
CAPÍTULO 17
— Nunca mais vou deixá-la dirigir um carro comigo dentro. Nunca. Mais — Peter enfatizou suas palavras.
— Ah, para. Não foi tão ruim assim — tentei me defender, mas o olhar dele mostrava que sim, foi muito ruim.
Estacionei a algumas quadras de distância do restaurante, pois não encontrei vaga perto. Estávamos caminhando em direção a ele enquanto Peter reclamava da minha péssima direção.
— Você quase bateu em uma lixeira!
— Eu passei bem longe dela, não exagera — Cruzei os braços irritada.
Ok, talvez eu realmente tenha quase batido na lixeira quando fiz uma curva, mas jamais admitiria para ele.
— Onde aprendeu a dirigir? Vou pedir que demitam seu instrutor — ele continuou a criticar minhas habilidades ao volante.
— Fazia anos que eu não dirigia! — protestei.
— Isso não foi alguém sem prática, foi alguém que não sabe dirigir.
Eu bufei.
— Se continuar com isso, eu vou pegar o próximo ônibus e ir embora.
Peter revirou os olhos, mas se aquietou.
Para a nossa sorte, chegamos no restaurante antes de terminar com o namoro.
Quando abri a porta, David veio ao meu encontro, mas se surpreendeu assim que seu olhar se desviou para Peter.
— Bem-vindos, podem se sentar que já irei atendê-los.
Assenti sorrindo e acompanhei Peter até uma mesa vaga. Quando passei por David, ele piscou para mim e levantou os polegares em aprovação. Sorri achando graça do gesto.
— Não sabia que você gostava de comida tailandesa.
Dei de ombros ao me sentar.
— Descobri esse restaurante no meu primeiro dia de aula na UP. Antes disso, eu nunca tinha comido nada do tipo antes.
David nos entregou os cardápios e deu alguns passos para trás, onde nos esperou para anotar o pedido.
— Vai querer o que? — perguntei para Peter, que lia concentrado o cardápio.
— Estou tentado a pedir o G2 — admitiu enquanto parecia analisar suas opções.
Puxei meus lábios em um curto sorriso.
— É meu prato preferido.
Ele levantou o olhar para mim e sorriu.
— Mais uma coisa que temos em comum — respondeu contente — Logo logo você vai perceber que fomos feitos um para o outro.
Desviei meu olhar já sentindo as bochechas esquentarem. Peter sempre arrumava um jeito de me deixar envergonhada, parecia ser a missão de vida dele.
Ele tinha seu jeito aberto, sempre expressando o que sentia, enquanto eu mantinha meus sentimentos guardados a sete chaves. Quando me declarei para Peter, foi a coisa mais difícil que fiz na vida. Não sou o tipo de pessoa que gosta de sair da zona de conforto, ao contrário de meu namorado.
Chamei David antes que Peter dissesse mais alguma gracinha. O garçom anotou nossos pedidos e saiu rápido para "não atrapalhar" nosso encontro, segundo ele. Não protestei, pois não havia motivo para isso.
— Vi você falando com Aisha e Carly antes do jogo — ele admitiu, me pegando desprevenida. Não esperava que tivesse visto — Seja lá o que elas tenham dito, ignore.
Concordei com a cabeça.
— Eu não ligo para elas. Sei que só querem me machucar.
Muito antes de saberem que eu conhecia Peter, as amigas de Darla já implicavam comigo. Namorar ele só adicionou mais lenha ao fogo.
Um silêncio se instaurou na nossa mesa, mas tinha algo que eu precisava perguntar ao Peter. Não perdi tempo.
— Sabe, tem algo que venho querendo te perguntar há algum tempo. É mais uma curiosidade minha — comecei.
Peter se ajeitou na cadeira e estendeu a mão para que eu prosseguisse.
— Quando nos encontramos na festa em seu hall, o dia que me deu carona — o lembrei — Você realmente não se lembrava de mim?
Recebi minha resposta sem que ele precisasse abrir a boca. Peter desviou o olhar envergonhado e fingiu coçar a nuca.
— Confesso que precisei da sua ajuda para me lembrar. Me desculpe.
Acabei por rir.
— Sem problemas. Era só uma curiosidade minha.
Não que aquilo fizesse alguma diferença hoje em dia, mas sempre quis saber se Peter realmente esquecera do que aconteceu na cafeteria. Talvez eu não o tivesse marcado o suficiente para que se lembrasse de mim no dia seguinte.
A conversa não continuou, pois David chegou com nossos pedidos. Ele largou em cima da mesa dois pratos fumegantes, e com um cheiro maravilhoso.
— Boa janta para vocês — falou antes de se afastar para atender outra mesa.
