Capítulo 18: Cravina rosa
"As ausências quando são promessas de novos encontros, servem para fortalecer os laços de mútuo afeto."
Carlos Bernardo González Pecotche
Terça-feira, 31 de maio
O movimento na floricultura não era muito, então estávamos sentadas no balcão, Fernanda e eu, enquanto Rafaela atendia uma moça. Ela pedia várias flores, fazendo um buquê muito colorido. Ainda bem que flores nunca são demais.
— Vocês estão bem de verdade? — perguntei a Fernanda, me referindo ao relacionamento dela com Rafael.
Eu acompanhei de perto o início de toda a história dos dois. Rafael é um amigo de Filipe de longa data, o que explica sua aparição enquanto eu conversava com Nanda no celular, eles se conheceram em uma festa de aniversário de Filipe e foi só o que bastou para começarem algo. O problema é que Rafael morava à quilômetros de distância e os dois tiveram que manter um relacionamento à distância.
Resumindo toda a história: não foi nada fácil para Fernanda e isso resultou em vários conflitos, mas o amor dos dois sempre foi maior do que tudo isso e, finalmente, eles estão juntos e definitivamente.
A distância só os aproximava mais, por mais estranho que essa frase pareça ser. Eles estavam longe, mas sempre perto um do outro.
— Estamos — ela sorria. — Dessa vez é verdade.
Rafaela se despediu da mulher, que saiu carregando um enorme buquê, e sentou-se à nossa frente, prendendo o cabelo. Nos olhou, confusa, enquanto sorríamos para ela, e franziu as sobrancelhas.
— O que foi?
— E você? — perguntou Nanda. — Todo mundo tem alguém. E você?
— Eu tenho meus cachorros e muitas leis para estudar — respondeu com uma risada e eu a acompanhei. Fernanda fechou a cara.
— Estou falando sério, Rafa. Conta, eu já percebi que você está meio diferente de uns tempos para cá e eu nunca erro.
Rafa bufou e pegou o celular do bolso, mexendo e depois virando para nós, mostrando duas fotos e um vídeo dela com um homem.
— Vocês são tão fofos juntos! — gritou Fernanda, quase me deixando surda. — Por que demorou tanto tempo para nos mostrar isso?
— Eu não sabia se era sério ou não e, na verdade, ainda não sei — admitiu enquanto guardava o celular. — Por isso estava esperando para contar, mas é impossível esconder algo de você.
— Eu sou demais, meu bem — gabou-se Fernanda, sorrindo.
— Agora nós podemos mudar de assunto? Vocês viram o futebol domingo? — perguntou Rafa e recebeu um olhar de Fernanda, como se ela tivesse vindo de outro mundo.
— Não, Rafaela Martins, eu não assisti o futebol — informou Fernanda.
— Eu assisti — ouvi a voz de Matheus atrás de mim e me virei, dando de cara com ele. Não tinha escutado o sino da porta. — Oi, Mari.
— Eu acho que nós tinhamos algo para pegar no depósito, não é, Rafa? — comentou Fernanda, enquanto arrastava uma Rafaela confusa para os fundos da loja. Eu apenas ri, balançando a cabeça, e Matheus me acompanhou.
— Com você está? — ele perguntou, apoiando um braço no balcão e me olhando ao mesmo tempo que sorria.
— Bem, apenas resolvendo alguns problemas esses dias — falei, enquanto dava a volta no balcão, me apoiando para conversar com ele.
— Algo que eu possa ajudar? Nem que seja apenas com a minha ilustre companhia.
— "Ilustre companhia"? — falei com um ar de ironia e ele sorriu. — São assuntos que só eu mesma posso resolver.
— Entendi, mas, qualquer coisa, você sabe que pode contar comigo, não é? — perguntou e eu sorri. — Faz um buquê para mim?
...
Passei pela porta do restaurante, dando de cara com Livia, que sorriu para mim. Andei até ela, que me recebeu com um abraço.
— Faz tempo que não aparece aqui, Mari — falou sorrindo e eu concordei. — Quer que eu chame o Vini? Ele sabe que você veio?
— Não sabe — falei e ela riu. — Pode chamá-lo, por favor?
Ela concordou com um aceno e entrou, seguindo diretamente para a cozinha. Minutos mais tarde, ela volta, seguida de Vinicius, que atraía olhares de todas as pessoas que jantavam naquele horário. Ele já era bonito quando estava vestido normal, então, quando estava vestido de chef, as pessoas faltavam engasgar nas mesas. Quando me viu, ele sorriu e andou até mim, tirando o chapéu de chef.
— O que traz você até meu humilde local de trabalho? Fome? — perguntou e eu ri.
— Que de humilde não tem nada, Vinicius — falei, apontando ao meu redor. O restaurante era um dos mais caros da cidade e se encontrava num dos bairros mais nobres.
— Finge, Marina, finge — ele falou rindo e deu espaço para que eu passasse, subindo as escadas para o segundo andar do restaurante. Presumi que ninguém tivesse reservado aquele espaço nesta noite. E estava certa.
Vini abriu as portas de madeira Branca e me deixou passar em sua frente, deixou o chapéu em cima da mesa que tinha ali no centro e se sentou no pequeno sofá que dava para a janela. Eu me sentei junto com ele e ele me olhou.
— Você quase nunca vem aqui, o que aconteceu? — ele perguntou, enquanto eu olhava para a vista que tínhamos da cidade.
— Nada — respondi e ele me encarou desconfiado.
— De quem você está fugindo, Marina?
— Pode, por favor, não me chamar pelo nome inteiro? — bufei e ele não esboçou reação, continuou me encarando como se tentasse desvendar o que eu escondia. — Eu não sei, de verdade. Estou me sentindo agoniada e não queria ficar sozinha. Você ainda vai demorar aqui?
— Não muito tempo — ele falou e, finalmente, sorriu. — Eu preciso descer, hoje não tem reserva aqui, então você pode ficar. Eu volto em alguns minutos, meia hora no máximo. Você quer algo?
— Quero que você não demore, tem como? — perguntei e ele riu.
— Vou ver o que posso fazer por você.
Ele se levantou e caminhou até a mesa, colocando de volta o chapéu. Nem parecia o mesmo Vinicius brincalhão de sempre e eu vivia falando isso para ele. Disse que já voltava e saiu, fechando a porta branca atrás de si e me deixando sozinha com a vista de São Paulo e a carta, enfiada no bolso de trás do jeans, que parecia pesar uma tonelada.
Suspirei. Parecia que, depois que descobri que Filipe não é o admirador, ficou muito mais difícil de ler as cartas. Talvez, apenas talvez, uma parte de mim tivesse esperança de que ele fosse o admirador secreto e tudo, um dia, voltasse a ser como era antes. Mas descobrir que não é ele, limitava minhas opções ao Alemão, Hugo e, é claro, Vinicius.
O buquê de cravinas havia ficado em meu carro, deixado cuidadosamente no banco do carona, enquanto eu trouxe apenas a carta, sem envelope, para o restaurante, enquanto criava coragem para lê-la.
Vamos, Marina, não é difícil ler algumas simples palavras, é? Minha consciência falava e eu tentava, num gesto desesperado, calá-la a qualquer custo. Por fim, puxei o papel do bolso e o abri, respirando fundo e começando a ler as palavras impressas no sulfite.
"Querida Mari,
Como está? Esse já é o buquê de número 18, o que significa que faltam mais 12, apenas.
Cravinas rosas simbolizam laços de afeto e eu acho, este, um assunto muito complicado. Laços são vínculos essenciais para o ser humano. Todos temos e, aqueles que não têm, muitas vezes, podem ter algo que os impossibilite, como alguma aversão à pessoas. Mas é inegável que as pessoas precisem de laços durante toda a vida.
Criamos laços com as pessoas da nossa família, com amigos na escola, colegas no trabalho e pode ser que, às vezes, até com alguém que encontramos na rua, por acaso. Os laços se formam por si mesmos, naturalmente, e, quando vemos, já estamos atados àquelas pessoas.
O problema começa quando estes laços tornam-se nós, sufocando aqueles que estão atados e impossibilitando o bom convívio. A boa rotina transforma-se, da noite para o dia, em apenas brigas e discussões infindáveis.
Espero que você cuide dos seus laços para que eles não se tornem nós.
