Capítulo 02: Crisântemo branco
"Pouca sinceridade é uma coisa perigosa, e muita sinceridade é absolutamente fatal."
Oscar Wilde
Domingo, 15 de maio
Com a experiência de vida que tenho até agora, com meus 26 anos, aprendi duas coisas que são essenciais para a sobrevivência neste planeta. Você precisa saber isso se quer enfrentar a gigante selva de pedra em que vivemos:
1. Tudo passa;
2. Nada é eterno.
Sim, dois pequenos itens que se completam. As dores, angústias, aflições, guerras internas (e externas também), conflitos, desavenças, rixas, inimizades e outras coisas ruins passam. Mas as boas também: amores, amizades, abraços, bons momentos, boas companhias...
A vida é uma grande montanha-russa, que faz algumas paradas após um certo período percorrido. Durante essas pausas, alguns sobem e outros descem. Alguns escolhem ficar o caminho inteiro e outros apenas um segundo. Alguns são tirados à força e outros escolhem ficar por si mesmos. Mas, o que quero dizer com isso tudo, é que temos que aprender a lidar com perdas. Elas acontecem o tempo inteiro, seja de um ente querido ou apenas de uma partida de futebol do seu time do coração. A vida é composta de ganhos e perdas, o segundo em sua maioria.
Mas quem seríamos nós sem as perdas? Quem seríamos nós se não aprendêssemos a viver sem alguma coisa da qual gostamos demais? Provavelmente, seríamos pessoas que não se importam com nada ao seu redor, nem mesmo com as outras vidas que nos cercam. Ou, ao menos, mais do que já somos assim.
Eu estava filosofando logo de manhã? Enquanto estava sentada no sofá com uma xícara de café bem forte na mão, olhando para a pequena luz do sol que a brecha na cortina deixava escapar? Sim para as duas perguntas.
A curiosidade em saber quem era o remetente das flores, que estavam em um vaso sobre a mesa da sala, era tão grande que eu passei a noite toda revirando na cama. Trocava o lado em que estava deitada, deitava com os pés na cabeceira, levantava e ia beber água, ia ao banheiro, mas nada adiantou. Até a tática de contar carneirinhos eu tentei: cheguei no 307 e o sono ainda não apareceu.
Quando olhei no relógio, já marcava mais de seis horas e eu não tinha dormido nem duas. Coloquei a cafeteira para fazer café, sentei na sala com uma xícara bem quente e levei o edredom comigo. Passei a manhã assistindo desenhos na televisão, como fazia quando tinha sete anos de idade. Era domingo e eu me permitiria isso. O problema é que, mesmo eu me permitindo, alguém não permitia: quando deu dez horas, alguém bateu na porta. Exatamente às dez horas da manhã de um domingo. Quem é a alma desumana que faz isso?
Levantei com a maior calma do mundo e deixei a caneca com a frase "melhor filha do mundo", que ganhei da minha mãe no meu aniversário, em cima da mesa e segui para a porta. Quando abri, encontrei um homem, devia ter a minha idade ou ser poucos anos mais velho, ele tinha os olhos castanhos brilhantes e trazia um buquê e uma cesta de café da manhã nas mãos.
— Bom dia — ele falou e a única coisa que eu consegui pensar era se aquele deus grego, parado ali na minha frente, era o admirador secreto. — Pediram para entregar isso para Marina.
Ah. Não é ele.
— Sou eu — ele me entregou as flores e a cesta. — Obrigada.
Ele saiu e eu fechei a porta. Coloquei a cesta em cima da mesa e observei as flores, eram lindos crisântemos brancos. Estava dividida entre ver a cesta e ler o cartão, mas a comida sempre vence. Era uma cesta completa de café da manhã, com direito a torradas, creme de avelã, sucos, bolachas, barras de cereais, algumas frutas e tudo o que se possa imaginar para um café.
Criando coragem, peguei o cartão entre os crisântemos. Cartas e cartões sempre me lembraram do meu término, dois anos atrás, quando o ridículo do meu ex-namorado não teve nem a decência de terminar comigo pessoalmente: fez isso por carta, já que era um grande adepto delas. Respirei fundo, afastando essas lembranças ruins e que me faziam tão mal, e abri o cartão.
"Querida Mari,
Você pensou que eu não mandaria flores hoje, não é?
