
CAPÍTULO 11
No dia seguinte, eu estava ansiosa até demais. Beny ainda não havia chego, então aproveitei para ajudar Thomas a organizar as mesas enquanto o café estava fechado.
— Você se sente melhor? — perguntei para o garoto que estava limpando uma mesa próximo a mim.
— Ah sim, não era nada muito sério. O médico me pediu para ficar de repouso e tomar alguns analgésicos. Já estou novinho em folha.
Thomas havia perdido uma semana de trabalho por estar doente. Foi difícil para eu e Noreen cuidar da cafeteria enquanto ele esteve fora, mas conseguimos segurar as pontas para que nosso colega de trabalho se recuperasse.
— Que bom, eu não sei o que seria de nós sem você aqui — brinquei.
— Já teriam sido mortas pelos clientes — respondeu rindo, eu ri junto.
Era bom ter ele de volta, pois Noreen não era lá muito divertida. Tentei fazer algumas brincadeiras com ela, mas a mesma se manteve séria sempre. Seria difícil arrancar um sorriso daquela mulher.
O tilintar do sino pendurado na porta me fez desviar a atenção da mesa que estava limpando. Bethany entrou na cafeteria sem o sorriso radiante que era característico dela. Larguei o pano que estava usando e fui em sua direção.
— Oi — eu disse sem graça.
— Oi.
Apontei com a cabeça onde ficava o balcão de atendimento e fomos até lá. Beny sentou no lugar de sempre, e eu fui para trás do balcão.
— Peter me pediu seu número ontem — ela comentou.
— Eu sei.
Um silêncio desconfortável se instalou entre nós por alguns segundos.
— Desculpa — eu disse por fim — Eu fiz escândalo sem motivo naquela noite. Não sei onde estava com a cabeça. Você e Douglas não são crianças para eu ficar brigando.
A loira concordou acenando com a cabeça e sorriu, o que me deixou menos tensa.
— Você é um pouco superprotetora, mas eu entendo. Douglas cresceu com você, faz sentido querer protegê-lo. Mas você me conhece e sabe que eu jamais o prejudicaria, aquilo foi só um beijo.
— Sim, você está certa. Me desculpa, mesmo.
Bethany piscou para mim e deu um tapinha em meu ombro.
— Acha que nossa amizade acabou por causa de uma briguinha boba? Por favor, Vanilla. Me respeite.
Ri aliviada por saber que estávamos acertadas.
— Mas me conta, onde você foi quando saiu da festa? Doug disse que te viu chegando quando já estava amanhecendo — ela praticamente me interrogou, se inclinando para frente apoiada no balcão.
Decidi que era melhor não questioná-la sobre trocar mensagens com meu primo.
— Peter me levou no Oregon Zoo.
— Oregon Zoo? — questionou confusa.
Contei tudo que aconteceu naquela madrugada, escondendo algumas detalhes que considerei pessoais demais para serem compartilhados. Haviam coisas que eu preferia manter entre Peter e eu, como as histórias que ele me contou sobre sua infância e o acidente da irmã.
— Eu sabia que meu ship ia ser real! — praticamente gritou, mas por sorte a cafeteria ainda não havia aberto.
— Foi só um beijo — sussurrei lançando um olhar para Thomas torcendo que ele não tivesse escutado o surto de Beny.
— Meu amor, isso definitivamente não foi só um beijo — refutou — Olha a quanto tempo esse garoto está atrás de você. Eu fiquei até com medo de que ele fosse um serial killer.
— E mesmo assim me deixou sair com ele — a acusei.
Bethany deu de ombros.
— As chances de ele ser apenas um garoto normal que se interessou por uma gata como você eram maiores.
— Ok, eu definitivamente nunca mais coloco minha vida nas suas mãos.
Fui até o expositor de bebidas e peguei um chá gelado. O entreguei para minha amiga.
— Essa é minha bandeira branca — brinquei.
A loira estampou seu melhor sorriso no rosto e pegou a bebida da minha mão.
— Eu aceito.
Passamos o resto da manhã conversando sobre assuntos irrelevantes, como a faculdade e o novo crush de Bethany, um garoto que estudava no mesmo Hall que nós. Me afastei algumas vezes para atender algum cliente, mas não teve tanto movimento, então pude dar mais atenção à minha amiga.
— Você ouviu falar daquele garoto de Portland que tem um canal no Youtube? Ele fez um cover de "Ophelia" do The Lumineers, ficou simplesmente perfeito.
Beny era fã de carteirinha do The Lumineers, eu não me impressionaria se descobrisse que a senha do celular dela é o nome do cantor da banda.
— O Bloomed?
— Esse mesmo — confirmou — Ele canta muito bem. Será que é bonito? Uma pena que ele não mostra o rosto nos vídeos.
— Talvez ele não queria que descubram sua identidade. Algumas pessoas preferem se manter no anonimato.
Se Bloomed mostrasse quem ele é, provavelmente perderia sua liberdade. Do jeito que esse garoto está famoso, eu tinha certeza de que ele viveria rodeado de fãs. A menos que realmente quisesse virar cantor profissional, o anonimato era a melhor opção.
— Se eu cantasse bem, ia querer que todo mundo soubesse.
— Porque você é escandalosa, Beny — disse rindo.
— Não posso negar — concordou — Talvez um dia eu crie um canal no Youtube para falar sobre economia. O que você acha?
— Falar sobre economia? — questionei com as sobrancelhas arqueadas em descrença — Acha mesmo que vai dar certo?
— É... talvez não.
Ela apoiou a cabeça nas mãos e pareceu pensar por alguns segundos.
— E que tal sobre surf? Eu poderia mostrar minha prancha, ou então dar algumas dicas para quem quer começar a surfar, mas não sabe como.
— Essa sim é uma ideia interessante.
Bethany surfava quando ia para a casa dos avós em Santa Cruz, na Califórnia. Ela quis aprender com o avô ao descobriu que seu pai também gostava de surfar, ele morreu quando Beny ainda era pequena. Acabou que virou uma de suas paixões.
— Mas antes disso precisamos passar na prova de História Econômica Geral semana que vem — a lembrei.
A loira bufou.
— Tinha esquecido disso. Quer estudar lá em casa no fim de semana? Vou precisar da sua ajuda para passar nessa prova.
— Claro.
Depois de mais alguns minutos de conversa, fui até o banheiro trocar de roupa e me despedi de Thomas saindo da cafeteria com Bethany. Já era quase hora do almoço e estávamos mortas de fome.
Almoçamos em um restaurante italiano não muito longe da universidade. A comida era muito boa, quase repeti o prato. Aquele seria um dos lugares em que eu pretendia ir comer mais vezes.
Chegamos na UP minutos antes da aula começar, o professor já estava na sala organizando suas coisas. Da forma mais discreta possível, sentamos na segunda fileira, onde tinha mais espaço vago.
— Senhoritas Quinn e Jones, tentem chegar mais cedo da próxima vez ou vou ser obrigado a trancá-las para o lado de fora.
Meu rosto e o de Beny ficaram vermelhos na hora, não esperávamos que ele fosse nos repreender, principalmente na frente da turma inteira.
— Sim, senhor Emery. Nos desculpe pelo atraso — respondi morrendo de vergonha.
Depois de nos fazer passar vexame, o professor finalmente começou a aula.
O conteúdo daquele dia era difícil e eu tinha certeza que precisaria revê-lo em casa várias vezes até compreendê-lo. Beny nem tentou se esforçar, passou a aula toda desenhando no caderno. Eu tinha sérias dúvidas se aquele realmente era o curso ideal para ela, mas preferi não comentar, era decisão dela continuar na economia ou não.
No final da aula, comecei a arrumar minhas coisas para ir embora, mas parei quando ouvi o barulho de notificação no meu celular em cima da mesa. Ao conferir percebi que era do mesmo número agora não tão desconhecido de ontem, Peter.
"Vem no estacionamento do nosso Hall"
Curto e direto, como se eu fosse obedecer sem questionar.
"Por quê?"
"Por quê não?"
Revirei os olhos com sua mensagem nada explicativa, e guardei o celular no bolso.
— Beny, eu... preciso ir. A gente se vê amanhã, ok?
— Se for para você ir se encontrar com o Peter, eu aceito o abandono — ela respondeu sorrindo contente.
— E quem disse que eu vou encontrar ele?
— Minha querida amiga — ela envolveu seu braço ao redor do meu ombro — Consigo sentir essa tensão sexual entre vocês de longe.
Dei um empurrão na loira que não parava de rir.
