7 - A audiência
Estava escuro. Muito escuro. Se tentasse, eu não conseguiria enxergar minha mão a um palmo de meus olhos. A única coisa que ouvi foram passos. Alguém estava vindo em minha direção. Foi então que a cara gorda de Willian Afton apareceu na minha frente.
- Então o Paulzinho ficou dodói...
O escárnio na sua voz era evidente e seus olhos pareciam que iam saltar de sua face.
- Olha, é o seguinte, você está apagado há dois dias, e espero que volte para a pizzaria na quarta, se não vou ser obrigado a tomar medidas drásticas...
Ouvi o clique metálico da sua pistola e senti o frio do ferro na minha cintura por cima da roupa. Eu ia me mover, mas senti uma dor enorme na minha barriga. A sensação era que algo estava penetrando meu ferimento. Logo depois da dor, tudo ali começou a arder.
- Isso deve resolver - ouvi ele murmurar.
Willian Afton saiu do meu campo de visão e ouvi seus passos indo para longe, e o ouvi sussurando algo como "espero que ele tenha entendido". Depois eu dormi de novo.
Acordei com um sol escaldante no meu rosto, passando por uma janela, com as cortinas brancas abertas. Ouvi alguns barulhos de uma máquina vindos da minha esquerda. Parecia que estava medindo meus batimentos cardíacos. Eu estava em um hospital! Me senti completamente grogue, e não demorei muito até dormir de novo. Acordei na escuridão de meu quarto no hospital. Sobre minha barriga, havia um dispositivo plástico com um botão. Pressionei-o. Poucos segundos depois, uma enfermeira entrou no quarto e sem dizer uma palavra, mediu minha pressão e olhou meu prontuário. Ela parecia estar nervosa. Saiu do quarto e ouvi ela dizer a alguém: "Podem entrar".
Dois homens entraram no quarto e se sentaram nas poltronas. Se apresentaram:
- Boa noite senhor Paul, eu sou o detetive Carson - o da esquerda disse, acendendo a luz - e esse é o meu colega, o detetive Lian.
O outro acenou com a cabeça:
-Nós temos algumas perguntas para te fazer, o senhor...
Eu não estava entendendo nada. Naquela confusão, eu perguntei:
-Espera, o que vocês estão fazendo aqui
-O senhor não soube? Bom, presumo que não. Foi registrado uma morte há três dias, às 21:37 da noite. Um homem ainda não identificado foi encontrado morto em uma rua no centro da cidade, e o senhor foi encontrado caído em cima do corpo. Alguns jovens rodeavam a cena do crime. A arma que baleou o sujeito foi achada na calçada, logo ao seu lado. A autópsia ainda está sendo feita. Só espero que o senhor saiba que é o principal suspeito do crime.
-O quê?
Foi nesse momento que as lembranças vieram como um turbilhão na minha mente. A saída no sábado à noite, o assaltante, o tiro, e, principalmente a ameaça de Willian Afton.
-Eu posso explicar o que aconteceu- E contei tudo, mas omiti a pizzaria, dizendo apenas que nós éramos amigos.
Foi então que o detetive perguntou:
-E de onde que vocês se conhecem, senhor Paul?
Disse que nós trabalhávamos no mesmo restaurante.
- E qual seria esse restaurante?
-Freddybear Family.
-E os senhores trabalham de quê?
-Seguranças noturnos.
-Bom, mas seis pessoas para vigiar um estabelecimento daquele tamanho? Não é demais?
-Na verdade Linda e Brian não trabalham lá também.
-Bom senhor Paul, acho que está tudo resolvido por ora - os dois se levantaram, o da direita abrindo a boca pela primeira vez:
-O sua audiência será depois de amanhã, pela manhã.
-Audiência ?
-O senhor está sendo indiciado à homicídio doloso.
-HOMICÍDIO? MAS EU DISSE A VOCÊS O QUE ACONTECEU, O QUE RESTA DE DÚVIDAS?
O outro detetive voltou a falar:
-E quem garante que o senhor não está mentindo? Teve bastante tempo para inventar uma história.
-Espera, que dia é hoje?
-Terça-feira.
E dizendo isso, saíram e não olharam para trás.
Eu não estava entendendo nada do que havia sido discutido naquela sala, mas eu tentei enxergar os fatos da maneira deles, e compreendi. Percebi-me em apuros. Logo após alguns minutos John, George, Lucy, Linda e Brian entraram.
Lucy, que parecia de longe a mais preocupada, chegou correndo, perguntando logo de cara:
- Paul, Paul, você está bem?
Enquanto isso, os outros 4, que também pareciam chocados chegaram atrás, com perguntas do mesmo naipe das de Lucy. Minha resposta foi:
-Eu estou bem, mas estou sendo indiciado por homicídio.
Lucy se assustou:
-O QUE? MAS VOCÊ NÃO MATOU NINGUÉM.
-É, mas parece que os detetives não acreditam em mim.
Conversamos um pouco, e depois um médico entrou e pediu para se retirarem. Lucy me deu um abraço e foi embora atrás dos outros.
O médico fez alguns exames em mim, e me deixou com meus pensamentos.
Acabei por adormecer de novo e acordei bem cedo, com o sol ainda saindo. Teria um longo dia pela frente, mas o que me preocupava mais era a ameaça de Willian.
De repente, eu percebi que eu precisava de um advogado. Nesse momento Lucy chegou no quarto. Conversei mais calmamente com ela dessa vez. Falei com ela sobre a necessidade de um advogado e ela disse que ia me ajudar com um. No entanto, eu não tinha dinheiro, mas ela disse para eu não me preocupar com isso. Me deu um abraço e saiu.
Durante o dia inteiro, John, George e até Linda vieram me visitar. Brian foi depois. Mas todos pareceram realmente um pouco pasmos com o que aconteceu. No fim da tarde, Lucy veio me ver. E me trouxe boas notícias. Disse que havia conversado com seu pai e ele havia lhe recomendado o advogado que havia livrado um amigo dele da polícia, que havia o indiciado injustamente.
-Mas Lucy, esse advogado não será muito caro não? Você sabe que eu não tenho muito dinheiro...
-Paul, eu já disse para você não se preocupar com isso. Fique tranquilo e tenta relaxar. Amanhã você tem um longo dia pela frente.
E assim eu tentei ter uma noite boa de sono, mas estava muito ansioso para dormir, e toda vez que tentava me movimentar na cama, meu ferimento doía. Depois de horas tentando dormir, finalmente consegui pegar no sono.
Fui acordado por uma enfermeira, que, sem dizer nenhuma palavra, me ofereceu uma cadeira de rodas. Ela me ajudou a descer da cama e a me sentar. E me deixou sozinho, sentado na cadeira de rodas. Foi então que um médico entrou. Ele me examinou e disse:
-Bom senhor Paul, parece que o senhor teve sorte. A bala não alojou no seu corpo, e o tiro não acertou nenhum órgão. O senhor parece estar se recuperando muito bem, até bem demais. O ferimento já se cicatrizou praticamente 100%, e o senhor deve estar recebendo alta nos próximos dias. A propósito, uma amiga do senhor está o esperando, dizendo que lhe levará à sua audiência.
Lucy, eu pensei. O médico me empurrou para fora do quarto e finalmente me localizei na situação. Estava muito longe de casa. Mais especificamente do outro lado da cidade. Era o hospital de St. Louis, que era o único hospital que cobria meu plano de saúde, afinal, morava ali perto quando era pequeno. Descemos por um elevador até o andar térreo, onde Lucy me esperava em uma poltrona. Ela me abraçou e me empurrou até o carro. Chegando lá eu me levantei, mas ela não pareceu gostar da minha atitude, mas guardou a cadeira no porta malas, enquanto eu pedia licença e me sentava no banco da frente. O banco de trás estava cheio de papéis, e pareciam projetos.
Pouco tempo depois Lucy entrou no carro e começou a dirigir. Eu disse:
-Lucy, me leve em casa por favor.
Ela pareceu incrédula, mas me levou até onde eu pedi. Chegando lá, eu pedi para que esperasse, e que iria voltar rapidamente. Subi até o meu apartamento e vesti o meu único terno. Ao trocar de roupa, consegui ver pela primeira vez o meu ferimento. Realmente, embora doesse um pouco, estava quase totalmente cicatrizado. Desci para a rua de novo, onde Lucy estava me esperando. Ela não segurou o comentário:
- Caramba, acho que nunca vi você tão elegante assim.
- Obrigado, Lu.
- Agora vamos, porque sua audiência é em quinze minutos.
Ela dirigiu rapidamente até o fórum. Chegando lá parou o carro no estacionamento. Eu saí e fui andando, e Lucy pareceu pasma. Mas meu machucado não estava mais doendo tanto, de modo que eu estava andando quase sem sentir dor. Ela pareceu sair de seu torpor e veio atrás de mim. Eu não havia reparado antes, mas ela estava muito elegante também, além de muito bonita. Elogiei-a, e ela corou com o comentário.
Ela parecia saber exatamente onde era a audiência, pois se dirigiu diretamente ao local. Ao entrar, me deparei com uma sala de mais ou menos 50 metros quadrados. Era um local retangular, e havia espaço apenas para 10 pessoas assistirem o que estava acontecendo ali. John e Brian estavam de um lado, guardando uma cadeira para Lucy. As outras duas cadeiras estavam ocupadas por jornalistas. Do outro lado, George e Linda estavam sentados, e ao lado deles, no canto, havia três pessoas. Uma mulher, que vestia um vestido preto, que deduzi ser jornalista também. Um homem, que estava vestindo um terno branco, loiro e que parecia agitado. Deveria ser jornalista também. No canto, junto à parede, havia um outro homem, mais encorpado, mas não era possível ver sua face. Parecia que ele estava dormindo.
Passei pelo pequeno corredor e abri uma portinhola para entrar na área das mesas dos advogados e a imponente mesa do Juiz. Me sentei ao lado de um homem que me cumprimentou. Foi aí que tive a primeira visão do meu advogado. Era magro e não muito forte, mas tinha uma barba aparada e cabelo cuidadosamente cortado. Vestia um terno cinza e usava um relógio muito grande no braço direito.
- Bom dia senhor Paul, meu nome é Jason. Seu caso não é o mais difícil que eu já peguei, mas qualquer deslize pode colocar seu caso abaixo.
O Juiz perguntou:
- Tudo pronto?
Todos fizeram que sim. Na outra mesa, a promotoria era dirigida por uma mulher ruiva de meia idade, com terno vermelho e óculos. Do seu lado, estava um policial da delegacia da cidade.
- Bom - continuou o Juiz,- vamos começar - ele já tinha atingido a terceira idade, e parecia não querer estar ali. - Estamos aqui para analisar se o senhor Paul merece fiança em relação aos seus atos, no caso de real culpa. O júri decidirá se o caso deverá ser levado a tribunal, e estabelecerá a fiança caso isso aconteça. Senhora Evelin, apresente seus argumentos, vamos acabar logo com isso.
A promotora se levantou, olhou para o júri e começou a falar:
- Todos os dias, pessoas morrem, e famílias são dilaceradas. Não podemos deixar isso passar em branco. E se deixarmos um sair livre e se tornar um costume? Não vivemos em uma anarquia, e pra isso existem as leis...
- Protesto excelência, relevância quanto ao caso - disse meu advogado.
- Concedido - retrucou o juiz.
A promotora continuou:
- Tudo bem, vou reformular meus aspectos. O que eu quero dizer é que o Sr. Paul cometeu um crime. Não se deixa crimes passarem em branco. E se fosse um dos seus familiares? Não se pode deixar passar uma atrocidade dessa.
Dizendo isso se sentou.
- Senhor Jason, sua vez.
Jason se levantou, e começou a falar:
- Tudo está acontecendo muito rápido, e estamos sendo guiados pela emoção, e não pela razão. O senhor Paul afirma que não matou o homem. E que a arma disparou sozinha - Então levantou um saco plástico, com um pequeno revólver dentro: a arma do ladrão.
Ele continuou: Mas como provar isso? Para começar, o homem não tinha família, como foi provado. Pois bem, a defesa chama Lucy DeLauren para depor.
Lucy se levantou e foi se sentar ao lado do Juiz, na cadeira destinada às testemunhas.
Foi aí que eu comecei a pensar em uma coisa. Em meio as perguntas que Jason fazia à Lucy, eu raciocinei: se ele não tinha família, quem havia contratado a promotoria? Por fim, Lucy acabou de dar seu depoimento, e já estava descendo da cadeira, enquanto eu me perdia em pensamentos.
Então, eu notei uma coisa errada. Por que uma audiência simples como essa tinha Júri? Mais perguntas surgiam em minha mente. Mas quando eu percebi tudo, já era tarde demais. Tudo aconteceu muito rápido.
A promotora virou para trás e disse para as 3 pessoas que estavam atrás dela, a mulher e os dois homens:
- Ele estragou tudo. Ele vai descobrir.
Foi aí que eu percebi quem estava sentado no banco, encostado na parede. Ele não estivera dormindo, estivera disfarçado. Ele não era jornalista, e muito menos alguém que estava ali interessado no julgamento. Tentei avisar à Jason, mas não tive chance.
Willian Afton se levantou e puxou um revólver de dentro do terno. O tiro que deu acertou a cabeça de Jason, e ele caiu no chão, inerte. Foi então que ouvi dois tiros saindo de trás de mim. Um acertou o Juiz, e o outro foi na direção de Lucy. Ela conseguiu, por pouco, se esconder atrás da mesa do Juiz. Enquanto isso, os jornalistas tinham panos nas mãos. Panos que encontraram o olfato de John, Brian, George e Linda, que desmaiaram na hora. Foi então que Willian Afton apontou o revólver para mim e gritou:
- VOCÊ TEVE SUA CHANCE, PAUL. EU DISSE, ATÉ TERÇA FEIRA. SÓ ATÉ TERÇA. ELES ESTÃO SEDENTOS POR SANGUE, OS ANIMATRONICS. E ADIVINHA QUEM SERÁ A COMIDA DELES? - E fez sinal para os quatro desmaiados nos bancos.
Dizendo isso, riu com um escárnio absurdo, que não parecia humano, e saiu. Seus capangas o seguiram, carregando John, George, Brian e Linda nas costas.
Assim que saí do choque, corri até Lucy para saber se estava bem. Ela correu para me abraçar também. Seu coração estava a mil, e eu sentia seu desespero.
- Lucy, você está bem?
- Estou Paul. Oh, eu estou tão aliviada que você está vivo. E os outros? Ouvi a voz de Willian Afton.
- Espera! Você conhece Willian Afton?
- Sim Paul. Não podia contar a você, mas agora acho que tanto faz. Isso não acaba nunca. Ele fala das cinco noites, mas você não tem paz. Isso nunca acaba. Você é obrigado a ir junto da pizzaria, Paul. Ele faz coisas horríveis com você se você não seguir ele.
Foi aí que ela começou a chorar. Eu a abracei mais forte. Ela parecia tão... Eu não sei. Frágil...
Olhei para a porta que Willian Afton havia saído, e depois para o corpo morto de Jason. Ao lado de sua mão, estava o revólver no saquinho plástico, que ele tinha erguido minutos antes. Peguei o saco e abri. Peguei o revólver e o analisei. Ele ainda tinha sete balas. Nesse momento eu tomei uma decisão. Olhei para Lucy e disse:
- Então vamos acabar com isso. Vamos matar Willian Afton.
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É isso aí pessoal, desculpem a demora, mas eu tive um bloqueio de criatividade e não tive ideias. Mas esse capítulo veio fervendo. O próximo deverá ser o último desse livro, mas eu estou planejando fazer um esquema tipo série, como cada livro = uma temporada e cada capítulo = um episódio. O próximo deverá ter 12 capítulos, e deverá se tornar um padrão. Mas e aí? Será que a história já está formada a partir daí? O que será que acontece no próximo capítulo? Será que tudo acabará bem? Será que todos sairão vivos desse jogo? E será que Willian Afton é o único dono de pizzarias Fredbear? Descubra tudo isso no próximo capítulo. ✌✌
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