17 | onde conhecem a dor
— Em algum lugar ao norte —
Atualmente
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Ellie e Tomás estavam em completo desespero.
Mesmo quando encontraram uma casa abandonada onde poderiam ajudar Joel, as crianças ainda estavam tremendo de medo.
Makayla não estava muito diferente, mas diferente dos mais novos ela se sentia paralisada. Colocou Joel com dificuldade no pequeno colchão de solteiro que tinha na garagem, enquanto o cobria com a própria jaqueta.
— Eu preciso que vocês se acalmem. — pediu para os outros dois.
Tomás estava com os olhos vermelhos, Ellie tinha as mãos sujas de sangue por ajudar a carregar o mais velho. A respiração de ambas estava descompassadas.
— Mãe. Ele...
— O que vai...
Com a mão direita Makayla segurou o rosto de Tomás e com a esquerda o rosto de Ellie.
— Prestem atenção. — sua voz saia trêmula, mas ela tentava ao máximo não desmoronar — Vocês dois vão procurar qualquer coisa que possamos usar para estancar o sangue. Se não tiver aqui, vão em outra casa. Armas em mãos, sempre. Por favor. Estejam calmos. Se ouvirem algum barulho, seja de infectado ou de gente. Voltem para cá imediatamente.
Os dois ouviam quietos. Ela podia muito bem fazer aquilo, mas deixar os dois responsáveis por ver Joel naquela situação não era negociável. Pois, ele tinha muita influência neles. E se a base do grupo estava desmoronando, então tudo vinha ao chão. E não havia nada pior do que perder o controle de todos de uma vez.
— Mãe. — Tommy lançou o olhar trêmulo sobre o corpo do pai um pouco atrás dela — Ele...
— Vai ficar bem. — completou Makayla, se assegurando daquilo — Preciso que sejamos uma boa equipe. Por favor.
Ellie fungou o nariz, balançando a cabeça em concordância. Também, lançou um olhar para Joel —, e sentiu seu estômago embrulhar mais uma vez ao ver aquela cena.
As crianças saíram em disparado para o andar de cima, deixando os adultos ali.
Makayla respirou fundo, dez vezes seguidas antes de tornar a olhar para seu recém marido deitado no colchão, sangrando até a morte.
— Tudo bem. Tudo bem. — murmurou para si mesma, se agachando ao lado do colchão — Ok...
Pressionou a própria camisa que tinha pego na mochila sobre o ferimento de Joel, ganhando um gemido agudo em resposta. O tecido fora ensopado em questão de segundos, o sangue não parava de sair.
— Escuta. — a voz dele saiu grogue.
Seus olhos observavam toda a cena dela em desespero. Makayla continuou pressionando o ferimento e moveu os olhos para o mais velho.
— Eu preciso que você vá. — seus olhos se fecharam com a pontada no machucado, tornando a abrir em alguns segundos — Leve as crianças. Encontre o Tommy.
Makayla balançou a cabeça em negação, sentindo as lágrimas pedirem para descer.
— Não. Não. — apoiou a mão sobre a dele, enquanto com a outra continuava pressionando — Eu não vou deixar você. Não vou.
A maneira que os olhos escuros de Joel Miller olhavam para a mulher a sua frente, dava a entender que ele tinha certeza de que aquela era a última vez que a veria.
— Maka...
— Segura a minha mão. — ela pediu, deixando as lágrimas escaparem. Tornando sua visão embaçada — Tá tudo bem. Vamos ficar bem.
Ele entrelaçou os dedos conforme ela pediu. Como um último pedido. Seus olhos também estavam marejados.
— Vai embora. — sua voz saiu fraca, tentando empurrar ela para longe.
Makayla segurou sua mão com mais força, começando a chorar.
— Não vou embora porra. — perdeu o controle — Você acabou de casar comigo! Não pode me deixar. Joel, não... Você...
Ela abaixou a cabeça, encostando nas mãos juntas entrelaçadas. Deixando as lágrimas rolarem, sem medo de abaixar a guarda. Ficou naquela posição por alguns segundos, fungando o nariz enquanto a outra mão pressionava o ferimento.
— Me des-culpe. — Joel tossiu, contraindo o abdômen. Gemendo de dor e agonia — Eu nunca disse de volta.
Makayla levantou a cabeça, deixando a mostra para Miller a maneira que seus olhos estavam vermelhos. Ela balançou a cabeça em negação, fungando o nariz.
— Não precisa. Eu já sei. — apertou a mão dele com mais força dentro da sua — Eu já sei.
Então, a lágrima escorregou pela bochecha direita de Joel, ao mesmo tempo em que a porta do porão fora aberta em um solavanco.
— Achamos. Achamos.
Anunciou Ellie, descendo os degraus com Tomás ao seu alcance.
