8- À Sombra da Escuridão
Eu corria pela manhã, Lucy seguia-me ao meu encalço, gritando meu nome. Finalmente eu parei e esperei-a chegar até mim. Ela perguntou:
- Paul, o que você vai fazer? Não faça isso Paul. Você é bom.
- Eu preciso resgatar nossos parceiros, Lucy.
- Chame a polícia.
- E sabe-se lá o que vai acontecer até eles chegarem lá? Não. Eu vou. E Lucy, por favor, não me siga.
E dizendo isso saí em disparada em direção à pizzaria. Cheguei lá quase não me aguentando mais de tanto correr. Hesitei à soleira da porta. O que podia me aguardar ali dentro? Mas eu precisava. Tinha que salvar John, George, Linda e Brian.
Assim que entrei senti o terror ali dentro. O cheiro de morte e o ar denso preenchiam o local. A pizzaria parecia ter prendido a respiração, e não parecia haver nada vivo ali. Meu horror começou quando olhei pra mesa de recepção. Ali jazia morta Dani, em uma poça de sangue, com um corte em sua garganta. Empunhei o revólver, e me preparei para o que estava por vir. Avancei até o salão principal, que pairava em plena escuridão. Apenas uma luz fraca piscava, revelando o terror ali.
No palco não estavam animatronics, havia outra coisa lá. Todos do mesmo jeito, com a garganta cortada. Os jornalistas que eu havia visto no tribunal, jaziam mortos no chão de madeira.
Foi então que ouvi um barulho no corredor. Olhei para trás e vi algo que fez meu coração ir parar na minha garganta. Dois olhos brilhavam na escuridão, olhando para mim. Passos pesados se aproximavam. A luz piscou, revelando o monstro que estava em minha frente. Freddy se aproximava com passos largos em minha direção. Os animatronics não haviam sido removidos do palco. Haviam sido soltos pela pizzaria.
Meu choque se dissipou e corri para o banheiro. Tudo estava em completo silêncio outra vez. Mas isso se quebrou quando ouvi passos pesados se aproximando do banheiro onde eu estava. Qualquer seja a coisa que estava ali, passou farejando os boxes. Ele passou pelo meu e foi até o último, tentando sentir algum cheiro. Depois de algum tempo, ele foi embora.
Mas então minha porta se abriu e Bonnie apareceu na minha frente. Ele tentou me agarrar, mas no último segundo eu consegui abaixar e correr por baixo de seus braços. Corri até o hall principal e fui até a cozinha. Lá, tirei cuidadosamente a tampa da ventilação, tentando não fazer barulho. Mas era tarde demais. A porta da cozinha foi arrombada e Chica apareceu. Me expremi e entrei na ventilação. Chica não poderia me seguir, novamente.
Foi aí que ouvi a outra tampa da ventilação se abrir, e meu plano foi por água abaixo. Foxy apareceu na outra extremidade, e vinha engatinhando em minha direção. Eu estava encurralado. Foxy chegava cada vez mais perto, e Chica me esperava na entrada da ventilação.
De repente, tudo pareceu girar e eu vi alguma coisa amarela pelo canto do olho. Fechei meus olhos e aguardei pelo meu fim.
Mas os barulhos cessaram repentinamente. Não ouvia Foxy batendo no metal da ventilação com seu gancho e nem Chica grunhindo com seu bico. Abri meus olhos. Estava em uma sala pequena. A sala não tinha portas. Foi então que percebi algo pelo canto do olho. Algo que fez meu coração parar na boca. Um Freddy amarelo estava no canto da sala, sentado, me observando com seus... Oh não. Ele não tinha olhos. Se já estava acostumado com os animatronics e já quase aceitava a ideia de eles se mexerem, aquilo superou tudo de aterrorizante que eu já havia visto.
Ele era apenas uma carcaça. Não tinha nenhum sinal de vida que confirmasse que estava vivo. Eu tentei chegar mais perto, mas o meu medo me parou. Eu não conseguia me mover de tanto pavor. Ele virou a cabeça em minha direção e se levantou. Então, ele começou a andar em minha direção. Ele não corria. Apenas andava. Calmamente, mas parecia mancar um pouco.
Quando já estava ao ponto de eu esticar minha mão e tocá-lo, ele parou. Levantou a cabeça para mim e começou a falar:
- Olá Paul. Esperávamos você aqui - sua voz era metálica e parecia aço raspando a terra. Era assustador. - Escute, não tenho muito tempo, então vou ter que ir direto ao assunto, nós não somos seres mortos, mas não somos seres vivos.
Um soluço permeou minha garganta, e percebi que ele ouviu-o.
