As horas seguintes
As próximas horas passaram com Hee-Ah inconsciente. Assim que a Rainha havia saído dos seus aposentos, uma onda muito forte de febre a tomou até desmaiar em seu sono induzido pelo próprio corpo. Sua condição havia piorado de um modo que ninguém esperava. Senhora Na buscava a todo instante a oferecer uma xícara do chá de gengibre, quando acabou o primeiro bule, se viu desesperada com a situação da princesa. A cada nova gota do chá em seu organismo, mais a princesa suava. Imersa na profundidade do seu inconsciente, a única coisa que podia fazer era vivenciar tudo aquilo que sua imaginação poderia ofertar.
O cheiro de terra molhada perfumava o ar. Havia acabado de chover, mas não tinha sido uma tempestade e secretamente a princesa agradecia por isso, sentia medo de raios, mas o pior eram os trovões. Olhou ao redor e viu o comércio criando vida de novo. Primeiro os servos dos comerciantes da classe média que traziam sagacidade e decoravam as ruas com os seus produtos e afazeres. Depois que tudo havia sido retomado surgia os braços do rei, o exército real que fazia de tudo pela realeza.
A princesa estava ali porque queria comprar um presente à rainha, sua mãe. Assim que sua mãe ficava pior, Hee-Ah era trazida do campo para passar um tempo com ela e sua família. Diante de tantas opções, queria algo que brilhasse e trouxesse vida de novo ao seu rosto tão pálido. Passara diante de vários ornamentos e todos lindos como as estrelas do céu veranil, mas nenhum deles era o certo.
Senhora Na a acompanhava de perto, seus olhos presos em todos os movimentos da criança de 10 anos que era falante demais e cheia de pensamentos bruscos que geravam atitudes espontâneas e impremeditadas. Às vezes era obrigada a segurá-la nos ombros ou a impedindo de caminhar com seu varão luxuoso.
- Princesa. – Sua voz grave e dura a repreendia sempre que sua empolgação ultrapassava pessoas e pisava em seus pés, recebendo xingamentos que paravam no instante que reconheciam a classe dela, mesmo não a reconhecendo como a princesa.
- Desculpa, babá.
- Lembre-se que você deve agir com feminilidade.
- Sim, senhora Na. – Abaixava a cabeça e então cruzava e descruzava os dedos das mãos inúmeras vezes.
- Meninas correm?
- Não, senhora Na.
- Meninas olham nos olhos das pessoas?
- Não, senhora Na. – Abaixando mais a cabeça, recebeu uma batida suave no topo dela.
- Você está sendo uma menina feminina?
- Sim! – Sorriu erguendo sua postura, mas voltou a se retrair ao ver a expressão de reprovação da babá. – Não, senhora Na.
- Então aja com feminilidade. – A princesa mudava sua atitude por pouco tempo, até se distrair com algum tecido colorido, ornamento em formato diferente, pessoa que ela considerava engraçada... A lista era muito grande e a princesa era muito inocente, foi assim que ela sumiu dos cuidados da babá.
Ao avistar um filhotinho de pássaro caído do ninho ao pé de uma árvore perto da estrada, Hee-Ah correu para ajudar, como era de costume. Os animais eram a grande paixão dela já que vivia no campo e com poucos (ou quase nenhum) amigos. Ele piava quase sem forças, parecia ter caído há muito tempo. Ajoelhada ao seu lado, pegou com delicadeza o bebê, apoiando seu corpo frágil na saia rosa gritante de seda para poder analisar possíveis ferimentos.
Usando as pontas dos dedos, esticou lentamente as asas, uma de cada vez, na esperança de o pássaro não reclamar pela dor, sorrindo ao ver que não estavam quebradas, respirou aliviada imaginando ele crescendo e alçando voo pelo infinito céu azul. Dono de sua própria liberdade, migraria sempre que fosse inverno em busca do calor que o mantivesse vivo.
- Você foi muito sortudo, sabia? Suas pernas são menos importantes que as asas, e mesmo assim ainda tem uma muito boa. – Olhando ao redor da árvore, procurava um graveto para partir ao meio e poder amarrar ao redor da patinha que estava torta.
