• Capítulo 9 •
Foi por pouco que não fui pega. Saí correndo pro meu quarto e fingi que estava dormindo quando ouvi Jimin abrindo a porta e vindo ver o que aconteceu. Assim que ele saiu, respirei fundo algumas vezes, com a mão sobre o peito onde ainda doía.
Tem algo sobre Jimin, o gênio da lâmpada, que meu coração não aguenta. E não só sobre ele. Sobre ele e eu. Não sei o que é, e estou criando medo de descobrir. Apesar disso, muitas suposições vem na minha cabeça. Os sonhos impróprios não param de vir. Pelo contrário, estão mais fortes do que nunca, ficando mais reais e intensos dia após dia. E outros sonhos de cenas comuns de nós dois tem acontecido também. Estar perto dele em alguns momentos, principalmente em cenas como a de hoje, faz meu coração doer. Me deixa tonta. Me dá uma sensação de pânico e tensão que nunca senti antes.
Considerei estar me apaixonando por ele, o que explicaria a razão de estar tendo sonhos impróprios e o início do coração acelerado. Mas não acredito que seja o caso. Ele é atraente, muito útil e gentil. Mas não é comum me apaixonar por alguém que não sou próxima. Além de que não faria sentido eu sentir tanta dor e tontura. Só se eu estivesse doente. E acredito estar bem saudável. E há outra coisa. Meus sonhos não são como fantasias com alguém por quem sinto paixão. São como memórias. Parecem reais demais. É como estar acordada. De forma que quando acordo deles, fico confusa como se já estivesse acordada antes. Como se tivesse sido teleportada pra minha cama, minha casa. Mesmo isso sim sendo a realidade, e não os sonhos de onde fui puxada.
São muitas coisas na mente e perguntas que ele diz não poder responder. O que me estressa. Tudo isso ocupa e cansa muito minha mente. E por isso, ao menos por hoje, decidi deixar isso de lado e dormir. Só espero que o Jimin não queira falar sobre esta noite amanhã. Eu quem deveria tentar tirar algo dele, aliás. Estou sendo muito compreensiva, deixando ele ficar aqui, parecendo ser alguém conhecido, mas que nunca vi antes. E sem responder minhas perguntas sobre a nossa ligação. Quero respostas. E logo.
Mergulho no mundo dos sonhos sem muita dificuldade, sendo novamente levada para a realidade alternativa de sempre, como todas as vezes que adormeço. E então, outro sonho me perturba.
Eu estava deitada em uma cama, Jimin chorando sobre o meu peito. Podia ouvi-lo, mas continuava olhando para o teto. Tentava me erguer para vê-lo, mas sentia meu corpo fraco demais. Estava com frio, com dores no peito como sempre sinto quando acordada. Não conseguia respirar sem sentir que estava me esforçando demais. E enquanto isso, Jimin continuava encharcando minhas roupas.
- Me desculpe, Eleanor...é tudo minha culpa. Você...não deveria passar por isso. Eu deveria estar no seu lugar. Se eu pudesse te dar meu coração e alma eternos...eu daria. Eu sinto muito, meu amor. - Ele diz, soluçando e quase perdendo suas palavras por conta da voz afetada. Jimin ergue seu rosto, vermelho e inchado, e segura minhas mãos, olhando nos meus olhos. - Na próxima vida eu juro que você não sofrerá. Nem que eu morra dando todo meu poder pra curar você. Você vai viver. Me desculpe por depender de uma reencarnação pra isso. Sou um inútil. Um gênio inútil. Tudo o que eu queria era te fazer feliz. Queria te salvar do meu erro, mas não consigo.
Sua voz ficava cada vez mais baixa. Parecia estar cada vez mais longe. Eu estava sentindo meu corpo tão fraco, mas tão fraco...
- Jimin... - Com muito esforço, uma palavra sai da minha boca. Seu nome, arrastado e quase sussurrado, é o suficiente pra fazê-lo se aproximar.
- Sim, Eleanor. Amor da minha vida. Pode falar.
- Você...não é um inútil. A eternidade da sua alma é a coisa mais bela...da qual pude desfrutar...por tantas vidas já. Não...se odeie. Você é...tudo pra mim. Meu...amado...gênio. Eu...te amo. - Um discurso dito por mim, considerando a dificuldade que sentia pra falar. E a cada palavra minha, Jimin chorava mais e mais. Soluçava de tanto chorar.
- Eleanor...minha mestra, minha preciosidade...também te amo mais do que qualquer coisa. Se a eternidade da minha alma tem valor, é por me permitir estar do seu lado. Minha dama, minha joia, centro do meu amor. Perdão por toda dor que te fiz sentir... - É a última coisa que ouço ele dizer antes de ser puxada para outra manhã no mundo real.
E chorando é como acordo. Num salto, com o coração acelerado e dor de cabeça. Toco meu rosto, sem acreditar. Úmido de choro. Toco minha testa. Minha cabeça dói como se tivesse bebido todo álcool do planeta. O que estava acontecendo comigo? E o que foi...aquela conversa que tivemos?
Culpa dele?
Reencarnação?
Me levanto da cama e vou direto para o chuveiro. Já posso ouvir Jimin colocando a mesa na cozinha. E estou pronta pra fazer algumas perguntas pra ele. Depois desse sonho e dos últimos acontecimentos, ele precisa me dizer alguma coisa. Não posso ficar sem respostas por muito mais tempo.
Saio do chuveiro com uma toalha ao redor do pescoço e de roupão. Vou até a cozinha e Jimin se vira pra mim com um sorriso no rosto, que se avermelha ao me ver e diminui seu sorriso.
- Bom dia, Jimin. - Digo, indo até a mesa e me sentando.
- Bom dia, Eleanor... - Ele diz, baixo. Depois que me sento, o vejo encarando meu rosto de longe. Ele parece me analisar e logo chega mais perto. - Estava chorando...?
- Ah...eu... - Viro o rosto por reflexo, tentando evitar ser descoberta, mas volto a olhar pra ele quando penso que preciso falar sobre isso, justamente. - Na verdade...sim. Eu...acordei chorando hoje. Depois de um sonho que tive.
Ele parece preocupado assim que ouve sobre o assunto. Ele vem e se senta ao meu lado.
- Seu sonho te fez chorar? E...com o que sonhou? - Ele pergunta, parecendo sem jeito de perguntar, como se temesse estar sendo invasivo.
- Com você. - Ele arregala os olhos. - Acho que sonhei estar morrendo nos seus braços. - Respiro fundo. - Foi um sonho estranhamente real. Parecia tão palpável quanto eu e você agora. E...você estava chorando. Dizendo que algo era sua culpa. Que queria me salvar, ou algo assim. Depois de tudo, acabei acordando chorando. Estranho, não?
Olho pra ele, tentando fazê-lo entender que algo errado estava acontecendo e que se ele tinha qualquer explicação pra isso e pudesse me explicar, agora era a hora. Chega de omissão. Chega de dúvidas.
- Faz quanto tempo que tem tido sonhos do tipo comigo? Foi a primeira vez? - Ele pergunta, parecendo querer desviar o olhar, estranhamente cabisbaixo agora.
- Não foi a primeira e nem a segunda. Nem a terceira e nem a quarta. - Ele olha de canto de olho pra mim e eu me aproximo dele. - Desde que você chegou eu tenho tido muitos sonhos estranhos com você. Todos extremamente realistas. - Ele vira seu rosto pra mim e respira fundo, parecendo se preparar pra algo. - Alguns sonhos um pouco mais íntimos do que eu gostaria de ter com um completo estranho. - Ele ergue as sobrancelhas. - E o mais esquisito de tudo...é que todos eles pareciam familiares. E pior, eu nunca vivi nada daquilo na minha vida, é claro. Porque, que eu saiba, eu não conheço você. Às vezes, não só sonhos, mas quando estou perto de você, meu coração aperta. - Me aproximo um pouco mais dele e ele se afasta um pouco como se estivesse sendo colocado contra a parede. - Eu fico tonta e até sinto que vou desmaiar, como naquele dia. Sinto, em alguns momentos, que estou errada por não saber quem é você. Como se estivesse esquecendo de alguém...muito importante do passado. - Analiso todos os cantos do seu rosto, tentando ler sua reação. Ele parecia claramente nervoso. Intimidado. Talvez até um pouco sem graça pelo tanto de proximidade física que tomei. Mas eu precisava levar isso pra frente. Tudo o que esteve acontecendo não está certo. Isso não é normal. E eu precisava saber o que era tudo isso. - Mas você não é...certo? Ou...você sabe de algo que eu não sei? Hm?
Alguns segundos estranhos se passam sem ele dizer nada. Jimin engole em seco e olha pros lados algumas vezes, aparentemente tentando evitar contato visual. Me afasto um pouco, sentindo que era o suficiente. Ele vai falar. Ele tem que falar. Parece estar pensando se deve e como deve, e algo parece estar na ponta da sua língua. Porém, ele ainda parecia mais tenso pra falar do que comigo tentando fazê-lo falar. Ele fecha os olhos por um momento e passa as mãos pelo cabelo, deixando ela lá, entre seus fios arroxeados, e apoiando a cabeça na mão e o cotovelo na mesa. Seu olhar era melancólico, como toda vez que tocávamos no assunto. Mas ele estava prestes a falar. Era como se eu pudesse sentir algo vindo.
- Eleanor...você acredita em reencarnação?
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