Eu o agradeci com um sorriso e logo minha atenção estava totalmente focada na comida.
Peter me olhava enquanto eu comia. Seu prato, intocado.
— O que foi? Perdeu a fome? — o questionei.
— Ã... — ele pareceu voltar a si — Não, não. Só estava pensando em algo.
— Certo. Come enquanto ainda está quente, esses bolinhos não tem o mesmo sabor depois que esfriam.
Ele aceitou minha sugestão e passamos os dois a comer em silêncio. Não que minha mente estivesse igualmente quieta, pois fiquei o jantar inteiro me perguntando sobre o que Peter estava pensando que o deixou tão concentrado naquilo.
Talvez não fosse nada demais. Ele poderia estar pensando no jogo de hoje, ou quem sabe em alguma matéria da faculdade. De qualquer forma, eu não iria questioná-lo sobre isso.
Larguei os talheres sobre o prato quando terminei de comer, e peguei meu celular. No Instagram, passei a deslizar as fotos, até que parei em um meme da minha série preferida. Não consegui segurar a risada.
Peter me lançou um olhar curioso e parou de comer. Virei meu celular para ele, que o pegou e franziu o cenho ao ver do que se tratava a imagem.
— Você gosta de How I Met Your Mother?
Balancei a cabeça concordando.
— Só pode estar brincando — ele riu debochando.
— Não me diz que... — Não terminei minha suposição, pois Peter me encarou veemente — Ok, acabou o namoro.
Ele cruzou os braços.
— Tudo bem, eu jamais namoraria uma fã de How I Met Your Mother.
— E eu um fã de Friends! — rebati.
Como ele podia falar mal da minha série preferida?
— Friends. É. Um. Clássico — constatou em tom óbvio, mas não me deixei abalar.
— How I Met Your Mother também — falei, fazendo Peter revirar os olhos.
Nos encaramos por longos segundos, até que não aguentei mais e comecei a rir incessantemente. Peter teve a mesma reação.
— Ok, séries de televisão estão riscadas da nossa lista de pontos em comum.
Ele não poderia estar mais correto.
— A gente podia ir embora — sugeri — Estou um pouco cansada, e trabalho cedo amanhã.
— Sim. Te deixo em casa.
Nos levantamos e fomos até o caixa, onde uma adolescente apoiava a cabeça na mão parecendo entediada. Ela ajeitou a postura quando nos viu chegar.
Segurei o braço de Peter quando vi que ele pretendia pegar sua carteira do bolso.
— Deixa que eu pago — ofereci, mas Peter negou — Então pelo menos use isso.
Tirei minha carteira de dentro da bolsa e puxei dela um cartão laranja com vários quadradinhos brancos, sendo que alguns estavam marcados com caneta. Estendi para a atendente, que deu uma olhada por cima e marcou mais dois quadrados.
— Eu ganho desconto a cada duas refeições — expliquei para Peter, que parecia chocado com aquilo. Conhecendo suas condições financeiras, eu duvidava de que um dia ele tivesse recebido um cartão desses.
— Ah, certo — ele pegou a carteira e tirou algumas notas entregando para a atendente, que contou e depois devolveu o troco — Vamos?
Sorri assentindo e segurei o braço que Peter me estendeu. Saímos do restaurante e voltamos para onde estacionei o carro.
— Dessa vez eu dirijo — ele alertou já dando a volta no carro. Apenas revirei os olhos como resposta e entrei no lado do carona.
A viagem foi tranquila e sem muito assunto. Quando vi, já estava em frente à minha casa descendo do carro. Estava me aproximando da entrada quando Peter me chamou.
— Ei. — Me virei para ele. — Vem cá.
Franzi o cenho não entendendo o que ele queria, mas me aproximei do carro e apoiei os braços na janela aberta.
— O que foi?
— Esqueceu de uma coisa. — Olhei para dentro do carro, mas não tinha nada. — Isso aqui — ele falou se inclinando para fora da janela e tocou os lábios nos meus por poucos segundos.
— Ah — sorri pega de surpresa — Certo. Boa noite — falei me virando e corri para a varanda de casa. Consegui ouvir a risada de Peter atrás de mim.
Assim que destranquei a porta, Peter arrancou para longe. Entrei em casa e fui direto para meu quarto, pronta para trocar de roupa e dormir.
Foi ao tirar meus pertences de dentro da bolsa que percebi algo. Meu celular não estava lá. Procurei nos bolsos da calça, mas nada. Precisei de alguns segundos para perceber que eu sabia onde ele estava.
— Peter — murmurei lembrando do que aconteceu.
Eu tinha entregado meu celular para que ele visse uma imagem que achei engraçada, mas ele não me devolveu. Provavelmente acabou guardando no bolso distraído com nossa discussão sobre qual era a melhor série.
Àquelas horas ele já devia estar chegando em seu Hall. Estava noite, mas não tarde o suficiente para não pedir carona a Doug.
Saí do meu quarto e parei em frente ao do lado. Bati algumas vezes, mas o som que saí alto lá de dentro devia ter abafado minha tentativa de chamar atenção.
Ignorando toda a privacidade que eu prometi dar a Doug, girei a maçaneta e entrei em seu quarto sem ser convidada.
O garoto estava deitado na cama usando suas baquetas para bater em uma bateria invisível, e seu celular tocava o que reconheci ser alguma música da Led Zeppelin. Ele levantou assustado quando me viu entrar.
— Ei! Você prometeu que não faria mais isso — reclamou da minha invasão. Dispensei sua ira com um balançar de mãos.
— Eu bati, você que é surdo — refutei — Agora é sério, preciso de carona.
Doug arqueou as sobrancelhas.
— Onde você quer ir a essa hora?
— No hall do Peter. — Doug me olhou malicioso, e agora era eu quem estava irritada — Ele ficou com meu celular.
— Vou fingir que acredito e te dou carona — falou indo em direção à saída do quarto. Aproveitei a oportunidade e dei um tapa em sua nuca quando passou por mim. — Ai! Ok, ok. Vamos logo.
O segui contente enquanto ele esfregava a nuca dolorida.
Doug deixava o carro na garagem, ao lado do Cadillac Allanté que tio Anton se gabava em ter. Era uma longa história, mas basicamente ele ganhou o carro em uma aposta, muito antes de Doug nascer. Desde então o veículo tornou-se seu bebê e maior orgulho. Ninguém dirige aquela lata-velha além dele.
— É perto do campo de futebol — expliquei ao entrar no carro.
Ele concordou com a cabeça e abriu o portão da garagem, arrancando para fora e dirigindo em direção à universidade. Chegamos em pouco mais de trinta minutos depois, pois Doug dirigia devagar à noite, tinha medo.
— Eu de bicicleta ando mais rápido que isso — o provoquei enquanto ele estacionava próximo do hall barulhento por conta da festa.
— Já falei que é perigoso dirigir à noite — tentou se explicar — E se alguém esquecer de ligar os faróis e eu bater por achar que a rua estava vazia? Sempre existe essa possibilidade.
— Ok, — falei rindo — Me espere aqui. Volto em poucos minutos.
Abri a porta do carro e saí para o vento frio da noite. Era metade de setembro, e as noites pareciam ficar cada vez mais gélidas.
Luzes coloridas saíam pelas janelas do hall, e o som de música estava alto o suficiente para que eu escutasse a duas esquinas de distância. Entrei lá sem pensar muito.
Era exatamente como eu lembrava, embora um pouco mais lotado do que na última festa. Precisei empurrar algumas pessoas para passar pelos cômodos do lugar. Não encontrei Peter na sala, e nem na área aberta. Até tentei a sala de estudos em que nos reencontramos, mas nada. No andar de cima, eu só sabia o caminho para o banheiro, e não era louca o suficiente para entrar de quarto em quarto. Eu não sabia qual era o de Peter, e era melhor não tentar a sorte.
Derrotada, decidi voltar para o carro. No dia seguinte, Peter se daria conta de que estava com meu celular e viria me devolver. Seria até uma desculpa para nos encontrarmos antes da aula.
Fora do hall, vi Doug encostado na porta do carro. Acenei para chamar sua atenção e me aproximei.
— Conseguiu? — ele perguntou olhando para minhas mãos, estavam vazias.
Neguei.
— Não encontrei ele. Devia estar no quarto, mas não sabia qual era.
— Você não sabe qual é o quarto do seu namorado? — Doug pareceu se divertir com a situação.
Segurei a vontade de revirar os olhos.
— Só vim aqui uma vez, ok? A gente normalmente se encontra um pouco antes da aula, ou na cafeteria.
Doug, ainda sorrindo, deu alguns tapinhas na lataria do carro — Vamos para casa — disse dando a volta e entrou no lado do motorista.
— Sim, vamos.
Amanhã eu pegaria meu celular, e perguntaria onde Peter estava quando o procurei.
E ai, curtiram o cap de hoje?
Peter sumiu. O que será que ele tava fazendo???
Aliás, um recado. Troquei o nome do meu Instagram para @euvilivros. Escolhi outro user porque queria falar sobre livro em geral, além dos meus. Enfim, só isso.
Até o próximo cap <3
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