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Capítulo 8 - Sem Lugar - 1953


Quando dei por mim, estava naquela escola mais uma vez.

Andei pelos corredores em passos apressados. E mesmo com roupas limpas, as pessoas ainda me olhavam.

Demorei muito tempo até alcançar a horta da escola. A construção era imensa e repleta de corredores, fazendo com que eu precisasse andar e procurar muito até alcançar o Trovão.

Quando o encontrei, ele estava amarrado pelas rédeas em uma árvore. O cavalo estava sem a sela. Ele, calmamente, pastava no chão.

— Que inferno! — Praguejei. De repente, percebi que todos pareciam estar tentando me prender.

O cavalo levantou os olhos até mim. Aproximei-me dele, lentamente. Porém, Trovão não se incomodou comigo dessa vez. Desamarrei o equino da árvore.

Estava prestes a montar nele, sem sela mesmo, quando ouvi a voz de Orlando.

— Rosa, o que tem de errado com você? — Ele perguntou.

Virei o rosto até o zelador. — Vocês estão tentando me prender. Eu não gosto disso.

— Estamos te oferecendo ajuda. — Ele negou com a cabeça. — Você bateu na Clarinha... Fugiu de novo...

— Essa tal Clarinha que começou! — Bradi. — Eu não pedi ajuda de vocês. Tudo o que pedi foi para me deixarem ir embora.

O circo se tornou completo quando vi Ana Lúcia se aproximando com a filha agarrada ao braço.

— Rosa! — A professora falou com severidade.

— Qual o problema de vocês? Por que querem cuidar da minha vida? — Trovão relinchou, incomodado com as pessoas. Segurei a rédea dele para que o cavalo não fugisse.

— Você está gerando um tumulto sem precedentes aqui nessa escola. — A voz da professora agora era ríspida. Pude ver algumas alunas espiando a situação de longe.

— Vamos ter que ser duros com você, menina. — Orlando disse, aproximando-se de mim.

— Não! Não chegue perto! — Afastei-me.

— Rosa... — Ele levantou as mãos de novo. — Nós já sabemos de onde você veio e já mandamos uma pessoa para avisar o dono do cavalo que você roubou.

Engoli seco. Olhei para o Trovão. Ele tinha a marca feita com ferro em brasa em sua coxa, com as letras S. A. Assim como essas letras estavam marcadas em sua sela. Bastava uma breve investigação para encontrar o dono de um mangalarga puro com as iniciais S.A. O maldito Silvino Almeida.

Puxei as rédeas do cavalo. Ele andou alguns passos para frente. Soltei suas rédeas, recuei alguns passos e dei uma forte palmada em seu flanco.

— Rápido! Rápido! — Gritei. O cavalo começou a correr naquele espaço pequeno. Clarinha gritou e ela e sua mãe correram em direção ao grande prédio. As meninas que espiavam também gritaram.

O mangalarga correu, irritado com a movimentação, por toda aquela horta, derrubando a estufa e pisoteando a plantação. Orlando se afastou alguns passos e correu e, para não ser pega pela fúria do meu cavalo, escalei alguns galhos da árvore em que ele estava preso.

Meu coração bateu com força contra o meu peito. Assisti a destruição que o animal irritado causou. Eu não queria voltar para a fazenda.

Fiquei um bom tempo ali em cima da árvore. Trovão parou de correr e voltou a pastar. Ele começou a comer as couves da horta que pisoteou.

Eu ainda estava com medo. Minhas mãos estavam usando e eu não conseguia parar de chorar com a possibilidade de voltar para aquele inferno em que eu vivia.

Minhas entranhas gelaram ainda mais quando vi três policiais vindo pela saída do corredor. Um deles tinha uma espingarda.

O que estava com a espingarda a apontou em direção ao Trovão. Outro me encarou, retirou um revólver da cintura e o apontou para mim.

— Desce. — Ordenou. Meus olhos não saíam de cima do meu cavalo.

— Não atirem nele! Por favor! — As lágrimas se tornaram mais intensas.

— Desce! — O policial gritou de novo. Desci de cima da árvore e coloquei as mãos para cima.

O policial agarrou o meu braço com força, retirou o par de algemas que carregava consigo, puxou os meus braços para trás e as fechou ao redor dos meus pulsos.

Não me importei. Apenas continuei encarando o outro policial com a espingarda apontada para o Trovão. O terceiro policial estava diante da saída do corredor.

— Ele tem dono. Não atire nele, por favor! — Supliquei mais uma vez.

— Cala a boca! — O policial que me algemou gritou. Ele voltou a segurar o meu braço. Apertou-o com força e me levou por aquele corredor do qual viera. Olhei o Trovão por cima do meu ombro.

— Desculpa... Desculpa... — Sussurrei em meio aos meus soluços de choro. 

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