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Prólogo 𝄞

Que os braços sentem e os olhos veem, que os lábios sejam dois rios inteiros. Sem direção.

- Skank.

20 de dezembro de 2018 - 16h29

Dor. Quando buscamos esta palavra em um dicionário comum há vários significados. Sentido medicinal, figurado, informal, católico. Porém, nenhuma dessas definições chega perto do que estou sentido ao revê-lo.

Ele está aqui, em pé, ao lado da família, com as mais diversas malas ao seu redor. Seus cabelos estão um pouco maiores, mas ainda perfeitos. O sorriso deslumbrante, como sempre esteve, corpo não tão atlético e os olhos azuis, que não são mais tão brilhantes.

Daniel parece infeliz agora e não radiante como estava há um mês, quando vivemos o melhor dia de nossas vidas.

Ele me analisa com cautela. Seu olhar afiado e observador espreitando meu rosto, com certeza conseguindo descobrir o que está errado. Não sou a mesma pessoa de um mês atrás também, então não posso julgá-lo.

Mariana me abraça apertado, dizendo que sentiu minha falta e eu concordo, sem tirar os olhos do seu irmão. Em seguida abraço a Cecília e depois o Paulo, enquanto Daniel abraça toda a minha família também, sem tirar o sorriso forçado do rosto. Se os demais notaram a tristeza em seu olhar, permaneceram calados.

Ele se aproxima de mim, com seu cheiro inundando meus sentidos. O perfume amadeirado que usa possui o mesmo cheiro de semanas atrás e isso é ótimo, ruim também, porque desperta um certo gatilho, mas o aroma não poderia defini-lo melhor.

Seus olhos capturam os meus, adquirindo um brilho indecifrável, com um pedido de desculpas implantado neles. Talvez seja coisa da minha cabeça.

Daniel rodeia meu corpo com seus braços firmes e eu suspiro, com o coração pulsando loucamente, tendo a certeza de que ele sentiu e por isso estremeceu. Sinto a minha pele formigar e o ar ficar mais rarefeito, aumentando minha dificuldade de inalá-lo.

Retribuo seu abraço, rodeando seu tronco, lutando contra a vontade de encostar a cabeça em seu peito e sentir seu coração, que com certeza está disparado.

Nos afastamos, para não levantar suspeitas, mas os adultos parecem não perceber porque estão em uma conversa não tão animada sobre o trânsito de São Paulo.

Quero questioná-lo do porquê me deu um gelo, por qual motivo ignorou minhas mensagens, mas sei que não posso fazer isso agora.

Afasto-me do homem que não sai da minha cabeça há meses e aproximo-me de Mariana, que coloca um braço ao redor do meu ombro, sorrindo. Retribuo o seu sorriso, vendo a interação do meu pai com Daniel.

Seus olhos azuis prendem os meus, deixando-me zonza. Sinto a boca ficar seca e as mãos começarem a soar, agoniando-me. Passei a vida toda não sentindo nada e então esse garoto confuso ressurge na minha vida e me deixa dessa forma.

Posso sentir que seu olhar está tentando ler o meu ser e faço questão de tentar transmitir o quão magoada estou. Ele parece sentir, porque desvia o olhar, passando a mão entre os fios dourados.

— E você, Bia, como está? — Mariana pergunta, atraindo minha atenção.

Noto que suas pontas estão mais claras do que o restante do cabelo castanho e que está menor do que a última vez que a vi.

— Bem, e você?

— Também, só um pouco cansada. — Ela dá de ombros.

Minha mãe me encara, com sua falsa expressão de boa progenitora, uma máscara que usa quando tem alguém por perto. Não vejo a hora de ir embora.

— Bia, você pode ajudar o Daniel a levar as malas para o quarto em que eles vão ficar? — Ela pede e eu me seguro para não negar. — Seu pai vai ajudar o Paulo com o carro, vão tentar colocá-lo na garagem.

— Claro — concordo contra a minha vontade, forçando um sorriso.

Droga, Deus! Por que caramba eu tenho que ficar sozinha com ele?

Pego algumas bolsas no pé da porta e ele pega as malas. Peço para Daniel me seguir e juntos subimos as escadas, onde ficam todos os quartos. A minha barriga está dando cambalhotas e as mãos suando, não era para eu sentir nada disso, mas Daniel sempre foi o único garoto capaz de despertar essas coisas em mim. Capaz de despertar sentimentos...

Deixo as bolsas em cima da cama e ele coloca as malas em um canto, perto do guarda-roupa. Acabo me apressando demais para sair do quarto, sair de perto dele, que caio no chão, após tropeçar nos próprios pés. Ótimo.

Sinto o rosto esquentar e tenho certeza que estou vermelha como um tomate, querendo me enfiar no primeiro buraco que encontrar.

Ele segura em minha cintura, ajudando-me a me levantar após dar boas risadas, e eu sinto a parte em que ele acabou de tocar pegar fogo. Daniel me vira de frente para ele e tira os meus cabelos da cara, sem desviar os olhos claros dos meus.

Por que está fazendo isso depois de tudo? Isso é uma tortura, eu estou frustrada, com raiva e mesmo assim não consigo pensar em outra coisa a não ser seus lábios nos meus.

E como dois ímãs, nossos olhos se prendem. Daniel pressiona a palma de sua mão em minha bochecha, deixando-me ofegante. Seguro-me para não inclinar levemente a cabeça, em busca de mais contato com a sua pele quente.

Meu corpo todo arde, queima por ele, querendo o dele. Isso que eu sinto quando ele está perto não é normal. É como se todas as coisas que eu nunca consegui sentir na vida, agora tivessem vindo de uma vez só, deixando-me fraca e assustada.

Tento sair de seus braços, mas ele me impede, colocando o meu cabelo atrás da orelha e firmando o aperto em minha cintura.

— Por que está tão fria comigo, Beatriz? — Ele sussurra e eu sinto cada parte do meu corpo arrepiar.

Que pergunta idiota! Sinto vontade de despejar tudo o que está entalado desde que nos reencontramos, mas sua mão acariciando minha cintura me desconcerta e não consigo formular uma frase decente.

— Daniel... — começo, com as pernas trêmulas e a voz entregando o quanto estou frustrada, o quanto o desejo. — Me solta! — Ofego, mas o meu corpo me trai, pedindo para que ele me beije.

Pela primeira vez na vida, quero saber como é a sensação da boca de alguém na minha, não que eu nunca tenha beijado, mas eu nunca quis ser beijada, porque não sentia absolutamente nada.

— Me responda primeiro — ele pede, com os lábios roçando em minha orelha.

Seguro em seus braços, tentando me equilibrar. Essa conexão precisa acabar ou ficarei maluca.

— Por favor... — imploro, sem suportar essa tortura, mas não tendo certeza do que realmente quero.

Daniel foca o olhar em meus olhos escuros e depois olha para a minha boca. Umedecendo os seus lábios, ele abaixa a cabeça, aproximando sua boca da minha. Posso sentir o seu hálito quente se misturando ao meu, deixando o meu corpo cada vez mais fraco. Vou desmaiar.

Ouvimos passos e ele me solta, saindo do quarto tão rápido que fico tonta. Finalmente me lembro de como se respira.

Sento-me na cama e sinto a garganta embrulhar, segurando-me para não chorar. Uma única lágrima solitária escorre pela minha bochecha e a limpo rapidamente. Ele não a merece.

Esse homem mexe demais comigo e eu nunca senti um desejo tão forte por alguém. Alguém que só quer brincar comigo e me usar como álibi para seus planos malucos.

A maldita dor volta a esmagar meu peito e tento me recompor.

Carta da autora:

Sejam bem-vindos oficialmente à FMS! Apertem os cintos, pois a viagem será longa e mais turbulenta do que imaginam. Peço que releiam os gatilhos porque teremos muita pressão psicológica familiar, entre outras coisas. 

FMS é um livro que tem como maior objetivo mostrar que tudo bem ter problemas, o que não está bem é não buscar ajuda para tratá-los. Um livro que fará você refletir sobre quem são vocês, como existem pessoas cruéis ao nosso redor e que um dia o amor bate à nossa porta.

Postagens iniciais hojee! O cronograma consistirá em dois capítulos todo fim de semana, um em cada dia. Qualquer imprevisto avisarei em meu mural.

Esta é a primeira e última vez que apareço no fim de um capítulo, sendo assim, nos vemos nas notas finais e comentários.

Beijões, até lá, e ótima leitura! 

𝕮𝖔𝖒 𝖆𝖒𝖔𝖗, 𝕸𝖎𝖒𝖎 💜

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