Hoje é domingo e eu aproveitei para mandar uma cesta de café da manhã também, espero, sinceramente, que goste. E por falar em "sinceramente", esse é o significado do crisântemo branco: sinceridade.
A sinceridade é uma das característica que o ser humano pode possuir. Alguns em falta e outros em excesso, mas ela sempre acaba aparecendo em alguma parte da nossa vida, seja para dizer onde estava em algum relacionamento amoroso ou com a mãe em casa, na hora de devolver o troco do pão.
Este é o segundo buquê, ainda faltam mais vinte e oito. Porém, digo desde já: prometo ser sincero com você em cada palavra dita aqui, em cada letra e em cada ponto. Acredito que a sinceridade é a base para tudo, então temos que começar por nós mesmos.
Com amor (e sinceridade),
Seu admirador secreto."
Olhei para as flores e, logo em seguida, para o cartão ainda em minhas mãos e sorri. Era lindo o modo como ele dizia as coisas, ou, pelo menos, eu acreditava que era ele que escrevia. E continuaria acreditando, até que me dissessem o contrário.
Um dos parágrafos do texto ficou rodando em minha cabeça. Tinha tanta verdade nele que era impossível de acreditar. Eu sentia vontade de imprimir um milhão de cópias desses textos e sair distribuindo nas ruas, de tão bonitos e cheios de sentimentos que eles eram. Saber que um homem escrevia aquilo para você era instigante. Eu ainda estava de pé, ao lado da mesa, atônita, olhando para o pedaço de papel em minhas mãos.
Despertei-me do meu transe momentâneo e andei até meu quarto, sentando-me na beira da cama forrada com o lençol azul e abri a gaveta da cômoda, pegando a caixa de um dourado envelhecido que tinha dentro dela. Era uma caixa extremamente especial e cheia de sentimentos para mim. Coloquei-a em cima da cama e abri, dentro havia um anel, a carta do término, um par de brincos, um colar e o cartão que recebi ontem, todos os itens com um significado importante para mim. Coloquei o novo cartão dentro e fechei, passando a mão por cima e sentindo todos os sentimentos que transbordavam daquela caixa passar pela pele. Era palpável.
O sentimento, não importa qual seja, pode ser algo destrutivo ou construtivo. Bom como o cimento que segura os tijolos no lugar ou ruim como uma bomba plantada em lugar com muitas pessoas. Ainda não havia decidido se os sentimentos que vinham junto das flores era bons ou ruins, mas estava disposta a descobrir.
...
Vinicius me ligou, perguntando-me se tinha recebido outro buquê. Quando contei-lhe toda a história das flores e da cesta de café da manhã, ele começou a brigar comigo por não tê-lo convidado para comer também, mas, logo em seguida, começou a fazer alertas sobre esse admirador.
— Mari, ele sabe onde você mora, até eu estou ficando assustado com isso, e olha o meu tamanho — ele dizia ao telefone e eu comecei a rir. — Não ria, estou falando sério. Seu trabalho, seu endereço... Você não acha estranho? Hugo e Matheus sabem onde você mora?
— Não sabem, Vini. Por que saberiam? — eu disse, voltando a ficar séria e pensando seriamente no assunto.
— Então nós teremos que descartar os dois, o admirador deve ser alguém próximo a você — ele falou e eu parei para refletir.
Eu não era de ter muitos amigos, Vini era a pessoa mais próxima a mim, depois de meus pais. Claro que na escola eu tinha minhas amigas, mas não foi nada duradouro. Vinicius sempre foi aquele melhor amigo homem que começou a amizade porque aparecia pedindo ajuda para ficar com amigas minhas. E assim surgiu essa amizade louca que temos até hoje.
Quando ele disse que o admirador secreto deveria ser alguém próximo a mim. Mas a única pessoa próxima a mim era... Não. Não era possível que Vinicius fosse o tal admirador secreto.
Ou era?
NOTAS
Agradeçam à EsthefannyBezerra pelo capítulo (e por ter pedido até em nome de Jesus), porque eu só apareceria por aqui na sexta-feira.
Fiz essas notas aqui apenas para agradecer ao lindos comentários de todos e todos os votinhos. Não imaginam o quanto fizeram uma autora feliz! Obrigada!
Deixem aqui suas teorias sobre quem é o tal admirador.
Até o próximo capítulo! ❤
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