— Você é louca — falei antes de pegar minha mochila e sair de lá.
Saí do Hall e fui em direção ao estacionamento, onde encontrei Peter escorado em sua moto. Ele segurava um capacete branco estilo aberto que eu nunca tinha o visto usando.
— Oi — falei ao me aproximar, não sabia bem o que dizer.
— Vanilla Quinn — ele disse sorrindo e me estendeu o capacete.
— Para que isso?
— Andar de moto? — perguntou em tom óbvio.
— É para mim?
— E para quem mais seria?
Peter parecia estar se divertindo com tudo aquilo, pois não tirou o sorriso do rosto.
Peguei o capacete com um pouco de receio e o virei em minhas mãos analisando toda sua extensão.
— Por que está me dando esse capacete? — questionei confusa.
— Para não ter que usar o meu, ué.
Encarei o garoto por alguns segundos antes de começar a rir.
— Qual a graça? — ele perguntou não entendendo minha risada.
— Eu provavelmente nunca mais vou subir na sua moto. Pra que comprar isso?
A expressão de surpresa em seu rosto evidenciou que eu o peguei desprevenido.
— E por que não?
— Peter — pendurei o capacete em meu braço pelas alças e me aproximei do garoto, apoiando minhas mãos em seus ombros — Sei que você acha que rolou um lance entre nós, eu até concordo, mas você não pode começar a me tratar como se eu fosse a sua namoradinha. Não quero nada seu, eu mal te conheço. A gente se beijou, ok foi legal, mas só.
Nunca tinha falado com alguém daquela forma na minha vida inteira. Eu estava mentindo, aquilo não foi só um beijo, mas Peter estava forçando demais a barra e eu não pretendia arrumar um relacionamento. Se eu me apaixonasse, correria o risco de perder mais uma pessoa que amo.
Ele permaneceu imóvel me encarando, imaginei que estava chocado com o que eu disse, mas a verdade é que eu esperava um pouco mais de reação da sua parte.
— Está dizendo que não sente nada por mim? — ele finalmente se pronunciou.
Concordei com a cabeça.
— Certo... então por que sempre que me vê seu rosto fica vermelho? E quando a gente tá assim próximo, sua respiração acelera, exatamente como agora. Se eu fosse chutar, diria que seu coração também tá batendo mais rápido que o normal.
Franzi os cenhos ouvindo tudo aquilo. Meu coração realmente estava mais rápido, eu sentia que ele poderia sair pela minha boca de tão forte que batia.
— Isso é ridículo —contestei.
— Ridículo é você dizer que não gosta de mim — revidou.
Peter envolveu minha cintura com seus braços e puxou meu corpo para mais perto, me deixando entre suas pernas. Ele apoiado em sua moto ficava um pouco mais alto que eu.
— O que está fazendo? — questionei, mas não tentei me afastar.
— Sei que pareço estar agindo rápido demais, mas não diga para mim que aquele beijo não significou nada, pois sei que é mentira. Eu preciso falar com todas as palavras para você entender o que eu quero?
— E o que você quer?
— Você.
Eu preferia nem imaginar o quão vermelha eu devia estar naquele momento.
— Não seja idiota.
— Idiota? — ele riu — Pelo menos você aprendeu a ofender. Dá última vez me chamou de futre, eu nem sei o que isso significa.
Revirei os olhos, mas não consegui evitar o sorriso que se formou em meu rosto.
— É só que... Eu sou complicada demais, ok? Aproveita para desistir enquanto ainda há tempo.
— De novo essa conversa?
— Não... — apoiei uma das minhas mãos em seu peito — Não tem nada a ver com a cicatriz. É que eu não quero um relacionamento, entende? Esse tipo de coisa não está nos meus planos.
Peter não precisava saber do medo que eu tinha em me envolver com alguém. Isso era algo que eu guardaria para mim.
Por incrível que pareça, ele sorriu.
— Ninguém aqui está falando de relacionamento, Vanilla. A gente pode só sair, se conhecer melhor.
— Eu...
Ele não me deixou terminar de falar.
— Que tal um encontro? Vou te levar pra jantar em um dos meus lugares preferidos de Portland.
— Não sei.
A ideia de sair com Peter me deixava receosa. Talvez fosse melhor simplesmente esquecer ele e seguir minha vida, eu correria menos risco de me machucar.
Peter balançou meu corpo de leve.
— Por favor — implorou — Amanhã? Eu te busco na sua casa.
Minha expressão séria não o convenceu.
— Vai ser divertido — insistiu.
— Tudo bem — finalmente cedi.
Aquele garoto não era fácil de lidar.
Eu poderia estar exagerando um pouco, não era como se fossemos começar a namorar da noite para o dia. Sair com Peter não significava que ficaríamos juntos, apenas que pretendemos nos divertir. Não seria nada demais, certo?
— Te pego amanhã às oito, ok?
Confirmei acenando com a cabeça.
— Não usa nada muito formal, lá o pessoal costuma ir vestido com a roupa que usou no dia.
— Anotado.
Peter voltou a sorrir e aproximou o rosto do meu.
— Ei, nem pense nisso. Você disse que íamos apenas sair — falei me inclinando para trás.
Ele revirou os olhos ainda com o maldito sorriso perfeito no rosto.
— Acha que vou aguentar apenas olhar para você? Esses lábios perfeitos parecem me chamar — respondeu levando uma de suas mãos ao meu rosto, onde contornou minha boca com o polegar.
— Não seja tão melodramático — adverti.
— Estou falando sério. É impossível ficar longe de você, Vanilla Quinn.
O jeito que Peter falava meu nome sempre me desestabilizava, e com ele me encarando tão seriamente só piorava minha situação.
— Eu... não sei o que dizer — admiti mordendo meu lábio inferior em seguida.
— Não precisa falar nada, só me deixe beijá-la.
Não precisei responder. Ele deslizou a mão por entre meus cabelos e puxou meu rosto para perto do dele, chocando nossos lábios.
Aquele beijo não foi como o primeiro, que Peter parecia estar com receio de forçar a barra. Dessa vez tudo fluiu mais rápido e logo pude sentir suas carícias, o braço envolvendo com firmeza minha cintura caso eu tentasse fugir, mas eu não pretendia. Consegui até mesmo esquecer que estávamos no meio do estacionamento da universidade, onde qualquer um poderia nos ver.
Ao nos afastarmos, ambos estávamos com a respiração pesada. Peter manteve a testa encostada na minha.
— Você tem cheiro de morango.
— É meu perfume — praticamente sussurrei.
Senti o garoto me encarar, mas mantive meu olhar focado em sua boca.
— Gostei dele.
Me afastei alguns centímetros, desencostando nossas testas. O rosto de Peter estava corado, assim como eu imaginava que o meu devia estar. Ele estava mais lindo do que nunca.
— O que foi? — perguntou ao perceber que eu o observava em silêncio.
— Hã... nada.
— Pode falar. Sei que tem alguma coisa martelando dentro dessa sua cabecinha.
Foi naquele momento que percebi que perdi minha carona. Eu havia dispensado Beny para encontrar Peter.
— Seria demais te pedir carona? Eu meio que estou a pé.
Me mantive esperançosa enquanto esperava por uma resposta.
— Pensei que você nunca mais andaria na minha moto — retrucou usando minhas próprias palavras como contra argumento.
— Eu fiz drama — admiti — É sério, preciso mesmo de carona. Já vai começar a escurecer e eu não tenho dinheiro para pagar o metrô.
— É claro que te dou carona, sua boba — falou dando um tapinha em minha testa.
Não reclamei, pois poderia acabar tendo que voltar a pé para casa.
Peter largou minha cintura e eu me afastei para que ele subisse na moto. Depois de colocar seu capacete e dar partida, ele olhou em minha direção e, embora não pudesse ver, imaginei que sorriu.
— Sobe aí.
Coloquei na cabeça meu mais novo capacete e fechei a trava jugular, por incrível que pareça ele serviu perfeitamente. Foi então que subi na moto e envolvi a cintura de Peter com meus braços. Ele logo arrancou para fora do estacionamento, me levando de volta para casa.
Oi, meus amores!
O que acharam do capítulo de hoje?
Dá pra ver claramente quem é a cadelinha da história kkkk
Enfim, só queria agradecer quem chegou até aqui e espero que continuem acompanhando a história da Vanilla e do Peter <3
E rezem comigo para o wattpad não tirar o travessão que nem ele fez no último capítulo.
Amo vocês <3
aaaa e não esqueçam de votar, ajuda bastante <3
Vi Mello
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro