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10 - Noah

— Noah, o jantar está pronto — Kristen avisa da porta.

Ela nunca entra no meu quarto, em hipótese alguma. Fico me perguntando se um dia tudo começar a pegar fogo, ela vai entrar e tentar apagar ou ficar olhando da porta, como faz todas as noites?

Kristen acha que não vejo quando abre uma fresta na porta do meu quarto, tarde da noite, não enxergo claramente, mas posso sentir os seus olhos em mim. Dura apenas alguns segundos e depois ela se vai. Algumas noites tenho vontade de pedir que fique, que sente na beirada da cama e me conte uma história com um final feliz, como fazia quando eu era um garoto inocente. Quando me manter protegido e amado era uma prioridade. Mas a quem quero enganar? Aquela época não existe mais.

Depois de tudo o que aconteceu no passado, é como se uma rachadura tivesse sido aberta entre a minha família. De um lado fiquei eu, do outro meus país e no meio disso tudo Hillary, ela é uma espécie de ponte de mediação entre os dois lados. A única que realmente se importa em manter as coisas aparentemente normais entre nós.

Eu não sei dizer se Kristen e Allan realmente sentem medo de mim, de que eu faça algo estúpido, ou se eles simplesmente se sentem tão culpados que não sabem como lidar com tudo. É triste saber que, muitas vezes, as pessoas que nos são mais próximas fisicamente, sejam as mais distantes sentimentalmente.

A culpa é um pouco minha, eu me isolei de todos e criei um mundo só meu. Entretanto, no fundo, tinha esperanças que eles fossem lutar um pouco mais para atravessar a barreira que construí e continuar sendo a minha família.

"Se você não tem força para impor seus próprios termos à vida, você deve aceitar os termos que ela lhe oferece." Era uma das frases do T.S. Eliot preferidas do meu avô. Ele vivia repetindo quando ouvia alguém reclamando das suas condições. E contra tudo o que ele me ensinou, simplesmente aceitei os termos que a vida me ofereceu. Escolhi não lutar contra a maré, apenas deixei que ela me arrastasse para o meio e fui afundando cada vez mais.

Quando desço para a cozinha, meus pais já estão à mesa. Diferente da nossa casa em Atlanta, que era grande e espaçosa, essa é bem menor e não tem uma sala de jantar. Também não tem tantos cômodos e nem uma varanda grande.

Kristen e Allan estão envolvidos em uma conversa e mal notam quando me sento à mesa, preferia que isso durasse o jantar todo, mas não demora para que Kristen olhe para mim e perceba um hematoma estampando o meu rosto.

— Noah, o que houve com o seu rosto? — pergunta espantada e quase acredito que esteja realmente preocupada.

— Eu pedi que não se metesse em confusão, Noah, o que aprontou agora? — meu pai diz ríspido. Claro que na cabeça dele eu que provoquei tudo. Sou sempre eu.

— Não foi nada demais — respondo com um dar de ombros.

Pego um prato e começo a servir um pouco de carne de porco e vegetais. Não comi nada desde o café da manhã e minha barriga está roncando.

— Foi alguém da escola, filho? — Kristen pergunta com a voz preocupada e seus olhos estão amistosos. Até parece a mãe cuidadosa que sempre foi.

Assinto com a cabeça e ela abre a boca para falar algo, mas Allan a interrompe.

— Noah, nós mudamos para cá para recomeçar, para você recomeçar. E menos de um mês na escola e você já se meteu em confusão? Qual o seu problema? Sua mãe e eu não podemos faltar no emprego para resolver suas coisas na escola.

— Não precisam, eu já disse que não foi nada demais. O senhor Cole nem pediu que vocês fossem até lá.

— Dessa vez — rebate.

Seguro o nó que se forma na garganta e foco na comida no meu prato, a fome foi embora e tudo o que quero é sair dessa mesa.

— Não vai acontecer de novo, Allan — sussurro.

— Noah! — adverte. Ele odeia quando o chamo pelo nome, mas é a minha forma de expressar a raiva que sinto agora. Talvez seja o modo que uso para tentar machucá-lo da mesma forma que ele está me machucando com suas palavras.

— Allan, pare — minha mãe pede com a voz chorosa.

Meu pai suspira e toma um gole do seu suco. Continuo com a cabeça baixa, sem coragem de encarar nenhum dos dois. Sem coragem de ver a decepção estampada nos seus rostos.

