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Um inesperado encontro

— A Rafaela tava meio estranha lá no acampamento — Antônio comentou, desamarrando a cara. — Aconteceu alguma coisa entre vocês?

Davi enrugou a testa.

— Por quê? O que ela te falou?

— Primeiro ela disse pra eu te esperar, depois mudou de ideia. Falou que andar sozinho pode ser perigoso, que eu deveria te encontrar e te ajudar a voltar... como se fossemos voltar pra lá, eu hein!

Davi tirou o chapéu, passou a mão atrás da cabeça, esticou um olhar para a paisagem e voltou a encarar Antônio.

— Podíamos voltar, um dia, com mais calma.

Antônio apertou os olhos. Davi entendeu que precisava se explicar.

— Para agradecer direito. Se não fosse pela ajuda da Rafaela eu teria machucado bem mais que o ombro, devo um "obrigado" decente.

— Sei.

— Vai ser legal cara, pense, podemos pescar com eles, cortar lenha para a fogueira e acampar de verdade, afinal é isso que seus pais pensam que estamos fazendo, né? Só estou dizendo que não parece má ideia.

— Tá bom, Davi, qual é? Não vá me dizer que está a fim dela também? Você precisa controlar esses hormônios, cara, parece que tem sempre alguém na sua mira, pelo amor de...

— Deus do céu, não! Por que você acha... eu não fiz nada, foi ela que...

— Ela o quê?

Antônio gargalhou ao ver o rosto de Davi assumindo nova tonalidade.

— Ela me deu um beijo. — Davi arriscou um sorriso improvisado, como se constrangido por estar empolgado.

— Caramba! — disse Antônio, tapando a boca. — Cara, ela é bem bonita, mas... Se a Mariana já é encrenca, imagine uma garota carpincho? Bom, você que sabe, eu não posso te tirar de toda enrascada em que se mete.

Davi riu dos conselhos pessimistas, típicos de Antônio. Não queria ignorá-los, nem as próprias vontades transigentes. De qualquer modo, sabia que o desdobramento daquele beijo teria que esperar. Estendeu a mão para fora da caçamba e a deixou balançando ao vento, admirado pela velocidade que atingiam em descidas.

À medida que adentravam nas avenidas, prédios cada vez maiores surgiam diante deles. Parte do que fora a moradia de pessoas no passado, agora estava entregue à vegetação, aos insetos e às pragas, como os ratos que corriam para longe da moto e os cães selvagens que uivavam de dentro das cavernas artificiais enquanto eles passavam. A escuridão não os permitia ver nada com clareza, e havia árvores escondendo faixada das construções. Cabia à imaginação preencher as lacunas do cenário. O passado era um lugar curioso e difícil de imaginar.

— Isso aqui é inacreditável — disse Davi. — Pense como devia ser antigamente!

— Ah! Eu queria ter visto! Imagino essas ruas iluminadas pelos postes e pelos carros, as pessoas passeando sem medo do escuro ou das feras noturnas. Olhando para cima veríamos gente vivendo no alto dos prédios, e aviões voando acima deles, e... toda aquela tecnologia.

Davi se perdeu fantasiando aquilo. Cutucou Antônio e apontou para o que havia sido um edifício residencial.

— Cumprimentar a vizinhança devia ser bem demorado, olha quantas janelas.

— Pra isso é que servia a comunicação instantânea, Davi. Eles apertavam um botão e enviavam um "bom dia, Fulano" pra todo mundo que quisessem, de uma vez só.

— Que esquisito! Bom, eles eram espertos, devia fazer sentido. Antônio estamos em uma cidade-fantasma de verdade, andando em um veículo que pensávamos não existir mais e prestes a nos encontrar com um sábio.

— Pois é, nem acredito que esse plano maluco está dando certo.

Em certa altura, a mulher parou a motocicleta, estacionou perto de um arbusto e se enfiou no que parecia a toca de uma criatura. Segundos depois, voltou e acenou para eles.

— É aqui!

Eles a seguiram pelo buraco no arbusto e avistaram a fachada de um prédio antigo, dez andares ou mais, cujas primeiras janelas emitiam luz. A piloto bateu palmas e assoviou, mas ninguém apareceu mesmo após alguns minutos de espera. Ela voltou até a motocicleta, apertou a buzina e gritou.

— Podemos ver as velas acesas! Desçam aqui, queremos conversar!

Atrás do portão, um pequeno lance de escadas terminava em uma porta de madeira que se abriu. De dentro dela, uma jovem apareceu. De pele negra, cabelo cacheado e a face aflita, era pequena, mas com pose de adulta. Carregava um livro em suas mãos.

— Olá — disse a piloto. — Poderia chamar seus responsáveis?

— Lamento senhora — respondeu a jovem. — Não posso. A minha mãe se encontra doente e o meu padrasto não me permite acordá-lo tarde da noite. Peço a gentileza de não utilizar a sua buzina, nem assoviar.

— Se me deixar explicar por que estamos aqui, tenho certeza de que entenderá.

A jovem olhou para dentro da casa, trocou seu livro por um pires com uma vela, hesitou por um momento e desceu as escadas, se apoiando com cautela no corrimão. A mulher apresentou Antônio e Davi, mencionando a carta com um selo de capivara endereçada ao prédio diante deles.

— Uma capivara? — disse a jovem. — Tem certeza?

Antônio a mostrou a carta pelo vão das grades.

A jovem estudou o envelope e seu semblante se contorceu. As sobrancelhas curvaram-se, emocionadas, os olhos brilharam na pouca luz que sua vela emitia.

— Vocês poderiam voltar amanhã? — disse ela.

— Amanhã?! — respondeu Davi, avançando até as grades do portão. — Não! Estamos longe de casa, não temos nem onde passar a noite.

A jovem colocou a mão na testa, olhou para trás e para cima, buscando as janelas mais altas, depois voltou a fitá-los.

— Tudo bem, eu vou receber vocês. Temos cômodos vazios acima do quinto andar. Contanto que não façam barulho, podem passar a noite aqui e falaremos sobre a carta amanhã.

Davi e Antônio se olharam animados, viraram as costas para buscar as mochilas na motocicleta, mas pararam ao sentir um toque nos ombros.

— Esperem um pouco — disse a piloto. — Não queremos causar incômodo, eu gostaria de conversar com o responsável da casa a respeito da entrega... se não for possível, iremos embora.

Davi e Antônio a olharam confusos.

— Não vamos embora! — disse Davi. — Estamos longe do acampamento, perderíamos horas se tivéssemos que voltar amanhã. Se você não pode nos acompanhar, tudo bem, daremos um jeito, muitíssimo obrigado por toda a ajuda, ficaremos por aqui.

A piloto caminhou até a jovem que acabara de abrir o portão, e tomou a carta de suas mãos. Voltou-se para eles, e segurou o envelope fazendo pinças com os polegares e indicadores.

— Sei reconhecer oportunidades quando vejo uma. Não gastei metade do meu combustível para ir embora de mãos vazias! Eu esperava barganhar com o destinatário. Já que não é possível, vamos ter que negociar entre nós quatro.

Davi arregalou os olhos para Antônio, como se esperasse do amigo algum plano, já que fora ele quem originalmente aceitara a carona.

— Não temos dinheiro! — disse Antônio abrindo as palmas das mãos em direção a piloto. — Você disse que vir aqui estava no seu caminho.

Ela se virou para a jovem.

— Essa carta tem valor pra você, não tem? E então, o que vai ser?

— Espere um pouco — disse a jovem virando as costas e correndo pelas escadas até a porta do prédio. Minutos depois ressurgiu carregando uma pequena caixa.

— O que você trouxe para mim?

— Te ofereço esses talheres de prata. Pesam mais de dez quilos.

— Ah, sim... de prata, é claro! Acha que eu vou cair nessa? Eu conheço o seu padrasto, sei que escondem coisas valiosas aí dentro.

A jovem engoliu seco, olhou para o chão com pesar, colocou a mão no bolso e hesitou. Todos souberam que dentro havia um verdadeiro tesouro.