Com amor,
Seu admirador secreto."
Terminei de ler a carta e dobrei o papel, colocando de volta em meu bolso no mesmo momento em que a porta foi aberta. Eu tinha passado tanto tempo assim lendo?
— Luigi mandou um prato para você — ele disse, sentando-se do meu lado e me estendendo o prato.
— Ainda continuo imaginando ele como o Mário Verde — falei e Vinicius riu, revirando os olhos logo em seguida.
— Está melhor aqui? — perguntou e eu o encarei sem entender. — Digo, melhor do que sozinha em casa.
— Você sabe que eu sempre prefiro estar com você do que sozinha.
— Que bom — murmurou. — Eu sei que você sempre quis ser minha amiga, só nunca admitiu isso para si mesma.
— Eu? — exclamei, mais como uma pergunta do que como afirmação. — Você que veio até mim, só para que eu te ajudasse com algumas garotas, Vinicius. Não seja cara de pau.
— Admita, Mari — ele sorriu, chegando mais perto, muito mais perto do que o habitual, e me fazendo prender a respiração. — Me ver jogando era um dos seus passatempos favoritos.
— Te tirar das burradas que você fazia que devia ser um dos meus passatempos favoritos — rebati, erguendo uma sobrancelha. — Era só isso que eu fazia todos os dias.
— Porque você sempre se importou demais comigo — falou, ainda perto.
Nesse momento, eu não consegui mais sustentar seu olhar e virei o rosto, voltando a comer. Vinicius se endireitou no sofá e retirou o dólmã, que é aquela camisa que os chefs usam e eu levei um bom tempo para aprender o nome. Ele olhou para a cidade iluminada à nossa frente e depois se virou para mim.
— Livia me convidou para sair — falou, depois de algum tempo e eu ri.
— Desculpa, é sério? — disse enquanto tentava controlar o riso. — Eu acho que trocaram o meu Vinicius. Como assim uma garota te convidou para sair? Você sempre faz isso primeiro.
— Eu sei — ele dizia, enquanto passava a mão nos cabelos, bagunçando-os e eu, num instinto, ergui a mão para colocá-los de volta no lugar. — Não fiz isso primeiro porque não quero.
— Ah — exclamei, entendendo a situação. — E o que você disse para ela?
— Falei que tinha algumas coisas para resolver e que não poderia sair com ela agora — ele disse, suspirando. — Não quero alimentar falsas esperanças nela, Mari.
— Então não alimente — falei como se fosse algo óbvio. — Diga a verdade ou, sei lá, invente alguma desculpa para acabar de vez, não apenas por algum tempo.
Ele suspirou novamente, arrumando sua postura no sofá e encarando a grande janela por alguns minutos. Esse silêncio estava me deixando um pouco assustada.
— Eu pensei em algo, na verdade — falou e eu assenti, encorajando-o a prosseguir. — Mas eu precisaria da sua ajuda.
— Minha ajuda para o quê? — perguntei e ele me encarou.
— Pode fingir que é minha namorada?
NOTAS
Oioi, pessoal!
Resolvi postar esse capítulo (beeeeem) mais cedo. O que acharam?
Também queria deixar avisado aqui que o capítulo da próxima semana sai na sexta-feira, pela manhã. Eu vou ficar sem internet no fim de semana, então decidi adiantar para vocês.
Quem acha que vai dar algo errado nessa história do Vini? Quem acha que é só uma desculpa para se aproximar da Mari como mais do que amigo? Eu quero ver suas teorias!!
Deu para entender a história da Fernanda e do Rafael nesse capítulo, não é? Prometo fazer um extra depois, pelo ponto de vista da Nanda, para vocês saberem mais sobre esse casal que eu gosto tanto.
Aqui embaixo estão as duas fotos e o gif que a Rafa mostrou para Mari e Nanda: pode entrar, melhor casal que você respeita, Chloe Bennet e Brett Dalton (gente, eu sei que eles não são um casal de verdade, mas olha que coisa mais linda). E queria dizer também para vocês se lembrarem dele, porque vai ser muito importante para a história.
Não esqueçam dos votinhos e dos comentários!
Até o próximo capítulo!
Amo vocês.
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