02 - Noah
Há certas coisas que são guardadas em nossa memória e jamais podem ser removidas ou apagadas. Coisas que por mais que você tente, simplesmente estão lá para te lembrar quem você realmente é e pelo que já passou. É quase como uma tatuagem, ela pode até ficar mais fraca, mas nunca vai sair da sua pele, a não ser é claro que seja removida de uma forma tão dolorosa que te faz pensar duas vezes se realmente vale a pena.
Assim são com as nossas lembranças.
A cada dia que deito a cabeça no meu travesseiro para dormir, posso ver claramente os seus olhos suplicantes, o medo do que está por vir. Eu não consigo me lembrar muito daquela noite, apenas dos seus olhos, do pavor, da sua voz sussurrando para que eu me afaste e não faça nada que vá me arrepender depois. Ainda posso ouvir o som estrangulado que a sua garganta fez quando o sangue subiu e ele começou a se afogar, sem ar. Ainda posso sentir a faca perfurando a sua pele repetidas vezes. Principalmente, posso sentir o prazer que senti ao fazer aquilo.
— Nós podemos conversar, não faça isso, garoto. Você vai se arrepender depois, me ouça, por favor — ele disse repetidas vezes. A sua voz tentava transparecer uma calma inexistente e isso só me deixava mais irritado.
Você vai se arrepender depois.
Você vai se arrepender depois.
Você vai se arrepender depois.
Você vai se arrepender depois.
Você vai se arrepender depois.
Você vai se arrepender depois.
Não, não houve arrependimento, não houve culpa, não houve um milésimo sequer em que pensei em fazer algo diferente a não ser enfiar a faca ainda mais vezes na sua pele. E hoje, depois de um ano, isso não mudou. E tenho certeza de que nunca vai mudar.
Minha mãe costumava me levar à igreja pelo menos duas vezes por semana. O pastor sempre nos disse que devemos nos arrepender pelos nossos pecados para alcançar o descanso eterno ao lado do Pai. Eu sempre acreditei nele e é por isso que já aceitei que o meu lugar é no inferno, pagando pelos pecados que não me arrependo de ter cometido.
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