Makayla soltou a mão de Joel, limpando as bochechas molhadas. Ao mesmo tempo em que Ellie passava a agulha e a linha para ela com cuidado, enquanto Tomás deslizava sobre o chão até estar também agachado ao lado do pai.
A família estava junta e eles não iriam o deixar para trás. Ellie segurou a mão de Joel, a que antes Makayla estava segurando e Tomás segurou a outra.
Mais duas lágrimas rolaram pelas bochechas de Miller.
A mais velha tentou algumas vezes enfiar a linha na agulha, falhando por estar nervosa. Respirou fundo, três vezes seguidas, antes de tentar de novo. Conseguindo por fim, enfiar a linha na agulha. Levantou o tecido encharcado do machucado, notando a maneira que tinha ajudado um pouco a conter o sangue. Ela respirou fundo mais uma vez, olhou de relance para os três, antes de enfiar a agulha na pele de seu marido.
Joel gemeu de dor, apertando as mãos dos mais novos com toda sua força. Fazendo com que o ambiente fosse preenchido com os gemidos dos mais novos também, por sentirem a força do mais velho.
🏹
Miller apagou.
Após Makayla finalizar a costura em seu machucado, ele sentiu tanta dor que acabou desmaiando.
Tomás empurrou por toda a casa até chegar ali no porão, outro colchão, para que todos pudessem dormir juntos. Estava frio, não havia cobertor. Eles só conseguiam se aquecer com as próprias roupas, por isso Tomás e Ellie deitaram juntos. Enquanto Makayla se deitou ao lado de Joel, o cobrindo também com sua própria jaqueta.
Ela batia o queixo de frio. Mas, nada era mais importante do que manter ele aquecido. Por isso, não sabe como adormeceu tremendo tanto. Mas, quando voltou a abrir os olhos, viu que o dia já estava amanhecendo. Notou o moletom grosso de Tomás sobre si.
Demorou alguns segundos para raciocinar que tinha acordado, por isso quando olhou para o colchão onde as crianças deveriam estar, estava vazio.
— Mas que porra.
Se levantou em um sobressalto, se esquecendo por alguns segundos que Joel estava ao seu lado. Se abaixou novamente, apoiando a mão sobre a testa dele. A febre ainda não tinha passado.
— Mãe. Mãe. — Tomás entrou eufórico, com as bochechas vermelhas e a respiração acelerada.
— Eu não posso dormir, Tomás? Onde vocês...
— A Ellie.
Foi a única coisa que ele disse. O suficiente para Makayla saber que tinha dado merda.
🏹
Quando Tomás e Ellie acordaram ainda não havia amanhecido cem por cento. Estava nublado e frio. Ambos não conseguiram dormir direito, de tanto que estavam preocupados com Joel.
— Vamos encontrar antibióticos. — sugeriu Ellie, após se levantar do colchão.
Olhou para o outro lado, vendo Makayla abraçada no corpo do mais velho, — tentando o esquentar a todo custo. Tomás se levantou, olhando para fora. O tempo estava ruim.
— Só vamos avisar...
— Não. — Ellie negou — Deixa os dois descansando, a gente consegue fazer isso.
Tomás relutou um pouco, antes de concordar. Tirou o moletom cinza e quente que estava vestindo, colocando com cuidado sobre o corpo da mãe.
Eles pegaram um único cavalo, colocaram as toucas na cabeça e verificaram se as armas estavam carregadas. Quando por fim, conseguiram sair sem fazer nenhum barulho, o sol já começava a aparecer.
Não tinha muita coisa naquela região, perto da casa onde Makayla e Joel estava dormindo. Então, eles tiveram que galopar por mais de uma hora até chegarem em uma pequena cidade. Logo na entrada, continha um enorme shopping. Esse que Tomás supos ser a melhor opção, para encontrarem alguma coisa.
Ambos sabiam como aquela ideia era perigosa, mas não havia nada que pudessem fazer além de seguir em frente. Era perigoso em dobro para Tomás, pois afinal, ele não era imune.
Ellie pulou do cavalo, esperando o mais novo fazer o mesmo. Amarraram o animal um pouco afastado do local, caso alguém aparecesse eles conseguissem escapar.
— Isso tá me cheirando merda pura. — Ellie resmungou, começando adentrar o ambiente.
— Leu meus pensamentos.
Estava acabado, como normalmente um shopping nos dias atuais se encontra. Por conta da neve, parecia que as paredes cinzas ganhavam mais vida, tornando aquela situação assustadora.
— Não sei o que vamos fazer se a gente encontrar a porra de um estalador. — Tomás balbuciou baixo, mantendo os passos firmes.
— Para de jogar praga.
A passagem que dava acesso a parte principal do shopping estava fechada por aquelas portas automáticas de segurança. Não tinha como eles passarem sem acionar aquilo.
