057 • S7
Meus olhos estavam pesados, mas toda vez que eu os fecho, vejo mais uma vez aquela cena se repetir na minha mente.
Essa noite Carl me puxou para dormir na casa dele já que ninguém da minha família estava, Maggie foi pra hilltop por não estar bem e Daryl foi levado pelos salvadores.
Mas não consegui dormir, fiquei a noite inteira encarando o teto escuro do quarto e tentando não pensar, por mais que seja quase impossível afastar os pensamentos.
Continuei daquela forma por horas. Com os olhos abertos, deitada de busto pra cima e com as mãos juntas em descanso na barriga.
Até olhar para a janela e ver que o sol já estava se pondo no lado de fora.
Respirei fundo. Eu não aguento mais choras, além de me deixar exausta, não quero que me olhem com pena.
── Você deveria tentar dormir um pouco. - Ouço a voz tranquila do cowboy, que entra nos meus ouvidos como uma faísca de paz. ── Pode te fazer mau não descansar.
── Eu não consigo.
── Vou na farmácia ver se consigo achar algum calmante ou remédio pra dormir. - Murmurou, se levantando da cama
Carl entrou no banheiro e minutos depois escuto o barulho do chuveiro. Isso me faz lembrar que eu preciso tomar um banho, tirar essa roupa suja e tirar as marcas de sangue que tenho.
Mas não tenho nenhuma disposição pra isso, apenas me viro e coloco as mãos entre as pernas.
Fecho os olhos e tento encontrar a vontade de dormir, mas não consigo. Qualquer barulho que eu escuto me assusta, faz com que eu abra os meus olhos e salte com o corpo toda vez. Não importa se é um barulho minúsculo, gotas de água caindo ou que seja lá em fora, é como se fosse um estrondo na minha cabeça.
Logo ouço a porta do banheiro se abrindo e sinto que Carl parou na minha frente, sua mão quente e aquecedora acariciando o meu rosto e também sinto a falta dela quando ele afasta.
── Não me deixa aqui sozinha. - Sussurrei, ainda com meus olhos fechados
── Como eu vou na farmácia? - Inquiriu
"Mm" foi oque eu resmunguei, mexendo o meu corpo como se estivesse fazendo birra. Parece que vai acontecer uma tragédia caso ele saía daquele quarto, tenho medo de ficar sozinha.
── Quer ajuda pra tomar banho? - Carl indaga, ele foi até a cômoda pegando algo da primeira gaveta e voltou
Ele se sentou ao meu lado na cama e segurou a minha mão com cuidado, arrastou seus dedos suavemente pela palma coberta com alguns pingos de sangue seco e em seguida respingou um spray ardente no meu ferimento
Oque me fez entre abrir a boca sentindo o que sobrou do meu dedo arder e ao mesmo tempo latejar de dor
── Você tem que ir na enfermaria pra Denise fazer um curativo melhor. - Avisou, passando uma gase em volta do meu dedo
── Eu vou. - Me sentei. ainda sinto a dor, mas aos poucos ela iria aliviando.
── Vem. - Carl levantou, segurando a minha mão e eu fui. Me levanto sentindo seu braço passar em volta da minha cintura, assim entramos no banheiro
── Eu consigo sozinha. - Murmurei apoiando minhas mãos na pia
Mas mantenho meu olhar baixo para não ter que me encarar no espelho. Sinto meu corpo cansado, minhas pernas frágeis e era um sacrifício me manter em pé.
Eu não queria me manter em pé, meu corpo já desistiu de seguir em frente desde aquela noite e só precisava que o resto também desista.
── Já enchi a banheira de água pra você. - Carl avisou e eu vejo pelo reflexo
── Pode ir. - Olhei para o cowboy que esta na porta me olhando com preocupação
── Se precisar, a michonne esta lá em baixo. - Disse e eu assenti ── Te amo.
Eu assenti de novo, e o cowboy desviou seu olhar finalmente saindo do quarto.
Respirei fundo levantando meu rosto e me vejo no reflexo, meus olhos estão inchados e vermelhos, meu rosto com algumas manchas de sangue.
Tirei as roupas e entrei na banheira já cheia, me sento sentindo a água quente relaxar o meu corpo dolorido. Fechei os olhos encostando as minhas costas na banheira.
Meu corpo escorrega cada vez mais e logo eu mergulho na água, prendendo a respiração e continuo naquela posição por alguns segundos.
Antes de voltar para cima com tudo afim de recuperar o meu fôlego, minha respiração agora está acelerada junto com meus batimentos.
Passei o sabonete pelo meu corpo tirando todo o excesso de sangue que sobrou, e assim que eu termino, saio da banheiro enrolando uma toalha em volta do corpo.
Paro em frente ao espelho, e meus olhos logo param em uma gilete em cima da pia junto com outros produtos de higiene pessoal.
E na minha mente isso talvez consiga de alguma forma aliviar a dor que estou sentindo. Se eu der um fim em tudo, toda a dor que sinto por ter que presenciar aquela noite vá embora.
Segurei a gilete com força e olhei o meu pulso esquerdo, respirando fundo.
── Eu não posso. - Larguei-a de uma vez quando meu olhos encontraram a miniatura de cowboy que eu dei a Carl
Não posso fazer isso com ele, não posso fazer isso com quem ainda está aqui. Meu irmão, a minha mãe e o Carl ainda estão comigo e eu não posso fazer eles sentirem essa dor outra vez.
Sinto que seria egoísmo da minha parte pensar apenas no que estou sentindo e deixar eles de lado como se não significasse nada.
Me encarei no espelho, limpando as lágrimas que caiam em meu rosto e respiro fundo.
E não posso morrer antes de ir atrás dele. De fazer aquele homem pagar por tudo, pelo que ele fez comigo e com o meu grupo.
Sai do banheiro colocando uma roupa limpa, fazendo um rabo de cavalo no meu cabelo e saio do quarto onde desço as escadas parando na cozinha onde vejo michonne
── Oi meu amor. - Michonne me olhou cautelosa, parecia ter medo de falar comigo ── Eu fiz um macarrão com carne, ta com fome?
── Não. - Murmurei me sentando na cadeira com os antebraços na mesa
── Mas você precisa comer. - Ela falou servindo um prato de comida
É estranho tentar me comunicar com alguém ou reagir, mas não consigo falar nada. Michonne colocou o prato na minha frente e eu segurei a colher encarando a comida que parecia estar muito boa, mas eu não sinto fome.
── Chel - Ouço a voz de Judith, e eu não consigo olhar pra ela e não sorrir ── Seu cabelo é bonito.
Ela sorriu passando o cabelo com delicadeza pelos meus cabelos, oque me fez sorrir.
Aquele sorriso era como um refúgio de toda aquela crueldade que era o mundo, ver a inocência dela me faz acreditar que o mundo não é o pior lugar de todos só por ela estar ali.
Uma garotinha tão gentil e inocente não fazia ideia de tanta coisa ruim que acontecia.
── Consegui achar isso na enfermaria. - Carl entrou em casa, passando direto pra cozinha e eu o vejo com uma cartela em suas mãos
── Oque é isso? - Michonne perguntou
── Calmante natural. - Respondeu, me abraçando por trás
── Você vai ficar por aqui né. - Michonne pegou sua espada, saindo da cozinha ── Eu preciso ir atrás do seu pai.
── Onde ele foi? - Carl perguntou
── Em umas buscas.
Enquanto eles conversam eu permaneço em silêncio, encarando a pulseirinha que prendia em meu pulso e passo os dedos pelo metal gelado. Me lembrando do dia em meu pai deu ela pra mim, e ao mesmo tempo tento não chorar.
── Quer que eu te traga alguma coisa? - Mich me olhou parando na porta, mas eu neguei e então ela saiu
Viro meu rosto vendo Judith correr para a sala com uma pequena cordinha amarrada em um cachorro de pelúcia
── Come tudo. - Carl pegou a colher, enchendo de comida e levando até a minha boca
Olhei para ele abrindo a boca e aceitei mesmo não estando com nenhum pouco de fome. Então ele faz isso de novo, e de novo.
── Se precisar que eu cuide de você, não tem que pedir. - O Grimes disse ── Porque vou estar cuidando sem você pedir. É isso que as pessoas fazem quando se amam, então não negue.
Carl levantou indo até a geladeira e pegou uma garrafa de água. Mas antes que eu me mova para pegar de suas mãos, ele a para de frente da minha boca, e eu levo minhas mãos até a garrafa.
── Toma isso. - Ele me entregou um dos comprimidos ── Vai te ajudar a dormir.
Respirei fundo pegando-o e engoli, sinto as mãos do cowboy acariciando meu cabelo, oque me faz fechar os olhos brevemente.
Carl puxou meu rosto deixando um beijo na minha testa e separou vagarosamente, dando outro na bochecha e depois um selinho.
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