- Deixe-me explicar, tudo aconteceu há alguns anos, não aqui e nem na pizzaria antes dessa. Tudo ocorreu na primeira Freddy's Fazbear Pizzaria. Eu me lembro como se fosse ontem. Ele prometeu que ia levar a gente para ver como os animatronics funcionavam. Ele prometeu. Aí ele levou a gente para essa sala e mostrou algumas roupas. Éramos cinco, mas só haviam quatro roupas. Ele tentou me levar para fora, mas eu queria ver. Veja, eu era só uma criança. Quando as springlocks fecharam-se, era tarde demais. Ele me matou, Paul. Ele me sufocou até a morte. Mas meu espírito ficou ali. Ele não foi para a luz. O choque era muito grande. Meu corpo jazia no chão, mas eu fui atrás de outra forma. Alguma que pudesse me disfarçar para ir atrás dele, que nos matou. Achei nos fundos uma fantasia de Freddy amarela, ao lado de uma de Bonnie Amarela. Entrei naquela fantasia, sem saber que nunca mais poderia deixá-la. Meus amigos também acordaram, mas seus corpos e espíritos estavam presos nos animatronics. Mas eles não se lembram de quem matou-os. Eles julgam qualquer humano, e assim, atacam tudo o que vem pela frente. Apenas eu, eu sei quem matou todos nós.
-QUEM?
A sua voz veio cortante, revelando o que eu já sabia a verdade, mas me recusava a acreditar:
-Willian Afton.
Eu queria sair dali, mas algo me prendia àquele local de modo inexplicável. Foi então que ele começou a recitar algo que parecia um poema, era assustador e hipnotizante ao mesmo tempo:
"Tudo aqui dentro é feito de ferro
e pro ferro tudo deve voltar.
Assim como o vidro se trinca
o ferro pode se enferrujar.
O fogo é belo e a noite ilumina
escondendo a tragédia no ar.
E nesse ciclo que nunca termina
outra história acabou de começar.
A noite é clara, à luz da lua
mas escura antes de amanhecer.
Coloque tudo abaixo, acabe com o ciclo
E sua vida você poderá viver".
Eu estava impressionado, mas então a realidade me atingiu, e lembrei-me dos meus amigos, que estavam em perigo.
- Bom, Freddy Amarelo, como posso sair daqui?
-Eu posso te levar de volta, mas será meu último esforço, e não sei se resistirei. Lembre-se de minhas palavras, Paul. Lembre-se e nos liberte disso.
Dito isso ele veio em minha direção e pôs a mão em meu ombro e tudo começou a girar. Em poucos instantes, me vi em uma sala pequena, com alguns botões. Apenas umas três pessoas caberiam ali. Eu apertei um botão e ouvi um barulho metálico vindo da porta atrás de mim. Apertei outro botão e um som fez-se audível. O som me fez engolir em seco. Era parecido com um coelho, mas era mais que isso. Não poderia ser algo natural. Então percebi onde eu estava.
Teria que ser corajoso e encarar a minha situação.
Abri a porta. Uma luz forte me cegou. Era uma fresta de luz que vinha direto pelo vão que a cortina roxa estava deixando aberto. Meu temor se tornou realidade. Eu estava atrás do palco. À minha frente nada via. O salão principal, os corredores, banheiros e a Pirate Cove estavam em completa escuridão.
A luz que me cegara vinha de um holofote, e agora ele trazia-me a visão do palco. Nele estavam dois animatronics: Chica e Bonnie. Eles estavam parados, estáticos. Pareciam sem vida outra vez. O que fazia sentido, afinal era manhã. Mas Freddy não estava lá. Foi nesse momento que ouvi uma voz que fez gelar meus ossos. Aquela voz que eu ouvi naquele dia que a pizzaria havia pegado fogo, e magicamente não havia queimado. Aquela voz que matou Clara há apenas 2 semanas. Freddy estava no hall principal, mas eu não sabia exatamente onde. Suas palavras me alcançaram:
- Então, ele decidiu voltar para a pizzaria. Depois do combinado, é claro. Isso exige alguma punição. Vamos ver...
Foi então que as luzes se acenderam de repente e o horror daquele local foi revelado. John, George, Brian e Linda estavam amordaçados sentados nas mesas, e lutavam para se desamarrarem.
Foi então que quem acendeu as luzes saiu da sala de controle, e a princípio pensei ser outro animatronic. Era amarelo, assim como o Freddy sem olhos era, mas parecia um coelho, e ele se movia com grande agilidade. Quando ele se virou para mim, meu horror se completou. De dentro da fantasia, embaixo das orelhas, atrás daquela pelugem suja e gasta pelo tempo, sorria Willian Afton, com seu sorriso diabólico que eu me lembrava bem. Ele parecia estar conectado com a fantasia, de modo que todos os seus movimentos correspondiam exatamente aos que o boneco fazia. No entanto, ainda era Willian Afton. Era gordo, assim como Bonnie. Sua voz era ainda a do dono da pizzaria:
- Não há necessidade de matança Freddy... Ainda! Vamos ver o que Paul tem para falar para nós.
- Deixe eles irem Willian. Eles não têm nada a ver com isso. O problema sou eu. Eu sou o único que você quer.
- Não, todos já fizeram parte da história. Eu não posso deixá-los ir também. Delatar eles irão. Não confiarei. Então Paul, você tem uma escolha a fazer. Achei muito injusto o que combinamos, já que você estava hospitalizado. Então, não vou matar todos vocês. Mas apenas um. E quem vai escolher é você, Paul. Sem segredos, sem pegadinhas, sem jogos. Todos os animatronics estão no seu campo de visão, e eles correspondem ao meu comando. Então, Paul. Decida.
Dizendo isso ele saiu do hall e foi andando pelo corredor, voltando poucos segundos depois com uma pistola.
- Paul, você tem um minuto.
Eu não sabia o que pensar, tudo passava na minha mente como um trem bala. Eu não conseguia raciocinar. Era demais para mim.
- Ah Paul, e se você não escolher, eu vou matar um por um, a cada minuto que você postergar o fim.
Eu travei, minha mente foi preenchida por um completo branco. Não me lembrava de nada, nem mesmo do Freddy Amarelo, nem da audiência, e nem da situação onde eu me encontrava.
- Paul, não me obrigue a contar.
Eu voltei a realidade, mas era tarde demais.
- Tudo bem.
Dez...
John e George estavam desesperados, e Brian e Linda lutavam loucamente para se livrar das amarras.
- Nove...
Oito...
Sete...
Seis...
Por um momento, eu vi um vulto escuro no fundo de um dos corredores que levava para a sala de segurança. Achei que era apenas minha imaginação.
- Cinco...
Quatro...
Eu não sabia o que Willian ia fazer. Eu não sabia se ele estava blefando ou se ele realmente ia matar alguém.
- Três...
Eu tinha que pagar pra ver o blefe.
- Dois...
Mas logo eu percebi que não era nenhum blefe. Ele nem chegou a pronunciar o "Um...". A pistola se fez audível em um som que era ensurdecedor e ecoou pelas paredes da pizzaria. Willian realmente havia atirado. John gritou quando o tiro acertou a cabeça de Brian.
*********
Minha mente agora estava a mil. Eu pensava no que iria fazer, no que iria acontecer com todos os que estavam ali. Mas não havia tempo para pensar. Willian Afton começou a contar de novo.
- Dez...
Nove...
Foi então que algo ocorreu. Algo que até hoje eu não entendi muito bem, e algo que só passa pela minha imaginação por causa de algo que eu vi depois disso, embora eu não tenha plena certeza.
Uma panela caiu na cozinha. Chica não estava lá, afinal, como Willian Afton já havia dito, todos os que estavam na pizzaria estavam no meu campo de visão.
Willian mandou Freddy ir checar o que estava acontecendo. Aí que vi minha chance. Levantei meu revólver na direção da cabeça de Willian Afton. Eu não estava certo se iria conseguir atirar. Mas minha raiva crê olhava. John chorava, e os outros estavam aterrorizado. Dei graças a Deus que Lucy não estava ali.
- Willian Afton, eu não quero ter que te matar, mas nesse caso, ou você solta todos eles, ou serei obrigado a puxar o gatilho!
- Haha, garoto. Você não tem coragem.
- VOCÊ ACHA QUE NÃO TENHO? VOCÊ ARRUINOU MINHA VIDA. EU FAZIA FACULDADE, EU TINHA UM FUTURO PROMISSOR. EU ME ARREPENDO AMARGAMENTE TODOS OS DIAS, A PRIMEIRA VEZ QUE PASSEI POR AQUELA PORTA E ENTREI NESSE INFERNO. VOCÊ ACHA QUE EU NÃO TENHO CORAGEM PARA TE MATAR? ENTÃO POR QUE VOCÊ NÃO TEM PARA ME MATAR? BOM, ACHO QUE AGORA, ISSO NÃO SERÁ MAIS UM PROBLEMA A SER EXPLICADO.
Juntei todas as minhas forças e, em um último momento de lucidez, atirei. Me arrependo até hoje de muitas coisas que eu já fiz, principalmente naquela pizzaria, mas o tiro não foi uma delas. A bala acertou em cheio o peito de Willian Afton. Ele caiu na mesma hora no chão, inerte, dentro da fantasia de coelho amarelo. Foi então que sons estranhos começaram a surgir da roupa dele. Pareciam metais batendo, como aquelas alavancas de ratoeira. Aquilo agitava o corpo morto de Willian Afton e fazia uma poça de sangue no chão.
Mas eu não tinha muito tempo mais. A qualquer momento, Freddy poderia passar por aquela porta, e correr em minha direção. Desamarrei rapidamente John, Linda e George. O corpo de Brian no chão era uma estampa de tristeza e mágoa, principalmente para John. Então eu disse, gente, é o seguinte, George, tire sua irmã daqui, e John, vá embora também. Isso é algo que eu tenho que fazer.
Então John retrucou:
- Não Paul, eu vou com você.
George saiu com Linda e eu e John fomos para a sala de controle checar as câmeras. Freddy ainda estava na cozinha, mas estava prestes a sair de lá. Quando o animatronic saiu, pedi para John fosse à sala de controle de energia, que ficava no corredor oposto ao da ventilação. Era perto dali. Ele deveria desligar tudo, pois então, o restaurante demoraria alguns minutos até ligar de novo.
Sai da sala, com todo o silêncio do mundo. Havia apenas um animatronic a solta, mas mesmo assim, era um animatronic a solta. E era Freddy. Entrei na ventilação, já destampada e engatinhei por ali. Sai na cozinha e me pus ao trabalho.
Minha ideia era abrir as bocas do fogão e deixar o gás sair por toda a pizzaria. Logo, quando a energia ligasse novamente, tudo iria aos ares. Foi aí que tudo ficou escuro e eu não conseguia enxergar minha mão a quinze centímetros do meu rosto.
Fui tateando cozinha a fora até chegar no gás. Chequei se ele estava aberto. Não. Abri ele. Então foi teteando mais uma vez até chegar no fogão, o que foi ligeiramente mais fácil. Abri todas as bocas, e depois de alguns segundos senti o cheiro de gás.
Foi então que senti um calor inexplicável. Era como se eu estivesse em uma fogueira. Abri a porta da cozinha outra vez. Freddy não estava mais acionado. Estava no palco, no meio dele, entre os outros animatronics. John também estava na ponta do corredor, olhando. Mas algo parecia mais urgente. Fogo. Havia um incêndio acontecendo. Eu olhei para John e John olhou para mim. Ele parecia, por um momento de adrenalina, se esquecido de Brian ali.
Saímos correndo pelo hall e chegamos na recepção. Saímos pela porta, e a luz de fim de tarde já estava apontando no horizonte. Não fazia sentido. Não ficamos na pizzaria nem por uma hora. Corremos pela rua, até chegarmos a uma distância de quinhentos metros, de modo que a explosão não nos atingisse.
Mas então, quando eu achava que tudo estava finalmente bem, vi algo que fez meu coração parar nos meus sapatos. Meu desespero tomou conta de mim, e meu coração começou a acelerar mais forte.
Da porta da pizzaria, saiu correndo Lucy, na nossa direção. Provavelmente, ela tinha causado o incêndio, feito o barulho na cozinha para me ajudar. Mas ela havia ficado para trás. E corria agora em nossa direção. E corria.
- Venha Lucy.
Entreguei o revólver para John e corri em direção dela. O fogo tomava cada vez mais a pizzaria.
Lucy estava a mais ou menos uns cem metros quando o som do tiro preencheu o ar. Um ponto vermelho surgiu na blusa branca de Lucy, e começou a sangrar. Mas ela continuou correndo, na minha direção. O outro tiro foi mais preciso, e atingiu diretamente seu peito. Isso foi o suficiente para fazê-la cair em meus braços.
No meio das chamas da pizzaria, vi a forma de um coelho, mas parecia mais mecânico agora, sem vida. Apenas uma máquina. O fogo o cobriu e consumiu toda a pizzaria. Então, tudo explodiu.
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Epílogo
Era manhã, e o entregador passeava na vizinhança calma daquele local. Ele jogava jornais a cada casa que passava, e colocava nas caixas de correio dos prédios. Ali, tudo parecia bem. Passou por uma casa e jogou um jornal no seu jardim. Então, passou por um prédio, e leu o nome de entrega.
"Paul Joseph, apartamento 3."
Depositou assim, na caixa de correio o Jornal, que carregava a seguinte manchete:
Pizzaria Freddy Fazbear Incendiada ontem à noite
Fogo teve início provavelmente por volta das 6 da tarde, por motivos ainda desconhecidos. Nenhuma vítima foi encontrada até agora. Os bombeiros demoraram aproximadamente cinco horas para controlar a situação. Eles continuarão fazendo buscas no local, e a certeza já é provavelmente, a verdade. Houve perda total, e a pizzaria deverá ser demolida. Isso certamente é uma tragédia para a franquia de restaurantes Freddy Fazbear, que agora só conta com mais duas fraquias no país.
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