02 - ALICIA EDMONDS
E
u não sei o que mais me deixa chateada com a notícia do noivado de Rufus e Lorelay. Não faz sentido ser apenas por ciúmes, já que eu não tinha mais nada com Rufus.
Talvez seja por Lorelay ter sido minha melhor amiga por tantos anos e nunca ter mencionado que estava namorando. Isso me fez pensar se não foi algo planejado. Sei que parece paranoia, mas como não pensar que talvez eles já eram afim um do outro quando estávamos estudando? Isso faz com que eu me sinta traída.
Se por acaso, após a formatura, eu tivesse começado a ficar com o cara por quem ela era obcecada na universidade, mesmo com nosso distanciamento, eu teria ligado para contar. O fato dela nunca ter mencionado estar com Rufus me deixa realmente magoada.
Eu sabia que seria um desastre se eu fosse a esse noivado, mas não suportava a ideia de ter as pessoas especulando sobre minha ausência e isso os faria pensar que eu estava com dor de cotovelo.
Eu só não imaginava que a pessoa a me estender a mão fosse Dylan Hartman, o playboy mulherengo que pegou metade da NYU. Mas confesso que o olhar de Lorelay ao me ver de mãos dadas com sua paixonite fazia valer a pena ter vindo aqui.
Isso mesmo, Lorelay. Sinta-se traída como estou me sentindo.
Alguns drinks depois, Dylan e eu somos a sensação do momento. Todas as atenções estão voltadas para nós, que representamos um belo casal apaixonado e todos os nossos antigos amigos se aproximam, nos desejando felicidades e dizendo o quanto somos lindos juntos.
E realmente somos. Temos uma química extraordinária e parece que namoramos há anos. Dylan é lindo: loiro, musculoso e com olhos castanhos claros que fariam qualquer garota cair a seus pés e implorar seu amor. Porém, ele é exatamente o tipo de homem do qual me recuso a escrever em meus romances, sem chance de me envolver de alguma forma.
Ele é um babaca épico, daqueles que acha que sua beleza e seu charme são suficientes para suprir sua falta de caráter. Apenas um idiota tentaria me levar para cama logo depois de transar com minha amiga.
Depois desse incidente, ele continuou ficando com Lory, mas não parava de insistir em mim. Ele foi o motivo de diversas discussões entre Lorelay e eu, pois, mesmo eu contando que ele não parava de dar em cima de mim, ela continuou com aquela obsessão por Dylan, deixando para trás qualquer resquício de amor próprio.
E agora, aqui estou, bebendo, sorrindo e trocando carinhos com um cara que me dá asco. Ainda bem que não precisamos ficar conversando coisas além de frivolidades, pois a cada vez que ele tenta ficar todo meloso, algum amigo se aproxima para relembrar os bons tempos nas festas das fraternidades.
Enquanto isso, eu vou bebendo, drink após drink, virando cada gole que necessito para não ter que lidar com meus sentimentos confusos.
— Bom dia, princesa.
Acordo assustada ao ouvir aquelas três palavras. Tudo que aconteceu após o oitavo drink apagou-se da minha mente. O quarto em que me encontro é extremamente luxuoso e masculino. Um típico apartamento de playboy solteiro que não tem com o que se preocupar.
— Porque você me trouxe para cá?
Minha cabeça está latejando e sinto minha boca seca. Não sei se ele tem a capacidade de ler meus pensamentos, mas ele se aproxima de mim com um copo de água e um comprimido para ressaca, o que aceito de bom grado.
— Você estava muito bêbada. Não quis te deixar sozinha.
— Nossa! Eu não lembro de nada.
— Que pena — ele diz com um sorriso brincalhão nos lábios.
— Não vai me dizer que você bancou o idiota novamente e dessa vez deu em cima de uma mulher embriagada, né? — Seu sorriso diminui um pouco e ele se afasta da cama, dando-me as costas
Dylan não é muito mais alto do que eu, mas seu corpo musculoso faz meus olhos pararem em seus braços fortes. Ele se vira e caminha para o espelho, onde começa a colocar uma gravata. Minha visão para em seus ombros largos e suas costas, descendo ao seu bumbum. Se fosse qualquer outro cara, eu teria agora a imagem perfeita para minhas fantasias sexuais.
— Fui um verdadeiro cavalheiro dessa vez — ele diz, me olhando pelo reflexo do espelho, ainda de costas. — Dormi no sofá para deixá-la mais à vontade.
— Cavalheiros não falam sobre as gentilezas que fazem, pois sabem que não fizeram nada além do seu papel na sociedade. — Encaro-o mal-humorada.
Ele respira fundo e vem até mim.
— Eu quero pedir desculpas pela forma como dei em cima de você na faculdade. Sei que fui insistente, mas é porque eu estava muito afim de você e não sabia como deixar mais claro.
— Eu não diria que você foi insistente. Na verdade, você foi inconveniente. Você estava ficando com minha amiga, pelo amor de Deus! E eu tinha namorado.
— E olha só quem está noivando com sua amiga agora...
— Esse assunto não lhe diz respeito, Dylan. Na verdade, eu nem sei porque isso te incomoda, afinal, você claramente não gostava da Lory, senão não teria ficado com todas as mulheres do campus.
— Eu não gostava da Lory, eu gostava de você e por isso me importo, pois eu ainda gosto.
Não consigo controlar minha gargalhada e meus olhos lacrimejam à medida que meu corpo se move para frente e para trás. Após alguns minutos, vejo a mágoa refletir nos olhos de Dylan e me arrependo de ter sido tão insensível, afinal, eu não costumo ser assim.
— Me desculpa. — Tento me recompor. — Eu não quis ser rude, é só que... — gaguejo — Você não gosta de mim, Dylan.
— E como você tem tanta certeza disso? — Ele parece aborrecido, então respiro fundo antes de responder:
— Dylan, você não gosta de mim. No máximo sente atração, e o fato de que eu nunca retribuí o seu flerte apenas fez com que você se sentisse desafiado a me conquistar.
Ele fica me observando por um momento com uma expressão indecifrável e eu me pergunto se não peguei pesado demais. Se não fosse por ele, é provável que eu tivesse passado um vexame na festa. Quando abro a boca para falar, Dylan se apressa em minha frente:
— Você tem razão. De qualquer forma, foi muito bom te rever, Alicia. Fique à vontade e quando sair, deixe a chave na portaria.
— Hey, espere. Você vai pra onde?
— Trabalhar. A vida de estudante ficou pra trás, Ali. Bem-vinda a vida adulta!
Ele pisca para mim e vai embora, me deixando com os sentimentos mais confusos do que já estavam.
Estou saindo da Flowers&Smilespara o intervalo do almoço quando Lorelay se aproxima.
— Tem tempo para um almoço entre amigas?
— Claro que sim, Lory.
Seguimos em silêncio até uma lanchonete no outro quarteirão que vende um hambúrguer delicioso. Lorelay pede um sanduíche natural com suco de laranja enquanto peço um combo com batata, cheddar e bacon, sem esquecer de uma coca para acompanhar meu hambúrguer.
— Uau! — ela diz. — Você não mudou nada, hein?
— Não posso abrir mão das maravilhas do mundo.
Sorrimos uma para outra e por um momento, sinto como se estivéssemos nos conectando de novo. Mas esse momento é passageiro e logo estamos pisando em ovos, pensando bem nos assuntos a serem abordados.
— Achei bem seu estilo trabalhar com flores. Sua alma livre precisa disso, não é?
— Sim, é uma fonte de inspiração para os eternos românticos.
— Não é como se você precisasse de uma fonte, né, Ali? O espetáculo que você deu ontem com Dylan mostrou que está no paraíso.
Paro por um momento antes de responder, checando se existe ironia em suas palavras e calculando minhas próximas frases.
— Sim, estamos no paraíso. Imagino que você e Rufus também — falo e pego sua mão, olhando melhor para a aliança de noivado.
— Porque você não me contou que estava com Dylan? — Lory fala de supetão.
— E porque você não me contou que estava com Rufus? — Encaro-a, desafiando.
— Ele não era mais seu namorado quando nos reencontramos em Seattle, então não tinha nada a ver com você — Lorelay usa seu tom ríspido e eu rebato na mesma moeda.
— E Dylan nunca foi seu namorado, então isso não tem nada a ver com você!
Eu jamais estaria discutindo assim com uma amiga por causa de ciúmes, então realmente não sei o que está acontecendo com nós duas para estarmos nos tratando assim. Passo as mãos pelos cabelos, os puxando para trás da orelha em um claro sinal de irritação.
— Alicia, podemos por favor apagar tudo isso e voltarmos a ser amigas? — ela fala e eu sinto sinceridade em sua voz.
— Isso é tudo o que mais quero, Lory.
Seguimos o almoço conversando amenidades. Lorelay conta seu sucesso como publicitária em Seattle e eu me dedico a ouvi-la atentamente, uma vez que não tenho muitas novidades para contar.
Escrevi cinco romances enquanto estava na faculdade e quando me formei, enviei meus manuscritos para as principais editoras de Nova York. Três meses depois, marquei reuniões com o editor chefe de cada editora que tinha ido, para receber um feedback sobre meus romances e entender o motivo de ser recusada.
Segundo eles, meus romances estavam ultrapassados e chegavam a ser infantis. Eu não entendi muito bem a princípio, então fiz uma pesquisa de mercado e descobri que depois da "febre" de Christian Grey, os leitores passaram a ter uma adoração por romances um pouco mais calientes, o que significava que uma autora inspirada em Nicholas Sparkse Jane Austen não era muito lucrativo para as editoras, uma vez que romances clichês com mocinhos superromânticos estavam fora de moda.
Talvez esse seja o motivo do meu bloqueio criativo. Depois disso, não consegui escrever mais nada, já que não consigo atender às críticas dos novos leitores, assim como não tenho mais coragem de me expor com meus romances e correr o risco de ser chamada de infantil.
— Que tal um jantar? Quinta à noite fica bom para vocês? — Lorelay interrompe meus devaneios, me fazendo perceber que eu não estava prestando atenção a nossa conversa.
— Claro, vai ser ótimo! — respondo prontamente, mas por dentro estou insegura quanto a que tipo de enrascada estou me metendo.
— Ah, amiga, fico tão feliz! Rufus vai adorar saber que cuidamos de nossas diferenças com muita maturidade.
— Somos adultas, Lory. Não vai ser um desentendimento bobo que irá destruir anos de amizade, certo?
— Concordo plenamente. Nos vemos na quinta. Espero que Dylan goste de culinária francesa. Ouvi falar que aquele novo restaurante é um luxo. Enfim, amiga, até lá, beijos.
Lorelay vai embora e eu continuo sentada, embasbacada com o tamanho da burrice que cometi. Eu não só continuei fingindo ser namorada de Dylan, como marquei um encontro de casais na véspera do dia dos namorados depois de ter sido uma megera com ele.
Sou uma idiota!
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