Com agilidade, rasgou um pedaço da sua meia e logo imobilizou o pequeno animal. Seu piar mais baixo mostrava que se sentia seguro, porém com dores. A cabeça erguida buscava na árvore o galho de onde ele havia caído. Assim como uma maçã não caía longe do pé, um bebê pássaro não caía longe do ninho. Estreitando os olhos finalmente viu, entre a folhagem seca, o ninho.
- Não se preocupe, eu vou te devolver ao seu lar, assim sua mãe poderá te alimentar e você terá forças para se recuperar e voar para longe alegremente. – Se erguendo, olhou ao redor e sorriu ao se ver livre o suficiente para agir sem feminilidade.
Amarrando seu longo casaco na cintura, achou uma dobra confortável no tecido para abraçar o corpo indefeso do bebê. Bateu uma mão na outra e assegurou que a sapatilha estava presa em seus pés e percebeu que estava completamente suja de lama. Com os olhos calculava os movimentos que deveria fazer para escalar aquela árvore.
- Você confia em mim? – Disse empolgada e passou a escalar. Primeiro um apoio seguro para os pés e depois as forças nas mãos. Escalava árvores sempre que queria fugir da babá.
A cada novo passo para cima, mais ela evitava olhar para baixo, sentia certos arrepios subirem pela espinha e o pior: Tinha medo de ver sua babá segurando aquele varão preto batendo na própria mão como se estivesse imaginando ser a cabeça de Hee-Ah.
Chegando perto do ninho viu certo alvoroço entre os galhos se aproximando dela, assim como o piado tomou força, e então percebeu que havia mais bebês ali e que o pássaro que voava era a mãe deles, que com uma força guiada pelo instinto materno, aprumou as asas e tomou impulso, atacando seu rosto e braços. A princesa tentou se proteger com um braço, apoiando seu corpo no galho para evitar cair.
- Me desculpa. Me desculpa. – Balançava o braço para afastar o pássaro, protegendo sua pele com a manga de seda, via certos rasgos feitos pelas garras do animal. Ao pegar o bebê de sua cintura, ele logo piou mais alto, o que deixou a sua mãe mais audaz. Mediante grandes esforços, conseguiu o colocar no ninho, mas seu pé enlameado escorregou e isso a fez perder o equilíbrio rapidamente por não estar se segurando, apenas apoiando seu corpo.
Tudo pareceu se tornar lento aos seus olhos, mesmo sabendo que isso era impossível. Sentiu seu corpo cair e a copa da árvore se distanciar novamente. Sua mãe ficaria pior do que já estava se ela se machucasse... Não estava arrependida, tinha feito a coisa certa, mas saber que sofreria as consequências a deixava afoita.
Seus braços e pernas balançavam na esperança de se segurar no ar, mas isso era impossível e ela sabia disso. Não seja infantil Hee-Ah, magia não existe, você vai cair e se machucar. Seja crescida o suficiente! Não chore. Assim que saiu da própria cabeça, ouviu um cavalgar se aproximar e um relincho alto ecoar perto de onde estava a árvore e quando fechou os olhos esperando o baque, braços fortes a seguraram, a trazendo para o peito.
Apertando seus olhos, não sabia o que mais acelerava seu coração: Ter escorregado da árvore, a queda, ser pega de surpresa ou o medo de ver quem a havia pego. E se a sequestrassem naquele instante? Senhora Na nunca mais a veria de novo e o Rei colocaria todas as forças do exército para a buscarem viva. Aaaa Hee-Ah, o que você fez?
- Princesa, você está segura. – A voz grossa e baixa soou perto de seu ouvido e a princesa pensou que iria parar de respirar. Uma onda de calor invadiu seu corpo e estourou em sua face. – Hee-Ah? – Erguendo a cabeça, seus olhos encontraram os dele, a meia-lua que fazia um eclipse solar no céu, escuros como uma noite sem estrelas. Olhos que sempre buscaram os dela e a ignoravam com frieza quando ela sorria para ele.
- Príncipe! – Levando as mãos ao rosto, desejou nunca ter visto o pequeno bebê para não estar na posição que estava agora. Os braços fortes de seu irmão seguravam sua cintura com vigor, buscando trazer seu corpo para perto de seu peito enquanto o cavalo ia para frente e para trás impaciente e assustado com o peso que caiu sobre ele e foi amortecido pelo colo do rapaz.
- Cadê a senhora Na?
- Eu não sei. – Tentou se mover desesperadamente, precisava sair de seu colo, mas seus braços estavam envoltos demais nela.
- Princesa! – A voz da babá ecoou e quem estava ao redor parou o que fazia para observar a cena, vendo o príncipe ereto sobre seu cavalo negro que gerou seu apelido Corcel Negro. – Príncipe Sejong. – Senhora Na se curvou e então ele afrouxou seu abraço e a sentou no cavalo, descendo com destreza.
- Senhora Na. – Ele a cumprimentou estendendo sua mão para Hee-Ah que sentia ter se tornado uma tela vermelha, se constrangendo ao máximo pela cena que estava causando. Falariam que a princesa estava cavalgando com o príncipe! – Acho que capturei algo que pertence a você. – Sua postura impassível pedia para que sua irmã descesse, mas ela estava completamente tímida e mal se movia, paralisada no tempo sem reação. – Se você não se importar princesa, preciso retornar ao palácio. – Segurando sua mão de imediato, permitiu que ele a ajudasse a descer do animal, mas não a deixou se afastar quando fez menção de correr. Seus olhos se encontraram novamente e como as lanternas de verão, sentiu o céu noturno brilhar alegre, esperançoso e então elas se apagaram ao movimento rude dele ao empurrá-la de volta a sua babá, montando no cavalo e então passando a cavalgá-lo.
Lá se ia o Corcel Negro que havia retornado da patrulha. O jovem príncipe de 14 anos que já havia lutado ao lado do seu irmão mais velho a mandado do Rei. Seu poder lógico e destreza eram inigualáveis, combinando com a força e bondade do Príncipe-Herdeiro. A dupla era implacável.
- Princesa Woo Hee-Ah! – Assustada e forçada a sair do seu confortável mundo imaginário que observava o corpo do irmão subir e descer a cada novo galopar rápido do seu animal, Hee-Ah se arrepiou de medo ao ver a senhora se aproximando. – Está pronta para o castigo?
- Sim, senhora Na. – Resmungou sendo empurrada pelo varão que pinicava suas costas a forçando a caminhar ereta para frente. Era capaz de sentir os olhos da babá a analisando em busca de ferimentos, e isso só se confirmou quando ela levantou sua saia para ver a situação da meia. – O que você fez com a sua meia?
- Eu rasguei...
- Não estou te ouvindo. – Disse a interrompendo.
- Eu rasguei. – Evitando dar desculpas que apenas zangariam a mulher, aceitou ser responsável pelas suas ações.
- Direto para o palácio, sua grande surpresa ficará para outro dia. Espero que não tenha machucado seu punho, irá copiar 20 vezes suas lições de poesia e mandará à Rainha como pedido de desculpas.
- Sim, senhora Na.
Sentia sua garganta secar à medida que a claridade sumia. Percebeu que seus olhos estavam fechados e se mexeu. Seguia sobre a cama no tablado. Seu corpo parecia quente e a sensação era a de estar pegajosa.
- So-Yong... – Murmurou na expectativa de encontrar sua dama em seus aposentos, mas sua voz saiu cortada. Precisava de água. – So-Yong... – O gosto fel de sua língua a dava ânsia de vômito, e como em uma explosão de vida se virou para a direita apoiando a mão esquerda no chão e expeliu o nada que havia em seu estômago.
- Princesa. – Sua dama da corte correu, segurando a longa trança da princesa para longe da sujeira e passando um pano umedecido em seus lábios, queixo e mão, a ajudando a sentar e respirar. – Como se sente? Vou chamar o médico. – Na menção de sair do aposento, Hee-Ah a segurou em sua fraqueza, seria impossível a impedir de fazer algo no estado que estava, mas mesmo assim sua delicadeza a fez não se mover.
- Estou bem, apenas zonza e com fome. – Olhou ao seu redor pela primeira vez, ignorando o desespero que brilhava nos olhos da mulher ao seu lado. Aos pés da cama, assim como na cabeceira, havia um espelho de bronze redondo e grande. Um poema muito lindo pendia do teto ao chão, logo atrás do espelho que ficava na cabeceira da cama. Dividindo o nível do tablado com o chão, véus avermelhados pendiam de cada lado do aposento, amarrados por um cordão dourado e grosso. Flores sobre a mesa, criados e cômodas, em vasos pintados com muitos detalhes à mão. Almofadas coloridas ao redor da mesa, onde provavelmente faria algumas refeições. Que quarto lindo aquele.
Seus olhos brilharam e a princesa se ajeitou no colchão. A trança pesou em seu ombro e então ela sorriu. Era seu quarto, os aposentos da princesa. Sentiu raiva de si mesma por ter vomitado na roupa de cama de seda, se afastando daquela água nojenta que a fazia se sentir o dobro de suja. So-Yong se aproximou com um copo de cerâmica cheio de água e a princesa o virou com vontade, fazendo a dama da corte a servir mais duas vezes até sentir que estava bem.
- Quero tomar banho. – Disse, achando sua voz pela primeira vez desde que acordara. Por um instante se perdeu diante das imagens do sonho lúcido que havia tido. Seria uma memória ou apenas sua imaginação? Não era tão criativa assim... – Agora. – Ignorou o aperto no peito e se ajoelhou para então ficar de pé. Cambaleou ao ver que não tinha equilíbrio algum e suas pernas formigavam. – So-Yong, há quanto tempo estou deitada?
- 2 dias, minha senhora.
- Que? – Elevou sua voz, incrédula com esse lapso de tempo. – 2 dias? É muito tempo! – A dama a segurava pela cintura, passando um de seus braços sobre seus ombros, ajudando a princesa a caminhar.
- Demorou bastante... A cada vez que a senhora se entregava ao sono, tão abatida, meu coração gritava em desespero e medo da senhora não acordar mais.
- Eu sinto que apenas cochilei... – Olhando So-Yong, suas feições pareciam cansadas e a boca, que já era pálida, havia sumido de vez. – Você deve descansar, eu vou ao banho sozinha.
- Princesa, me deixe ajudar, por favor. – Sua voz implorava por isso e Hee-Ah só poderia dizer sim, sob uma condição:
- Assim que eu estiver neste aposento novamente, chame a babá, ela irá me ajudar com a comida. Você deve dormir.
- Sim, princesa.
A noite estava calma e abafada. Sentia brisas mornas acariciarem sua face sempre que caminhavam por um corredor aberto. Seus pilares quadrados, vermelhos e altos davam suporte ao teto inclinado. Tudo tinha muitos detalhes, flores e cores. Era como se estivesse caminhando dentro de um sonho, um quadro de um pintor mundialmente renomado. Espera... Que palavras são essas? Mundialmente renomado? Pigarreou para ver se sumiam de sua mente e então ouviu So-Yong resmungar.
- Aonde vamos? A banheira não era ali? – So-Yong parou no cruzamento dos corredores, observando a princesa com curiosidade, mas que logo se arrependeu ao ver o sorriso maroto em seus lábios. – Não, princesa você não pode ir se banhar lá, é dos príncipes.
- Pelo que estou vendo, a lua passou do meio do céu há um bom tempo, então eles devem estar dormindo. Não será um problema se formos em segredo. – Começando a guiar a caminhada, arrastava discretamente a dama consigo.
A casa de banho dos príncipes era repleta de ervas medicinais, o que poderia claramente ajudá-la, mas quem queria enganar? Gostava de se banhar lá por ser grande e poder brincar na água, mergulhando e virando de barriga para cima submersa, podendo ver o céu pela água, que se movia como em uma dança.
Com a ajuda de So-Yong e da cortesã Lady Go, Hee-Ah foi despida e a casa de banho fechada. A água era morna quase fria, o que ajudou a princesa a se sentir confortável. Mergulhou e esticou os braços, os abrindo e empurrando a água, movendo seu corpo e sentindo sua pele se arrepiar. Finalmente se sentia viva e presente. Não havia sonhos, apertos no coração, medos, confusão. Buscando por ar, passou a mão na testa para que a água parasse de escorrer em seus olhos e suspirou.
O aroma de anis, tomilho e sabugueiro perfumavam o ar e ela fez questão de inspirar bem fundo e prender a respiração, mas assim que fez isso foi levada para uma memória confusa e baça. A sensação de beber um chá gelado a pegou, a deixando tonta e tendo que se apoiar na rocha mais próxima. Olhou seu braço direito que começara a formigar e o moveu diante de seu corpo, o dobrando, esticando, movendo os dedos e acenando.
Esperava que ele não funcionasse como se ele não tivesse como funcionar, mas sentiu-se desorientada já que desde o momento da emboscada seu braço se movia normalmente. Por que esperaria por um problema? Agachou-se na água novamente, cobrindo seu corpo e se inclinando para trás, o deixando flutuar a esmo. Algo estava errado e sabia disso, uma voz muito baixa sussurrava dentro de sua mente, quase como se pedisse ajuda, para que acordasse.
- Princesa? – Lady Go a chamou e então a princesa se levantou, caminhando até a cortesã, pedindo para que Hee-Ah se sentasse no degrau de madeira, onde a água batia em seu quadril. Deixou que a mulher analisasse seu corpo e deslizasse um sabão perfumado. – Soube que a senhora sofreu um grande estresse, essas ervas ajudam a acalmar os ânimos, espero que tenha gostado.
- Já me sinto muito melhor desde o momento que pisei aqui. – Se virou e então segurou a mão molhada da mulher. – Sei que não é sua função, mas muito obrigada. – Sorriu, deixando a gratidão se expressar pelos olhos, recebendo um aceno único de cabeça, como se dissesse "tudo bem".
Assim que terminou de se lavar do sabão, saiu da água sendo enrolada em um robe de seda branco, que secaria seu corpo a caminho do quarto onde se trocaria dentro da casa de banho. Com um hanbok mais simples, porém incrivelmente fino e vivo, So-Yong penteava seus longos cabelos, o que causou certa confusão em Hee-Ah, suas mãos precisavam passar pelos fios como se confirmasse a presença deles ali, em todo o seu comprimento, que caia bem abaixo dos seus seios em um negrume único.
- Algum problema, princesa?
- Por um instante esqueci como meu cabelo havia crescido.
- Ele está lindo, princesa, sedoso e tão brilhante quanto uma pedra preciosa. – Terminando de secá-lo com uma toalha, So-Yong se dedicou a penteá-lo e prendê-lo, metade em um coque no topo de sua cabeça com um ornamento.
Ambas desceram as escadas para a porta de saída. Lady Go se curvou e sorriu graciosamente, como uma boa cortesã sabia sorrir.
- Obrigada, Lady Go.
- Tenha uma boa noite de sono, princesa. Que o banho te ajude a se recuperar. – A cortesã disse destrancando a porta e todas foram surpreendidas com a primeira visão que surgira: A do príncipe Sejong. Suas vestes negras tinham o bordado vermelho vinho. O robe caia longo até seus pés e ficava preso no cinto de tecido. O trio se deparou com Sejong de braços cruzados apoiado no pilar mais próximo. – Príncipe. – As três se curvaram e ele resmungou, indicando que poderiam se erguer. – O senhor veio se banhar? – Lady Go perguntou e ele apenas resmungou, enrolando para falar como se sua mente estivesse distante dali.
- Não. – Por fim disse. - Apenas ouvi uma conversa calorosa sobre a princesa ter sido vista saindo dos seus aposentos com a ajuda de sua dama da corte, parecendo debilitada. – Olhando para So-Yong, o príncipe fez a alma da pobre mulher sair de seu corpo e voltar no mesmo segundo pelo medo. Olhos duros, frios e calculistas, parecia preocupado e tenso. - Resolvi ver se era verdade. – Desviando o olhar novamente, estavam perdidos sobre o tronco de uma árvore que crescia entre os corredores do palácio, fazendo com que Hee-Ah se recordasse do sonho e sentisse seu corpo voltar a ficar quente, principalmente as maçãs de seu rosto. – So-Yong. – As três paralisaram, seus músculos duros pelo medo dele a punir por deixar uma princesa caminhar pelo palácio à noite. - Vá para seus aposentos, daqui em diante eu mesmo faço questão de forçar a princesa em seu repouso. – A dama soltou o ar e seu corpo tremeu.
- Sim, meu senhor. – So-Yong se curvou, virando o rosto para a princesa, sussurrando um "desculpa" com os lábios e então apertando os passos, principalmente quando passou pelo irmão de Hee-Ah.
- Vamos. – Ele disse se afastando do pilar e começando a caminhar. Sem perceber que deveria realmente o seguir, permaneceu na porta da casa de banho, até que ele parou e olhou para trás, diretamente em seus olhos. – Agora, princesa. – Seu olhar carregado em autoridade, moveu seu corpo como se hipnotizada. A porta atrás de si foi fechada e ela se viu a 2 passos atrás do irmão.
A sensação de liberdade se tornara a de sufoco, os corredores que antes a agradavam agora pareciam grandes labirintos que a deixava zonza e de pernas moles. Será que o certo era puxar assunto? Se sim, não saberia sequer o que falar. Se não, estaria completamente correta em seu silêncio. Ansiou tanto em revê-lo em seu palanquim que o momento que seus olhos astutos a observaram esse desejo sumiu. Havia entre os dois uma afeição muito forte, sentia seu coração bombear três vezes mais sangue sempre que seus olhos se encontravam. Era como se seu corpo cobiçasse sua atenção, como se precisasse disso, mas outra parte sentia que não podia, como um fruto proibido. Não sabia como descrever a relação dos dois, depois do incidente do passarinho, as coisas pareceram cada vez mais distantes entre os irmãos.
Sejong tinha uma postura impecável que transbordava força e confiança, só seu andar dizia que ninguém deveria se envolver com ele, caso ele não quisesse ou permitisse. Muitos diziam que ele seria um ótimo rei, mas ele mesmo se dizia a favor do príncipe-herdeiro e que estar no exército era seu lugar.
Com as mãos cruzadas sobre seu abdômen, ela caminhava e deixava o que tivesse que acontecer... Acontecer. Não iria começar uma conversa, mas iria responder caso ele desejasse calar o silêncio. Assim que se viraram no corredor final que a levaria aos seus aposentos ele parou abruptamente, e ela bateu sua testa em suas costas, dando um passo para trás para não cair e levando as mãos ao rosto.
- Ai... – Sussurrou, mais pelo susto do que pela dor.
- Você não muda mesmo, né? – Ele se virou e a observou em silêncio, que arrumou o cabelo e então voltou a cruzar as mãos. – Por acaso você se lembra da emboscada?
- Sim. – Disse, confusa pela pergunta ser tão óbvia.
- Então porque anda tão livremente pelo palácio? E se tivessem invasores aqui tentando terminar o que não conseguiram na estrada?
- Eu...
- Não responda. – Ele a calou revirando os olhos. – Hee-Ah, por favor, se cuide. – Soltando as mãos que se escondiam atrás das costas, ele pediu para que ela seguisse na frente pelo corredor e caminhou em suas costas, esperando que ela entrasse no quarto. Assim que abriu as portas de madeira, sentiu o aroma de comida e seu estômago roncou. – Coma e descanse, ficarei aqui fora.
- Tudo isso é para mim? – Se virou para o irmão sorridente, os olhos brilhantes como se fosse a primeira vez que via uma refeição real. – Você está com fome? – Disse puxando a manga esvoaçante de Sejong, mas logo se conteve pela atitude imprópria.
- Até amanhã, princesa. – Ele deu um passo para trás, saindo do aposento e fechando as portas, deixando Hee-Ah sozinha em seu quarto iluminado pelas velas, cheio de comida e sem sinal do vômito de antes.
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