Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

03 - Mel


As palavras da Kate martelam na minha cabeça e a todo momento meus olhos são atraídos para Noah Hugues. Ele permanece quase imóvel durante o restante da aula e não se move nem quando as pessoas cochicham atrás dele.

Uma curiosidade sem precedentes me toma e me vejo ansiando, como nunca, por saber algo sobre um garoto. Sobre este garoto em especial. Entender a real história por trás de toda especulação e invenções que as pessoas criam ao repassar uma história.

O sinal bate, indicando que as duas primeiras aulas acabaram. Os alunos saem apressados para a próxima aula e Kate, eu e Noah somos quase os últimos.

Passo ao seu lado e caminho reto, mas quando viro em direção à porta não resisto e olho para trás. Os seus olhos estão em mim e ele pisca aturdido. E nesse exato momento sinto como se tivesse levado um soco no peito, tamanho é o aperto que sinto. Ali, em meio a um par de olhos castanhos como mel, um pedido de socorro está estampado. Eu sempre acreditei que os olhos não mentem, eles são o nosso diário secreto e se você quer conhecer alguém deve olhar em seus olhos. Palavras podem ser falsas, olhares não. O do Noah me conta uma história diferente da que os sussurros da escola ditam. Vejo dor, tristeza, desespero. É quase como se eu pudesse ouvi-lo se afogando sem ninguém para ajudar. A minha respiração trava e só corto o nosso contato visual porque Kate toca o meu braço.

— Vamos nos atrasar para a próxima aula — ela sussurra.

Balanço a cabeça e forço meus pés a se moverem, ainda olho uma última vez em direção a Noah, mas a sua cabeça está baixa.

"Será que ele sentiu o mesmo que eu?"

As próximas aulas passam sem que eu preste muita atenção.

É estranho, mas em algumas ocasiões olho para certas pessoas e posso sentir o que elas sentem. A dor, alegria, tristeza, tudo. Com Noah foi assim, eu simplesmente pude sentir o que se passava em seu coração. Eu nunca consegui entender muito bem como isso funciona, só sei que sinto.

— Você não parava de olhar para o garoto novo — Kate comenta na hora do almoço.

— Só fiquei curiosa — respondo sem graça enquanto mexo no montinho de ervilhas que se formou no meu prato. — Vai dizer que você não ficou?

Instintivamente giro a cabeça à procura do objeto da nossa conversa, mas não o encontro.

Kate dá de ombros ao responder:

— Fiquei, mas não o suficiente para quase queimar a nuca do garoto com o meu olhar.

— Não seja exagerada, Kate — respondo na defensiva.

Ela ri e toma um pouco do seu suco.

— Acho que alguém ficou interessada.

— Não é isso.

— Melissa, não minta para mim. — Ela arqueia uma sobrancelha de modo inquisitivo.

— Não estou mentindo.

— Está sim, eu te conheço. — Aponta um dedo na minha direção. — Sua malandrinha, me dizendo para ficar longe do Brad por ser um babaca e está de olho no garoto com um suposto assassinato na ficha. Nada sábio, Melissa.

As suas palavras me incomodam e fico irritada por elas parecerem tão horríveis para os meus ouvidos.

— Não é porque um bando de idiotas disse que é verdade — rebato, um pouco mais ríspida do que de costume.

Kate me encara séria e desvio do seu olhar. Ela segura a minha mão por cima da mesa e sussurra meu nome.

— O que aconteceu?

— Eu não sei, só tive aquela sensação com o Noah. — Não preciso explicar, Kate já presenciou isso em outras vezes. — Eu olhei nos olhos dele, Kat, e vi tanta dor que eu só queria poder amenizar de alguma forma.

— Desculpa, eu não percebi.

— Tudo bem.

— O que você vai fazer? — indaga.

— Eu ainda não sei.

Kate é a pessoa que mais me entende e sou grata por isso. Ela presenciou a primeira vez que tive esse sentimento em relação a alguém e me deu o apoio que precisei para não me deixar abalar totalmente.

Tínhamos mais ou menos doze anos quando uma aluna nova entrou na escola. Ela era tímida, retraída e parecia com medo de tudo. A primeira vez que olhei em seus olhos senti uma grande dor, mas não entendi que aquela dor vinha do que ela realmente estava sentindo. Os dias foram passando e acabamos fazendo amizade. Louise era o seu nome, ela tinha olhos grandes, cabelos ruivos e a pele com sardas que eu achava a coisa mais linda.

