Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Floresta Faminta

Quando eu fui aprovada a Universidade Federal de Brasília, fui tomada por uma alegria imensa e tamanha que imaginei que eu poderia fazer tudo que desejasse.

Atualmente, eu já não penso da mesma maneira...

Aqui deitada no solo da minha terra e pelo olhar da floresta percebo que nunca deveria ter saído daqui. Nunca deveria ter contrariado a vontade de Tupã e considerar que a sociedade do homem branco não é lugar para uma estranha como eu.

Como cheguei a essa conclusão?

Narrarei uma história aos espíritos da floresta e dos fantasmas que são escravos do Rio Solimões:

Tudo começou quando o meu orientador acadêmico da Universidade disse-me que estava disposto a realizar uma expedição na floresta amazônica. O meu curso de Ciências Sociais envolvia conhecimento sobre as tribos ou povos da floresta, como sou uma representante desse "povo" naturalmente que deveria ser consultada.

Consultada? É um termo bem eufêmico para cobaia...

Um experimento para os seus colegas acadêmicos desenvolverem as suas teorias abstratas e bizarras para controlar mentes mais simplórias e entorpecidas com todo tipo de droga...

Drogas...

Outro dia, os meus colegas pediram-me um pouco de "Ayahuasca" para uma "festinha" para receber os calouros. Só porque sou índia. Uma silvícola. Uma criatura exótica que possui a "vantagem" de ser uma legítima representante do "verdadeiro" Povo Brasileiro.

Lógico que mandei o sujeito passar, mas isso me "atrapalhou" em minhas futuras avaliações nos períodos posteriores. Porque havia orientadores que desejavam curtir essa "viagem".

De acadêmica a traficante...

Que decadência!

Na verdade foi uma forma de "controlar" ou chantagear-me para que não tivesse outra saída senão obedecer às ordens dos meus orientadores. Fui intimada a leva-los a interior da floresta amazônica se quisesse concluir o meu curso.

Eu tive que ceder...

Então expliquei que a minha tribo tinha tudo que eles desejavam ou imaginavam.

Eles ficaram contentes.

Eu também fiquei contente.

Garanto que muitos ficarão contentes também.

O dinheiro da Universidade escorreu facilmente para aquela expedição.

Era uma época diferente a qual os recursos eram mais abundantes e não de forma austera que seria anos mais tarde.

Foram escolhidos acadêmicos, mestrandos e orientadores...

Para mim, foi reservado o papel de guia.

Uma maldita guia...

Lógico que eu não fui agressiva. Jamais agiria dessa forma. Não tenho o interesse de mostrar que sou uma selvagem. Como alguns colegas fizeram questão de fazê-lo. Só porque não atendi a vontade deles. Sou muito mais digna e orgulhosa do que...

— Iara... Você já viajou de avião? — perguntou uma menina loira que ficou do meu lado durante a viagem.

A minha vontade era responder: "Já, sua burra! Acha que eu vim até Brasília de canoa"?!

— Sim — respondi educadamente.

— Eu não. É a minha segunda vez... Eu já andei nesse troço, mas não consigo me acostumar. Olha sei que estudei física e aquele lance de velocidade e empuxo, mas é assustador saber que um monstro de metal pode voar sobre os céus — confessou a loira agarrada na poltrona da aeronave.

Eu sorri. Como eu nunca sorri depois de tanto tempo.

— Magia do Homem Branco... Se eu fosse menos civilizada, atribuía a Tupã o milagre desse cilindro de metal cruzar os céus — respondi de forma simpática e igualmente irônica.

A garota deu um assopro profundo.

— Eu aceito todo o tipo de proteção. Porque se esse troço cair, não temos como escapar... — concluiu a loira.

Eu cogitei um pouco mais e ela tem toda a razão.

São os pequenos terrores que temos todos os dias.

A incerteza e o desconhecido.

