18 - Dois buquês
Buquês são flores mortas num lindo arranjo. Arranjo lindo, feito pra você.
Não Existe Amor em SP - Criolo
Depois de desabafar com Rita e dona Cida, Diana conseguiu descansar a mente no restante do sábado, inclusive dormiu por mais horas do que de costume. Percebeu que nem sempre guardar tudo para si era uma boa ideia e que sim, haviam pessoas dispostas a ouvi-la e ajudá-la sem julgamentos, diferentemente do que estava acostumada dentro da família Andrade.
No domingo de manhã enviou uma mensagem para Maurício informando que iria sair, mas não deu mais detalhes. Ele a questionou algumas vezes, mas Diana não estava nem um pouco a fim de dar satisfações. Vestiu uma roupa casual, pegou no armário o vinho mais caro (de acordo com o Google) e saiu. Estacionou o mais próximo que conseguiu do bar e enviou uma mensagem para Gael avisando que havia chegado, pois as portas estavam fechadas. O tatuador abriu a porta e estava sem seu usual avental preto, deixando claro que era uma festa somente para os mais chegados e que ninguém serviria ninguém naquela tarde.
– Doutora Diana dos vinhos! Não achei que viria! – Bento a cumprimentou com um abraço assim que a viu.
– Só uma passada rápida para te desejar felicidades e te dar isso aqui – estendeu a garrafa de vinho para o homem – Espero que você goste!
– Diana, isso aqui é vinho, eu vou gostar! – deu aquele sorriso largo que só ele tinha – Mas olha, fica à vontade, hoje tá cada um por si, tem suco, cerveja e refrigerante naquela geladeira – apontou à sua esquerda – E o churrasco eu tô fazendo lá nos fundos, mas daqui a pouco já tem carne circulando por aí.
Aquela festa tinha poucos convidados, mas todos pareciam tão animados quanto o aniversariante. Diana se sentou em uma mesa próxima à parede e ficou observando a correria da menininha negra de cabelos crespos que com certeza era filha de Bento, pois seus sorrisos eram idênticos.
– Di! – Rita correu até a mesa da amiga – Nem acreditei quando o Gael falou que você estava aqui!
– Eu também não sabia que você estaria! – Diana comemorou timidamente com a amiga – Nem sabia que você era amiga do Bento!
– Ele é amigo do Gael há anos, e como eu sou a irmã pirralha, vivia me metendo na vida deles e aí a gente virou amigo também – deu de ombros.
– Ei, peguei pra você – Gael se aproximou e entregou uma lata de Coca-Cola para Diana – Sei que você não aceitaria a cerveja porque é domingo e amanhã você trabalha.
– Talvez hoje eu precisasse justamente da cerveja, mas refrigerante está ótimo – Diana sorriu – Obrigada.
Rita observou aquela breve troca de olhares e sentiu que talvez precisasse dar uma volta. Pediu licença e falou que iria importunar a esposa de Bento, seguindo até a mulher de cabelos trançados do outro lado do bar. Gael riu da irmã e logo se voltou para Diana, que estava com o olhar perdido encarando o vazio.
– Você tá bem? – ele bateu seu ombro contra o dela.
– Sim, só... pensando – deu de ombros – Aquela sua ex... você falou que pegou os dois juntos, certo? – ela perguntou e Gael assentiu – Como foi? Tipo... o que você sentiu?
– Foi horrível. Eu não desconfiava, simplesmente calhou de eu sair mais cedo do estúdio naquele dia, aí fui fazer uma surpresa pra ela e bom... eu que acabei surpreendido – riu.
– Você acha que se você esperasse por aquilo, seria mais fácil? – o encarou.
– Tem alguma coisa acontecendo? – a encarou de volta – Sei lá, você acha que o Maurício desconfia do nosso beijo? Ou então você pretende contar pra ele?
– Pelo contrário... – suspirou – Ele não desconfia de nada, mas eu desconfio dele – respirou fundo e tombou a cabeça na parede – Eu acho que ele está tendo um caso com a minha irmã.