Apesar de termos nos tornado amigas, Louise nunca falava sobre os seus familiares ou sobre a sua casa. As nossas conversas eram superficiais e sempre que nos ouvia falar dos nossos pais parecia ficar ainda mais triste. Eu adorava a companhia da Louise, mas estar com ela me deixava melancólica de uma forma que eu não entendia, era como se eu tivesse um peso nos ombros. Cada vez que olhava em seus olhos era como se ouvisse a sua voz pedindo socorro, mas eu era apenas uma menina e não sabia o que fazer. E o fato de não sair nada da sua boca não me dava muitas opções. Kate não sentia o mesmo, para ela Louise só era tímida ou tinha vergonha dos pais. Mas, mesmo não sentindo o mesmo, ela jamais zombou de mim ou diminuiu o que eu sentia.

Cinco meses haviam se passado e esse sentimento não mudava, foi quando Louise começou a faltar com frequência na escola. A desculpa era que o seu padrasto precisava viajar alguns dias e a família tinha que ir junto. Isso se tornou cada vez mais frequente e cada vez que ela voltava o aperto em meu peito aumentava.

Louise começou a perder peso e se tornar ainda mais introspectiva. Kate e eu tentamos descobrir o que estava acontecendo, mas ela inventava desculpas e garantia que tudo estava bem, que estava apenas cansada devido a tantas viagens. Porém, eu podia sentir, o medo em seus olhos denunciava que algo de grave estava, sim, acontecendo.

Mais alguns meses haviam passado e Louise estava há uma semana sem dar notícias, eu sabia que algo de ruim tinha acontecido, mas não tinha como provar. Sonhei com ela algumas vezes e algo dentro de mim gritava que ela precisava de ajuda. Kate começou a se preocupar e também temer pelo pior.

Foi quando decidimos falar com os meus pais, de início a história pareceu meio confusa, afinal, além do que eu teimava ver em seus olhos e do mal pressentimento que estava sentindo, não tínhamos nada de concreto. Mesmo assim, para me tranquilizar, Rule foi até a escola, conversou com a diretora e ela passou o endereço da casa da Louise. Supostamente eles estavam viajando. Saímos da escola direto para lá, Kate e eu fomos o caminho todo de mãos dadas, fazendo uma oração para que tudo fosse apenas coisa da minha cabeça. Eu preferia estar louca do que encontrar Louise ferida.

Rule estacionou em frente à casa, tudo estava fechado e parecia vazia, ele me lançou um olhar de aviso, mas insisti para vermos se tinha alguém.

Batemos na porta diversas vezes, mas ninguém nos atendeu. Rule já estava desistindo quando ouvimos um resmungo sofrido, como um pedido de socorro sufocado, e o barulho de algo se chocando contra o chão.

— Louise — gritei um pouco mais alto e o gemido voltou a ecoar pela casa. — Você ouviu isso, papai?

Rule assentiu e parecia nervoso. Senti a bile subir pela garganta e o mundo ao meu redor parecia girar. Algo dentro de mim gritava que o gemido sôfrego era da Louise.

— A gente precisa entrar — Kate sussurrou. Ela estava tão assustada quanto eu.

— Eu vou ligar para a polícia — Rule avisou, já sacando o celular.

— E se for tarde demais quando eles chegarem? — supliquei. Eu tinha medo de que fosse tarde demais para evitar que o pior acontecesse, me sentia culpada por não ter feito nada antes.

— Não vai, Mel — ele disse convicto.

Assenti e tentei ver algo pela janela, mas as cortinas pesadas barravam a vista de qualquer coisa do outro lado. Kate e eu começamos a chamar por Louise, mas os seus resmungos eram cada vez mais fracos.

Os minutos pareceram horas e quando ouvi a sirene de um carro de polícia voltei a respirar. Rule conversou com o oficial e ele se aproximou da porta para verificar.

— Aqui é o oficial Thompson, se não abrirem a porta eu vou ter que arrombar.

A resposta foi o mesmo resmungo sôfrego de antes. O policial olhou para o seu companheiro e os dois assentiram.

— Repito, aqui é o oficial Thompson, se não abrirem a porta eu vou ter que arrombar, estamos armados.

Mais um resmungo e com outro balançar de cabeças o policial chutou a porta, que se abriu com um barulho estrondoso de algo se quebrando.

— Fiquem aqui — pediu e entraram com as armas à frente do corpo. Nem um minuto havia se passado quando ouvimos a voz do policial pedindo uma ambulância.

Rule, Kate e eu invadimos a casa e a cena que vi nunca será apagada da minha mente.

Louise estava amordaçada e amarrada em um canto da sala. Lágrimas grossas banhavam o seu rosto e o seu olhar era de total desalento. Ao seu lado, o corpo desmaiado da sua mãe pendia para o lado. Os oficiais começaram a desamarrá-las e Rule se aproximou para prestar os primeiros socorros enquanto a ambulância não chegava.

