Um estranho no bar - Nick
- Você já pensou, que se houver uma ponte que cruza um rio, apenas aquela ponte, só existe essa passagem por quilômetros e quilômetros nesse rio inteiro, seria algo muito arriscado? Afinal, se algum dia chovesse, e essa ponte caísse, demoraria um bom tempo até outra ponte ser construída, e isso pode ferrar com a vida de muita gente que tem que ir para trabalhar. Imagina, todo mundo que tem que passar de um lado para o outro ficar preso em um deles porque a ponte caiu.
Nick respondeu:
- E não adiantaria de qualquer jeito, construir outras pontes perto, porque, num alagamento as duas caem. Isso aí tem que ser construído em alturas diferentes.
- Mas você não está entendendo, o que eu estou falando, é que se houvesse apenas uma ponte, todos usariam essa ponte. Mas se tivesse, por exemplo, três pontes, bem distanciadas entre elas, poderia funcionar?
Nick mais uma vez respondeu:
- Pode ser, mas se elas fossem tão distanciadas assim, de que adiantaria, se uma caísse, todos teriam que viajar uma longa distância apenas para chegar na outra ponte.
O barman disse:
- Entendo. Bom, acho que não faz sentido ficar pensando nisso. Pontes são construídas e quando elas desabarem, bom, aí sim fará sentido. Mais uma dose?
Nick:
- Mas é claro que eu estou a fim. Sem gelo dessa vez.
Já eram incontáveis doses de Whisky que Nick havia tomado já. Desde que seu pai havia falecido, não passara nem 24 horas sóbrio. A sua vida havia se resumido em acordar de manhã, ir para o bar, ficar lá até de noite, e voltar para casa dormir. A sua última semana foi assim. Via seu dinheiro ir embora, mas ele não se preocupava. Tinha mais que podia gastar. Não ligava para isso. Dava gorjetas a mais ao barman, e eles sempre conversavam a noite inteira.
Já havia passado de meia noite quando um homem adentrou o local. O homem sentou-se ao lado de Nick.
Era gordo e desajeitado, e quase não cabia no banquinho. Usava um chapéu que dificultava ver sua face, que permanecia na sombra. Nick não o notou no primeiro momento. Apenas continuava entretido em pensamentos embriagados. Ouviu o homem gordo dizer algo como:
- Uma cerveja, por favor.
Olhou para o lado e viu o gordo colocar uma nota no balcão. O barman pegou-a e foi buscar a cerveja. O homem puxou assunto com Nick.
- Está ficando frio, não está?
Nick na verdade não sabia. Não tinha mente o suficiente para se preocupar com isso. Mesmo assim, por educação, respondeu.
- Um pouco mais a cada dia. Ouvi dizer que vai ficar mais ainda.
O homem respondeu:
- Não aguento mais. Minhas gorduras não me protegem do frio, como muita gente pensa.
A cerveja chegou. O homem deu um gole.
- Penso que se existisse apenas o frio, as pessoas não iriam reclamar, pois não conheceriam o calor, e se existisse apenas o calor, as pessoas não iriam reclamar de ficar suadas enquanto andam nas ruas, afinal, não conheceriam o frio.
Nick achou que era válido, mas contra argumentou:
- Ou não. Elas poderiam dizer que ficar suado era a única opção. Ou que tinham sempre que usar roupas demais para sair de casa.
O homem deu mais um gole na caneca de cerveja.
- Mas talvez o ser humano se adaptasse para o calor ou para o frio de maneira que ele não iria sentir seus efeitos.
Nick respondeu, por fim:
- Pois é, nunca saberemos.
O homem deu mais um gole em sua caneca grande de cerveja. Não era uma cerveja comum, e sim artesanal. Não tinha coloração amarela como as industriais, e sim uma coloração rubra, ferrosa e negra. Nick sentiu vontade de experimentar, mas achou melhor não arriscar, depois de tanto whisky. O homem começou a falar novamente:
- "Nunca teremos certeza". Isso me lembra do princípio da incerteza, trabalhado tão constantemente por tantos anos . Heisenberg o trabalhou com maestria, mas foi Schrödinger, definitivamente que chegou o mais perto de influir nisso. Já ouviu o paradoxo da caixa do gato, criada por ele?
- Não, nunca.
O homem que tinha proporções enormes para uma altura não tão enorme assim deu mais uma bebericada na sua bebida quente.
- O paradoxo do gato de Schrödinger diz o seguinte: há um gato, que se encontra dentro de uma caixa. Você pode imaginar essa caixa como sendo qualquer caixa, desde uma caixa de sapato até uma caixa do tamanho de um prédio. Pense como quiser, por fora, seu tamanho não altera nada. No entanto, no seu interior ela não tem tamanho definido. Ou seja, ela tem proporções infinitas para qualquer lado, logo há muito espaço dentro dela. É importante lembrar-se disso. - e deu mais um gole - Dentro dessa caixa, você tem um gato. Mais uma vez, não há necessidade de ser nenhum gato específico, apenas um gato, de qualquer espécie, no tamanho de um gato. Além do felino, na caixa há um mecanismo que aciona um veneno no ar, e esse veneno, claramente significa a morte do gato. Esse gato não pode encostar no mecanismo, pois assim, ele será ativado. A caixa é fechada e você não pode ver dentro dela. O gato está lá dentro, mas você não sabe se ele está vivo ou morto. A única forma de descobrir é abrindo a caixa. Não há nenhum outro jeito. É impossível, de qualquer maneira ver o que está acontecendo dentro da caixa. E veja, estamos falando de uma situação hipotética. Claramente essa caixa é impossível de existir. Mas continuando, você precisa abrir a caixa pra descobrir o que aconteceu ou acontecerá com o gato. No entanto, se você abrir, irá influenciar no destino do gato. Aí abre-se o leque infinito de situações, que é a chamada incerteza. E se o gato já houver encostado no mecanismo e estiver morto? E se ele estiver vivo? E se ele estiver bem próximo de encostar no mecanismo e você impedi-lo de fazer isso? Ou mesmo se ele ficasse ali por toda a eternidade, sem em momento algum, ter nenhuma chance de encostar no mecanismo? Esse é o paradoxo.
Nick estava impressionado. Aquela deveria ser a conversa mais inteligente que ele já tivera dentro de um bar.
- Muito interessante.
O sujeito olhou o relógio, deu um último gole na sua cerveja e se levantou.
- Sinto muito, mas já passa do meu horário, foi ótimo conversar com o senhor, senhor...
- Nick.
O homem estendeu a mão para ele, e finalmente pôde-se ver a sua face. Era toda cheia de cicatrizes, que fizeram Nick ter um certo calafrio, como um presságio ruim do que viria a acontecer. O toque de sua mão era frio como gelo. Por que estava assim? Poderia ser imaginação de Nick, afinal, sua própria mão estava congelando, devido ao frio que fazia no local.
- Meu nome é Willian Afton, foi um prazer. Boa noite.
Virou as costas e saiu.
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