada de ontem?
Stark ergueu o rosto para encarar a mulher que ele havia indicado e Kristoff sentiu o peso da tigela de ração no seu rosto como uma lembrança assombrosa e fez careta.
— É, é ela. — Afirmou e grunhiu, a lembrança daquela garota não era a das mais agradáveis. Tinha medo de que ela lhe arremessasse mais alguma coisa e lhe arrancasse o olho como quase fez mais cedo. — Garota louca.
— Ela é muito bonita, Kristoff. — Stark disse, erguendo as sobrancelhas para o amigo. Kristoff a encarou de novo e notou que ele estava certo.
Havia notado o quão bonita ela era na noite passada, mas ela parecia psicótica enquanto lhe atacava em seu apartamento o que o fez ficar confuso. Ali, enquanto ela se mexia com elegância e sorria feito alguém normal, ele podia notar que ela era realmente bonita demais.
Os cabelos loiríssimos caindo até a metade de suas costas, o rosto redondo e branco demais, as mãos finas de dedos e unhas cumpridas bem pintadas, os olhos verdes emoldurados por cílios gigantes, lábios grandes e rosados, sorrindo para o homem a sua frente com o nariz arrebitado. Ela era magra, bem magra, mas o volume dos seus seios parecia incomum, mas não feio, os quadris pareciam mais largos também, e sua cintura era bem fina, como havia notado antes quando ela estava desmaiada em cima dele.
— Parece que sua namorada bêbada está acompanhada. — Stark riu, dando as costas para a garota. — Nem começou a já levou um chifre? Kristoff, Kristoff... Eu sei que já aconteceu uma vez, mas você precisa de relacionamentos com o mínimo de fidelidade na sua vida! — Marcel gargalhou e Kristoff revirou os olhos.
— Muito engraçado, James. — Ele apoiou-se na bancada encarando o amigo. — Igual você com suas belas namoradas. Sempre uma pena elas nem saberem que você existe. A propósito, como anda Isabelle?
Aquilo foi o suficiente para o amigo calar a boca.
— Meu Deus, vocês são duas garotinhas. — Marcel disse, antes de focar em uma das garotas que se aproximava do bar e Kristoff fizesse o mesmo, ignorando a presença da bêbada por ali.
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As 8h da manhã, na segunda-feira, enquanto Yverness se olhava no espelho antes de ir trabalhar, não tinha nem lembranças do que havia acontecido na sexta-feira passada. Havia dedicado o domingo inteiro para dormir, comer e ver o que diabos a maior empresa do país havia feito consigo mesma.
A saída com Max havia feito bem para o seu humor e ela esperava que a semana passasse o mais rápido possível para poder ter mais dois dias de pura paz.
Ela alisou a saia lápis preta que usava, sentindo-se poderosa em cima dos enormes saltos finíssimos do scapin que tinha nos pés e vislumbrou a imagem que a camisa branca de gola e com um pequeno decote em gota sobre os seus seios lhe proporcionava, além das mangas que se abriam próximas as suas mãos, com detalhes em preto. Os cabelos de Yverness estavam mas as pontas enroladas e ela havia caprichado mais na maquiagem aquela manhã, pousando os óculos escuros grandes sobre o nariz e pegando a enorme bolsa preta sobre a mesa.
Gabrielle disse que ela deveria estar em frente à sede as 8h30 e não se atrasar, pois às 9h em ponto queria colocar em ação os planos para tirar Acier do buraco.
Gabs usava um vestido preto sofisticado quando Ness subiu as escadas até a entrada da empresa e cumprimentou os dois advogados que estavam com ela, Peter e Paul, quase uma dupla musical. A entrada deles foi autorizada e subiram ao último andar, indo até a sala de reuniões.
Seriam duas das reuniões aquele dia. Uma, com todos os acionistas da empresa, junto com o grupo de advogados da Deveroux & Russell, depois ela e o diretor executivo e financeiro da empresa iriam encontrar um ponto de partida para lidar com o problema.
— É incrível como Dolohov se enfiou nessa. — Gabrielle cochichou no seu ouvido enquanto abria a pasta e tirava o notebook de dentro. — Ele é super novo, mas é muito profissional, seu trabalho até aqui foi impecável.
— Como assim? — Franziu o cenho confusa e Gabrielle se ajeitou na mesa para poder falar melhor.
— Ele assumiu a empresa com 22, logo quando saiu da faculdade. É um gênio. — Ness não parecia convencida. — Um gênio privilegiado, é claro, o avô dele é o fundador da Acier e sua mãe parecia mais ocupada em arranjar outro marido do que assumir a empresa. — Nessie ergueu as sobrancelhas e assentiu. — Quando a notícia dos problemas jurídicos da Acier vazar, vai ser um escândalo que vai atingir toda a Europa. "O sério e imbatível Dolohov neto finalmente faz merda, demorou seis anos". — Sua suposta manchete ressoou cheia de ironia.
— Não tinha muitos detalhes nos autos iniciais. De que merda estamos falando?
Gabrielle abriu a boca para falar, mas um turbilhão de acionistas entrou na sala tomando seus lugares. Mesmo de costas, ela pode notar que aquele era o diretor quando o viu parado na porta, já que só haviam dois lugares vagos na mesa.
Ele era grande, morenos, as costas largas e bem alto. O terno preto parecia ter sido desenhado sobre seu corpo os cabelos cumpridos arrastando-se no colarinho da camisa enquanto ele conversava com um outro homem, que era excepcionalmente bonito, apesar de um pouco mais baixo e com menos massa corporal, ele usava um terno escuro, os cabelos pretos penteados para trás, o rosto branco e os olhos verdes reluzindo de forma astuta.
Ness desviou o olhar e olhou para o notebook a sua frente e suas anotações enquanto balançava a caneta entre os dedos. Eles abriram a porta de vidro e foram até seus lugares, como ela imaginava, o homem de costas era realmente o diretor, já que sentou à ponta da mesa e o seu lado, enquanto outro ficou a sua frente.
Ness ergueu o rosto para lhe encarar e automaticamente seu rosto esquentou. "Ah não..." – foi tudo o que ela conseguiu pensar ao encarar o cara que havia lhe levado bêbada e desmaiada para sua casa e o mesmo que havia acertado com uma tigela de ração.
Os olhos azuis que ele tinha lhe encararam por um instante e ele suspirou ao vê-la desviar os olhos dos seus. A reunião começou e tudo o que ela queria era dar o fora dali.
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