Capítulo 06: Dente-de-leão
"A fidelidade é o esforço de uma alma nobre para igualar-se a outra maior que ela."
Johann Goethe
Quarta-feira, 18 de maio
— Tudo bem, eu ainda não entendi por que seu gato se chama Jack Sparrow...
— Capitão — ele interrompeu, corrigindo-me.
Estava há, mais ou menos, quinze minutos sentada no sofá marrom da sala de Julio. Depois de muito insistir, eu acabei aceitando entrar, mas ainda recusava a garrafa de cerveja que ele havia oferecido. Capitão Jack Sparrow havia voltado da sua "voltinha" noturna, e Julio disse que Darth Vader dormia no quarto. Depois de um tempo eu descobri que era outro gato. Eu vejo referências nerds em todo lugar.
— Talvez você seja um pouco obcecado por gatos, não? — perguntei enquanto retirava meus sonhos da sacola e começava a comer. A minha felicidade em comer sonhos era maior que tudo.
Ficamos conversando por algum tempo enquanto ele tomava suas cervejas e eu comia meus sonhos. Ele me fazia algumas perguntas sobre mim, falava algumas coisas sobre ele mesmo e, às vezes, falava sobre seus gatos. Na verdade, falar sobre ele e falar sobre os seus gatos, ao final, dava tudo no mesmo. Alguns minutos depois, eu conheci Darth Vader: um simpático gatinho preto.
Finalmente me levantei para ir para casa, já que o relógio já marcava mais de dez horas, e não ser levada para o lado negro da força que era aqueles pelos macios de Darth Vader.
— Podemos marcar alguma coisa qualquer dia — ele disse, me acompanhando até a porta. — Nem que seja uma pizza.
— Na sua casa ou na minha? — eu perguntei, rindo, enquanto saía. A piada não tinha tanta graça assim, mas tudo bem.
— Com você, pode ser até aqui no corredor mesmo.
A voz na minha cabeça gritava incessantemente "não fique vermelha", tentando fazer dar certo, mas eu já podia sentir as minhas bochechas queimando. Me despedi e entrei no meu apartamento, pegando meu celular e olhando as mensagens desesperadas de Vinicius.
"Posso ir na sua casa hoje?"
"Tudo bem. Quando quiser responder, eu estou aguardando."
"Ainda estou aguardando."
"O que eu te fiz?"
"Quando resolver responder, ainda estarei esperando."
Dei risada das mensagens e respondi dizendo que fui na padaria. Logo o celular apitou com mais três mensagens.
"Ah sim."
"Não, espera."
"Foi fazer o pão de amanhã? Por que demorou tanto tempo?"
— Fala — atendi delicadamente quando ele resolveu me ligar.
— Você foi comprar pão ou namorar o padeiro?
— É que eu encontrei um certo Alemão no meio do caminho — disse e pude ouvir sua risada ao fundo.
— Sabia que esse Alemão era suspeito. Conta logo, ele tem um bar, não tem?
— Não, Vinicius, ele não tem um bar — eu disse rindo.
Vinicius me perturbou mais um pouco, até eu dizer que iria me arrumar para dormir e amanhã ele poderia vir me perturbar pessoalmente. Como toda pessoa atentada, ele me irritou mais um pouco falando que, qualquer dia, eu precisava levá-lo até o "bar do Alemão", até que enfim desligou. Tomei um banho rápido e me deitei, o cansaço já vencia tudo.
...
Estava sentada no sofá com a xícara que ganhei de minha mãe nas mãos, quando a porta foi aberta. Filipe entrou, tirando o capacete e me possibilitando ver seu rosto, onde um grande sorriso estava estampado.
— Como foi seu dia? — ele perguntou, sentando-se ao meu lado no sofá e me dando um simples beijo antes de me encarar.
— Vendi muitas flores hoje — respondi, também sorrindo e ele desviou seu olhar para a mesa.
— O que são essas flores? — ele perguntou, apontando para o buquê no centro e voltando a me olhar.
— São as flores que você me mandou hoje. Aliás, eu amei. São lindas!
— Eu não te mandei flor nenhuma, Mari — Filipe disse e eu quase derrubei a caneca, assustada com a rigidez de suas palavras. — Flores para uma florista... Essa é boa! Quem está te mandando essas flores, Marina?
— Eu não sei! Jurava que tinha sido você... — tentava dizer enquanto ele se levantava e pegava o capacete de volta.
— Eu não mandaria flores, Marina, devia saber disso — e então a porta bateu.
Quinta-feira, 19 de maio
Me levantei assustada, ouvindo a chave da porta da sala ser girada, até ver Vini passar pela porta do meu quarto.
— Credo, que cara de morta! — ele disse, entrando no quarto e abrindo minha janela. Que mania chata! — Parece que viu a Samara.
— A Samara não, mas o sonho que tive... — disse, cruzando as pernas, dando espaço para ele sentar, e arrumando meu cabelo.
— Se for pesadelo, eu não quero nem saber!
O encarei e contei todo o meu sonho envolvendo Filipe e como ele disse que não mandaria "flores para uma florista". Vinicius me encarava em silêncio enquanto eu contava toda a história. Fazia tempo que eu não sonhava com meu ex-namorado e, sempre que isso acontecia, eu terminava mal.
— Vou ligar para Fernanda e dizer que você não vai à floricultura hoje — ele disse se levantando, em busca de seu celular.
— O que? Claro que eu vou! Não posso deixar a floricultura — eu tentava fazê-lo mudar de ideia.
— Claro que você não vai, Marina — ele me encarou e eu soube que estava falando sério quando disse meu nome inteiro. — Quando você passou por tudo isso, eu estava lá e eu sei como você fica nessas situações. Eu não vou deixar você ir.
Voltei a sentar na cama e ele sentou do meu lado. Bufou e passou a mão no rosto, tirando o casaco que estava usando e colocando na poltrona que ficava perto da cama.
— Desculpa — falou, depois de um momento de silêncio. Eu entendia porque ele ficou desse jeito e ele tinha total razão. O abracei e ele relaxou mais, me abraçando de volta.
— Não precisa se desculpar, Vini. Eu entendi.
A realidade é que as três pessoas que estiveram comigo quando tudo aquilo aconteceu foram meus pais e Vini. Ele não saía do meu lado por nada neste mundo: dormia em minha casa, fazia minhas refeições e estava sempre ali quando eu precisava chorar. Ele deixava até de sair com outros amigos para ficar comigo nestes momentos!
Foi uma época extremamente triste de minha vida e eu tentava ao máximo não me recordar dela. Quando Filipe me deixou, eu não sabia o que fazer. A minha vida era tão entrelaçada à dele que eu fiquei sem chão, sem saber como dar o próximo passo sem cair e me estatelar no chão.
— Vamos lá, vou fazer seu café e ligar para a Fernanda. Enquanto isso, você pode ir ver as flores que estão na sua mesa. Elas estavam lá em baixo, com o porteiro. — disse indo para a cozinha e eu me levantei, indo até a sala.
Fui até a mesa e peguei o buquê cheio de pequenos dentes-de-leão. A carta, desta vez, tinha um selo em cera, como aquelas cartas antigas, e um desenho de uma rosa no meio. Tinha até medo de abri-la e estragar, mas a curiosidade sobre o que estava escrito era maior.
"Querida Mari,
Dentes-de-leão são flores delicadas que representam felicidade e alegria, achei que combinariam demais com você.
Resolvi mandar essas flores logo cedo, pois acredito que a felicidade em estar vivo e poder viver mais um dia (note que eu disse viver, não apenas sobreviver) deve ser a primeira coisa que temos que pensar ao acordar. Minha felicidade ao acordar é saber que posso melhorar, um pouquinho sequer, o seu dia com estas flores.
Com amor (e muita alegria),
Seu admirador secreto."
Na minha cabeça, a voz dizia que, se as flores tinham o propósito de melhorar meu dia, estavam atingindo seu objetivo.
NOTAS
Não sei se vocês perceberam, mas o Filipe disse o nome do livro! Aaaa
Surtos à parte, adoraria que vocês comentassem o que estão achando dos capítulos, o que mais agradou vocês e sobre o que vocês não gostaram... e quem vocês acham que é o admirador! E não esquece de votar!
Até semana que vem!
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