Desprezo.

É o que sinto ao olhá-la dormir. A linha entre odiar e matá-la está muito próxima. Preciso sair desse quarto; essas paredes estão ficando cada vez mais próximas. Sinto claustrofobia em permanecer no mesmo cômodo que essa coisa que se mexe à minha frente.

Ela já foi uma pessoa. Uma mulher extraordinária. O amor da minha vida. A única que permiti a chegar nesse ponto de perder a consciência e me cegar; grande erro esse que cometi.

Olhando assim, adormecida, ninguém conseguirá imaginar o estrago que poderá causar em sua alma. Estranhamente, não consigo avançar um passo sequer, e permaneço estático vendo o seu peito subir e descer no ritmo de sua respiração.

Mulher odiosa. Como se atreveu desfazer da forma mais sórdida do meu amor? Eu que me entreguei de corpo e alma.

O corpo ainda permanece, porém, cansado, sem cheiro, sem suor, sem vida porque a alma não aguentou e recuou para a escuridão.

Destruição. Cacos tão pequenos que jamais poderão ser colados. Eu poderia torcê-la com minhas mãos, mas não irei me sujar mais do que já estou, ela não vale nada... É um nada.

E se é um nada, porque fico aqui a observá-la? Não posso acreditar que ainda me importo. Que ainda a queira. Só se for para esmagá-la entre os meus braços, mas sei que não terei forças suficientes para fazer isso ao ponto de sufocá-la. Sei que no momento em que seus olhos encontrarem com os meus o pouco que me restou irá se esvair.

Isso pernas, me obedeçam e andem até a porta. São apenas alguns passos. Isso, estamos quase lá; a liberdade nos aguarda.

Olhos não me traiam agora, não permitam que nem uma gota de lágrimas seja derramada por ela. Os olhos dela jamais fariam o mesmo por você. Jamais!

Ouvidos? Está escutando? Ela se mexe irá acordar a qualquer momento e você não irá querer ouvir o som daquela voz, porque se ouvir todos os outros sentidos também irão precisar de algo dela.

O calor em minha pele e o gosto em minha boca. Isso mãos. Essa é a maçaneta. Gire-as! É uma ordem! Porcaria, por que não me obedece? Não! Não, olhe mais para trás, siga em frente, sempre em frente. Estamos quase lá, apenas mais um passo. Finalmente: o fim!

*****

Gostaria de agradecer a todos que leram. Adoraria saber o que acharam desse conto bem pequeninho, mas que foi feito de forma muito especial. Agradeceria imensamente os votos e fico aguardando os comentários. Obrigada!