Kate e eu permanecemos paralisadas, chocadas demais para esboçar qualquer reação. Eu agradecia por ter as encontrado e ao mesmo tempo rezava para que não fosse tarde demais para sua mãe.

As duas saíram do hospital um mês depois. Louise nos contou que o padrasto sempre as deixava presas quando ia viajar e as ameaçava para que não fugissem, mas na última vez ele havia passado dos limites, deixando as duas amarradas e sem comida por três dias. O monstro foi preso e está mofando na cadeia até hoje. Louise e a mãe se mudaram alguns meses depois, o pai dela veio buscá-las e as colocou sobre sua proteção. O homem ficou arrasado por não ter percebido nada.

A última vez que vi Louise pessoalmente, os seus olhos me disseram que ela estava feliz e foi desde esse dia que aprendi a ouvir os meus instintos.

— Melissa, Mel — a voz da Kate me trouxe para a realidade. — Você ainda habita esse corpo?

Reviro os olhos e sorrio.

— Palhaça. Eu estava pensando na Louise — confidencio.

— Faz um tempinho que não falamos com ela. Vamos ligar para ela amanhã depois da aula?

— Vamos.

Depois que Louise foi embora mantemos contato pelo telefone ou via Skype, ela mora em Dakota do Norte com o pai e a mãe que acabaram reatando um tempo depois.

— Você estava pensando nela por causa do Noah, não é? Do que sentiu em relação a ele?

Confirmo com um balançar de cabeça. Kate vai falar algo, mas Brad aparece e deposita um beijo estalado no seu rosto.

— Contando os minutos para estar com você — ele recita e se afasta.

Kate fica com um sorriso bobo no rosto.

— Acho que alguém está mesmo muito a fim de você — comento e a minha amiga parece sem graça. O que é um ultraje vindo da Kate Winslow.


***

Toda terça-feira passo as tardes com uma das minhas pessoas preferidas no mundo todo. Nancy e o Scoth são como os avós que eu não tenho, já que os meus avós maternos e paternos já faleceram.

Depois das aulas, Kate foi se encontrar com Brad e eu vim direto para cá. Nancy e eu passamos a tarde cozinhando, cuidando das plantas e jogando conversa fora, agora estamos sentadas no jardim, aproveitando a brisa do fim da tarde até Rule passar para me levar para casa.

— O que está se passando por essa cabecinha? — Nancy sempre sabe quando não estou bem.

Suspiro e me encosto em seu peito, ela passa o braço por meus ombros e começa a afagar os meus cabelos. Pacientemente, ela espera enquanto procuro as palavras certas para dizer o que estou sentindo.

— Entrou um garoto novo na escola e eu tive aquela sensação.

Assim como Kate, Nancy sabe sobre como isso funciona e mexe comigo. Quando tudo aconteceu com Louise, ela me ajudou a superar e entender o que era aquela sensação.

— Então por isso está cabisbaixa. Os seus sorrisos de hoje foram contidos e essa não é a Mel que eu conheço.

— Foi no final da aula, eu virei e encontrei os seus olhos. Havia tanta dor e desespero que foi como se eu tivesse sido atingida por um soco no estômago — solto as palavras de forma rápida. A minha vista se torna turva e lágrimas ameaçam cair quando lembro do pedido de socorro implícito naquele olhar.

Nancy aperta os braços ao meu redor, consolando-me.

— Tente se aproximar dele, assim como você fez com a Louise — aconselha.

— O nome dele é Noah e está rolando um boato na escola de que ele estava em um reformatório por ter matado alguém, mas não consigo acreditar. Se ele realmente tivesse feito isso, por que o soltaram? Me recuso a aceitar que alguém capaz de sentir tanta dor tenha coragem de tirar a vida de outro ser humano.

Nancy suspira e parece pensar um pouco antes de dizer alguma coisa.

— Minha querida, a mesma história pode ser contada de mil maneiras, o seu enredo vai depender do narrador, entretanto, a verdade é apenas uma. Você é um anjo de luz, Mel, e o seu destino é salvar pessoas. Primeiro com Rule, depois Louise e agora com esse garoto. — Ela deposita uma mão em cima do meu coração e sorri carinhosa, como só ela sabe fazer. — Apenas respire fundo e deixe que o tempo vai se encarregar de clarear tudo. 


***

Recadinhos

Boa madrugada, galerinha. 

Postei dois capítulos hoje porque o 02 é bem curtinho, então liberei mais um para ficar mais agradável a leitura. 

Muito obrigada pelas mensagens e apoio que vocês vem me dando, fico muito feliz e me sentindo querida. Vocês são demais. 

Não esqueçam de comentar, votar e indicar Flores no deserto para todo mundo. 

Vou começar a repostar Reaprendendo a amar aqui para quem ainda não leu, amanhã início. 

Beijos, 

Carol Cappia

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro