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Xxx Bom dia raios de sol! Queria dizer que: Fireproof significa a prova de fogo, então sim, tem muita água pra rolar embaixo dessa ponte, dêem um desconto, no final, tudo faz sentido. Enjoy xxX

Brunna Pov

Flashback

Há um amargo grande na minha boca, senti uma pressão na minha bochecha e só então percebi que estou viva. Conhecia aquela pressão de lábios delicados na minha bochecha, era Emy. Ela costumava beijar a minha bochecha nas noites que escapava de casa, aos doze anos. Nessa época minha mãe me batia muito, pois bebia muito e eu fugia para a casa da Emily. Ela me agarrava em seus braços finos, e de alguma forma abraçava a minha dor. Quando eu parava de soluçar, me enchia de beijos assim… Pressionados delicadamente nas minhas bochechas e dizia que eu era forte e linda, falava que me admirava e eu respondia que não acreditava, mas esse simples gesto me fazia mais feliz. Mais uma vez, seus lábios pressionaram contra a minha pele e eu sorri. Minhas lágrimas
devagar desceram, então abri os olhos e encarei os olhos da minha melhor amiga.

– Como você está? - Emy perguntou, apertando um ursinho de natal em suas mãos.

– Bob, o ursinho de natal? - Perguntei, não acreditando no que estava vendo.

– Você me deixou assustada… – Ela sussurrou, abraçando o ursinho que dei a ela quando tínhamos dez anos.

– Porque… ? - Minha voz falhou. Respirei fundo e o cheiro de hospital invadiu as minhas narinas. Sentei e não senti nenhuma dor. Levei minhas mãos para a minha barriga e então fechei os olhos.

As lembranças invadiram a minha mente de forma violenta. Olhei pra todos os lados, e senti as mãos de Emily agarrarem as minhas. Levei minha testa até nossas mãos juntas, claro que suspendi um pouco nossas mãos e chorei. Eu queria levantar e me acolher nos braços dela, sentir seus beijos e ouvir sua voz doce, a única voz que realmente conseguia me acalmar de verdade. Passaram longos minutos, quando Emy começou a cantar pra mim e eu deitei na cama, mil perguntas estavam na minha mente, me rondando. Tinha que perguntá-la.

– Quão ruim estamos? - Perguntei com voz vazia, fitando o teto e triste.

– Está com duas costelas quebradas, teve hemorragia interna, esteve em coma por uma semana… - Eu a interrompi.

– Eu perdi o bebê? - Minha voz falhou.

– Bubs não é sua culpa. – Lágrimas insistiam a derramar. Emily tocou no meu rosto, senti um pouco de dor e me olhou nos olhos. Estremeci. Estava tão insegura e ela tinha passado por algo pior. Mas ela tinha Marcos… E eu a Ludmilla, eu a tinha, certo? Senti seus lábios beijarem minha testa e um arrepio percorreu meu corpo. Ardeu. Então pressionou os lábios em minhas bochechas e me senti com doze anos. Sorri. Ela se afastou um pouco e abriu um sorriso sincero. Eu amo seu sorriso, é a forma mais simples que ela me diz “Tudo ficará bem.”

– Você é linda e tem alguém que te ama muito. Ludmilla surtou e não saiu do seu lado em nenhum instante. Quando o médico falou que você poderia acordar a qualquer momento, eu e Juliana, não a deixamos mas aqui. Eu sei que surtaria mais, Marcos levou ela pra casa, para arrumar as coisas e assim que tiver alta, poderá sentir-se em casa novamente. - Falou tão segura, eu não preciso perguntar. Ela sabia minhas perguntas. Emily sempre será quem me conheci melhor nesse mundo inteiro, ela sabia ler minha mente.

– E ele… - Fui interrompida.

– Ele não foi encontrado. Não acharam o seu corpo e toda a unidade de polícia está atrás dele. Foi noticiado na televisão e o colégio foi informado. Não se preocupe - Ela me informou.

– Eu te vinguei. - Sussurrei, encarando seus olhos negros nos meus.

– Não deveria. - Me entristeci. Queria que ela falasse “Obrigada”. Ela percebeu e passou as pontas dos dedos em meu braço direito. – Mas, obrigada. O que seria de mim sem você? - Falou baixo e sorri. Nesse instante é disso que eu precisava.

– Eu te amo, Emy. - Sussurrei e levei minhas mãos pro meu rosto, limpando a inundação.

– Eu te amo mais. Melhores amigas, certo? - Emily sorriu, e apertou uma das minhas mãos. Então chamou a enfermeira e avisou o médico responsável. Depois de me analisarem, ela voltou e cantou pra mim. Tinha tomado calmantes e junto com seu carinho, dormi.
...

No dia seguinte falei com Ludmilla, que tinha os olhos cansados e tive a certeza que chorou muito. Sua mão esquerda estava quebrada e não perguntei porque. Tinha medo de fazer perguntas e ela me encher com as suas próprias perguntas sobre o que aconteceu. Tive alta, finalmente. Não falava muito e estava irritada com os seis cortes com pontos. Me incomodavam. Me sentia horrível e negava me olhar no espelho. Eu sei que estou horrível.

– Esse não é o caminho de casa. - Informei Ludmilla.

– Aluguei outro apartamento, mobiliei e tudo mais. Não queria que tivesse memórias ruins lá. - Ela falou e a compreendi.

Chegamos em um prédio grande e no setor mais bem conceituado. Sorri. Ela fez isso pra mim, e eu não merecia. Levei o nosso filho para o suicídio. Entramos no apartamento, era maior e tinha uma claridade ótima, as paredes eram todas brancas.

– O que achou? - Ela perguntou ansiosa.

– Bom. Aonde fica nosso quarto? - Perguntei com a voz vazia.

– Por aqui… - Ela me levou a um pequeno corredor que haviam três portas. Explicou que a porta que estava a nossa frente e no fim do corredor é o nosso quarto. A porta do lado direito era uma pequeno quarto de hospedes e a do lado esquerdo uma sala, que o antigo dono usava como escritório. Não tive muita paciência, simplesmente entrei no nosso quarto e acomodei minhas coisas.

Ludmilla me olhava de maneira ansiosa, desde o hospital não havia tocado nos seus lábios e poderia me entender mal. Eu sei que pode parecer bobagem e que ela nunca me faria mal, mas sentia medo. A verdade que estava com medo e acumulada de sofrimento dentro de mim. A noite chegou, e eu não sai do quarto nem por um segundo. Mas Ludmilla cuidou de mim, levou pro quarto comida e insistiu que eu me alimentasse. Comi um pouco, mas não me sentia bem comigo mesma e isso estava me matando. Estou sentada na minha nova cama, no meu novo quarto, no meu novo apartamento e com a nova vida que eu não esperava. Sim, imaginei ter uma vida nova mas formando uma família e não assim. Ludmilla entrou em silêncio e me observou, olhei em seus olhos e por um momento a dor não se manifestou.

– Você tem visita. - Ludmilla me olhou sorrindo. Não sorria com os lábios mas nos seus olhos eu pude a ver sorrindo.

Então ela saiu da porta, deixando passagem para alguém entrar e quando vi quem era, quase morri. Hariany. Seu sorriso se abriu ao me ver, apesar de ter um traço de espanto de me ver daquele jeito, não me contive como uma estátua vazia, pulei pra fora da cama e a vi abrir os braços, minha irmã sempre será a pessoa mais segura pra mim. Ela tem um caráter forte que nem o meu mas é muito delicada, conceituada, linda, educada, um gênio florido que nem o de  Emily, podendo ver coisas boas onde só há sofrimento e dor. Minha irmã é a blogueira mais famosa do Estado, e talvez do país. O radioactive unicorns tem somente dois anos, e recebe um número de visitas incontáveis para mim. Ela é realizada e eu a amo tanto. Envolvi meus braços pela sua cintura, a abraçando carinhosamente e confesso que amo abraçá-la. É como abraçar meu lado hiper feminino.

– Marcos e Rômulo estão na sala, então vou deixá-las sozinhas. Acho que tem muito o que conversarem. - Ludmilla pronunciou. E antes que fosse, a agarrei em meus braços e sussurrei em seu ouvido um “Obrigada.”, em seguida a beijei. Um pequeno beijo.

– Precisa de uma repaginada no seu look. Está com mais cintura, se quiser eu te ajudo. Mas tem que ser escondida da Emy, porque você sabe como ela é. - Hariany falou, tirando os sapatos e sentando no sofá que agora tem no meu quarto. E eu só percebi que ele está aí porque ela se sentou nele. Me olhei no espelho, e observei bem minha cintura. Realmente está mais fina. Fiquei confusa, o que tinham feito comigo?! Ela percebeu meu jeito estranho de me olhar e então resolveu me explicar.