– Ah não! – Gael passou as mãos pelos cabelos, totalmente chocado – Será que ele seria tão filho da puta assim?! Pior, será que a sua irmã seria tão filha da puta assim?!
– Eu não sei – Diana foi sincera – Eu acho que são coisas da minha cabeça, acho que só estou inventando isso, vendo coisa onde não tem... Procurando um motivo para me absolver da culpa por ter traído... Enfim, desculpa tomar seu tempo com isso – suspirou e se levantou – Quer uma cerveja? Vou pegar uma para mim, realmente estou precisando.
Diana seguiu até a geladeira e pegou uma lata de cerveja para cada. Gael a seguiu, ainda tentando entender a calma que ela aparentava mesmo desconfiando que seu noivo e sua irmã tinham um caso. Ela o estendeu uma latinha e abriu a sua, virando o líquido em grandes goles.
– Diana! Como você me solta uma bomba dessas e sai andando? – Gael estava atônito – Me conta o que te faz pensar isso porque eu sou incapaz de imaginar que alguém faria isso com a própria irmã. Sei lá, é tipo a Rita pegando o marido da Isa, não entra na minha cabeça!
Gael puxou um banquinho para Diana e esperou até que ela começasse a falar. Ela contou tudo, sobre as mesmas flores da casa da irmã, o nervosismo do noivo quando Fábio contou que Fernanda só chegou em casa ao amanhecer após o casamento, sendo que ele havia dito que a deixou em casa duas horas depois da noiva ter ido embora, sobre o maldito terno azul marinho que Rita teve impressão de ver.
– Só tem um jeito de descobrir – Gael encolheu os ombros.
– E qual seria? – Diana perguntou cabisbaixa.
– A gente vai ter que investigar – sorriu.
– E como? Eu tentei ver o celular dele, mas ele não desgruda daquela droga.
– A gente precisa ir além. Você falou que a Rita já sabe, então é ela que vai ajudar, e eu sei exatamente como.
Gael sorriu e estendeu seu punho fechado para Diana, que bateu seu punho contra o dele. Ele chamou pela irmã que fazia mágicas para a filha de Bento e os três começaram a planejar aquela investigação. Diana deixava de se sentir louca por estar desconfiando do noivo e a cada minuto de conversa com aqueles irmãos, mais acreditava estar certa.
***
Na segunda-feira Diana chegou cedo ao prédio comercial onde trabalhava, mas não desceu do carro. No momento em que viu Márcia cumprimentar o porteiro e atravessar o estacionamento a pé, saiu do automóvel e a seguiu até o elevador. As duas se cumprimentaram e a advogada falou amenidades até chegar no assunto desejado.
– Márcia, deixa eu te perguntar, você sabe qual é a floricultura que o Maurício encomenda flores? Uma amiga está doente e eu quero mandar um arranjo para a casa dela. Quero um daqueles buquês lindos de cravos coloridos, sabe qual é?
– Claro, dona Diana – Márcia sorriu – Tenho o contato anotado na agenda da recepção. Vou procurar e já levo até o seu escritório.
As duas saíram do elevador e a advogada agradeceu antes de seguir até sua sala. Não demorou e a recepcionista entrou com um pedaço de papel com o nome da floricultura e um número anotado. Maurício cumprimentou a noiva assim que chegou e estranhou o beijo apaixonado que recebeu da mulher que exalava bom humor. Ao se aproximar do meio-dia o homem foi até o cômodo ao lado para chamá-la para almoçar, mas Márcia informou que ela havia acabado de sair.
A algumas quadras de distância, Diana e Rita se encontravam em uma mesa de um restaurante simples onde a advogada tinha certeza que seu noivo jamais iria. A irmã de Gael parecia mais ansiosa do que a própria mulher que a estendia o papel com o número da floricultura. A moça discou em seu celular e aguardou inquieta até ser atendida. Ajeitou sua postura e respirou fundo assim que ouviu a saudação do outro lado da linha.
– Boa tarde, meu nome é Rita, meu chefe pediu pra encomendar um arranjo com vocês, mas eu sou nova no escritório e não tenho certeza quanto ao nome da destinatária. Ele acabou de me falar e saiu pra almoçar e eu já esqueci, e como é o meu primeiro dia aqui eu não quero ter que pisar na bola com o patrão, você sabe como tá difícil conseguir emprego nesse país né... – ela atuava como uma verdadeira secretária desesperada.
– A senhora sabe o nome completo dele? – a pessoa do outro lado da linha perguntou.
– Maurício Monteiro – Rita respondeu após Diana sussurrar o nome do noivo.
– Ah, sim, o senhor Maurício – a atendente demonstrou conhecê-lo – Nós temos três destinatárias cadastradas, a senhora não se lembra nem o primeiro nome?
– Eu não me lembro... Acho que começava com F, mas não tenho certeza...
– Bom, aqui constam Diana Andrade, Eliane Andrade e Fernanda Andrade Brandão.
A ligação estava no alto-falante, então Diana não foi capaz de esconder a surpresa ingrata que tomou sua face. Rita murchou o sorriso que mantinha por estar atuando daquela maneira ao ver a decepção no rosto da amiga. Segurou sua mão com firmeza e voltou a falar com a atendente.
– Ah, eu acho que é a Fernanda... ou será que é a Diana?! Pode ser a Eliane também... – tentou parecer confusa.
– Olha, senhora, segundo o sistema as que ele mais costuma enviar flores são a Diana e a Fernanda, a Eliane ele encomendou apenas uma vez.
– Ah, sim... – tentou manter a atuação mesmo vendo os olhos de Diana se enchendo de lágrimas – Me lembrei! É a Diana! Você pode mandar dois buquês de cravos coloridos no endereço dela amanhã, por favor?
– Os dois são para a senhora Diana? Porque normalmente ele pede um para a Diana Andrade e um para a Fernanda Andrade Brandão – assim que a mulher falou, a advogada arregalou os olhos úmidos.
– Sim, os dois pra Diana e nenhum pra Fernanda.
– Ok. É para colocar na conta dele?
– Sim, com certeza vai pra conta dele. Obrigada e tenha um bom dia.
Rita encerrou a ligação agoniada ao ver a amiga usando todas as forças para não derrubar nenhuma lágrima. Ela continuava segurando a mão de Diana, que respirava fundo e contava até dez repetidamente até conseguir controlar o que estava sentindo. Maurício a estava traindo, agora não havia mais como negar aquilo para si mesma.
– Eu sinto muito, Di. Muito mesmo – levantou de seu lugar e abraçou a amiga – Esse seu noivo é um lixo! Pode chorar no meu ombro se quiser.
– Eu não vou chorar – Diana secou os olhos úmidos com um guardanapo – Se eu tenho uma certeza, é a de que eu não vou chorar. Obrigada, Rita. Eu não sei nem como te agradecer.
– Dá um pé na bunda desse traste, esse já é o agradecimento. Mas você já sabe o que vai fazer?
– Eu vou pensar em um plano ainda hoje – se levantou – Mas vamos almoçar e deixar isso pra lá.
Rita se surpreendeu com a calma e autocontrole de Diana, sem saber que a mulher se esforçava para manter aquela sua postura impenetrável na frente dos outros diariamente, mas que bastava ficar sozinha para colocar todas as suas emoções para fora. As duas almoçaram em silêncio – o que era raro para a irmã de Gael – e se despediram assim que o relógio se aproximou da uma da tarde.
Assim que Diana chegou ao escritório após a leve caminhada de volta para espairecer e acalmar os ânimos, Maurício entrou em sua sala aparentemente irritado, mas sem perder a pose de superioridade. Ela sequer conseguia encará-lo, tamanha raiva que sentia do noivo naquele momento.
– Onde você estava? – ele perguntou impaciente.
– Fui almoçar, avisei a Márcia – Diana respondeu indiferente – Queria comer comida caseira e sabia que você não iria querer, ainda mais por não ter necessidade de ir de carro. Decidi ir sozinha.
– Mas princesa, eu ia te convidar para almoçar no bistrô ali n...
– Não me chama de princesa – o interrompeu – Por favor, Maurício, eu tenho muito o que fazer.
– Que seja – ele estufou o peito – Vim avisar que hoje eu combinei de encontrar meus pais quando sair daqui. Não te convidei porque sei que você não iria...
– Não mesmo, eu tenho um compromisso hoje – ela deu o melhor sorriso que conseguiu – Onde vocês vão jantar?
– Não sei, a minha mãe que inventou esse jantar de última hora – deu de ombros.
– Sua mãe sempre marca as coisas de última hora, não é? – Diana sorriu – Mas tudo bem. Eu vou sair mais cedo hoje, então por favor, fique até às seis.
– Mas por que você vai sair mais cedo? – ele a questionou.
– Você sempre faz isso quando vai encontrar seus pais, eu não posso sair mais cedo um dia? Eu já disse, tenho um compromisso com uma amiga.
– Você não tem amigas – ele foi assertivo em sua resposta.
– Você não a conhece. Agora me dê licença, Mau, eu realmente tenho muito o que fazer até a hora de ir.
Diana abriu a porta para o noivo, o convidado a se retirar de sua sala. Ele saiu reclamando algo que ela não se importava. No mesmo instante trancou a porta, ligou o computador e procurou pelo nome da irmã no Google. Ao encontrar o telefone de seu consultório, ligou. Inventou ser mãe de uma paciente da pediatra e perguntou se havia algum horário após as seis da tarde para encaixe, pois se tratava de uma emergência.
– Desculpe, a doutora Fernanda não estará mais aqui esse horário.
– Nem mesmo para uma emergência? A minha filha está com manchas pelo corpo e todos os médicos me indicaram a doutora Fernanda. Eu estou desesperada! – tentou uma péssima atuação.
– Me desculpe, senhora, eu te entendo, mas ela já desmarcou os pacientes da cinco em diante porque tem um compromisso importante. Nós temos outros pediatras tão bons quanto a doutora Fernanda, se quiser eu posso encaixar sua filha com um deles, mas ela é realmente impossível.
– Não, eu realmente queria passar com ela – suspirou – Bom, eu vou voltar com a minha filha ao hospital, essa pediatra não me parece tão profissional assim para a fama que tem.
A atendente do outro lado da linha se desculpou e Diana a desejou uma boa tarde antes de bater o telefone com força contra a mesa. Sabendo que agora sim estava sozinha e trancada em sua sala, se permitiu chorar o que havia segurado até então. Encarar aquela foto dela e de Maurício no Cristo Redentor que estampava o plano de fundo de seu computador passou a causar nojo. Como pode confiar naquele homem por tantos anos? Como pode se enganar com aquela cara de bom moço? Como sua irmã foi capaz de jogar tão baixo? Estava prestes a explodir em lágrimas e raiva quando seu celular tocou.
– Desculpa te ligar... – a voz baixa de Gael foi ouvida do outro lado da linha e Diana relaxou em sua cadeira – Eu liguei pra Rita pra saber como tinha sido o nosso plano e... eu sinto muito, Diana, de coração.
– Eu tenho um novo plano, Gael... – ela tentou disfarçar o embargo em sua voz devido ao choro recente – E eu queria saber se você pode me ajudar.
– E qual seria? – perguntou apenas por curiosidade, pois sabia que aceitaria de qualquer maneira.
– Eu vou seguir os dois hoje à noite – Diana encarou a foto no computador mais uma vez – Você viria comigo?
– Que horas eu te encontro? – Gael respondeu no mesmo instante.
Olá meus amores!
Como estão?!
Eu preciso parar com essa mania de postar dois capítulos, porque meu estoque rapidinho vai acabar, mas eu não sei me controlar e vou postar mais um daqui a pouco porque sim...
A Diana triste me deixa triste também, me corta o coração quando ela tenta se controlar perto da Rita.
É isso, até daqui a pouco com mais um, e o próximo eu AMO!
Beijinhos ♥
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro