Capítulo 14: Lisianthus
"Com o amor não se brinca, se entrega integralmente."
Humberto Queiroz
Música do capítulo: Show Me Love (America) – The Wanted
Anos atrás
O telefone tocou no meio de um episódio da série que eu assistia na Netflix. Já havia dito para minha mãe que não precisava de nada e não queria visitas, se fosse ela ligando, eu não atenderia.
Peguei o telefone na mesa da sala e olhei o visor, vendo um número que não era desconhecido. O coração acelerou e eu não sabia se atendia ou não. Tocou uma, duas, três vezes. Até que eu tive coragem para atender, mas nada disse.
— Oi, Mari... Marina. Acho que você não me dá mais o direito de te chamar de "Mari". Eu estive pensando, eu estou pensando. Estou aqui no aeroporto, essa maldita operadora me cobra 25 centavos a cada minuto que eu falo e eu estou aqui. As malas estão na minha frente, mas ainda faltam as suas, ainda falta você, Mari. Eu fui covarde demais deixando a carta, mas você não me deu escolha além disso. Eu só estou ligando para confirmar uma última vez, em 15 minutos o avião sai e eu só preciso de uma confirmação: se você disser que vem comigo, eu remarco o voo e volto, você faz suas malas e nós vamos juntos. É o meu sonho, Mari, você entende isso? Eu fiz tanto por você, pode fazer algo por mim dessa vez? Vem comigo.
Eu ouvia Filipe pelo telefone e sua voz denunciava que ele tinha chorado recentemente. Não é como se eu estivesse numa situação diferente.
— Eu sei que você está ouvindo isso, posso ouvir sua respiração pesada na ligação. Amor, é só isso que eu preciso de você. São dois anos e, então, nós voltamos para São Paulo. Me dê uma resposta, Mari.
— Eu não posso — respondi, sentindo as lágrimas caírem. Fui até meu quarto e sentei na cama, abraçando as pernas. — Você é tudo pra mim, mas não posso deixar o que tenho aqui e ir passar dois anos fora. Você que precisa ficar aqui comigo, Filipe.
— Eu não posso, Mari, não posso ficar.
I could've shown you america
All the bright lights in the universe
Could have reached, the highest heights
A different place, a different life
Remember that night underneath the stars
For a minute I thought the world was ours
All you had to do was show me love
Sexta-feira, 27 de maio
Sentei na cama, olhando ao redor e reconhecendo as paredes azuis. Ultimamente, meus sonhos têm se tornado tão reais que acordo assustada, achando que estou vivendo tudo aquilo outra vez, todas as dores e angústias.
Andei até a cômoda e peguei meu celular, havia mensagens da minha mãe perguntando o que estava fazendo no feriado e contando como estava a viagem. Respondi as mensagens brevemente e passei para as próximas, não tinha nada de muito interessante ou importante, então logo larguei o celular e abri a janela, sendo recebida pelo abraço caloroso do sol.
Vinicius ainda dormia, então me troquei, peguei meu celular e algumas notas e desci a escada do prédio, seguindo até a padaria que ficava na próxima esquina. O clima estava quente e as pessoas andavam pelas calçadas usando shorts e regata, o que era incomum por onde eu morava e nunca me acostumava quando passava alguns dias aqui.
Enquanto esperava na fila do pão, que estava enorme, peguei o celular do bolso e abri as redes sociais, vendo várias fotos de pessoas curtindo o feriado prolongado. Porém, tudo tem seu lado ruim, e dessa vez não foi diferente.
O ser humano que inventou de colocar sugestões de pessoas para serem seguidas, deveria ter apanhado por isso. O nome "Filipe Borges" parecia saltar da tela do celular e eu apenas encarava, sem saber se bisbilhotava ou se apenas seguia em frente, ignorando o que acabei de ver.
— Moça, tu não vai pedir, não? — uma mulher, atrás de mim, perguntou enquanto me cutucava e eu ergui os olhos do celular, vendo que não havia mais ninguém na minha frente.
— Desculpe — disse, sorrindo envergonhada para a mulher, e voltei minha atenção para a atendente. — Três pães franceses, por favor.
— Só podia ser paulista. Aqui é "média", senhora, não tem dessa frescura de pão francês não — disse a mesma moça que tinha me cutucado instantes atrás, mas eu ignorei seu comentário e agradeci pelo pão, pagando e logo saindo dali.
Quando cheguei no apartamento, ouvi alguns barulho vindo da cozinha. Vini estava parado em frente à cafeteira, como se ela fosse algum objeto alienígena, com o cabelo mais bagunçado que nunca e vestindo apenas uma bermuda.
— A cafeteira se recusa a fazer café — ele disse, coçando a nuca, assim que me viu. Os olhos inchados revelavam o quão cansado ele estava.
— Bom dia para você também, querido amigo — falei e ele revirou os olhos enquanto se sentava.
Coloquei os pães na mesa e fui até a cafeteira, arrumando-a para que a água voltasse a descer normalmente e o café fosse feito. Vini tinha a cabeça apoiada nas mãos, em cima da mesa, e mantinha os olhos fechados. Peguei um remédio no armário do banheiro e entreguei a ele, que agradeceu.
— Por que você está assim? — perguntei, depois que ele tomou o comprimido e ele me lançou um sorriso falso.
— Você não me deixou dormir à noite inteira, Mari — falou e abaixou a cabeça novamente. — Minha cabeça vai explodir.
— Vá deitar — falei. Ele se levantou e eu fiz o mesmo, seguindo logo atras dele. — Eu vou dar uma volta depois, preciso fazer algumas coisas.
Tomei café e arrumei tudo o que tinha para arrumar na cozinha. Ia tomar banho quando bateram na porta e eu já tinha plena certeza de quem era: um entregador de flores.
Fui até a sala e abri a porta, encontrando um homem não muito velho com um buquê nas mãos. Como de costume, perguntou se eu era a tal Marina e me entregou as flores, saindo logo em seguida. Sentei no sofá para ler a carta antes de sair.
"Querida Mari,
Estas flores simbolizam o romance e, lendo, encontrei uma frase de Oscar Wilde que diz: "amar a si mesmo é o começo de um romance para toda a vida".
Refletindo sobre isso, vem o questionamento: nós podemos amar alguém se, antes, não amarmos a nós mesmos?
Muitas pessoas entram em relacionamentos buscando ser carne e unha (alma gêmea, bate coração) com outra pessoa. Vivem buscando, incessantemente, sua 'metade da laranja', em vez de se amar o suficiente para não precisar mendigar amor.
Quando você ama, verdadeiramente, a si mesmo, antes de pensar em amar alguém, tudo se torna mais fácil. O ciúmes tem menores proporções, você consegue se pôr no lugar do outro com mais facilidade e o relacionamento flui melhor.
Isso é algo que aprendi com o tempo (depois de quebrar a cara sucessivamente) e não desejo que as pessoas tenham que passar pelo que passei para aprender.
Você ama a si mesma o suficiente para amar outra pessoa? Fica aí o questionamento.
Com amor,
Seu admirador secreto."
Mal sabia, esse admirador, que eu já quebrei a cara para aprender essa lição.
...
Estava sentada na areia. O sol brilhava em cima de mim e minha pele estava quente, mesmo com o protetor. Vinicius ainda estava dormindo quando saí do apartamento, me sentia mal por ele não conseguir dormir por minha culpa. O celular vibrou em minha mão e eu o peguei, vendo que era uma chamada de vídeo da Fernanda.
— Oi, Mari! — ela falou, acenando e praticamente gritando, quando atendi.
— E aí? — perguntei enquanto andava até um local com sombra. Tirei o óculos e sorri. — Conseguiu resolver?
— Já está tudo certo — ela falou sorrindo como não fazia há muito tempo. — Eu deixaria você dar um sermão no Rafa e ditar umas duzentas regras, como você fez da primeira vez, mas ele saiu.
— Eu vou ter todo o tempo do mundo para brigar com ele — falei e ela riu.
— Cadê o Vini?
— No apartamento. Ele não conseguiu dormir à noite, porque eu não consegui dormir — falei e ela olhou confusa. — Longa história. Você sabe, o de sempre.
— Ah sim — falou, entendendo o que eu queria dizer. A conversa então se tornou estranha e ninguém sabia mais o que dizer.
— Então, tem espaço no apartamento. Por que vocês não vêm passar esses dois dias aqui? — falei, tentando fazer a conversa voltar ao normal, mas Fernanda ainda estava estranha.
— Não sei, tenho que ver com o Rafa, não sei se vamos conseguir ir — falou, enquanto olhava para a janela. — Mari, eu preciso desligar, o Rafa chegou.
— O que tem demais nisso? — perguntei. — Me deixa falar com ele, já pergunto sobre vocês virem para cá.
— Acho que não é uma boa ideia agora, de verdade. Tchau, Mari — ela disse rápido e a porta foi aberta atrás dela. Não antes que eu pudesse reconhecer aquela voz.
Levantei do montinho de areia em que estava sentada, guardei o celular no bolso e comecei a caminhar de volta para o apartamento. Segurava as lágrimas que faziam de tudo para cair, mas eu me recusava a chorar. Enquanto caminhava, me lembrava das últimas frases que ouvi antes que ele fosse embora definitivamente: são apenas dois anos.
Dois anos tinham se passado e ele estava de volta. Como eu não lembrava disso? E é claro que ele iria atrás de Rafael, os dois sempre foram melhores amigos, era óbvio. Mas o pior de tudo: por que logo agora? Ele poderia deixar para voltar no mês que vem, ou então não voltar, mas não podia ser agora.
Entrei no apartamento e bati a porta com um pouco de força demais. Ouvi barulhos na cozinha. É claro que Vinicius estaria lá, aquele é praticamente seu habitat natural.
— Mari? — chamou e eu andei até lá, ainda segurando as lágrimas. Ele me olhou de cima a baixo com uma expressão um pouco confusa, com certeza já tinha percebido que tinha algo errado. — O que aconteceu com você?
E eu apenas o abracei, chorando o que não tinha chorado até agora, podendo apenas ouví-lo falar que tudo ficaria bem e que, não importa o que aconteça, ele estaria comigo até que tudo se resolvesse. Ele estaria ali para mim e, em meio a tantos problemas que começavam à minha volta, como um furacão, eu tinha certeza disso.
NOTAS
OLAAA! Como estão vocês? Vencendo mais um fim do mundo?
O capítulo teve algumas reviravoltas na vida da nossa querida Mari. A bichinha sofre, tadinha. O que vocês acham disso tudo? Quem vocês acham que voltou?
A HISTÓRIA ESTÁ CHEGANDO EM 1K E TEM SURPRESA PRA VOCÊS! Ninguém leu errado! Quando bater 1k (logo, logo), eu solto a surpresinha que tenho guardada aqui. Ou seja: leiam, votem, comentem, chamem xs migxs pra ler também e vamos bater a meta (depois dobramos a meta, mas não vamos fechar a meta, vamos deixar a meta aberta).
Até mais! ❤
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro