✿ DOIS: SALDAR O DÉBITO ✿
— Que frustração! — Exclamo, ao entrar pela porta de Bellas Flores.
Agora que a adrenalina se dissipou, sinto uma ardência intensa no joelho e no cotovelo, caminhando com dificuldade entre as inúmeras flores.
— O que aconteceu?! — Pergunta Emma, alarmada ao ver meu estado.
— Um idiota atravessou a rua sem olhar para os lados, e para evitar atropelá-lo, acabei caindo. — Suspiro, sentando em um banquinho de madeira da floricultura. — Desculpe, Emma. Os buquês foram todos arruinados, mas não se preocupe, vou ligar para os clientes da lista e refazê-los amanhã, com um bom desconto e... — Sou surpreendida por um abraço caloroso.
— Ah, Courtney! — Emma acaricia meus cabelos. — Isso não importa! O importante é que você está bem, eu não saberia viver sem você!
Estou terminando o último arranjo para o casamento, enquanto Emma finaliza mais uma ligação, se desculpando pelos buquês destruídos.
— Pronto. — Ela suspira aliviada, sentando-se ao meu lado e pegando uma fita vermelha. — Todos entenderam a situação e desejaram melhoras.
Assinto com a cabeça e continuo trabalhando em silêncio.
— Não faço ideia de como vamos entregar todos esses arranjos com uma simples moto. — Comento com minha prima, depois de conferir se tudo estava pronto corretamente.
— Você tem razão. — Ela suspira derrotada. — Deveríamos ter pensado nisso antes de aceitar essa grande encomenda.
— Podemos ligar para o Bobby, não? — Pergunto, lembrando do nosso amigo mais antigo, Robert Lionel. — Acredito não haver nada que ele não faria por você. — Sorrio provocando-a.
Bobby sempre foi apaixonado por Emma, embora minha prima nunca tenha dado a ele uma chance real.
— Será? — Ela faz um bico. — Duvido muito. Aposto que ele já tenha me superado nessa altura.
— Não custa pedir um favor. Se ele ainda tiver sentimentos por você, no máximo irá te custar um jantar.
— Às vezes você é muito idiota, sabia? — Dando de ombros, solto uma risada ao ser xingada por Emma e me afasto, indo regar algumas plantas.
Ao me apoiar no balcão, com minha cabeça nas mãos, ouço Emma falando ao telefone com Bobby e me pego pensando naquele homem, em como ele foi gentil mesmo quando eu estava gritando como uma louca.
Algumas perguntas surgem na minha mente. Quem é ele? De onde ele veio? Qual o motivo das olheiras abaixo de seus olhos verdes?
Ouço um pigarrear e levanto o olhar, sorrindo para quem quer que seja, mas assim que noto quem é, meu sorriso desaparece. É ele. O pedestre idiota.
— Oi! — Ele diz, inclinando a cabeça de lado e sorrindo.
— Oi! — Endireito a minha postura ao respondê-lo.
— Quando você arrancou com a Moto, o cartão de visitas voou. E aqui estou... — Sua voz é suave, e sua gentileza me deixa desconcertada. — Vim pagar minha dívida. Quanto devo pelos buquês?
Pisco várias vezes, tentando encontrar palavras em minha garganta, mas nada parece sair, o oposto do que acontecia quando estava com raiva, quando as palavras fluíam facilmente.
— Courtney, ele concordou. — Emma diz atrás de mim.
— Oi! — Minha prima cumprimenta o homem, que sorri e acena delicadamente para ela. — O que deseja? Um buquê de flores para sua namorada, suponho?
— Sim, mas não entendo nada sobre flores. Você poderia me indicar uma?
— Rosas vermelhas! — Exclama Emma, animada. — São as melhores para expressar amor!
— Então, quero que você escolha rosas vermelhas. — Ele sorriu, confiante.
Minha prima acidentalmente esbarra em meu cotovelo machucado e solto um gemido de dor, ao que ela pede desculpas em um sussurro e se afasta do balcão para buscar as rosas vermelhas. Fico sozinha novamente com o pedestre.
— Este lugar é realmente agradável. — Ele comenta, observando atentamente o ambiente.
— Agradeço. — É a única resposta que consigo dar antes de meu telefone começar a tocar. — Com licença.
Disparo apressada para atender a chamada.
— Bellas Flores, como posso ajudar? Ah, oi! Sério? Será uma honra participar desse dia tão especial, eu e Emma ficaremos felizes em ser suas convidadas. Muito obrigada pelo convite.
Desligo a chamada e, ao voltar para o balcão, minha prima e o pedestre estão se despedindo. Ao me ver, o homem tira uma rosa do buquê e estende-a para mim. Fico envergonhada, mas rapidamente a pego, sentindo um arrepio percorrer meu corpo quando o toco acidentalmente e noto que seus dedos estão frios. Desvio o olhar para todos os cantos da floricultura, evitando encarar seus olhos, com medo de que ele perceba a sensação que acabei de experimentar.
— Desculpe pelo incidente. — Diz se despedindo.
Sinto o olhar atento de Emma sobre mim e solto um longo suspiro antes de me virar na direção dela.
— Ele é um idiota.
Me afasto de minha prima, pego um pequeno vaso, encho-o de água e coloco a rosa dentro.
— Adorei o rapaz, Courtney. — Emma exibiu um sorriso encantado. — Ele é um verdadeiro tesouro, sem mencionar o quanto foi gentil.
— Realmente, ele foi extremamente gentil. — Concedo, admitindo que a atitude dele foi inesquecível. — Sabe quem também foi gentil?
— Quem?
A irmã da noiva, Stephanie Jackson. — Com um sorriso convincente, eu revelo. — Ela nos convidou para o casamento.
— Não acredito! — Emma grita, pulando de alegria. —Bobby! — Ela exclama, ao ouvir a buzina do caminhão. — Chegou na hora certa!
Admiro minha prima correndo entre as flores, seus cabelos dançando no vento. É um verdadeiro prazer presenciar sua empolgação, pois sua felicidade é contagiante e meu espírito se enche de bem-estar. Olho para a rosa diante de mim e suspiro, recordando a maneira respeitosa com a qual o desconhecido se comportou e lamentando minha própria falta de educação ao gritar com ele. Nem mesmo tive a oportunidade de perguntar seu nome para poder me desculpar adequadamente.
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