Capítulo Único
Albus respirou fundo antes de dar de ombros e olhar para o céu. Scorpius esperava uma resposta, por menor que fosse, mas ele não a daria. O tempo corria contra eles, contra Scorpius. Albus não queria lançá-lhe uma esperança inexistente.
A verdade é que Scorpius estava morrendo. Morrendo e o deixando só. E isso, por si só, era demais para os dois.
Enquanto olhavam a água do lago negro, agasalhados o suficiente para o frio não os atingir, Albus tentava conter as lágrimas. Não era fácil, não com as olheiras do loiro maiores do que seus olhos. Não com aqueles lábios antes rosados, agora roxos. Não com a magreza desproporcional e os casacos antes perfeitos, agora largos.
O céu escurecia e o crepúsculo tomava forma. Albus olhou de soslaio para a expressão tristonha de Scorpius, antes de se permitir chorar.
Não existia Albus Potter sem Scorpius Malfoy. Quem falava dele, falava de Scorpius. Quem falava de Scorpius, falava dele. Quando chamavam seu nome, chamavam Scorpius. Quando chamavam Scorpius, o chamavam. Eles eram um só. Se Scorpius morresse, ele também morreria.
--Por que está chorando?
Não notou que olhava fixamente para o rosto de seu melhor amigo e chorava, até ter os olhos de Scorpius nos seus. A expressão antes alegre, agora permanentemente triste. Sentia falta de quando corriam sem Scorpius se cansar, de quando subiam as escadas como pessoas normais, de quando iam para Hogsmeade e podiam ficar em lugares cheios. Sentia falta de quando Scorpius ria de suas piadas... E de quando conseguia fazer piadas.
Albus suspirou e sorriu, um leve levantar de lábios logo substituído por tristeza.
--Porque você vai me deixar.--Disse, sem pensar no quão ruim era essa realidade. De como ele queria mudá-la, mas não podia--Porque você vai morrer e eu ficarei só.
Scorpius não esboçou qualquer reação, permaneceu com o olhar tal qual antes. O crepúsculo dava lugar às estrelas. Estrelas horríveis, que logo desapareceriam e dariam lugar ao cinza. O cinza também horrível.
--Eu também ficarei só, Albus.
Albus não sabe o que sente, ou o porquê de Scorpius falar aquilo como se não lhe doesse. Ele não entende por que Scorpius não chora, também não sabe o porquê de sua cabeça doer tanto.
Albus olha para o lago, se perguntando se Scorpius viveria até que a neve começasse a cair.
--Sabe, Albus.--A voz de Scorpius faz o seu peito doer e, sem pensar, ele começa a soluçar.--Meu pai disse que o céu tem flores e pássaros.
Albus não queria escutar aquilo. Não queria que Scorpius o consolasse. Não queria acordar um dia e encontrá-lo morto na cama ao lado. Não queria saber se no céu tinha flores, pássaros, livros e qualquer outra coisa que Scorpius amasse mais do que a ele.
--Cala a boca.--Balançou a cabeça, tentando se libertar dos pensamentos ruins.--Você vai ficar aqui, vivo e comigo.
Albus sentiu o peso do olhar de Scorpius em si, mas não virou a cabeça para fitá-lo. Não teve coragem.
--Você não respondeu a minha pergunta de antes...--As palavras o atingem como um soco no estômago.--Não é uma espécie de último pedido, caso esteja pensando nisso.
Albus sabia que não era o último pedido. Outros e mais outros veriam, até que um deles fosse o último. Scorpius ria de suas palavras, mas seu riso era rouco e cheirava a morte.
Albus tomou coragem e o fitou, temendo desmoronar mais do que já havia. O olhar de Scorpius agora era leve, sustentado por uma espécie de sorriso, mas que no rosto dele, parecia macabro.
--É apenas um baile, Albus. Um baile que eu espero ir com você. Não apenas como amigo, mas...
Scorpius não terminou de falar, mas Albus entendeu. Scorpius já havia pedido isso em outros momentos, sempre deixando claro o que queria. Ele não faria um pedido como aquele, não se não soubesse de algo que até a alguns meses atrás, Albus negava tão veemente. Scorpius conhecia Albus o suficiente, para enxergar a cor de seus sentimentos por ele. E isso doía.
Albus não queria ir para o baile, porque se tivesse que passar uma noite feliz com Scorpius, para depois vê-lo fugir de seus braços, não aguentaria. Estava sendo egoísta, sabia bem. Estava negando uma das últimas felicidades de Scorpius, apenas porque temia continuar vivendo sem ele ao seu lado.
Olhou no fundo dos olhos antes azuis, vendo o acinzentado sem vida. Doía. Doía de uma maneira nunca antes sentida. Esses últimos meses estavam sendo os piores de sua vida, ver Scorpius morrer era como ver a si próprio. Seu coração queimava, sua pele, seu andar, seu respirar... Tudo queimava.
Ele não podia negar, não poderia olhar no fundo daqueles olhos e dizer não.
Tentou expulsar as lágrimas, manter a cabeça erguida e a postura despreocupada, mas mesmo dando o seu máximo, não conseguiu.
--Se eu disser, sim.--Tentou não gaguejar, com uma dificuldade que nunca antes imaginou possuir.--Você volta a lutar pela sua vida?
Albus sentiu o baque que as suas palavras foram para Scorpius, mas não se sentiu culpado por tê-lo magoado. Scorpius havia desistido de lutar, mas Albus não.
--Eu darei o meu máximo, Albie.--A resposta veio com dificuldade, beirando a falsidade. Albus fingiu não ver.
Meneou a cabeça, fraco demais para falar o tão esperado "sim". O sorriso de Scorpius dessa vez não pareceu macabro, mas, sim, melancólico.
O céu estava completamente na escuridão, tal qual os sentimentos de Albus. Scorpius sorria para ele, como se tudo aquilo não passasse de uma brincadeira.
***
Albus não soube o motivo, mas o dia amanheceu cinza. A neve caia em pequena quantidade, mas ninguém na Sonserina sabia. Apenas sentiu a tristeza pesar nas paredes de pedra, mas não soube a resposta até levantar-se e andar até Scorpius para acordá-lo.
Scorpius acordava cedo, cerca de vinte minutos antes de Albus. Era estranho vê-lo ainda deitado, com o rosto estranhamente sereno e sem dor em contato com o travesseiro.
Albus soube, embora melancólico, que não adiantaria chamá-lo, nem o balançar pelos ombros quando viu que seu peito não se mexia. Suas lágrimas demoraram para escorrer e a sua ficha a cair, tal qual as suas pernas a tremerem e o seu grito a soar. Permaneceu parado ao lado da cama, sentindo as lágrimas escorrerem e os gritos deixarem a garganta, mas não conseguiu se mexer. O pensamento de que não havia levado Scorpius ao baile que ele tanto queria ir, assombrando seu cérebro.
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