— Isso é tudo o que eu posso oferecer — disse, entregando um objeto.

Os olhos da menina acompanharam o artefato passando de sua mão para a da piloto. Anos atrás, ela olhara do mesmo modo para seu pai partindo, deixando aquele presente como promessa de que voltaria.

— Coitada! — cochichou Antônio. — É uma lanterna solar, são raríssimas.

— Isso paga a entrega da carta. — A piloto se dirigiu aos meninos. — Sendo muito justa, paga também o transporte de um de vocês.

— Um de nós? — perguntou Davi.

— Quando você subiu a bordo, o peso que eu carregava dobrou, então gastei duas vezes mais combustível por sua causa. — Ela lançou um olhar de cobiça para o chapéu dele.

Davi recuou, procurando apoio em Antônio, também acuado, que dessa vez não podia socorrê-lo.

— Por favor, moça — disse ele. — Podemos te pagar depois, prometo! Deixarei alguma prata com a Rafaela, ela pode te entregar. Quantas seriam suficiente? Duas? Tudo bem, três moedas?

A piloto caminhou até ele e esticou a mão, sorrindo como se tivesse ensaiado o gesto antes.

Davi tirou o chapéu, removeu uma folha que pousara sobre sua aba, lançou um olhar entristecido para ele, como se tentasse comunicá-lo que sentia muito, e o entregou.

Ela colocou a lanterna solar dentro do chapéu, se enfiou no arbusto, ligou a motocicleta e partiu. Definitivamente não planejava oferecê-los uma carona de volta, nem mesmo se dessem com a cara na porta e ficassem sem ter onde pernoitar. Por sorte não foi o caso.

— Como se chamam? — perguntou a jovem, conduzindo-os pelas escadarias do prédio.

— Davi.

— E Antônio.

— Fascinante — disse ela, acendendo velas pelo caminho. — Um rei e um santo... Qual será o significado disso? O meu é Fernanda.

Fernanda era uma menina terna, de voz tranquila, que enfatizava a letra "e" das palavras. Na testa, uma manchinha se estendia até o couro do cabelo, transformando-se em uma mecha branca, o que lhe atribuía uma característica única.

Os olhos de Antônio a perseguiram com interesse. Ele queria saber que livro ela estava lendo, qual era a frase escrita à caneta em sua mão e o que mais houvesse para saber.

— Obrigado por nos ajudar — disse Davi.

— É verdade — completou Antônio. — Aquela lanterna deve valer uma fortuna.

Fernanda parou diante de uma janela e ficou em silêncio por um momento.

— Acho que não. — Ela retomou a subida — Está quebrada. Os talheres valem bem mais.

Continuaram subindo. Antônio foi o primeiro a ficar ofegante e Davi logo também precisou parar. Fernanda teve de esperar até que se recuperassem.

— Quantas pessoas moram aqui? — perguntou Davi, fazendo um círculo com o indicador.

— Três.

— Uau, é uma casa e tanto para três pessoas.

— Vocês podem dormir aqui. — Ela abriu a porta para um aposento com sala, quartos e outros cômodos. — Está empoeirado, desculpem, não costumamos subir até aqui.

— Está ótimo — disse Davi, tirando os sapatos.

Fernanda os ofereceu um ensopado verde pouco atraente, que tinha gosto de meia usada, mas serviu para o estômago parar de doer. Depois se ajeitaram nos sofás e apagaram as velas. A cidade à noite não tinha canto de cigarras, nem céu estrelado, sequer transmitia aconchego. Sugeria um clima sombrio, como se perversidades pudessem ameaçar seu sono. Na rua, um cão latiu prenunciando perigos, mas ninguém o deu ouvidos. Por sorte estavam exaustos e dormiram antes que sua imaginação tentasse dar às suas angústias alguma explicação.

Davi acordou renovado.

— Meu chapéu!

— O que foi? — respondeu Antônio, mais dormindo que desperto.

— Olha só para isso!

Da janela do prédio se podia ver a cidade. Edifícios rodeavam o lugar, alguns abandonados, com janelas quebradas e vegetação cobrindo as paredes. Outros estavam habitados, pelo menos até certo andar, com cortinas, varais e sacadas indicando a presença humana. Havia também pequenas construções se espremendo entre as torres, que pareciam ter surgido depois já que os tijolos aparentes e irregulares não se encaixavam no resto da arquitetura.

Davi e Antônio desceram as escadas e experimentaram abrir as portas, andar por andar. A maioria estava trancada, exceto no terceiro nível, em que uma das portas se abriu e eles entraram. Era a casa de alguém. Nas paredes, quadros estranhos, com formas geométricas que não faziam sentido. À frente, fotografias penduradas despertaram sua curiosidade: carros, cidades antigas em seu auge, e monumentos históricos. Antônio queria olhar tudo com calma, Davi avançou sem cerimônia. Espiaram os cômodos, encontraram móveis somente vistos em revistas: cadeiras de ferro com base giratória, eletrodomésticos usados como estantes e outros objetos indistinguíveis. Tudo era velho, enferrujado e meio quebrado, ainda assim causava uma sensação de viagem no tempo. Uma das laterais do corredor terminou em uma cozinha, cuja pia acumulava louça e as panelas, restos de comida. Alguma coisa queimava em um dos cômodos. O cheiro de combustível lembrava o da motocicleta. Os dois foram atraídos de volta ao corredor pelo som de conversas.

— Onde estão? — disse uma voz impaciente vindo de lá.

— Deixei que dormissem no sexto andar — respondeu outra voz, calma e suave. Era Fernanda.

— Você acolheu dois estranhos em nossa casa? Onde estava com a cabeça?

— São apenas garotos. Senti algo bom a respeito deles.

— Sentiu? Não comece com esse negócio de pressentimentos! Isso é um desrespeito a mim e à sua mãe!

Antônio olhou para Davi, constrangido.

— Precisamos ajudá-la.

— Olá, bom dia! — disse Davi adentrando a sala.

Um homem enorme, magro e careca, vestindo um roupão desfiado que imitava pele de onça, soltou um gemido de susto ao vê-los entrar.

— Desculpe, não quis ser mal-educado entrando assim. O meu nome é Davi e esse é meu amigo, Antônio. Obrigado por sua gentileza e hospitalidade, a nossa viagem até aqui foi meio complicada. Estávamos acabados e precisando de um teto para essa noite. Queríamos muito conhecê-lo, senhor.

— Hm — ganiu o homem os estudando. Depois relaxou, se sentou em uma poltrona velha e bebericou uma xícara esfumaçante. Havia uma lareira portátil ali: um cubo de concreto, cuja fenda no centro queimava algum combustível. O homem esticou os pés até perto da chama e se espreguiçou. — Que motivo os leva a ansiar minha presença?

Davi foi até ele e o entregou a carta.

"Para S. Miranda de Nair Flores"

— Para mim? — disse o homem — Bom, Sérgio Miranda sou eu, mas quem é Nair Flores?

Antônio e Davi se olharam ansiosos.

— É ele — cochichou Antônio. — O sábio.

— Parece que não se lembra de Dona Nair — Davi sussurrou de volta.

O garoto falou de sua jornada, partindo dos problemas de sua família, passando pela biblioteca incendiada e concluindo com os conselhos de Dona Nair sobre o acervo de conhecimento que poderiam encontrar sob sua proteção.

— Que baboseira! — disse o gigante. Ele rasgou o envelope ao meio e o jogou nas chamas da lareira. — Lamento informar que viajaram à toa, não vão encontrar uma solução mágica para os seus problemas em nenhum livro. Isso que estão enfrentando é a livre concorrência, lei natural da sua modernidade, os mais fortes sobrevivem e os demais se adaptam ou morrem.

Davi ficou em choque. Não havia como reagir àquilo. Fernanda se lançou até a lareira e tentou recuperar a carta, tarde demais. Dela restavam apenas cinzas e a cera derretida. Antônio colocou a mão no ombro de Davi, sentindo suas esperanças se esvaírem. Só lhes restava voltar para casa.

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