Quando chegamos ao Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, em Manaus, e o avião terminou de taxiar após o seu pouso, a minha colega de viagem se sentiu aliviada.

— Pronto... Passou, Mariana... — E alisei o topo da cabeça loira da garota.

Só consegui ouvir o soluço de medo da menina.

Depois de um tempo, os meus colegas e orientadores começaram a discutir para onde iríamos hospedar antes de começar a viajar pela floresta.

Depois de uma discussão acalorada, os sujeitos decidiram ficar num hotel luxuoso de Manaus e torrar bem o dinheiro que receberam da faculdade. Com os seus cartões corporativos e desculpas das mais diversas, os sujeitos resolveram fazer uma festinha para usar todos os corpos femininos das formas mais lascivas que possam imaginar.

Como sou a índia, lógico que houve tentativas de estupro e coerções das mais diversas. Porém o fato de ser a "guia" e a possibilidade de largar o sujeito no meio do mato mais tarde. Essas tentativas minguaram como a Lua que brilhava parcialmente no céu escuro.

Então decidi ficar isolada do meio dos idealizadores da excursão e fiquei olhando a Lua. Misteriosamente, muito mais convidativa do que a companhia que estou tendo no momento, a Solidão. Nisso surge uma lata de cerveja gelada esbarrando em meu rosto.

— Agradecimento pelo apoio e discrição no avião — disse uma voz feminina.

Eu ergui um pouco a minha cabeça para identificar a pessoa que ousou interromper os meus pensamentos. Ao enfrentar os seus olhos azuis descubro que a generosa pessoa é a mesma que foi a minha parceira de viagem.

— Olá, Mariana! Sabia que não se pode dar bebida alcoólica para índios? A FUNAI não deixa... — ironizei.

— Que me prendam! — E entregou a lata de cerveja que foi prontamente aceito e acabo por consumir.

Depois encarei a minha colega.

— O que foi? Os rapazes não te quiseram? Vou logo avisando, não sou lésbica — brinquei com a loira.

— Dane-se! Só tem babaca ali! O que a gente não faz por um pedaço de papel para pôr numa parede? — E a mulher sentou-se ao meu lado.

Respirei fundo e acenei afirmativamente.

— É verdade. O motivo de eles fazerem essa excursão é para comer as novinhas ou as incautas. Depois vão dar um passeio na floresta, voltamos para casa, escrevemos um fanfic e todo mundo fica feliz... — E dou uma golada na minha cerveja gelada.

— Iara... Eu te admiro, sabia? Você veio do interior da floresta, conheceu a nossa cultura e se adaptou a ela como num passe de mágica. Muita gente não tem essa força de vontade... — comentou a garota loira de olhos azuis olhando para mim com carinho.

— Que nada. A minha mãe me educou de forma a aprender o máximo com a civilização para não seja devorada por ela. A sociedade do Homem Branco é tão cruel quanto à floresta. Sabendo os seus perigos, pode-se se sair incólume da situação toda. — E dei mais um gole de cerveja.

— Incólume... Está ai uma palavra que não escuto há muito tempo. Incólume... — E a loira bebeu a sua cerveja olhando para o céu estrelado. — Gosta de constelações?

— Só conheço o Zodíaco. Alguns... — respondi.

— Cassiopeia... — Ela apontou para um conjunto de estrelas que eu estava olhando bem à frente. — Fica bem próxima da constelação de Perseu, nessa época do ano fica bem visível no céu. Os índios nativos os chamam de Taquaré. Pensei que sabia...

Eu fiquei surpresa pelo conhecimento astronômico de minha colega.

— Não sabia. Estuda isso? — perguntei para a loira.

— Tinha um telescópio. Gostava de observar Júpiter e Saturno... Acabei aprendendo. — E a loira continuou a olhar as estrelas e beliscar a sua lata de cerveja.

Curiosa, pergunto:

— De onde você é?

