
CAPÍTULO 18
Eu estava comendo minhas panquecas de café da manhã enquanto Doug convencia o pai de que ele tinha melhorado as notas na escola.
— É sério pai, eu tirei um B+ na última prova de cálculo — ele falou antes de dar um grande mordida em seu waffles — Foi a maior nota que já tirei na vida.
Tio Anton resmungou palavras inaudíveis, e voltou a ler seu jornal. O rosto empolgado de Douglas pareceu murchar.
— Você foi muito bem, Doug — tentei o motivar — Daqui a pouco está tirando A, tenho certeza disso.
Meu primo sorriu cabisbaixo, mas agradeceu.
— Obrigada, Nilla.
— Alguém quer a última panqueca? — Tia Bertha esticou o braço sobre mim, largando a frigideira em cima da mesa.
Eu estava tentada a aceitar, mas o horário no relógio da parede me impediu.
— Eu... preciso ir — falei levantando, e peguei minha bolsa pendurada no encosto da cadeira.
— Está saindo tarde hoje, Vanilla. Não vai se atrasar? — Tio Anton tirou os olhos do jornal para dirigir sua atenção em mim.
Não precisei responder, pois Doug fez questão de sanar as dúvidas do pai.
— Ela aposentou a bicicleta. — me lançou um olhar malicioso — Nilla arrumou alguém para levá-la ao trabalho.
Precisei plantar os pés no chão para não ir enforcar aquele ruivo fofoqueiro.
— Ah. Aquela sua amiga loira?
Tia Bertha riu do outro lado da cozinha. Parecia que ela e o filho eram cúmplices em me fazer passar vergonha.
— Bem... não, mas não tenho tempo para explicar. Eu volto à noite, tchau. — Saí correndo da cozinha antes que ele me fizesse mais perguntas.
Encontrei Peter apoiado na moto estacionada em frente a minha casa. Ele sorriu quando me viu, e eu fui correndo em sua direção.
— Bom dia, princesa — ele envolveu minha cintura com um dos braços.
— Bom dia — o respondi com um beijo em sua bochecha.
Tínhamos combinado de Peter sempre ir me buscar naquele horário, já que ele se ofereceu para me levar ao trabalho todos os dias. Foi pura sorte termos entrado nesse acordo, pois assim recuperaria meu celular o quanto antes.
Ele colocou a mão no bolso da jaqueta e tirou algo de lá, me estendendo.
— Acho que isso te pertence.
Era meu celular, exatamente o que eu estava prestes a pedir.
Peguei o eletrônico de sua mão e o guardei na bolsa.
— Obrigada — sorri — Fui ao seu hall ontem para pegar, mas acabei não te encontrando.
O maxilar de Peter trincou, e ele soltou a respiração rápido demais.
— Você foi lá ontem de noite? — Concordei com a cabeça. — Que horas?
Franzi o cenho, estranhando sua pergunta. Que diferença isso fazia? Mas mesmo assim respondi.
— Um pouco depois de você me deixar em casa, por quê?
Ele sorriu mostrando os dentes, aquele sorriso que Peter sabia que eu não resistia.
— Nada não. Eu muito provavelmente estava no meu quarto, fui para lá logo que cheguei.
Como eu imaginava, foi isso que aconteceu.
— É verdade que eu nunca fui ao seu quarto antes — averiguei.
— Está se oferecendo para ir no meu quarto, Vanilla Quinn? Eu não vou recusar — o sorriso ladino voltou ao seu rosto, me fazendo ruborizar mais do que se pode considerar normal.
Eu não tinha me oferecido para ir ao quarto dele, só falei que não sabia qual era. Precisava explicar isso urgentemente antes que ele começasse a criar ideias em sua cabeça.
— É claro que não — murmurei constrangida — Vamos logo, senão vou me atrasar para o trabalho.
— Você que manda — ele colocou o capacete na cabeça e me entregou o meu.
Em minutos, estávamos parados em frente à cafeteria que vim trabalhando no último mês. Aquele lugar se tornara uma segunda casa para mim.
Desci da moto e devolvi o capacete para Peter.
— Vai conseguir vir antes do almoço? Posso pegar carona com a Beny.
Peter levantou a viseira do capacete.
— Acho melhor você ir com ela, preciso resolver algumas coisas na casa de meus pais.
— Ah, tudo bem. Então a gente se vê no final da tarde — sorri para ele me despedindo, e fui para dentro da Double Coffee.
O costumeiro aroma de café me recebeu junto com o sino sobre a porta. Thomas estava arrumando as mesas, enquanto Noreen ligava a máquina de café.
— Oi, pessoal — falei indo para trás do balcão, onde peguei meu avental e crachá e os vesti.
Thomas me cumprimentou com seu jeito caloroso, enquanto Noreen apenas acenou com a mão antes de voltar para sua função. Esses eram meus colegas de trabalho, um o oposto do outro, mas eu os adorava.
— Seu primo conseguiu passar naquele teste que ele não parava de falar sobre? — Thomas perguntou quando me aproximei para ajudá-lo.
— Não sei — abaixei uma das cadeiras — Os resultados já devem ter saído, mas ele ainda não foi ver.
A lista já devia estar no mural do hall, mas eu duvidava de que Douglas tivesse tempo de ir ver, afinal, a essas horas estava na escola. No entanto, tinha certeza que ele estava uma pilha de nervos, todos nós, aliás.
Peter provavelmente já vira os resultados, considerando que ele foi para a faculdade logo que me deixou na cafeteria. Eu até queria mandar uma mensagem, mas era melhor não incomodá-lo durante a aula.
— Tomara que tenha passado, parecia ser muito importante para ele.
— E é — confirmei — Doug ficou duas semanas me importunando por causa disso. Parece que é a chance dele virar uma estrela — fiz aspas com os dedos, pois era o que o ruivo sempre me dizia quando entrávamos nesse assunto.
— Então é melhor torcermos para dar certo, ou você vai ter sofrido em vão — brincou.
Acabei rindo, mas aquilo não deixava de ser verdade.
Pelo menos Doug melhorou na escola, o que era um pré-requisito de tia Bertha para ele poder participar do festival. Mesmo que eu tenha assinado a autorização sem ela saber, meu primo cumpriu o que sua mãe tanto desejava.
Trocamos mais algumas palavras enquanto terminávamos de ajeitar tudo, e não demorou muito para que os clientes começassem a aparecer.
Atendi um grupo de idosas que me pediram para tirar uma foto delas, e depois precisei limpar o chão quando uma garotinha derrubou sua xícara de achocolatado. Servi os cafés de todos que me chamavam por nomes como "mocinha", "Ei, garçonete" e até mesmo "Você aí", sempre mostrando um sorriso gentil no rosto, mesmo para aqueles que não o mereciam.
A manhã passou mais rápido do que eu esperava, mas estava feliz por finalmente poder almoçar, meu estômago já estava começando a reclamar de forma audível.
Antes de eu ir para fora encontrar Beny, parei com a bolsa sobre o ombro quando vi Noreen se aproximar de mim com um envelope em mãos.
— Nilla — ela me chamou.
— O que foi?
— Eu... — Noreen abaixou a cabeça e limpou a garganta — É que domingo faço vinte e quatro anos, e bem... minha família vai dar uma festa. Me pediram para convidar meus amigos — ela voltou a olhar para mim, e demorou alguns segundos para me estender o envelope — Também convidei Thomas, e você pode levar seu primo e aquela garota loira se quiser, ou o seu namorado.
— Ah — peguei o envelope de suas mãos.
Ela tinha dito amigos? Noreen realmente me considerava amiga dela?
Sorri contente, não consegui esconder minha empolgação em saber que éramos amigas.
