31 - Eu sou sua...
Arrumarei essas coisas quebradas, consertarei suas asas quebradas e me certificarei de que tudo está bem.
This Love - Maroon 5
Mais uma segunda-feira teve início, mas aquela não seria como as outras. Diana passou a noite em claro em frente ao seu notebook, dormiu pouco mais de duas horas e precisou de bons copos de café extraforte antes de dirigir-se até o edifício comercial no centro de São Paulo. Suas olheiras estavam disfarçadas com maquiagem mais uma vez, mas agora era por um bom motivo. Os óculos escondiam o olhar cansado e assim que cumprimentou Márcia, a recepcionista já notou um semblante diferente na chefe que carregava um sorriso nervoso acompanhado de um envelope pardo e dois copos de café da cafeteria do prédio. A mulher acompanhou a advogada com o olhar até que ela entrasse no escritório de Maurício sem bater, fechando a porta atrás de si.
Maurício estava compenetrado em seu computador quando ouviu a porta de sua sala bater e um envelope ser colocado sobre sua mesa junto de um copo de café. Ao subir o olhar, viu o sorriso de Diana. Um sorriso sincero e que há muito tempo ele não via. Sentiu algo revirar dentro de si ao vê-la se sentar em sua frente, e por mais que odiasse aqueles óculos que ela vinha insistindo em usar, não negava que ela estava muito atraente.
– Em que posso ajudá-la? – ele tentou soar o mais indiferente possível.
– Abra o envelope – ela pediu cordialmente.
Maurício obedeceu a ex-noiva e tirou algumas dezenas de papel de dentro do envelope. Ao analisar aquela papelada, viu o requerimento pronto para ser enviado à OAB e um distrato pronto com as informações necessárias já com os nomes dos dois sócios, aguardando apenas a assinatura de ambos. Em meio a todas as folhas já fora da ordem inicial, o valor pedido por Diana por sua parte do escritório. Não era nenhum valor exorbitante, mas era mais do que o valor investido inicialmente.
– O que é isso?! – ele questionou mesmo com a certeza do que se tratava.
– Se me ter fora desse escritório significa vitória para você, então você venceu, Maurício – Diana abriu um sorriso – O escritório pode ser totalmente seu, assim como você já diz ser. Basta me pagar o que eu estou pedindo e você pode mudar o nome para o que bem entender, porque não vai me importar mais.
– Você não abriria mão de tudo o que construiu tão facilmente assim – ele cruzou os braços e negou – Eu te conheço, Diana.
– Eu também pensava que me conhecia, mas essa Diana aí não sou eu de verdade – ela relaxou a postura na cadeira – E então? Você vai aceitar ou não?
– Eu nunca te quis fora daqui, Diana, eu só quis te dar uma lição – ela foi capaz de sentir o nó que ele mantinha em sua garganta e se divertiu com isso.
– Eu sou grandinha demais para lições, não acha? – estalou a língua – Mas você disse que sem você eu não sou nada, porque não paga para ver?
Muito a contragosto, Maurício aceitou as condições de Diana. Ele não tinha todo o valor para pagar à vista, então ela exigiu que seus ex-sogros o completassem. Eles o fariam de qualquer forma, afinal. Tudo para afastar seu querido e único filho da mulher que nunca foi boa o bastante. Mas ver o homem sofrendo a sua frente para pedir o dinheiro aos pais a fez se sentir vingada.
– É melhor você tomar o café antes que esfrie – ela apontou o copo descartável sobre a mesa – Eu trouxe para você, totalmente em missão de paz, eu juro.
– Aproveitando esse momento de paz, só quero te dizer que ainda não é tarde para voltar atrás – Maurício bebericou o café e sorriu ao apoiar a mão sobre a da ex-noiva – Não só quanto ao escritório, mas em relação a tudo. Você pode deixar esse seu lado rebelde sem causa de lado, abrir mão daquele bandidinho e voltar a ser a Diana que eu amo, que eu sempre amei.
– Voltar atrás? – ela puxou a mão para livrar-se do toque dele e se levantou – Eu não cheguei até aqui para voltar atrás. Aquela Diana não existe mais, e eu nunca estive tão grata por ter dado um fim a ela. E não importa quantas versões diferentes de mim surgissem, nenhuma voltaria com você. Agora, se me der licença, tenho um escritório para esvaziar ainda mais e uma dissolução de sociedade para enviar. Fico feliz por encerrar meus laços ainda existentes com você.
Diana encerrou seu último dia na Andrade & Monteiro às seis da tarde, como fazia todos os dias. Sequer saiu para almoçar com Gael, desmarcando o encontro em cima da hora. Maurício saiu apressado algumas horas mais cedo, talvez por não querer se despedir da ex-noiva ou então vê-la partir uma última vez. Com a ajuda de Márcia, a advogada colocou todos os seus pertences no carro e nem imaginava a quantidade de coisas que ainda tinha naquela sala. A recepcionista não escondia sua chateação com o ponto em que aquela situação havia chegado. Ao colocar o último item no automóvel – o vaso de flores artificiais – decidiu falar.
– A senhora não deveria ter entregado o escritório pra ele assim, tão fácil – Márcia resmungou.
– Eu não estava feliz, Márcia – Diana suspirou – Faz algum tempo que eu não me encontro mais aqui.
– E como eu vou continuar? – a mulher fungou – Acho melhor eu pedir demissão, mostrar pro senhor Maurício que eu estou do lado da senhora! Isso! Vou fazer isso amanhã cedinho, assim que chegar! Eu posso trabalhar pra senhora no seu escritório novo!
– Não faça isso! – Diana aumentou o tom de voz por um momento – Márcia, eu agradeço por todo o carinho, mas eu ainda não tenho um escritório, nem mesmo poderei te pagar o mesmo que você recebe aqui. Você tem filhos que dependem de você, é mãe solo, não pode abrir mão do salário e da estabilidade que tem aqui. Eu sei que o Maurício não vai te demitir e que vai continuar te pagando normalmente, ele não tem absolutamente nada contra você, o problema foi comigo.
– Mas a senhora... não é justo! Vai sair com uma mão na frente e outra atrás!
– Vamos combinar uma coisa? – Diana pediu e Márcia assentiu – Você pode me mandar mensagens quando quiser contando se ele está conseguindo se virar sem mim. Vai ser a minha informante – sorriu.
– Feito! – estendeu a mão para Diana, que a apertou, selando o acordo.
– Posso te confessar algo? – Diana sussurrou antes de soltar a mão da mulher.
– Claro!
– Eu coloquei laxante no café dele hoje – a advogada abriu um largo sorriso – Uma última vingancinha antes de ir embora.
– Por isso ele saiu mais cedo e com toda aquela pressa! – Márcia riu – A senhora é demais!
As duas se despediram com um abraço longo demais, ao menos comparado aos que Diana estava acostumada a dar. Márcia seguiu seu caminho com lágrimas nos olhos por despedir-se de sua chefe, já a mulher respirou fundo e se despediu do porteiro uma última vez. Por todo o caminho até sua casa, se perguntou se havia tomado a decisão correta. Ela sabia que sim, mas uma pontinha insuportável insistia em cutucar o arrependimento que se aproximaria logo. Aquela pontinha tinha o tamanho de uma formiga, mas uma formiga daquelas com a picada dolorida e que te faz sentir por bons dias.
O elevador parecia mais lento que o normal e ao chegar ao quinto andar com o máximo de coisas que conseguiu carregar, sentiu vontade de chorar tudo o que segurou nas últimas semanas. Tudo o que segurou durante aquela última tarde em sua antiga sala. Ao deixar as caixas que carregava pelo cômodo, trancou a porta e deixou as lágrimas saírem. Era um pranto confuso, porém diferente do que imaginou. Aquelas lágrimas tinham sabor de recomeço, por mais que fosse difícil imaginá-lo. Pela primeira vez ela não sabia o que fazer ou o que seria da sua vida dali em diante e isso era assustadoramente novo, mas Isadora tinha razão, ainda não era tarde para recomeçar.
Seu interfone começou a tocar e um sorriso brotou no rosto úmido pelas lágrimas ao ouvir a voz de Gael do outro lado da linha. Diana não contou que havia decidido vender sua parte, e esse foi um dos motivos que desmarcou o almoço daquela tarde mesmo sabendo que se encontrariam durante a noite. Tinha certeza que ele a apoiaria não importava qual fosse sua decisão, mas andava se sentindo tão dependente das aprovações alheias como sempre se sentiu que precisou ter um momento só seu para tomar decisões que ela mesmo aprovasse antes de qualquer outra pessoa. Mas agora que já estava feito, não via a hora de poder contar a novidade para o tatuador, esperando que ele a desse a injeção de ânimo necessária.
– Me desculpa por desmarcar o almoço hoje – ela o cumprimentou entrelaçando os braços em seu pescoço e depositando um beijo rápido nos lábios – Juro que foi por um bom motivo.
– Não tenho dúvidas disso – sorriu para a mulher ainda abraçada a seu pescoço e a deu mais um beijo – Mas e essa carinha de quem chorou? O Maurício te fez alguma coisa?
– Fez... – suspirou e soltou-se do abraço para encará-lo – Ele comprou a minha parte do escritório.
– Ele... você... você que ofereceu?!
– Sim – abriu um sorriso e sentiu as lágrimas encherem seus olhos mais uma vez – E eu também coloquei laxante no café dele, o que foi uma atitude horrível, mas eu não me arrependo!
– Você não fez isso... – meneou a cabeça negativamente e riu ao vê-la assentir com um sorriso travesso – Eu não poderia me orgulhar mais de você!
Gael não escondeu o orgulho que sentiu ao enchê-la de beijos após o abraço forte que os tomou. Diana agarrou-se a ele na tentativa de se contagiar com aquela felicidade, mesmo ainda receosa com o seu futuro. Queria conseguir acreditar em si mesma como aquele homem acreditava, mas aquela maldita pontinha infame de arrependimento insistia em dar as caras, fazendo o sorriso que antes estampava seus lábios morrer aos poucos.
– O que eu vou fazer da minha vida agora? – ela perguntou num sussurro ainda abraçada a ele.
– Você pode começar se dando um dia de folga da sua própria mente – ele sorriu.
– Eu não tenho mais uma rotina, Gael. Amanhã eu vou acordar e fazer o quê? Ficar deitada vendo um dia útil passar por meus olhos? Estudar os processos em andamento da sala da minha casa vestindo pijamas? Procurar um escritório novo? Eu não sei nem por onde começar!
– Ei, calma, respira, você já tá pensando demais de novo – segurou suas mãos e a olhou nos olhos – Você merece um dia de descanso. Quando foi a última vez que você foi na praia, por exemplo?
– Já faz muito tempo, eu nem me lembro – deu de ombros.
– Então a gente vai fazer o seguinte... – Gael a guiou até o banheiro já abrindo o zíper de seu vestido – A gente vai tomar um banho bem longo e relaxante – deu um beijo em seu queixo e tirou a própria camiseta – Depois eu vou fazer um jantar bem gostoso pra gente caso as coisas da sua despensa ainda estejam na validade, senão a gente pede uma pizza – mordiscou o lábio que mantinha um sorriso e a empurrou gentilmente para dentro do box após tirar seus sapatos – Enquanto isso você escolhe um filme pra gente... fingir que vai assistir – abriu o chuveiro, a fazendo assustar com o jato repentino de água sobre sua cabeça – Aí depois, só depois... de madrugada, talvez... Nós vamos subir na minha moto e dar uma voltinha por aí. O que acha?
– Que você é louco – Diana não conseguia desfazer o sorriso dos lábios.
Gael livrou-se das peças de roupas restantes o mais rápido possível para não molhá-las ao ser puxado por Diana para um beijo sob o chuveiro. A cada toque debaixo d'água o banho se tornava mais longo, mas eles realmente não se importavam com o tempo que gastavam explorando um ao outro. O tatuador foi o primeiro a deixar o cômodo enrolado na toalha para cumprir a segunda parte de seus planos e a mulher aproveitou mais alguns minutos sob a água quente antes de acompanhá-lo até a cozinha.
Assim como já imaginavam, a maioria dos itens da despensa de Diana estavam com a validade expirada, então precisaram pedir uma pizza. Comeram enquanto assistiam a uma nova série e, assim como previsto por Gael, os episódios foram deixados de lado facilmente após o jantar.
– Eu não me canso de você – Diana murmurou enrolando os dedos nos fios soltos de Gael sobre o sofá.
– Eu é quem deveria dizer isso – beijou a palma de sua mão e se levantou – Mas a nossa noite ainda não acabou, então não se canse de maneira alguma. Levanta essa bunda linda do sofá e vai se arrumar porque a gente vai pra praia daqui... meia-hora – terminou de dizer ao olhar para o horário no celular.
Diana questionou inúmeras vezes se o rapaz estava louco, mas quando se deu conta, já estava pronta para sair. Era segunda-feira, a noite não estava tão fresca assim, ela nunca viajava sem um planejamento prévio ou até mesmo um quarto de hotel reservado, eles não tinham um roteiro de viagem e muito menos uma mala decente e, por fim, ela deveria focar-se em encontrar um novo escritório e não em sair por aí em plena madrugada de maneira totalmente irresponsável.
Passava da uma da manhã quando Diana subiu na garupa de Gael e os dois deixaram o apartamento da Santa Cecília com destino ao litoral. Dessa vez a mulher sequer insistiu para irem de carro, pois já estava se acostumando a andar na moto do tatuador. Diferentemente do que via nos filmes em que a protagonista sempre abre os braços ao estar sobre duas rodas, sentindo o vento trazer a sensação de liberdade, ela sentia apenas frio agarrada à cintura dele.
Gael estacionou a moto em uma das várias vagas livres próximas aos quiosques fechados e tiraram os sapatos para caminharem até a faixa de areia, onde Diana estendeu um lençol improvisado como canga e colocou as cervejas, refrigerantes e salgadinhos que compraram em uma conveniência 24 horas de um posto de gasolina local.
– E agora? – Diana perguntou sentando-se ao lado de Gael no lençol.
– Agora a gente curte essa noite maravilhosa.
Aninhando-se ao tatuador já deitado na areia, Diana aproximou seus rostos e tomou seus lábios em movimentos lentos e ritmados. Gael aprofundou o beijo, colocando parte de seu tronco sobre o dela enquanto acariciava seu pescoço. Seu corpo confundia os arrepios causados pelo rapaz com os da brisa ligeiramente fria, eriçando toda a sua pele. Ele precisava controlar seu toque para não ir longe demais.
– A praia tá tão deserta... – Gael passou a mão livre pela cintura de Diana – Quantos crimes a gente vai cometer se...
– Crime de ato obsceno – o interrompeu com um sorriso – Podemos ser multados e até mesmo presos.
– Então é mais seguro parar por aqui – levantou as mãos e riu – Mas eu não preciso disso, só sua companhia me basta.
– Como você mesmo disse, a praia tá tão deserta... – ela arqueou a sobrancelha e serpenteou os dedos sugestivamente por seu abdômen – E aqui eu não sou uma advogada preocupada com leis, eu sou sua...
Diana travou sua fala e os movimentos de seus dedos de imediato. Eu sou sua... o que ela era dele? Qualquer termo parecia adolescente demais. Informal demais. Mas o que eles tinham além da informalidade? Não eram namorados, por mais que ela já tivesse fantasiado uma relação mais séria. Não tinham nada além daquela infeliz informalidade. Gael abriu aquele sorriso frouxo que só ele tinha e a abraçou, sabendo exatamente o que ela era.
– Minha Diana – aconchegou-se nela – Você é a minha Diana.
Todos os movimentos que se seguiram acompanhavam a lentidão das ondas e as sensações se intensificavam ainda mais por conta da adrenalina que sentiam ao fazer algo errado. Mas não havia mais ninguém ali para ouvir as respirações agitadas fundindo-se ao som do mar. Ninguém além da lua minguante timidamente entre as nuvens do céu estrelado para testemunhar.
Entre silêncios cômodos, beijos e trocas de carinhos, passaram a noite observando a calmaria que somente aquele lugar podia trazer. Caminharam de mãos dadas pela beira do mar, permitindo molhar as pernas na água fria da madrugada. Ao voltarem para a canga improvisada, não se importaram de molhar ou sujar o tecido com os pés cheios de areia. Fizeram um piquenique improvisado com os refrigerantes e salgadinhos enquanto observavam toda aquela imensidão do oceano sentindo a brisa marítima e Diana até mesmo cochilou embalada pelo som das ondas.
Estava perto de amanhecer quando Gael a acordou. Diana se desculpou por ter pegado no sono, mas ele não se importava. O objetivo daquele passeio da madrugada era fazê-la descansar de si mesma, e ele conseguiu. Ao perceber o aproximar do crepúsculo, o rapaz num ímpeto decidiu tirar a roupa e entrar no mar apenas de cueca. A mulher ainda tímida o seguiu, entrando na água apenas de calcinha e sutiã.
Os dois se abraçaram ainda dentro do mar e assistiram o amanhecer surgir timidamente, tingindo o céu escuro com seus tons alaranjados e o reflexo do sol despontar nas águas. Ela sorria sozinha ao se dar conta de que não precisou de um planejamento e muito menos de um hotel cinco estrelas com todo o conforto do mundo para se sentir feliz. Tudo o que precisava naquele momento estava ali. E foi então que ela percebeu que o que sentia por Gael já ia muito além daquela paixão que afirmou sentir. Ia muito além de suas tão costumeiras certezas.
– Não existe nenhum outro lugar nesse mundo que eu gostaria de estar a não ser aqui com você – Diana sorriu sem desviar os olhos do amanhecer.
– E não existe nenhuma outra pessoa que eu gostaria de estar agora a não ser você, não me importa o lugar – Gael retribuiu o sorriso e deixou de admirar o céu para admirar Diana.
Olá meus amores! Como estão?
Aiai, eu sou tão cadelinha desses dois, não entendo como consigo escrever um casal tão amorzinho depois de tanto drama (quem leu a duologia Sete Bilhões sabe do que eu estou falando kk)
O que acharam do capítulo?
Gostaram da Diana vendendo a parte dela e colocando laxante no café do traste do Maurício? E desse bate-volta na praia em plena madrugada?
Deixem a estrelinha e comentem, eu amo ler os comentários de vocês!
Nos vemos em breve,
Beijinhos ♥
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