CAPÍTULO 11 - Castelo
Saint-Émilion era absolutamente uma das cidades mais bonitas que Nessie já conheceu e estava dizendo isso somente com base no caminho que percorreu até entrar na mansão de Dolohov.
Ele puxou sua mão, sendo gentil o suficiente para não ir depressa demais e pra ela poder registrar tudo o que podia da paisagem incrível.
A casa dele era feita de pedra rústica, de aparência medieval e quase lembrava um castelo, o caminho de pedra que ela percorreu até lá era cercado pela vegetação baixa do jardim tímido e quando ele afastou a porta pesada de madeira, seu queixo caiu.
As janelas grandes e envidraçadas da casa projetavam uma luz calorosa do sol poente para dentro do Hall. O piso era de madeira e brilhava feito um espelho e o adorno da escada parecia ter o mesmo material. Haviam peças de arte espalhadas pela sala de estar, além dos móveis de estilo monárquico de imponência ímpar, afirmando a ideia de castelo, ainda que com um Q de modernidade.
Kristoff lhe arrastou escada acima, passando pelo corredor de presença com rapidez, indo até a suíte principal ao final. Ness sentiu o ar faltar nos seus pulmões quando ela viu o dossel da cama, além do móveis esplendorosos, mas não era aquilo que ele queria mostrar.
Dolohov abriu a janela da varanda e a escancarou, abrindo-a ao extremo para que Ness visse o lugar mais bonito de toda sua vida.
Os vinhedos se arrastavam sem fim pelo horizonte, a época da colheita chegado mostrava os pontos vermelhos e roxos em meio ao mar verde, trazendo o cheiro inconfundível de uva e vinho no ar.
Do outro lado, ela conseguia ver o centro do vilarejo. Os tons pastéis das casas antigas era quase unânime, vielas de pedra e muralhas medievais construídas há muitos anos para proteger seus cidadãos.
— Meu Deus... — Sussurrou se apoiando no guarda-corpo. Kristoff deu os ombros, afundando a mão no bolso do jeans.
— Legalzinho, né? — Falou, se aproximando do guarda-corpo e visualizando a paisagem ao lado dela.
— Legalzinho? — Ness ergueu a sobrancelha para ele, estupefata. — Kristoff, esse lugar é lindo! Eu já li sobre ele, sobre a a Grotte de l'Ermitage, uma pequena gruta onde morava o monge Émilion quando ele estava na cidade. Dizem que, no século 8, o tal monge trabalhava como cozinheiro na casa de um nobre da região francesa da Bretanha. Ele se aproveitava de sua posição para surrupiar alguns pães e dá-los aos pobres, escondendo-os embaixo de sua túnica. Um dia, no entanto, ele teria sido surpreendido por seu chefe, que lhe perguntou o que ele estava carregando. Émilion teria respondido que levava madeira e, quando ele levantou a sua túnica, os pães teriam se transformado em madeira por milagre. Dentro da gruta, tem a "cama" de pedra onde ele dormia e os pequenos canais de onde bebia água. Há também uma "poltrona" de pedra, e diz a lenda que as mulheres que se sentam ali ficam grávidas. — Discursou e ele deu os ombros.
— Por favor, não sente na poltrona por agora. — Pediu e ela revirou os olhos enquanto ele ria.
— Não tenho tempo e nem como ficar grávida, Dolohov, mas obrigada pela preocupação. — Disse e ele ergueu as sobrancelhas. Não tinha como? Ah, por favor! Yverness era insuportável, mas era tão bonita que as vezes ele preferia nem olhar para ela. Como ela tinha e tinha muito!
— Você tem minha empresa para salvar. — Disse e ela ergueu a sobrancelha em sua direção, sem tanto divertimento nos olhos.
— E estar grávida em prejudicaria em quê em relação a isso? — Questionou, cruzando os braços.
— Em nada. — Disse rapidamente, fazendo a ruga em meio aos seus olhos se suavizar. — Só acho que quando estivesse grávida iria querer dar toda sua atenção para o seu filho. — Corrigiu, mordendo os lábios e desviou os olhos dela, voltando-se para a paisagem.
— Certo. — Falou, inspirando o cheiro delicioso que o ar dali tinha. Era tão... Puro e completo. Ela fechou os olhos, sentindo quando o sol poente batia sobre seu rosto e ele se virou, para lhe encarar.
Nunca havia tido tempo o suficiente para estar junto da advogada, mas ainda assim, tinha certeza que poucas pessoas haviam lhe visto daquela forma. Não havia nenhum resquício de maquiagem em seu rosto. Sua pele era branca, as pequenas sardas, quase transparentes, salpicavam seu nariz fino e seus cílios eram fartos e louros, suas bochechas eram rosadas, assim como os lábios, que eram cheios e rosados. Os cabelos de Ness batiam na metade de suas costas, a raiz loiríssima dos cabelos lisos que só enrolava nos seus ombros para baixo em cachos pequenos e naturais.
É, ela era realmente muito bonita e enquanto a luz do sol batia em sua pele transparente ela até parecia etérea.
Ele desviou os olhos de novo, achando inconveniente de sua parte reparar tanto na advogada, principalmente quando ele sabia que ela o capeta encarnado e que estava pouco mais simpática após ter dormido boas cinco horas direto.
Ele ficou ali por alguns segundos até sentir o primeiro pingo no seu braço e perceber que apesar de estar sol, estava começando a chover. Ness também pareceu sentir, que se afastou do guarda-corpo no mesmo instante em que os pingos grossos começaram a cair com mais frequência e rispidez.
— Vamos entrar. — Ele disse, voltando para o quarto e fechando a porta da varanda. Ness observou o quarto com certo apresso, deslizando os dedos pelo tecido macio do dossel da cama.
— Kristoff! — A vozinha ressoou pelo corredor e uma senhora de meia idade se aproximou. Ela não deveria ter mais de 1,50m, era roliça, baixinha e usava um coque apertado nos cabelos grisalhos no topo da cabeça. — Você já chegou!
— Ah, oi Diana. — Ele sorriu para a senhora que parecia enfezada. — Sim, cheguei fazem alguns minutos. — Os olhos da mulher seguiram para Nessie que afastou as mãos do dossel o mais rápido que pode. Ele observou advogada que sorriu tímida e quase envergonhada e revirou os olhos. — Diana, essa é Yverness Ross, minha advogada, Yverness, essa é Diana, a governanta.
— Olá. — Ela acenou e Diana deu um sorriso contido, não muito contente.
— Bom, eu só consegui liberar esse quarto, Kristoff. Aspirei cada partícula de poeira que poderia existir por aqui. De toda forma, estou indo para casa antes que a chuva aperte. Abasteci a cozinha, mas se precisar, só me chamar. — Deu meia volta, andando apressada lembrando a Ness com exatidão um Oompa-Loompa. Ela preferiu ignorar o pensamento e desviar o olhar da mulherzinha. — Tchau pra você. — Disse do corredor e ele suspirou audivelmente.
— Quase havia me esquecido o quão graciosa ela era. — Disse e Ness se encolheu.
— Ela parece ser legal. — Dolohov a olhou de esguelha e Ness tentou conter o sorriso.
— Falsa demais, Ross. — O trovão se anunciou no céu de forma estrondosa e Ness se encolheu automaticamente.
— Acho melhor eu ir indo. Obrigada por me mostrar a casa, é realmente incrível. — Disse pronta para se afastar, mas Kristoff a impediu, segurando-a pelo braço. Ness desceu os olhos para seus dedos em volta do seu pulso e ele automaticamente a soltou, tentando fingir que aquilo não havia sido desconfortável.
— Vai onde? — Questionou franzindo o cenho. — Olha essa chuva, não tem como sair agora.
— Se eu não sair agora vai escurecer e eu não gosto de dirigir no escuro. — Informou e ele fez careta.
— Pra quem tem o carro mais seguro do mundo você anda bem medrosa. — Foi a vez dela revirar os olhos.
— Segurança, Dolohov. Segurança. — Colocou as mãos nas cinturas, vendo a chuva castigar a janela as costas dele. Definitivamente não era nada seguro sair dali agora. — Mas, pensando bem, posso esperar a chuva passar.
— Você tem compromisso amanhã? — Questionou e ela ergueu uma das sobrancelhas.
— E isso te interessa?
— Não estaria perguntando se não interessasse. — Respondeu a altura e ela cruzou os braços. — Fica aqui, não tem porque sair agora e se matar. Amanhã você pode ir pra casa e resolver as coisas.
— Não posso, tenho de trabalhar. — Informou e Kristoff riu.
— Você trabalha pra mim e estou dizendo que não, não precisa. Os problemas estarão lá pela manhã. — Apontou para ela, dando alguns passos para trás. — Sabe o que seria realmente um problema? Se matar durante a chuva. Você não parece gostar de acidentes de carro, vamos evitar um então. — Piscou para ela e abriu uma porta na lateral do quarto e se enfiou ali, deixando-a sozinha.
Ela observou a porta por alguns instante e o barulho do encanamento ressoou e ela pode notar que provavelmente ele estava tomando banho. Ness saiu apressada do quarto e voltou para o hall, sentando-se no sofá maravilhoso e esperando o dono da casa.
Kristoff demorou no quarto mais do que Ness achou necessário, mas preferiu não falar nada quando ele desceu com olheiras nos olhos e a fez lembrar que só havia dormido três horas.
— Com fome? — Questionou enquanto seguia pelo corredor e ela se ergueu do sofá, o seguindo. Os corredores eram de tirar o fôlego e ela tinha a impressão de realmente estar num castelo.
Chegaram em uma cozinha bem equipada e moderna, apesar das paredes de pedra e ela notou que havia algo pronto em cima da mesa. O cheiro a fez lembrar que só havia comido há muitas horas atrás aquele croissant que ele havia comprado de manhã e nada mais.
— Carne e legumes. — Respondeu, pegando um prato e colocando na bancada em frente à ela e pegando uma garrafa de vinho na geladeira, sinal que já sabiam que ele faria isso e já estava pré acordado. — Sente-se. — Pediu e Ness se aproximou, sentando em frente ao prato que ele lhe serviu, abrindo o vinho e servindo na taça antes de se aproximar e colocar comida nos dois pratos.
— Obrigada. — Disse sorrindo.
— De nada. Estou feliz por que acredito que o nosso jantar não será interrompido por um ex ciumento e por você ter dormido. — Piscou, a fazendo erguer a sobrancelha.
— Por eu ter dormido? — Ele concordou com um aceno.
— Seu humor melhorou mil por cento depois de dormir durante quase cinco horas. — Ness riu, dando os ombros.
— Não posso negar. — Dolohov maneou a cabeça e ela enfiou um pedaço de carne na boca, sentindo-se feliz o suficiente para parar a conversa por ali.
Era estranho estar na casa interiorana do seu chefe em um sábado à noite sem nenhum motivo aparente se não a beleza do local, mas Nessie preferiu ignorar os pensamentos sobre isso da sua cabeça.
Kristoff quando não estava sendo um babaca irresponsável que não ajudava no seu serviço quando o assunto era a sua empresa, parecia ser um cara legal.
Ele parecia impressionado com o fato de Nessie ser apaixonada por arte e ter algo para comentar sobre cada parte daquela casa que ele sempre achou sem graça e extravagante ao mesmo tempo. Seus olhos brilhavam de empolgação quando ele lhe mostrou uma das artes de Toussaint Dubreuil¹ particularmente especial.
Todavia, ele não pode demorar no tour pela casa. Mal conseguia falar de tanto sono e cansaço que sentia e subiram para o corredor dos quartos.
— Eu odeio esses colchões, sinceramente, mas os quartos são legais. — Disse ao chegar no corredor e forçar a entrada de um dos quartos. A porta balançou, mas não abriu. Ele franziu o cenho, tentando de novo, mas não teve sucesso.
— Acho que está trancada. — Disse obviamente. Kristoff a encarou sério.
— Jura? Não notei. — Revirou os olhos, indo até a próxima porta. O resultado foi o mesmo. E na próxima, e na próxima e na próxima. Todas exceto a do quarto principal. — É, temos um problema. — Colocou a mão nas cinturas, dando os ombros.
— Me diz que tem outro quarto, Dolohov. — Ele deu os ombros.
— Diana deve ter mantido os outros trancados. Não sabia que eu vinha acompanhado. — Explicou enfiando a mão na boca e roendo o canto da unha. — Bom, vou pensar em algum lugar pra ficar, você fica com o quarto.
— Como assim pensar em algum lugar pra ficar? — Franziu o cenho. — A não ser que você tenha algum distúrbio assassino enquanto dorme, eu acho que a gente pode dormir na mesma cama. — Explicou óbvia e ele arregalou os olhos em sua direção.
— Sério? — Riu, negando com a cabeça.
— Claro! Somos adultos, Dolohov. Enquanto você não encostar em mim eu não terei de arrancar teu braço fora, enquanto eu não arrancar teu braço fora não tem perigo de eu ser presa e sem perigo de eu ser presa posso conviver em paz com o meu réu primário. — Deu os ombros e ele pareceu confuso, quase que perdido no meio da frase. Ness revirou os olhos. — Vamos!
E o arrastou de volta ao quarto do dossel, pegando sua mochila que há pouco havia tirado do carro para pegar a escova de dentes.
— O banheiro fica ali. Irei arrumar a cama. — Ness concordou seguindo para a porta indicada e a trancando em suas costas.
O banheiro era espaçoso, adornado de dourado que parecia ouro, uma banheira magnífica de porcelana em um canto e um chuveiro de aparecia espetacular do outro.
Ness se despediu rápido e tomou banho o mais depressa possível, mesmo que fosse difícil considerando a delicia que aquele chuveiro era em suas costas.
Colocou o pijama e se olhou no espelho, vendo as pernas expostas demais. São só pernas, pensou, dá pra superar.
Ajeitou suas coisas na mochila e abriu a porta devagar. O quarto só não estava em um breu eterno pois havia a claridade de vinha de alguma lâmpada ligada do lado de fora que entrava pela vidraçaria da janela e pelo abajur ligado ao lado que ele havia separo para ela.
Kristoff estava de costas para Ness, mas ela conseguia ver a pele exposta das suas costas. Ele ressonava baixo, virado para o outro lado e seu peito subia e descia devagar. Havia uma barreira improvisada feita com um edredom e ela se aproximou devagar, escorrendo para dentro do colchão cautelosamente e suspirando ao sentir a maciez do tecido por sua pele.
Ross desligou o abajur e fechou os olhos, e antes que pudesse pensar, já havia caído no sono.
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¹ Toussaint Dubreuil foi um pintor francês associado à Segunda Escola de Fontainebleau, junto com Martin Fréminet e Ambroise Dubois. Suas obras maneiristas, muitas hoje perdidas, continuam a usar formas alongadas e composições cheias de figuras, semelhantes às obras de Francesco Primaticcio.
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