— Tem que ter alguma coisa. — Tommy balbuciou baixo, guardando a arma no cós de sua calça, olhando a sua volta — Vamos por ali.
Ellie deu de ombros, mantendo a pistola em mãos, atenta. Os passos de ambos eram calmos e precisos, completamente em alerta sobre os barulhos a volta. Afinal, tinham sido ensinados sobre aquilo desde que nasceram.
— Segurança. — Ellie leu em voz alta.
Entraram em um dos corredores, empurrando a porta que estava escrito tal coisa. Tomás estava na frente, com a lanterna em mãos e a pistola também. Apontava cada canto com cuidado, procurando alguma coisa.
— Deve ser um desses botões. — apontou a garota para o painel cheio deles.
Tinha dezenas, mas aquela não era a primeira vez que Ellie via um daqueles. Se aproximou, sendo acobertada por Tomás e apertou o grande botão vermelho, puxando todas as dez alavancas para baixo.
Em questão de um segundo tudo se acendeu.
O barulho dos geradores se ecoou pelos ouvidos dos mais novos. Tommy olhou assustado para aquilo, segurando a arma com mais força. Ellie deu um sorriso de vitória.
— Vamos. — disse apressada, voltando pelo corredor que tinha vindo.
Em questão de alguns segundos eles já estavam novamente em frente ao portão. Tomás apertou o botão azul lateral, vendo rapidamente o empecilho sumir.
Então, eles entraram. Calmos e pouco ofegantes, conseguiam ouvir os próprios corações. Estava tudo iluminado, luzes e mais luzes espalhadas pelo shopping.
— Só precisamos encontrar uma farmácia. — disse o mais novo, olhando a sua volta — Acho que vai ser difícil...
— Comida também ia ser uma boa. — espreguiçou Ellie — Estou morta de fome.
Andaram alguns minutos, atentos. Não havia farmácia nenhuma, só loja de roupas, tênis e coisas parecida. Até que Tomás paralisou no lugar, ganhando a atenção de Ellie em segundos. Ela olhou na direção que ele estava olhando, vendo dois infectados. Do primeiro estágio.
Fez um aceno de cabeça para ele, indicando que continuassem pelas as escadas rolantes.
— Se conseguirmos chegar no helicóptero... — sussurrou Ellie, ao lado dele — Conseguimos pegar a caixa de primeiros socorros.
O mais novo balançou a cabeça em concordância, seguindo ela em direção a escada.
— O que caralhos é isso?
Sentiu o chão mover abaixo de seus pés, quase perdera o equilíbrio. Ellie riu baixo, pois se lembrou da vez que teve a mesma reação.
— Pelo visto usavam isso para evitar subir degraus. — explicou, saltando para fora em silêncio.
A expressão no rosto de Tomás era impagável, da mesma maneira que a dela fora naquela época.
O helicóptero não estava em um ambiente seguro, estava suspenso e quase perto de cair. Eles se aproximaram com cuidado, observando a cena.
— Vai primeiro. Vou logo atrás. — instruiu Tomás.
A mais nova balançou a cabeça em concordância, se preparando para o pulo. Quando seus pés se encostaram dentro do helicóptero, um segundo depois o de Tomás também se encostou.
Talvez a movimentação de ambos ali em cima tinha sido demais para o helicóptero.
Fazendo com que a superfície em que ele estava, começasse a ceder. Eles se jogaram no chão, agarrando a perna dos bancos enquanto Ellie fazia o mesmo, mas com a caixinha de primeiros socorros agarrada a si.
O barulho dos infectados ficaram mais altos.
Começaram a entrar em desespero.
Ellie enfiou a caixinha na mochila, enquanto Tomás puxava a arma novamente a deixando em mãos.
— Vamos. Vamos. Vamos.
Gritou a mais velha, começando a correr na direção em que tinham vindo. Os infectados começava a se aproximar, Tomás disparou contra alguns deles. Atraindo muito mais a atenção para ambos.
Eles deslizaram pelo portão que antes estava fechado, batendo no botão azul no intuito de fechar novamente. Mas, isso não aconteceu.
— Merda. — xingou Ellie.
Então, eles continuaram a correr. Na direção que o cavalo estava. Tomás foi quem pulou primeiro para cima, enquanto a mais velha soltava a corda, subindo logo em seguida.
— Estão vindo atrás da gente. Não podemos levá-los até o Joel. — exclamou Tomás, galopando o mais rápido que podia.
— Eu sei, merda. — olhou por cima dos ombros, vendo os infectados saírem do prédio em desespero.
🏹
— O que vocês fizeram?
A voz de Makayla saiu trêmula ao começar imaginar todas as diversas situações possíveis de merda.
— Um grupo de caras apareceu, cercaram a gente. — Tomás começou a falar descontroladamente — Ellie pulou na tentativa de retardar eles, mas a pegaram. Eu voltei, mãe. Eu voltei para pegar ela. Mas, implorou para mim trazer a caixa de primeiros socorros de não Joel morreria. Eu não queria deixá-la, eu não queria. Mãe... Ela...
Makayla o abraçou, forte. Secando as bochechas dele.
— Tá tudo bem. Tá tudo bem. — se afastou — Dá os analgésicos para seu pai, se certifique que a febre vai abaixar. Eu vou buscá-la.
— Mas...
— Não venha atrás de mim. Fique aqui com ele.
Ela não deu oportunidade para Tomás dizer alguma outra coisa, apenas pegou o cavalo e subiu nele. Se certificando que estava agasalhada e com o pente cheio.
Apenas seguiu o rastro de cavalos do filho, até chegar perto o suficiente da onde suponha que a mais nova estava.
Makayla desceu do cavalo desesperada, sentindo as mãos tremerem. Tinha medo do que pudesse ter acontecido com Ellie, não conseguia nem pensar na possibilidade dela ter se machucado. Jamais se perdoaria.
Ficou alguns minutos observando a área, estudando como iria entrar. Era quase como uma casa, mas muito diferente daquela em que estavam com Joel. Aquela ali parecia um forte por fora. Viu que não tinha homens ali fora, então em passos lentos e calmos começou a andar na direção da casa, se esquivando.
Isso tudo demorou dez minutos. Ela não queria errar, pois errar significava colocar a vida de Ellie em perigo. E isso estava fora de cogitação.
Quando entrou pelas portas do fundo, viu que estava realmente em um tipo de seita ou coisa parecida. Tá, foi a primeira coisa que veio a sua cabeça ao entrar naquele ambiente desconhecido. Não tinha ninguém ali, talvez não ficaram com medo de Tomás chamar ajuda por serem apenas crianças. Supos que estavam sozinhos.
Uma suposição péssima
Makayla andou nas pontas dos pés, até descer dois degraus. Notou que estava em um local mais escuro e frio, sentiu suas pernas tremerem com medo da possibilidade.
Foi então que ela a viu. Sentada, agachada do outro lado do cômodo. Em uma cela. Makayla segurou a vontade de correr até a filha, respirando fundo. Olhando a sua volta com calma, se certificando de que não tinha mais ninguém ali. E quando por fim teve essa certeza, quebrou todo o pequeno espaço que as separava.
— Ellie.
— Makayla.
A mais nova deslizou sobre o chão, até estar encostando na grade. Os olhos estavam vermelho, mas provavelmente de ódio.
— Uns filho da puta...
— Eu sei, eu sei. — apoiou a mão direita sobre a cabeça dela, na tentativa de a acalmar — Vamos te tirar daí.
Ellie respirou fundo, concordando.
Makayla tirou o grampo do bolso da calça, começando a tentar destrancar o cadeado. Isso demorou alguns minutos, a deixando completamente irritada. Olhava por cima dos ombros a cada instante, com medo de alguém chegar. Quando por fim conseguiu destravar o cadeado, puxou a porta da cela de uma vez.
Ellie deslizou para fora com toda a velocidade que podia, enrolando os braços ao redor de May, em um abraço.
— Tomás chegou em segurança? Ele levou os analgésicos? — perguntou de prontidão.
— Sim. Sim. Ele levou. — Makayla respondera, não conseguindo evitar o sorriso no rosto — Vamos pra casa.
Dava para ouvir pequenos murmuros em outros cômodos, isso deixou a mais velha em alerta.
— Vai pelos fundos, pega o cavalo e me espera. — instruiu Makayla — Vou pegar sua mochila.
Ellie relutou um pouco antes de concordar, começando a sair pelos fundos onde Makayla havia chego.
Os murmuros começaram a ficar mais altos, May começou a sentir suas mãos suarem enquanto segurava a pistola. Não podia ir embora sem a mochila de Ellie, lá tinha suprimentos que iriam precisar mais tarde.
Então, ela começou a andar lentamente quase nas pontas dos pés. Sentindo o medo percorrer suas veias.
Entrou em um corredor, apoiou a mão em uma das maçanetas enquanto com a outra segurava a arma. Empurrou com cuidado, verificando que não tinha ninguém.
— Na mosca. — murmurou para si mesma, entrando no cômodo.
Tinha armas, dezenas. Mochilas e mais um monte de coisas. Ela viu a mochila de Ellie, impossível não reconhecer. Andou na direção do objeto, eufórica para sair dali o mais rápido possível. E talvez se sentir dessa maneira não deixou ela perceber muito bem as coisas, só ouviu o rangido da madeira atrás de si. E no segundo seguinte, apagar no chão.
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