— Você colocou gelo? — Kristen pergunta. Assinto com a cabeça. — Quer ir ao médico?

— Não, mãe, estou bem — nego, mesmo que o meu pulso esquerdo esteja latejando. Provavelmente devo ter torcido, mas nada que um analgésico não resolva.

— A sua irmã pediu que ligue para ela — Allan diz, agora mais calmo. Já não me espanto com os seus acessos de raiva seguidos de tentativas de conversas fiadas, como se nada tivesse acontecido.

— Eu vou ligar — respondo e o silêncio reina na mesa.

Forço a comida para não dar mais um motivo para que Allan reclame, ele odeia que a gente deixe comida no prato. Assim que termino, peço licença e subo para o meu quarto. Da escada, posso ouvir a voz chorosa da minha mãe.

— Eu tinha esperança que as coisas fossem diferentes.

As suas palavras me rasgam o peito, porque eu também gostaria. Contudo, as coisas são o que são.

Tomo um banho, um analgésico e deito na minha cama. A brisa passa pela janela aberta e refresca a noite quente. Estou em dúvida entre ligar para Hillary ou mandar uma mensagem, quando o meu telefone toca, uma foto nossa enche a tela e meu peito se aperta de saudade. Não só dela, mas da vida que tivemos um dia.

— Oi — atendo.

— Pensei que fosse me ignorar de novo — acusa —, como vem fazendo nos últimos meses.

— E mesmo assim você não para de ligar.

— Quando a gente ama, não desiste.

Fico sem palavras por alguns instantes. Parece que Kristen e Allan não pensam dessa forma, ou talvez não me amem mais. É estranho pensar que pais possam deixar de amar os seus filhos, eu sempre achei que fosse um amor incondicional.

— Ei, maninho, você está aí?

— Sim. Como está a universidade?

Ajeito os travesseiros e sento encostado com as costas na cabeceira. Hillary não vai deixar que eu desligue antes de falar pelo menos meia hora.

— Ótima, Kayle, aquela minha amiga de quarto, me arrumou um emprego na livraria que ela trabalha, perto do campus. O lugar é incrível e tenho acesso há vários romances com desconto. Estou no céu, Noah.

Hillary é a empolgação em pessoa e não tem como não ser contagiado por essa alegria que ela emana. Não sei por que fiquei tanto tempo sem falar com ela. Minha irmã é a única que ainda faz eu me sentir vivo.

— Cuidado para não deixar o salário todo nos livros, Hi puffy — zombo, usando o apelido que coloquei nela quando ainda éramos crianças e Hillary pintou o cabelo junto com uma amiga da escola para dizer que eram as duas meninas do desenho Hi Hi Puffy AmiYumi. Os nossos pais ficaram loucos.

— Eu sinto falta de você, Nono — Hillary sussurra, usando o apelido que me deu.

— Eu também, Hi Hi. Eu vou tentar ir no próximo mês.

— Eu vou amar, mas eu sinto falta do verdadeiro Noah, do melhor irmão do mundo.

— Eu também sinto falta dele — confesso. Se eu fechar os olhos, ainda posso lembrar como é ser uma pessoa fácil, como é ver a vida com outros olhos.

— Então por que não o deixa voltar? Ser apenas o Noah descomplicado e de bom coração que sempre foi — diz, como se estivéssemos falando de uma outra pessoa.

— Você sabe que as coisas não são assim, Hi Hi — sibilo. — Aquele Noah morreu no momento em que tirou a vida de alguém.

Eu não gosto de falar dessas coisas com a minha irmã. Mesmo Hillary sendo mais velha que eu três anos, sinto que devo protegê-la. Eu só queria que ela nunca tivesse que ver a maldade que habita o mundo, a maldade que habita em mim.

— Não é justo, você estava... — diz irritada.

— Não, Hillary, eu gostei de fazer aquilo e não me arrependo. É por isso que eu não posso voltar a ser aquele Noah, ele nunca se sentiria bem por saber que tirou a vida de alguém. Mas eu, o Noah de agora, me sinto normal.

Sei que Hillary só quer o meu bem, mas ela precisa entender que me magoa que todos queiram que as coisas voltem a ser como eram antes, que eu volte a ser como antes. Elas nunca serão, eu nunca serei, é como quebrar um espelho e querer que um pouco de cola resolva tudo.

— Se você não tem força para impor seus próprios termos à vida, você deve aceitar os termos que ela lhe oferece — cita T.S, exatamente como o vovô faria.

— Não existe nada mais chato quanto a verdade — refuto com uma frase do Bukowski.

Hillary e eu rimos, não sei como e nem por que, mas um riso verdadeiro, como há muito não fazíamos. Talvez pelo fato de termos trocado versos de poetas que eram amados e sempre lembrados pelo nosso avô. Era o nosso jogo particular, um duelo de frases e versos entre um homem e duas crianças. Perdia quem errasse ou não soubesse mais nada para citar.

Quando o riso cessa, é com lágrimas nos olhos.

— Se ele estivesse aqui tudo seria diferente — ela diz, referindo-se ao nosso avô.

— Seria — afirmo.

— Como estão as coisas com os nossos pais?

Brinco com a barra da minha camiseta e sinto uma fisgada no pulso ao mexer a mão esquerda. Na minha mente, escolho as palavras para responder sua pergunta.

— Complicadas — respondo por fim.

— Noah, você precisa deixar que eles se reaproximem — diz pacientemente.

— Hillary...

— Nono, me escuta — pede, com a voz firme de irmã mais velha. — Eles sofreram muito com tudo também, todos nós sofremos.

— Eu nunca quis fazer vocês sofrerem, fiz de tudo para evitar trazer mais sofrimento — sussurro.

— Eu sei que não, Noah, mas para de pensar que você está em um mundo diferente e ninguém pode se aproximar.

Suas palavras me trazem à mente as palavras da Melissa, de hoje mais cedo:

"Já pensou que o motivo de não ter amigos é porque é um idiota que acha que está em um patamar diferente?"

Se não fosse quase impossível, diria que ela e minha irmã combinaram as palavras que deveriam dizer.

— Você é a segunda pessoa que me diz isso hoje — confesso, pensativo.

— Quem foi a outra? — indaga, curiosa. Ela sabe que não tenho amigos.

— Uma aluna da minha nova escola.

— Hum... já gosto dela. E o que você disse a ela?

— Que seja — respondo.

— Que seja? É sério, Noah? — Hillary solta um riso nervoso. — Me explica essa história direito.

Meio a contragosto, conto para Hillary o que houve, desde o bilhete até a nossa conversa na biblioteca. Eu sei que agi como um troglodita com a Melissa, ela realmente parece ser uma menina legal e talvez esse seja o problema. É difícil levar uma amizade quando a pessoa não sabe tudo sobre você e quando sabe, começa a te olhar estranho, como se esperasse sempre o pior.

— Ah, Nono, eu sinto muito. A mamãe estava tão confiante que as coisas seriam diferentes. Você sabe, eles só se mudaram por sua causa, para que você pudesse recomeçar.

Por minha causa? Como assim? Allan disse que tinha recebido uma promoção, mas que precisava se mudar pois iria gerenciar uma loja aqui em Charlotte.

— Do que você está falando, Hilary? O papai recebeu uma promoção para gerenciar uma loja em Charlotte. Ele mesmo me disse isso.

Eu não entendo, por que ele, eles, mentiriam para mim?

— Cacete, não fala pra eles que eu te contei isso — pede, nervosa por ter falado demais. — O papai pediu transferência, ele e a mamãe acharam que seria bom para você começar em um lugar novo.

— E... eles fizeram... isso por mim?

O meu quarto parece girar. É uma sensação estranha acreditar que eles ainda se importam comigo, que seriam capazes de largar tudo por mim.

— Claro que sim, Nono — Hillary afirma e posso ouvir suas lágrimas. — Nós te amamos da mesma forma, nada quanto a isso mudou. Você só não consegue enxergar.

A minha garganta fica seca e as palavras somem.

— Eu... eu...

— Eu não posso imaginar o quanto é difícil para você, Noah, mas eu já disse um milhão de vezes que você não está sozinho nessa. Eu vou deixar você pensar, acho que já falei demais.

— Eu... eu te amo, Hi Hi — digo.

— Eu também te amo, Nono. — A vida pode ser boa em certos momentos, mas, às vezes, isso depende de nós — cita Bukowski, antes de desligar e me deixar sozinho em um mar de sentimentos contraditórios. 

***

Boa noite, galera

Um feliz ano novo para todos vocês. Que nessa nova fase vocês saibam amar mais e serem amados, que tenham paz e muita alegria. Um grande abraço.

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