– Você não perguntou sobre os danos que causaram em você. Entendi. Sua cintura está mais fina porque foi necessário retirar duas costelas… Uma do lado direito e a outra do esquerdo. - Me contou segura. Hariany não tinha medo de me contar as coisas, não é como todo o resto que se sentiam tensos ao falar e eu gostava disso nela.

– Oh! - Exclamei. Sentei do lado dela.

– Lembra que a Vogue Teen entrou em contato comigo? - Hari se pronunciou. Fiquei aliviada por não perguntar se estou bem.

– Lembro sim. O que querem da minha linda irmã? - Ela riu, sabendo que estava também me chamando de linda e suspirou.

– Querem que eu tome conta do blog da Vogue Teen da Itália. - Disse um pouco triste. – E que eu me mude pra lá, tenho que dar a resposta amanhã e decidi que não vou. - Falou decidida.

– Como não vai? É uma grande oportunidade. Você ama o que faz… Então porque não ir? - Perguntei indignada.

– Minha irmã precisa de mim. - Sua voz foi meiga e me revoltou.

– Você vai levantar esse traseiro branco e confirmar essa porra agora. ME ENTENDEU? - Falei alto o bastante para Ludmilla vim nos verificar. Ela olhou pra mim confusa e a Hariany riu.

– Eu tenho a minha esposa, a Emy, a Juh, Romin, Marcos e Renatinho, o bebê da Emy e seu ursinho Bob. Ficarei bem. - A olhei com carinho. Queria dizer a ela, que além de mim não havia nada mais importante. Claro, depois de mim tinha o seu blog. Apesar de Hariany ter mil valores, não tinha verdadeiros amigos e companheiros. Tinha pessoas ao seu redor sempre, mas me dizia que diante deles e do mundo só me tinha realmente. Queria lembrá-la disso, mas talvez pudesse ferir ela.

– Nenhum deles tem seu sangue correndo em suas veias e não são como eu. Eu sou sua irmã e você é tudo que eu tenho. Me deixe decidir por mim. - Hari sorriu, tentando parecer que não era um sacrifício pra ela.

– Eu jogo o anel da mamãe no lixo. - Ameacei. E ela se levantou do sofá na defensiva.

– O que? De forma alguma. - Falou doce, mas eu sabia que aquilo era um grito comportado dela.

– Você vai pra Itália, e casará com um italiano lindo. Ficará mais famosa com o blog e qual é, será da elite de moda. - Sorri. E ela me abraçou. Um abraço diferente, aconchegante que só irmã pode te dar.

– Você continua sendo uma delinquente. - Ela sussurrou e eu ri.

– Olha quem diz. Você roubou um batom da MAC quando tínhamos treze anos. Você também é delinquente, só que banhada a glitter. - Falei. Me tornou um pouco mais feliz, porque não precisei me sentir mal e nem falar sobre o que aconteceu.
...

Romin e Marcos já tinham ido embora, passaram no quarto pra me dar um oi antes de irem. Me apavorei quando Hariany disse que ia embora sozinha, então fiz Ludmilla prometer que a levaria para casa e só voltaria quando ela trancasse bem a porta. Tinha muito medo que fizessem algo a ela. Eu acho que morreria se algo acontecesse com a minha irmã. Ludmilla foi, mas não me deixou sozinha, Emily ficou comigo, estamos na cozinha e eu assistia ela cozinhar. Me transmitia conforto estar perto dela, mas a dor no meu peito só aumentava e eu acho que não mereço viver. Não se for pra viver assim, com a dor da perda de um alguém que nem nasceu. As palavras do homem que me empurrou quando precisei de ajuda ecoavam na minha mente. Assassina.

– Emy, eu vou tomar banho. - Falei baixo. Mas ela escutou.

– Você está cheia de pontos. Precisa de ajuda? - Ela perguntou ficando vermelha. Me lembrei de quando ela estava assim, destruída fisicamente e emocionalmente. Por uma semana eu a ajudei a tomar banho, mas era diferente. Não era só as costas, coxas e barriga que estavam machucados. Sua intimidade também estava e ela sentia muita dor. Chorava toda vez que precisava fazer coisas que todo mundo faz. Durou mais ou menos duas semanas inteiras da qual a ajudei e sinceramente, não tenho vergonha que o fiz. Ela precisava de mim e eu estava lá. O engraçado que eu precisava ter visão de raio x, pois ela se sentia insegura em me deixar vê-la, e quando a vi na íntegra, eu compreendi. Emily foi muito machucada e mais do que eu.

– Não. Eu me viro. - Sorri fraco. Antes de ir, a abracei e beijei sua bochecha. Sussurrei um obrigada, e andei na direção do quarto.

Tranquei a porta. Tirei minha roupa, ficando só de calcinha e sutiã e me observei no espelho. Eu realmente estava destruída. Meus olhos inchados e vermelhos, minha barriga cheia de pontos, marcas quase pretas por toda parte, furos na minha coxa e um corte na minha testa. Com certeza ficaria com cicatrizes mas nenhuma seria tão dolorida quanto a cicatriz no meu coração. Toquei a minha barriga e desmoronei a chorar. Sentei na beirada da cama e me xinguei por ser tão estúpida. Eu amava esse bebê que estava crescendo em mim e não ia suportar a dor. Eu merecia morrer junto a ele. Eu tinha. Fixei meu olhar pra cômoda aonde Ludmilla organizou meus remédios por horário e dias que deveria tomar. Sempre achei que eram estúpidos quem tentava se matar com remédios, sempre achei que mereciam viver pra levar uma surra da vida e aprender que pra morrer teria que se empenhar mais. Porém, eu já tinha apanhado muito e meu corpo ainda doía. Eu não quero sentir dor, sabe? Já estou sentindo demais. Me levantei novamente e abri a garrafinha de água. Abri todos os seis frascos de remédio e ouvi a batida na porta. Olhei pra ela e a maçaneta estava mexendo, Emily começara a me chamar com voz alta. Ignorei. Engoli metade do primeiro vidro empurrando com água. Gemi de raiva. Minhas lágrimas encharcaram o meu rosto, tanto que molhavam o colo do meu peito. Mais batidas fortes e senti o desespero de Emily. Ela tinha que entender, certo? Acabei com o segundo vidro e pude ouvir Emily chorar desesperada. Meu coração apertou. Me sentei no chão frio, não aguentava mais.

– Por você, meu bebê. - Sussurrei. E metade do terceiro vidro estavam na minha boca, quando ouvi a porta ser aberta com força. Vi Emy com a blusa molhada, e chorava mais que eu. Estava com um machado na mão, que logo jogou no chão.

– Brunna. - Falou baixo. Vi seus olhos fitarem o que eu estava fazendo, e me senti tonta. Tonta e desesperada. Emily com sua barriga enorme se aproximou de mim. Ela tenta abrir minha boca, mas não permitir não foi o suficiente. O olhar furioso dela me cortou por dentro. Era Emily ali, então obedeci, sentindo meu corpo fraco. Acho que vou desmaiar e se tiver sorte, morrer. Ela enfiou dentro da minha boca seus dedos finos e me fez vomitar tudo que tinha tomado. Tive raiva no meu pensamento. Muita raiva.

– Minha Bubs, nunca mais faça isso comigo. - Falou alto e chorosa.

– Meu… MEU FILHO… EMY… – Tentei falar e ela me afagou.
..

Uma hora se passou e estava na cama banhada, com os olhos tristes e vazios. Emily do meu lado, acariciando minha mão e tentando me dar forças.

– Sei o que sentiu quando viu a primeira ultrassom. - Emy sussurrou.

– Os batimentos do coração dele… Se tornou minha melhor música. - Falei baixinho, ela levou a minha mão a sua barriga.

– É menina. E quero que você escolha o nome dela. - Emy me fez sorrir.

– Porque eu ? Você e o Marcos que deveriam escolher. -

–Se não fosse por você, no dia que cheguei do hospital eu teria me matado. Você me ajudou, e se não tivesse feito, não estaria com ela crescendo em mim. - Emily foi sincera. - Eu nunca pensei em ser est… Bem, você sabe. E foi horrível,  mas você esteve do meu lado o tempo todo. Quero que a minha filha ganhe o nome que a minha heroína escolher. - Lágrimas novamente desceram. Eu nunca imaginei isso. Só eu sabia o quanto Emily gostaria de escolher o nome da filha. Ela vivia falando nisso antes do que aconteceu com ela. Me lembrei de suas palavras “Julia, Kaliene, Star ou Yasmin. Um desses será o nome da pequena Araújo Brito um dia.”

– Star. - Sussurrei e sorri. A abracei forte, poderiam me dar o presente mais caro do mundo e nunca chegaria aos pés do que Emily esta fazendo por mim.

– Eu amei. - Ela disse. – Quero seja a segunda mãe da minha filha. Considere sua também, porque você será a madrinha dela e quando eu não estiver perto… Será mãe. Quero que ela te ame o tanto que eu te amo, está bem? - Emy fungou. E acredite, me senti feliz. Concordei com a cabeça e beijei a sua testa.

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