— Vou ir com certeza. Obrigada pelo convite.
Noreen sorriu sem graça e fugiu de lá antes que eu pudesse abraçá-la.
— Ela gosta muito de você — Thomas falou, aparecendo atrás de mim.
— Quem? A Noreen? — me virei para ele.
Thomas assentiu.
— Ela é um pouco fechada com as pessoas, mas depois que você a conhece melhor, é difícil não gostar dela.
Percebi o olhar de admiração dele na direção da latina, que organizava as xícaras recém lavadas. Foi então que percebi. Thomas gostava de Noreen, e isso era tão óbvio que me amaldiçoei por não ter visto antes.
— Você parece conhecer bem ela — comentei, tentando não sorrir que nem uma boba após a descoberta que fiz.
— Conheci Noreen um ano depois de eu começar a trabalhar aqui. Ela foi contratada como garçonete, e acabei a treinando. Somos amigos desde então. Por isso afirmo com certeza que ela te considera uma amiga. Noreen sempre fala bem de você, e até te convidou para a festa de domingo, que aliás, você vai adorar.
Saber daquilo aqueceu meu coração. Eu gostava de Noreen, e fiquei feliz em descobrir que era recíproco.
— Você já foi em algum aniversário dela?
— Nos últimos três. Costumam ser bem... movimentados — ele riu, me deixando ainda mais intrigada — A família Reyes sabe o que é dar uma festa.
— Não sei se devo ter medo disso.
— Você vai ver.
Me despedi de Thomas e fui para fora encontrar Beny. Ela estava com o carro estacionado alguns metros longe, mas não foi difícil de achá-la.
Quando me aproximei, ela abriu a janela e se curvou sobre o banco do carona.
— Entra no carro, vadia. Vamos salvar a Britney.
— Eu vou fingir que entendi o que você falou — respondi entrando no carro e coloquei o cinto de segurança.
— Você está tão por fora, Nilla. Tem certeza que usa seu celular?
Revirei os olhos.
— Não para as mesmas coisas que você.
Bethany riu e deu partida no carro, dirigindo em direção à universidade.
Chegamos a tempo de conseguir um lugar no restaurante universitário. A mesa era bem no centro do salão, e tinha apenas três lugares, mais do que o suficiente para nós duas.
— Ah, nem te avisei — sentei em uma das cadeiras e larguei a bandeja sobre a mesa — Eu falei com Peter sobre o Ryan, ele disse que vai dar um jeito.
Beny deu um gritinho animado que assustou algumas pessoas que estavam perto de nós.
— Isso é perfeito! Você é demais, Nilla — ela disse agarrando meu pescoço, me puxando para um abraço apertado.
— Eu sei disso, agora por favor me larga que eu estou com fome.
Beny levantou os braços se rendendo, e me deixou comer meu almoço em paz.
Senti que algumas pessoas nos encaravam quando passavam por nós, mas realmente decidi ignorar isso. Eu já sabia o motivo, ele estava no lado esquerdo do meu rosto, e convivo há tanto tempo com isso, que aprendi a não me importar com os olhares dos outros.
Para piorar ainda mais minha situação, ouvi o rangido da cadeira ao meu lado. Quando me virei, vi Peter a ocupando. O sorriso convencido em seu rosto mostrava que ele estava lá com segundas intenções, como sempre.
— E aí, gata? — ele falou se inclinando e envolvendo meus ombros com o braço.
— Peter — o olhei espantada — Você não tinha um compromisso nesse horário?
— Ah — ele pareceu lembrar do que tinha me dito algumas horas antes — Já resolvi. Decidi vir te ver antes da aula.
Lancei um olhar alarmado para Beny, que me ignorou fingindo ler algo importante no celular.
Escondi minhas mãos embaixo da mesa e mordi meu lábio inferior.
— Algum problema?
Pisquei algumas vezes antes de encarar Peter.
— Nenhum — menti — Só não esperava vê-lo antes do fim da aula.
As pessoas estavam nos encarando, eu sentia isso.
Peter levou uma das mãos ao meu rosto e afastou uma mecha de cabelo, a colocando atrás de minha orelha. Seus dedos estavam gelados, um indício de que fazia frio do lado de fora.
Senti uma estranha pressão no peito, que subiu até minha garganta. Era como se eu estivesse com dificuldade de respirar, embora nada impedisse meus pulmões de funcionarem normalmente.
— Vi a lista de aprovados para o festival — ele contou, deixando um suspense de se seu nome estava nela ou não.
Murmúrios, as pessoas murmuravam próximas de nós. Ouvi o nome de Peter ser repetido várias vezes.
— Vanilla?
Virei a cabeça um pouco rápido demais.
— Sim?
Peter me encarava com um semblante preocupado.
— Está acontecendo alguma coisa?
Neguei mais uma vez, mas por fim acabei contando o que me afligia.
— Estão olhando para nós — sussurrei, desviando o olhar para frente onde um grupo de garotas estava com a atenção focada em nós, mas não apenas elas, muitas outras pessoas também.
Ele não parecia ter se dado conta disso, ou apenas não se importava. As duas opções me incomodavam.
— Ignore-as. Estão apenas curiosas, já que meu namoro com Darla foi bem polêmico aqui na universidade.
E como. Beny me contou as fofocas que rodaram a universidade quando os dois terminaram, foram muitas.
Por falar em Bethany, a garota deu um jeito de fugir enquanto eu estava distraída, pois seu lugar agora se encontrava vazio. O dia não poderia ficar pior.
— Eu... — não consegui pensar em uma resposta.
Peter me puxou para mais perto e beijou minha bochecha. Um gesto carinhoso, mas em um péssimo momento.
— Eles estão namorando? — ouvi uma garota murmurar.
— Então foi por causa dela que Darla fez aquele escândalo no Twilight Room — outra pessoa comentou.
Fechei as mãos em punho.
— Como Peter começou a gostar de alguém assim? Olha para o rosto dela...
Afastei o braço que Peter apoiava sobre meus ombros e me levantei com minha bolsa em mãos. Saí de lá o mais rápido que pude, antes que escutasse mais um comentário maldoso que me fizesse começar a chorar.
Eu sabia que algo daquele tipo iria acontecer quando nosso namoro viesse a público. Era de se esperar que as pessoas não fossem aceitar nosso relacionamento depois de verem Peter e Darla tantos anos juntos, e os considerarem o casal perfeito. Só não achei que fosse doer tanto.
— Vanilla! — a voz dele ecoou não muito longe.
Peter não precisou de muitos passos para me alcançar.
— Me desculpe — ele disse, me puxando para um abraço. Não mexi um músculo em resposta.
Só queria voltar para casa. Era pedir demais?
— Eu não esperava que isso fosse acontecer quando nos vissem juntos. — seus braços se apertaram com mais força ao meu redor — São uns idiotas, não leve a sério o que falaram.
Isso tudo valia a pena? Eu avisei Peter, mas ele quis negar o inevitável. Pessoas como nós, tão diferentes, não se misturam. Essa é a regra.
Ele segurou meus braços e se afastou, buscando meu olhar que estava focado no chão desde o início.
— Vanilla, por favor.
Mordi meu lábio, uma mania que estava começando a adquirir, e finalmente olhei para meu namorado.
Era claro que valia a pena. Não tinha como negar que eu estava apaixonada por Peter, e isso para mim era mais importante do que as palavras de pessoas que nem nos conheciam, mas se achavam no direito de opinar sobre nosso relacionamento.
— Tudo bem — sussurrei, a voz um pouco rouca.
A pressão no peito começava a passar, mas eu ainda sentia dificuldades em respirar direito.
Peter sorriu, e aquilo foi o suficiente para fazer com que eu me sentisse melhor. Suas mãos subiram até meu rosto, e ele as deixou apoiadas uma de cada lado. Não impedi Peter de se aproximar e beijar meus lábios, um toque delicado, mas reconfortante.
— Nem consegui te contar as novidades — ele disse ao se afastar — Vi a lista de aprovados do festival. Eu e seu primo estamos dentro.
— Está falando sério?
Doug precisava saber daquilo urgente.
Ele balançou a cabeça concordando.
— É melhor mandar Doug começar a treinar, não quero derrotar o primo da minha namorada assim tão fácil — falou divertido, me fazendo dar um tapa em seu braço.
— Doug é muito bom na bateria, ele te derrotaria facilmente — revidei, defendendo meu primo com unhas e dentes, ou melhor, com tapas.
— Ah, eu sei disso, amor. — Peter apoiou o braço sobre meus ombros, e começamos a caminhar em direção ao nosso hall — Aquele garoto parece dominar as baquetas como ninguém.
— Amor? — indaguei — Desde quando me chama assim?
— Desde agora. Por quê, não gostou?
Apertei a alça da minha bolsa com as duas mãos enquanto caminhávamos pela calçada.
— Na verdade, eu gostei. Soa mais natural do que os apelidos que você me dá.
Peter fez uma careta ao me ouvir falar.
— Qual o problema dos apelidos que eu te dou? — ele quis saber.
— Bem... princesa e anjo eu até não me importo muito, mas coelhinha já é um pouco demais.
Ele me encarou incrédulo.
— Mas você é minha coelhinha — exclamou, abalado com minhas palavras.
Tentei não começar a rir, pois sabia que isso só pioraria seu humor.
— Eu posso até ser, mas você não precisa me chamar assim. Pelo menos não na frente dos outros.
— Se é assim que você prefere — Peter respondeu cabisbaixo, e ficou assim pelo resto do percurso.
Quando chegamos no hall, me despedi dele com um aceno e me afastei antes que ele tentasse me abraçar ou beijar.
Na sala de aula, encontrei Beny sentada na primeira fileira com os fones de ouvido na orelha. Ela mexia no celular de forma distraída, tanto que nem percebeu quando sentei ao seu lado.
— Beny — a chamei, mas não obtive resposta.
Puxei o fio de seu fone, o tirando de uma das orelhas. Ela finalmente me olhou, mas um pouco assustada.
— Ah, oi. Não te vi chegar.
Dei de ombros, já começando a tirar meus materiais da bolsa.
— Doug passou nas audições.
Um sorriso incrivelmente largo dominou o rosto de Bethany.
— Meu deus, isso é incrível — ela exclamou animada — Ele já sabe disso?
— Ainda não, eu estava pretendendo mandar uma mensagem contando.
— Você devia mesmo fazer isso. Ele vai ficar muito feliz com a notícia — ela deu uma pausa, parecendo pensar por alguns segundos — Espera aí, Peter também passou?
Assenti.
— Foi ele quem me contou sobre Doug inclusive.
Meu primo iria surtar quando descobrisse que foi selecionado para tocar no festival. Ele estava cada vez mais perto de realizar seu sonho.
— Conta logo pra ele.
Tirei meu celular da bolsa e procurei pelo nome de Doug nos meus contatos. Mandei uma mensagem torcendo que ele entendesse, pois às vezes Douglas conseguia ser bem lerdo.
"É, parece que vou ter que ir no festival"
Precisei bloquear meu celular antes de receber uma resposta, o professor já estava na sala esperando que ficássemos quietos para começar a aula.
Eu poderia dar os parabéns para Doug e o escutá-lo surtar quando chegasse em casa. Por enquanto, focaria na aula e em anotar tudo o que eu conseguisse, ou pelo menos tentar.
Capítulo novo bbs
Não esqueçam de votar
Amo vocês <3 <3
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