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Capítulo 6 𝄞

Pra você guardei o amor que sempre quis mostrar. Amor que vive em mim, vem visitar.

Nando Reis, Ana Cañas. 

25 de novembro de 2018 - 18h30

O vento me atinge em cheio ao deixar os portões do local onde foi aplicada a prova. O aglomerado de pessoas entrando em táxis, ubers e ligando para os pais está gigante. Creio que esse ano tiveram mais inscrições do que o normal e pelos sotaques diferentes concluo que grande parte não pertence à grande metrópole.

Passei o ano inteiro me preparando para isso, na verdade, depois do último Enem que participei como treineira na segunda série, percebi que se quisesse entrar na USP por ampla concorrência não poderia encará-lo outra vez. Além disso, passar no vestibular da Fuvest é bem mais prático. Com o Enem é mais complicado.

Pego o celular, ligando para Alexia para saber como ela se saiu na prova de hoje, já que fez em um local diferente. Aperto em seu contato e coloco o aparelho no ouvido, olhando em volta.

— Estou perdida! — Ela grita.

— Caramba! Quase fiquei surda.

— É sério, Bia. Aquela prova foi uma merda. Iracema? Vidas Secas? Como eu ia lembrar desses negócios do século XVIII?

— Para de exagero, Lexia. Você leu as obras pedidas há o quê? Um mês?

Encosto-me em uma parede qualquer, respirando fundo e ouvindo a movimentação dos carros velozes. Um trovão ecoa pelos arredores, assustando-me e peço aos céus para que o Uber não se atrase tanto.

— Um mês? Que piada! Eu mal consegui passar da primeira página daquilo. Com todo respeito ao Graciliano, mas como aquilo foi publicado? — Ela reclama e eu dou risada. — A escrita se parece com a que a minha bisa usava.

— Você quer mesmo falar sobre isso?

— Não. Quero esquecer aquele pesadelo. Vou sonhar com aquelas questões de interpretação, certeza.

Dou risada outra vez e paraliso ao ver uma cabeleira dourada há alguns metros. Não é possível.

— Sem contar aquela parte de física. Parecia estar em grego e...

Ela continua falando, mas eu não ouço mais nada. O mundo parou de emitir som. Alexia parou de falar, os carros de zumbir, os desconhecidos de murmurarem. Sempre achei um exagero quando me diziam que quando vemos a última pessoa que imaginávamos encontrar o mundo perde o som, as pessoas somem e só há ela e você ali, até vivenciar.

Ali está ele, olhando para os lados como se estivesse perdido. Seus cabelos bagunçados, os óculos de grau cobrindo os olhos azuis, a jaqueta estilosa. Como se algo o avisasse, ele me encara, fazendo meu coração bater tão rápido, que me assusta.

Flashes de todos os sonhos me atingem com força, deixando-me tonta. Meu peito está estranho e esqueci como se respira. Nunca senti isso antes, pelo contrário, sempre busquei essa sensação e é assustadora.

Daniel arregala os olhos, piscando para ter certeza de que está vendo certo e parece assustado. Franzo a testa, desviando o olhar e começando a andar na direção oposta, sem olhar para trás.

Que merda, Beatriz! O que você está fazendo? Volte lá e pergunte o que ele está fazendo em São Paulo um mês antes. Anda!

— Bia, estou ficando assustada. Vou chamar a polícia se não me responder.

Ai, meu Deus! Alexia ficou do outro lado da linha esse tempo todo.

— Oi! Estou aqui. Desculpa, aconteceu uma coisa.

— Que coisa? Você não foi perseguida, né? Está escurecendo, já era pra estar em casa...

— Não, relaxa. Estou bem, eu acho.

— Ei! Beatriz?

Viro com tudo para trás ao ouvir a voz rouca me chamar e paraliso, perdendo-me no azul intenso de seus olhos. É um sonho, eu tenho certeza. Estou sonhando com ele outra vez.

— Eu conheço essa voz... Caramba! Senhor! Bia, é ele? Bia? BEATRIZ!

— Depois falo com você — aviso e desligo o celular.

Encaro o homem à minha frente, que tem um sorriso incerto nos lábios. Minhas mãos estão suando e minha boca seca. Que droga! O que é isso?

— Oi! — Sorrio.

Ele se aproxima de mim, com um sorriso e seus braços envolvem meu corpo de repente, pegando-me desprevenida e me deixando paralisada, com o coração pulsando loucamente. Quando suas mãos grandes cercam minha cintura, sinto a pele formigar e o ar sair dos meus pulmões. Estou fraca e arrepiada.

Tenho certeza de que ele está ouvindo meu coração gritar, porque eu estou e não era para ouvir.

Finjo que está tudo bem e retribuo seu abraço, passando os braços desajeitadamente ao redor de seu corpo definido. A temperatura e o aroma de sua corpulência me trazem a sensação de finalmente estar em casa, fazendo com que eu não queira sair de seus braços nunca mais.

Infelizmente, ele se afasta, encarando meus olhos. A intensidade de suas íris azuis me deixam desnorteada e só consigo olhar para elas, que gritam pelas minhas, como um ímã.

— Caramba! Faz quanto tempo? Três anos?

— Dois, quase três — corrijo, sem graça. Sem graça? O que está acontecendo comigo?

— Você cresceu. Lembro de quando brincávamos por horas espirrando água nos adultos e agora você já está uma mulher.

Ele sorri e eu quase desmaio. Sorrio também, porque esse é o efeito que seu sorriso causa em mim. Percebi agora que não gaguejei nenhuma vez. Isso é bom. Ótimo, na verdade.

— Você também. Ficou mais forte.

Arregalo os olhos ao ver a merda que falei e ele dá risada, fazendo as borboletas em meu estômago se agitarem. Que som maravilhoso.

— Obrigado?

— Não tem nem o que falar depois disso — martirizo-me e ele ri. — Mas e então, o que você está fazendo em São Paulo? Pensei que viriam só mês que vem.

Começamos a andar de volta para a multidão e ele coloca as mãos nos bolsos das calças, parecendo incerto em dizer o motivo.

— É, e iríamos. Na verdade, estou sozinho aqui.

Franzo a testa, concordando com a cabeça e ouvindo meu celular apitar. Uma nova mensagem da minha mãe. Respondo que estou esperando o Uber e daqui a pouco estarei em casa.

— Por que veio sozinho?

Daniel olha para os lados e umedece os lábios. Lembro-me do gosto da sua boca na minha e fico quente, muito quente.

— O que você acha de comermos algo e eu te explico tudo? — Ele pergunta, parando e fitando meus olhos.

Não sei como explicar que se não estiver em casa em 30 minutos terei problemas, também não sei porque a minha boca respondeu sim para ele. Quando me dei conta, estávamos em um carro que ele alugou para sua estadia aqui.

O pior é que ele age tão tranquilamente, esquecendo de como éramos próximos, que se não fosse a sua fala sobre nossa infância, eu poderia jurar que Daniel se esqueceu de cada momento.

— Mas e então, a Mari e os outros estão bem?

— Sim. Todos bem e ansiosos para a viagem. E seus pais?

Daniel passa a marcha do carro, encarando-me por breves segundos e umedece os lábios outra vez. Começo a tirar o esmalte do polegar com indicador, disfarçando o quanto ele mexe comigo e como ele fica atraente dirigindo.

— Bem também. Meu pai não para de falar nesse fim de ano, parece até uma criança — conto, sorrindo de canto a canto. — Ele está bem feliz por consertar as coisas, você sabe como os dois eram inseparáveis.

— Sim, viviam grudados.

Ele sorri nostálgico.

— Assim como nós — deixo escapar sem querer e meu corpo fica tenso.

Ouço ele suspirar e pela visão periférica posso ver ele balançar a cabeça, concordando.

— Sei que te devo algumas explicações, mas não sei se vou conseguir contar tudo hoje.

Encaro sua face e ele me oferece um sorriso retraído, retribuo.

Uma coisa que percebi é que Daniel está mais sorridente do que anos atrás, o que é ótimo porque me faz sorrir também e eu raramente dou um sorriso sincero.

Ele estaciona em frente ao Mc Donald's e eu olho a hora, vendo que já passam das 19h. Merda! Kelly vai me matar.

Tiro o cinto e ele desce do carro, dando a volta para a calçada e abrindo a porta para mim. Fico surpresa e o rosto dele fica rosado, assim como quando éramos mais novos. Mordo o lábio inferior, segurando-me para não rir e apertar suas bochechas, notando que seu olhar parou ali por alguns segundos. Ilusão? O que é isso?

Entramos no lugar e caminhamos até uma mesa nos fundos, enquanto pensamos no que iríamos pedir. No final, foram dois Big Macs com os acompanhamentos. Coca-cola gelada e batatas fritas.

Após pegar nossos lanches, sentamos e começamos a comer.

— Ok! Pode começar a contar.

Ele respira fundo, bebendo sua coca e mordendo o lábio inferior. Por um momento, desejo fazer isso.

— Primeiro, preciso que me prometa que ninguém ficará sabendo o que vou te contar, principalmente nossas famílias.

Sinto meu estômago gelar e sei que coisa boa não vem daí.

— Sim, claro. Pode confiar em mim. Sempre pôde — asseguro.

— Fico feliz em ouvir isso.

Daniel sorri e volta a morder seu lanche. Oh céus! Até comendo esse homem é bonito.

— Como você sabe, meu pai é dono da rede "Ribeiro Oficinas". Há uns anos ele estava precisando de alguém na área de finanças. Então, o que melhor do que mandar o filho que terminou o ensino médio, para a faculdade de administração?

Concordo com a cabeça, incentivando-o a continuar falando. Quando imaginei que estaria sentada de frente para o garotinho que aprontava comigo na infância, barra, homem que não sai da minha cabeça nesses últimos meses? E o pior, com o coração sambando no peito, ouvindo-o contar sobre sua vida.

— Ingressei em uma universidade paga em Brasília, mesmo contra a minha vontade e iniciei o curso de administração.

Daniel encosta na cadeira, com tristeza brilhando em seu olhar, partindo meu coração. Ele foi praticamente obrigado a estudar o que não queria e parece realmente infeliz por isso.

O loiro pega seu copo, sugando o canudo, atraindo meu olhar.

— Mas você não queria — concluo e ele concorda com a cabeça.

— Meu maior sonho sempre foi cursar psicologia. Ajudar pessoas a se curarem, recuperando a melhor coisa que temos; sanidade mental.

Sorrio com sua declaração, como se fosse retardada, controlando-me depois. Ele sempre dizia que queria ajudar as pessoas. Não deixei de notar que seus olhos brilharam quando citou o curso, assim como os meus se iluminam quando falo sobre música. Ainda temos uma coisa em comum, amor.

— Isso é muito bonito. Admiro seu sonho. Por que não o seguiu?

— Meu pai me diz que não quer um filho trabalhando com doidos, ou virando um depois. Ele fala que tenho que assumir os negócios, até porque sou o primogênito e grande parte ficará para mim — ele lamenta, abaixando a cabeça.

Queria abraçá-lo e dizer que ele pode fazer o que quiser, que nossos pais não mandarão em nós para sempre e estamos no século XXI. Coloco a cabeça no lugar e me contenho, concordando.

— E a Mariana? Ela poderia assumir os negócios, não?

— Apesar de ser obviamente a favorita dele, o senhor Ribeiro deixa claro que a responsabilidade é minha e que Mari pode fazer o que quiser. Como se eu tivesse culpa por nascer primeiro.

Machismo enraizado, tenho certeza. Lembro-me que Paulo não gostava que Cecília, sua esposa, se metesse em assuntos da rede. Porém, a mulher passou por cima de sua palavra e assumiu uma das oficinas, dirigindo de seu modo. Com Mari pode ser pior, já que ela é sua filha e consequentemente lhe deve "obediência".

— Você está pensando que foi uma atitude machista?

Arregalo os olhos, fitando suas íris azuis, que estão brilhando. Daniel tirou os óculos e seu rosto é perfeito, meu Deus.

Balanço a cabeça lentamente, em afirmação, sem joguinhos com ele, até porque ele sempre soube me ler como ninguém jamais conseguiu. Conversar com Daniel sempre foi assustadoramente fácil, saber que isso não mudou é reconfortante.

— Sim. É exatamente o que estou pensando, com todo respeito.

— Sem problemas. A própria Mari já disse isso.

Ele ri, sem humor, passando a mão por entre os fios dourados.

— Isso ainda não explica o que você está fazendo aqui — ressalto, mordendo o lábio inferior e o encarando.

— Mesmo estudando administração, o sonho de cursar psicologia me perseguiu. Comecei a estudar e esse ano me inscrevi para o vestibular da Fuvest.

Abro a boca, surpresa e sorrio, feliz por ele seguir seu sonho. Daniel sorri também, fazendo com que seus olhos se repuxem levemente.

— Caramba! Isso é perfeito, Daniel. Sério. Você foi muito corajoso em ir contra o que o seu pai disse — elogio e seu sorriso se intensifica.

— Você foi a única pessoa que me disse isso. Todos acham loucura.

— Uma amiga sempre me disse que ninguém gosta de pessoas normais.

Dou de ombros e ele confirma com a cabeça, gargalhando. A forma como seus ombros sobem e descem ao rir, como seus dentes brilham, seus olhos se repuxam. Preciso casar com esse garoto.

Por toda a minha vida senti como se estivesse quebrada, como se houvesse um buraco enorme em meu peito e por mais que tentasse, não conseguia preenchê-lo de forma alguma. Entretanto, aqui, sentada nessa mesa, comendo uma das coisas que mais amo, na companhia do protagonista dos meus sonhos, esse buraco começou a ser preenchido.

— Sua amiga é muito sábia — ele elogia.

— Quando ela quer.

— Obrigado por me ouvir, Beatriz.

— Foi um prazer — conto.

Seu sorriso aquece meu peito de uma forma surpreendente.

— Ninguém sabe que você está aqui, né? Foi por isso que pediu segredo — junto as peças e ele confirma.

— Todos pensam que estou na casa da minha suposta namorada.

Um balde de água fria, foi o que recebi. Meu sorriso morreu, meu coração se partiu e parou de bater por alguns minutos, trazendo-me para a dura e cruel realidade. Engulo em seco, bebendo um pouco do refrigerante para disfarçar. É claro que pensam.

— Fiquei sabendo do namoro. Felicidades.

Forço um sorriso, mordendo uma batata.

— Ah! Não — ele ri, balançando a cabeça. — Disse suposta justamente por ela não existir.

Alívio invade meu corpo e me sinto milhões de vezes mais relaxada.

— Então você só finge que namora?

— Tecnicamente sim. Camila, minha suposta namorada, estava me ajudando com a minha fuga para cá. E então todos pensam que ela é minha namorada. Faz parte do plano — Daniel explica, olhando para seu celular.

— Um plano bem arriscado. Deve ter sido uma aventura e tanto.

— Sim. Está sendo.

Ele me encara com mais intensidade do que já encarou hoje, fazendo com que meu corpo fique trêmulo. Daniel encara meus olhos, como se pudesse ver os meus segredos mais profundos e estivesse se lembrando de algo. Mordo o lábio inferior, atraindo seus olhos para eles, que umedece os seus. O clima está insuportavelmente quente e se pudesse avançava no garoto à minha frente.

Não sei o que está acontecendo comigo, porque geralmente fujo de garotos depois de alguns beijos, mas com ele é diferente. Pela primeira vez na vida, desejo ser beijada e desejo saber se sua boca tem o mesmo gosto dos sonhos.

Estamos perdidos no olhar um do outro, até o toque do meu celular estragar o momento. O nome da minha mãe, estampado no visor, me dá arrepios, e não é de uma forma boa.

— É a minha mãe. Preciso atender — aviso, levantando-me.

— Não, pode ficar aí. Vou pegar um milk shake, quer também?

— Sim, por favor.

— Ainda é apaixonada por ovomaltine?

— Sou — confesso, sorrindo como uma idiota por ele se lembrar.

— Algumas coisas nunca mudam.

Ele ri e sai em direção ao balcão de pedidos. Sento-me outra vez, arrumando os fios rebeldes da forma que posso, endireitando a coluna e pigarreando. Aceito seu pedido de chamada de vídeo e sua cara furiosa aparece na tela, desmanchando meu sorriso.

— Onde inferno você se meteu?

— Oi pra você também — sussurro.

— Estou falando sério, Beatriz!

— Kelly, não seja tão dura — ouço meu pai pedir no fundo.

— Estou no Mc Donald's. Estava com fome e passei aqui antes.

— E está sozinha?

— Sim — minto, contendo a vontade de virar para trás e ver onde ele está.

— Deixa eu ver a cadeira da frente.

Meu corpo gela, mas percebo que Daniel pensou em tudo. Apenas as coisas que comi estão na mesa. Sorrio e mudo para a câmera traseira, voltando para a frontal. Minha mãe relaxa a expressão facial, mas ainda se mantém séria. Odeio essa sua forma controladora.

— Quero você em casa em 20 minutos, ouviu?

— Você sabe que o trânsito agora é uma porcaria — revido, com a voz o mais calma que consegui.

— Você tem 1 hora.

Sem dizer mais nada, minha mãe encerra a chamada, deixando-me com o corpo gelado. Sempre que falo com ela é a mesma sensação.

E lá se foi meu dia feliz.

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