— Vila dos Remédios, Fernando de Noronha.

— Caramba! É longe daqui mesmo! No meio do Mar! — exclamei surpresa.

Ela deu um sorriso simpático.

— Ficar numa ilha isolada eternamente cansa. — E riu.

Eu acompanhei do riso da companheira de cerveja e ao lembrar sobre o Mito de Cassiopeia a qual era mãe de Andrômeda e achava que a sua filha era a mais bela do que muitas nereidas e, quiçá, Deusas. Por causa de sua arrogância, a sua pobre filha teve que ser acorrentada em holocausto para o terrível monstro marinho chamado de Ceto. Acabou sendo salva por Perseu e a pediu em casamento.

Talvez fosse o álcool ou as lembranças de minha Vida, mas acabei por ficar séria e comentei para mim mesma:

— Os filhos, às vezes, têm que pagar pelos pecados dos pais... — sussurrei.

— O que? — questionou a loira sentada.

— Nada. — E levantei-me. — O álcool já atingiu em minha cabeça. Sou fraca na bebida.

— Boa noite, Iara.

— Boa noite, Mariana. — Sai dali e acabei por dormir em meu quarto.

Apesar das risadas e música alta dançante que ocorria no andar de baixo.

Quando amanhece, eu despertei com disposição de levar aquele bando de vagabundos sodomitas a um passeio na floresta amazônica. Abri a minha mochila e preparei uma poção que vou dividir com os meus colegas. Um conjunto de folhas e ervas esmagadas e colocadas num suco verde altamente nutritivo. Entre outros quitutes típicos de minha tribo. Digo que é uma tradição do meu povo, eles vão amar!

Aquele grupo de dezesseis pessoas se amontoava em vários barcos e botes para que todos fossem navegar no Rio Solimões. Eu poderia descrever mais detalhadamente cada um dos cretinos que me acompanham nessa excursão, porém descreve-los seria como uma perda de tempo sem tamanho. Com a exceção de Mariana, a qual eu nutri uma amizade, todos ali são um bando de mentecaptos.

Os micos que nos acompanhavam nas árvores, juntamente com o jacaré e as araras coloridas, eram muito mais interessantes do que aquelas pessoas.

Foram horas de viagem subindo o Rio Solimões, até que chegamos ao primeiro ponto de descanso combinado previamente, num daqueles afluentes ocultos do Rio principal.

Para surpresa de todos, era uma grande árvore que parecia uma mansão de tão grande, grossa e larga. A primeira impressão que se tinha era estávamos diante um sapo gigante monstruoso, com dois olhos e uma bocarra feita de folhas e galhos.

— Puta que pariu! Que coisa é essa?! — exclamou surpreso o nosso orientador.

Eu achei engraçado. Pelo fato de que o homem ficou assustado com aquela formação natural que lembrava um sapo sentado no rio corrente.

— O que foi? Nunca viu um Muiraquitã gigante? — comentei de forma irônica. — As guerreiras sem marido costumam dar versões menores aos seus pretendentes. Pelo tamanho, parece que uma Deusa quis muito um determinado homem...

Nesse momento, eu retiro as minhas roupas ficando só de sutiã e calcinha e jogo-me no leito do rio. Nado em direção da estrutura que perecia ter uns trinta metros de altura, envolto de cipós, galhos e vegetação de toda espécie.

— Sua índia maluca! Sabe lá que tipo de doença tem nesse rio?! — repreendeu o meu orientador.

— Não ligue, professor! Ela está no seu habitat natural... — comentou uma garota que estava ao lado do homem.

— É sim! Junto com as suas colegas, as piranhas! — concluiu uma cadela por pura inveja.

Mais tarde, Mariana comenta o que foi dito para mim.

Enquanto isso, eu cheguei à borda de madeira da estrutura e começo a escalar por entre os cipós. Rapidamente, eu me encontrei na borda do lábio inferior do sapo estilizado, convocando a todos que subam até ali.

Lógico que nem todos tem disposição atlética para escalar aquela subida íngreme, por isso eu joguei uma escada feita por cipós para turistas. Até para os mais preguiçosos ou completamente incompetentes nas habilidades de escalada, fizemos uma corda para aqueles que desejam ser içados juntamente com as cargas e provisões para o acampamento.

Quando o grupo se encontrou todos no interior da "boca" do sapo gigante, a impressão que se tinha era que estavam numa grande salão de festa construído pela própria Natureza. É um lugar amplo que só o fato de estar lá dentro à acústica é incrível. Mesmo tendo o piso feito de galhos secos e retorcidos, além de cipós velhos e mortos. Já a parte superior da "bocarra" são as folhas, galhos e cipós que tornam o local escuro mesmo de dia.

Eu instrui ao grupo que montem as barracas mesmo com essa cobertura natural, as chuvas amazônicas são muito fortes e goteiras são bastante incomodas. Além ordenar que não façam fogueiras, porque mesmo com aqueles galhos úmidos, pode ser que um incêndio aconteça, ou pior, fumaça que sufoque a todos ali.

Depois que todos instalassem as barracas, o Sol já se pôs no horizonte e ligamos as baterias nos faróis e tivemos toda iluminação necessária para atividades noturnas. Além disso, distribui um unguento para todos passassem em suas peles, para evitar ataques indesejados de insetos hematófagos e doenças relacionadas, como malária, por exemplo.

Houve uma grande disputa por este cosmético...

Afinal, sou uma índia.

Eu sei o que estou dizendo.

Devido a minha cortesia, eu distribui os meus quitutes típicos de minha tribo para todos os presentes. Será o nosso jantar e recomendei que fossem educados com os membros de minha família e semelhantes. Está certo que todos estão "civilizados" e aclimatados com a Cultura do Homem Branco, porém sempre há idiotas, não importa a etnia.

Quando a noite chega, sentamos todos em um círculo e começo a contar histórias...

Após dar um olhar de cumplicidade para a garota loira chamada Mariana, eu iniciei a minha narrativa para que as crianças possam dormir com tranquilidade.

Afinal a noite será longa e as sombras espreitam...

Era uma vez, uma fada vaidosa chamada Ceiuci. Quando era jovem, a criatura se considerava a mais bela e útil de todos os seres da floresta. Não só por sua beleza quanto a sua constante ajuda às populações indígenas da floresta. Como foi criada pela forma de Yebá Beló e do sopro do Deus Wanadi como única, Ceiuci atribuía a si todas as bênçãos dos Seres da Floresta. Um dia, uma tribo fez uma grande oferenda a Deusa Jaci, Senhora da Noite e da Magia, em agradecimento há uma grande realização mágica e destruição de uma maldição. Todavia, Ceiuci, em sua arrogância, tomou para si a oferenda e comeu tudo que estava ali. A Deusa Jaci ao descobrir quem foi a responsável por tamanha afronta, usou uma terrível praga. Ceiuci seria como uma humana, não mais o seu dom imortalidade e pior com uma Fome monstruosa que devoraria tudo em sua volta. O seu sofrimento foi tamanho que o Deus Tupã se apiedou com a pobre criatura limitando a sua voracidade, além de outras criaturas não sofressem tanto com a sua voracidade. Ainda irada, a Deusa Jaci fez uma ardilosa alteração na maldição. Enquanto houvesse uma portadora da Fome, não passaria aos seus descendentes, exceto quando morresse, a primogênita seria a herdeira do Mal. E assim foi com os passar dos anos... As herdeiras da Maldição conseguiram a Simpatia da Deusa Jaci, recebendo poderes mágicos e conhecimentos dos mais diversos, mas sem que a maldição cessasse... Até hoje...

Quando eu terminei a narrativa, todos estavam deitados e inertes.

Exatamente como havia planejado...

Os meus olhos estavam brilhantes quando as raízes começaram a envolver todos aqueles corpos, algumas raízes transpassaram a pele da maioria, eu ouvia os gemidos de dor. Sinceramente isso pouco me importava...

Tudo fazia parte do meu plano.

Calmamente, eu retirei de minha mochila um par de botas e observei o olhar incrédulo de alguns que não entendiam o que estava acontecendo. Olhava os seus olhinhos assustados ante a possibilidade de tê-los o traído.

Eles estavam certos.

Eu os traí!

Imitando aqueles vilões estereotipados dos filmes de super-heróis inicio a minha narrativa megalomaníaca:

— Sei que estão me ouvindo! — disse eu. — Seus arrogantes malditos! Acharam que uma indiazinha idiota não seria capaz de fazer algo pudesse prejudica-los? Afinal, ela precisa ser aceita em nossa sociedade! Uma sociedade a qual o Homem Branco "dominou" o mundo com a sua tecnologia superior e etc. Tenho péssimas notícias! Eu não preciso de sua "sociedade". O que eu preciso é de corpos! Corpos para alimentar a minha mãe! Essa sim precisa de minha ajuda...

Caminhei por cima daquelas pessoas imobilizadas e deliciei-me com as suas expressões de dor e impotência.

— Vocês devem estar se perguntando onde está a minha mãe? Não é óbvio?! Estão dentro da boca dela! Como assim?! A minha mãe é uma estrutura feita pela natureza?! Idiotas! Confiam tanto na Ciência e no Método Científico que esquecem que existem coisas estão além da compreensão de vocês, acadêmicos! Acham que o mundo é só o que seus amigos céticos determinam? Tenho péssimas notícias! O Sobrenatural existe e todos serão alimento dele neste momento — revelei com uma expressão de deboche e desprezo.

Andei mais um pouco, vou em direção da minha "amiga".

— Olá, Mariana! — Nesse momento eu me agachei diante do corpo paralisado da loira. — Surpresa pelo fato de fazer isso com todos e inclusive com você? Desculpa... — Eu alisei o seu cabelo dourado e liso. — Foste tão amiga e solidária comigo. "Como pôde fazer isso comigo?!" — especulei a respeito de seus pensamentos.

— Ora... Por que não? Não tenho motivos para mantê-la viva aqui na floresta. Vai ser uma auxiliar de uma cultista maluca que conduz pessoas para o interior de uma bocarra monstruosa? Olha, o coloquei um narcótico que vai aliviar a sua dor na hora que os líquidos digestivos de minha mãe irão dissolver a sua carne. Só para você! — E beijei o seu rosto.

Eu tive a nítida impressão que tinha ouvido algum grunhido na garganta dela, mas deve ter sido imaginação. Conheço este narcótico, em poucos minutos o sistema respiratório irá paralisar. Não tem como essa garota gemer alguma coisa. Todavia, a visão e audição de todos estão em perfeitas condições.

Adoro esse tipo de tortura.

— Para todos... Boa noite! Vão dormir... Para sempre — E gargalhei como uma atriz cafona mexicana.

Em seguida, eu recolho as minhas coisas quando vi o líquido digestivo surgindo e subindo pelo piso lentamente e iniciando o processo de corrosão da pele das vítimas.

Como não gosto do cheiro da borracha da sola do sapato derretido, eu sai rapidamente dali, recolhendo as baterias, lógico que não queremos um incêndio e "matar" a minha mãe uma segunda vez.

Já não basta ter enganado a Morte transferindo a sua maldição para este "boneco vodu" gigante, prendendo a alma de minha mãe nele e libertando o seu espírito. Assim a maldição não seria transferida para mim, porém tenho que manter o monstro muito bem alimentado. Com bastante carne humana.

Quando eu voltar à civilização, vou assumir uma nova identidade e construir uma nova vida. Posteriormente, mais carne para o meu avatar gigante. Imagino quando ler os jornais sobre o desaparecimento dos universitários no interior da floresta amazônica e forrar o chão da minha nova casa com eles.

Tudo seria perfeito...

Se não fosse que a Vida é uma porra de uma caixinha de surpresas...

Enquanto ligava o motor do barco, eu sentia um desequilíbrio na embarcação como alguém estivesse embarcando.

Senti um calafrio. Era noite. Poderia ser um animal, uma onça pintada, jacaré ou algo do tipo. Nada que não possa enfrentar...

— Boa noite, minha "amiga"... — disse uma voz feminina e muito bem conhecida.

Reconheci a voz na hora.

— Muito cedo para voltar dos mortos, Mariana... — disse isso sem olhar para trás.

— Gostei o seu plano, Iara. Eu mesma não faria melhor — sussurra a loira de forma sinistra.

Eu tinha engolido em seco.

— Eu deveria ter usado neurotoxinas, com barbitúricos existe uma pequena possibilidade de reações alérgicas. Ou talvez anulação do efeito... — E tentei justificar o injustificável.

Vi um braço apodrecido, viscoso e gélido envolvendo o meu pescoço.

— Essa é a minha verdadeira forma, indiazinha... — sussurrou a loira em meu ouvido.

Sem perder a minha compostura, retruquei:

— Já disse que não sou lésbica! — Segurei o braço dela e o arranquei de seu corpo.

Não é preciso dizer que segurei o membro apodrecido em minhas mãos.

— Puta que pariu! Você é um zumbi, garota?! — E virei o meu corpo, usando uma lanterna como iluminação.

E o que vi, gelou a minha alma.

É Mariana completamente regenerada e com um vestido branco brilhante como num espectro. O seu rosto estava perfeito, linda, até. O seu corpo estava intacto, sentada de pernas cruzadas e suas mãos entrelaçadas como numa prece.

— Surpresa, filha da puta! Tá com medinho? — E a loira sorriu de forma macabra.

Senti um gelo subindo em minha espinha, porém achou mesmo que vou demonstrar isso para uma criatura sobrenatural em minha frente?

— Medo, eu não estou. Só curiosa. Não é fantasma... Não é zumbi... Não é vampira... Que porra você é?! — questionei indignada.

As mãos dela voam em meu pescoço.

Aos poucos, a minha garganta é privada de oxigênio.

— É sua putinha! Você não é a única monstra assassina naquela excursão. Quando eu ficava em Fernando de Noronha, em minha gruta, gostava de atrair pescadores, turistas e todo tipo de filho da puta que desejava me comer. Ser uma loira gostosa ajuda, sabia? — E continuava a me estrangular. — Ai tive a merda da ideia de tirar férias. Aprender coisas novas... Universidade... Aviões... Índias traidoras... — E apertou o meu pescoço com mais força.

Por um milagre, algo transpassou o corpo a loira. Enfiando inicialmente nas costas e saindo por entre os seus seios volumosos.

O seu vestido não estava mais branquinho como naqueles comerciais de sabão em pó.

Estava uma grande mancha negra e escarlate provocada por uma raiz que tinha surgido do leito do rio.

Não é preciso dizer que me libertei de suas mãos e tentei me afastar dela.

— Você é uma porra de uma sereia ou uma fada como era os antepassados de minha família?! — Essas foram as minhas primeiras palavras depois de recuperar a minha respiração.

Furiosa, a loira quebrou a raiz com uma força sobre humana. Retirou do seu corpo o elemento invasor com rapidez, o seu corpo regenera assim como as suas roupas.

— Quase... Sou conhecida como Alamoa. Prazer... Costumo ficar no meu pico na minha ilha. Gosto de ser predadora e faminta por carne humana. Assim como a sua mãe... Eu te compreendo, por isso que vou mata-la a forma mais breve possível. Por "amizade"... — ameaçou a loira com uma face cadavérica ao ser revelado pela luz da lanterna.

Eu fiquei decepcionada. Esperava mais dela.

— Uma porra de um Duende! Sangue puro... Prazer! Sou a filha de uma Ceiuci, uma fada amaldiçoada. Eu contei a minha história para você lá na boca de minha mãe — E eu fiquei de pé naquele barco.

O olhar fixo daquele par de crateras que substituíram os seus lindos olhos azuis travaram em seu alvo. E o alvo era eu...

— Sabe que só pode sobrar uma... — disse a caveira com cabelos loiros.

— Na mata, é matar ou morrer. Cai dentro, vagabunda! — E saquei a minha lâmina sagrada que uso para caçar no mato.

Sinceramente, nem sei de onde veio o primeiro golpe, mas uma coisa é certa, eu já me encontrava sentada no fundo do barco e com o meu rosto dolorido e inchado. Segundos mais tarde, uma chicotada de golpes atingiam todas as partes do meu corpo. Só não tinha caído no rio por pura sorte, porque pelas pancadas eu já tinha caído no fundo das águas escuras.

— Levanta para apanhar mais, indiazinha... — disse a criatura com cabeleira loira.

Juro que tentei levantar-me, mas acho que parte dos meus ossos tinham se partido. Era uma dor lancinante, luta não era mais contra a loira, mas sim para manter-me consciente.

— Não consegue... A resposta é simples. O seu sangue foi maculado pela mortalidade. Já a mim, não tenho este tipo de problema. Não gosto de devorar mulheres, mas vou abrir uma exceção contigo. — Lentamente a monstra vai se inclinando para em cima de mim.

Existe uma pasta, ou óleo, que sai dos seus ossos que pinga em minha carne que é tão ácido que a minha pele evapora em segundos.

Eu grito muito alto.

— Isso... Grite... Quero ouvir a sua voz em agonia e dor... — disse o monstro se deitando por cima de mim.

Súbito, galhos e raízes saem do leito do rio e se enrolam no pescoço e em todos os membros do corpo da criatura esquelética. Uma força igualmente sobrenatural a retira de cima de mim e acaba por leva-la para fora do barco.

Desaparecendo no fundo do rio.

Eu estava em agonia. As gotas de ácido e a surra que levei cobram o seu preço. Estava deitada no fundo do barco. Entendia o que estava acontecendo.

Era a minha mãe.

O lendário instinto materno e/ou gratidão animal que fez o Muiraquitã gigante usasse os seus poderes de controle vegetal para preservar o seu principal fornecedor de alimento. Eu estou muito ferida, mas tenho que aproveitar a oportunidade para fugir o mais rápido dali.

Todavia, a Alamoa não é uma criatura tão fácil se derrotar assim...

O seu corpo, totalmente envolto de raízes, regue-se das águas escuras do leito do rio. Como a minha lanterna estava ainda ligada pude ver a monstra voando sabe lá como...

— Nenhum constructo ou golem será capaz de me deter, indiazinha! Vou te devorar! — urrou de ódio à loira.

Com muito esforço, o monstro de cabelos loiros e cheio de folhas e raízes entrelaçadas em seus ossos, aponta o dedo indicador necrosado na direção da estrutura de plantas e rocha a qual estavam acampados os universitários.

Da ponta do seu dedo, uma pequena chama azul surge.

Como um relâmpago, a chama voa na direção do Muiraquitã gigante e provoca uma explosão que envolve toda a estrutura com chamas azuis.

Perecendo a tragédia que se aproximava diante de mim, pego um remo e tento, em vão, sair daquele local. Porque as raízes começam a cair lentamente do corpo esquelético da criatura voadora.

— O que foi, Indiazinha? Não vá embora! Ainda tem bolo... — E com os seus poderes sobrenaturais, o Mito da Ilha de Fernando de Noronha aproxima-se lentamente em minha direção.

Ainda assim muito mais rápido do que podia deslocar-me...

Aos colocar os seus pés no bote, a loira retorna a sua forma humana.

— Vou te confessar uma coisa. Foi divertido! Apesar de tudo. — E loira olhou para o incêndio que acontecia no leito do rio destruindo completamente a estrutura. — Vou mata-la de uma vez. Não quero mais surpresas.

Eu estava de bruços, com os dois braços segurando o remo do bote. Ao sentir o peso da mulher no barco, largo o remo para que a fraca correnteza das águas barrentas e o leve para fundo do rio, entregando-me ao meu Destino...

— É, querida... Acabou! — E a mão cadavérica da loira se entrelaça em meus lisos cabelos.

Então o viro o meu rosto...

Ao olhar a loira, foi um deleite constatar que ela se assustou.

O meus olhos estavam esbugalhados e a minha imensa bocarra com aqueles dentes de piranha afiados e famintos se revelaram. Afinal, se o avatar de minha mãe tinha sido destruído a quem mais a maldição iria ficar?

Senão a única herdeira... Eu.

— Por isso que as loiras têm o mito da falta de inteligência... — ironizei. — Se o avatar de minha mãe está destruído, para quem acha que a sua maldição irá ficar? — revelei babando de fome.

A loira continuou segurando o meu cabelo como eu fosse um animal com raiva.

— Para mim, não faz diferença! — E a sua mão que segura o meu cabelo faz as mesmas chamas azuis que destruíram o Muiraquitã ressurgissem.

Todavia, a minha força estava muito aumentada e a maldição absorve qualquer poder mágico. A Fome é algo muito poderoso...

A loira só percebeu no que estava enfrentando quando era tarde demais.

A Maldição de Jaci é imensa.

Ela é a Deusa da Magia.

A Alamoa é um duende ou um ser mítico que utiliza Magia.

Óbvio quem foi o vencedor dessa disputa de poderes.

A loira nem teve tempo de correr, os meus dentes já estavam arrancando a sua carne espectral e triturando os seus ossos. Era como comesse um biscoito "Waffer"...

Mas que delícia, cara... Ô loira gostosa! Eu posso dizer...

Não perdi tempo explicando ou usando de verborragia para aterrorizar a minha vítima.

Na floresta amazônica, a gente mata e come.

Simples assim...

Quando o Sol despontou no horizonte, eu poderia dizer que estaria deitada, repousando depois de uma gloriosa refeição a base de "frutos do mar"...

Infelizmente, não é assim que a maldição funciona.

Estamos lidando com uma Fome reprimida num constructo por nove anos.

A "saciedade" aparente da Criatura deve-se ao processo de fotossíntese das plantas que faziam parte do corpo do monstro. Então, podemos ver o tamanho da voracidade da maldição. Agora, sem esse "suplemento alimentar" como acha que eu estaria?

Bem... Ainda tenho as minhas faculdades mentais. Escrevi este relato depois de alguns meses me alimentando de algumas criaturas da própria floresta. Se tiver lendo isso, considere-se com Sorte. Porque nas primeiras semanas, eu devorei duas aldeias indígenas e um vilarejo, além de alguns desavisados.

Um dia, eu me vi no reflexo na água do rio.

Chamar-me de humana, seria muito gentil de sua parte...

Agora estou bem melhor.

Entrei numa cidade colombiana vizinha à floresta.

Foi um banquete.

Pelo número de pessoas, deu para saciar-me um pouco.

Se algum dia quiser entrevistar-me, pode vir!

Traga orégano.

Só para sentir a lembrança de comer uma pizza quando estiver devorando a sua carne macia e suculenta e seus ossos crocantes quando eu estiver respondendo as suas perguntas em seu gravador.

Ainda sei utilizar algumas tecnológicas.

Sou uma monstra bem atualizada e instruída...

FIM.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro