7 ⌘ 𝕭𝖎𝖇𝖑𝖎𝖔𝖙𝖊𝖈𝖆 ⌘
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"A ajuda vem muitas vezes de onde menos se espera. A força que temos, podemos compartilhar. Assim, a esperança cresce e o medo diminui." (Gandalf, em "O Senhor dos Anéis") – J.R.R. Tolkien
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Ainda naquela noite, Adele resolveu conhecer a biblioteca.
A biblioteca se estendia como tesouros a serem descobertos por Adele, com fileiras intermináveis de estantes adornadas de livros prontos para mostrarem o fantástico mundo que a cercava.
O aroma de livros antigos a pegou de maneira nostálgica, aquilo era um paraíso. Mesas e cadeiras estavam cuidadosamente posicionadas de uma maneira em que a luz natural bateria se ainda fosse dia. Com curiosidade, Adele olhou para o alto, buscando novamente de onde viria a iluminação do lugar, mas sem sucesso, não conseguia ver as lanternas que havia visto no seu quarto também ali na biblioteca. Desistindo de olhar para o alto e mantendo a sua atenção nas diversas prateleiras, ela buscou de maneira preguiçosa o setor que ela tanto precisava... Setor de Alquimia? Adele revirou os olhos, mas resolveu passar por ali para ver se tinha algo que pudesse ser útil e depois disso foi para o setor biológico. Com paciência pegou todos os livros que acreditou que poderia ser de ajuda e se sentou em uma mesa qualquer.
Fisiologia dos seres, plantas, plantas medicinais, genética. Aproveitou e pegou alguns dos seus próprios livros, sobre bases patológicas e doenças, bioquímica, imunologia celular e molecular, farmacologia, etc... agradeceu mentalmente por ter arrumado aquela mala em algum momento e se pôs a estudar.
O tempo foi passando e o sono batendo, até que, vencida pelo cansaço, ela se debruçou e acabou dormindo.
Em alguma parte da noite, sentiu como alguém simplesmente jogava uma coberta sobre os seus ombros, mas o cansaço estava tão intenso, que ela acabou nem se mexendo, e só soube que aquilo não havia sido um sonho, pois acordou com a mesma coberta sobre os ombros e uma baita dor na coluna.
Sentindo alguém cutucá-la levemente, ela acabou se assustando e derrubando alguns dos seus livros no chão.
— Oh, eu sinto muito — Maeline falou indo um pouco para trás — Você se machucou? Eu não queria te assustar.
Quando ela olhou ao redor, a biblioteca estava cheia de pesquisadores que pareciam extremamente focados em seus próprios trabalhos.
Quando ela começou a juntar os livros, Adele se prontificou e apesar do corpo estar rígido, ela abaixou para ajudar.
— Eu sinto muito — Adele falou ao terminar de recolher o que havia caído — vim até aqui ontem e acabei dormindo. Peço desculpas.
— Você irá começar aqui hoje, certo? — Maeline perguntou.
— Sim, pelo que parece sim — Adele respondeu ainda parecendo sonolenta.
— Acho que agora podemos nos apresentar formalmente — Maeline esticou a mão, mas se manteve longe da perna de Adele — me chamo Maeline, sou responsável pela biblioteca e por organizar o cronograma dos pesquisadores.
— Vou tentar dar um jeito nisso ainda hoje — Adele suspirou ao notar a distância que Maeline tentava manter — eu sinto muito.
— Não tem por que pedir desculpas — a feérica respondeu amigavelmente — Obrigada por se prontificar a nos ajudar. Estamos realmente precisando de bastante ajuda por aqui. Venha comigo, eu vou te mostrar o local primeiro e explicar como tudo funciona, depois falaremos sobre o laboratório para que você possa me explicar mais ou menos do que você irá precisar para as suas pesquisas.
Maeline levou Adele pelos corredores da biblioteca indicando onde ficava cada coisa. Adie não pode evitar suspirar pensando que aquela apresentação teria sido muito bem-vinda no dia anterior quando ela precisou procurar em todos os setores os livros que ela mais precisaria. Algumas estantes estavam abarrotadas de livros, provavelmente resultado de pessoas que pegavam e devolviam aqueles exemplares no meio da correria e da pressa. Maeline explicou de maneira calma e paciente sobre a organização de cada lugar que passaram.
Adele escutou as explicações, mas manteve sua atenção praticamente fixa nos estudiosos debruçados em cima de grandes tomos. Alguns liam como se buscassem a solução para o fim do mundo. Outros, pareciam ausentes enquanto deixavam somente os olhos passarem por cima das palavras. Alguns pareciam atentos e focados nas suas leituras, mas a maioria mostrava sinais de exaustão, como se estivessem há várias noites sem dormir.
— Sei que os pesquisadores parecem muitos esforçados — Adie falou quase em um sussurro — mas parece que vão colapsar a qualquer momento.
— Aqueles que vieram nos ajudar são bastante esforçados, não posso negar, mas nós temos trabalho muito nos últimos meses. As vezes precisamos passar algumas noites em claro para dar conta de tudo. Todos estão fazendo o melhor que podem para contribuir com as pesquisas.
Adele não duvidava, sem dúvidas aquela era uma tarefa bem árdua. A responsabilidade de encontrar a cura para qualquer doença era terrivelmente grande e pesava nos ombros daqueles que queriam encontrar a solução. Pelo que ela soube, todas as pesquisas e testes feitos até aquele momento tiveram poucos resultados, ninguém tinha conseguido nada que pudesse de fato combater os efeitos da misteriosa doença.
Ela respirou frustrada. Se ela ao menos pudesse ver logo os infectados, talvez fosse algo simples de resolver e ficar ali era como perder um tempo precioso para quem estava doente.
Não é que ela culpasse os pesquisadores ou até mesmo os líderes que estavam ali, aquela era uma situação nova para eles e mesmo depois de meses eles não pareciam nem perto da solução. Ela esperava contribuir de alguma forma.
— O que mais você sabe fazer? — Maeline perguntou.
— Herbalismo, primeiros socorros... nem sei... acho que tudo tem a ver com o mesmo. Não sei nada de especial fora dessa área — Adele respondeu tranquilamente — Enfim, posso tentar ajudar com coisas mais simples também.
— É bom ter alguém com vários conhecimentos e disposta a ajudar por perto — Maeline parecia muito mais animada do que Adele esperava — Mas continuando a falar sobre o Centro de Pesquisa... Todo o nosso trabalho aqui está sendo financiado pelo lorde Gawain.
— Sim, o possível Lorde do golpe — Adele deu de ombros e Maeline suspirou.
— Sim — a feérica ficou visivelmente mais abatida depois desse comentário — Eles providenciam os recursos para manter o centro funcionando e o responsável pelo centro é o Conway. Ele é bastante comprometido com o trabalho que fazemos aqui e se dedica bastante as pesquisas, mas ele está ficando cada dia mais obcecado com o próprio trabalho. Passa horas e horas concentrado apenas nisso. Às vezes eu me pergunto se ele sai daquele escritório em algum momento... quero dizer, ele sai quando realmente não dão outra opção para ele, mas...
— Você vai mesmo ficar reclamando sobre as minhas horas de trabalho, Maeline? — Conway apareceu quase sorrateiramente de perto de umas estantes.
— Mestre Conway! — Maeline praticamente pulou para trás ao ouvir a voz do elfo — Desculpa Mestre, eu não quis ofender.
Olhando bem para Conway, Adele percebeu o quanto ele parecia diferente do que na noite anterior. Seu semblante estava extremamente sério e seu olhar era firme. Adele se preocupou momentaneamente que ele fosse dar uma bronca em Maeline, mas ele apenas suspirou resignado, como se já estivesse acostumado a ouvir aquele tipo de comentário.
— Não se preocupe com isso — Conway respondeu, mas seu ar saiu cansado fazendo o semblante de Maeline cair um pouco mais.
O clima de repente pesou e a tensão pareceu palpável, como se uma tempestade emocional estivesse prestes a desabar a qualquer momento.
— É raro vê-lo por aqui Mestre, como posso ajudá-lo?
— Só preciso conferir alguns relatórios com os pesquisadores — ele passou a mão pelo pescoço, tentando melhorar a tensão — Procurei no meu escritório, mas não encontrei alguns.
— Não estão lá? — Maeline perguntou preocupada — será que esqueci de levá-los até lá...? Droga, eu acho que a culpa é minha, mas não se preocupe, eu vou resolver isso imediatamente.
— Eu cuido disso — apesar da expressão séria, sua voz saiu compreensiva — pode se concentrar em outras tarefas.
Adele ficou de canto, vendo o desenrolar da cena se sentindo um pouco deslocada daquilo tudo, até que finalmente, depois de todo aquele tempo, Conway prestou atenção nela.
— Peço desculpas pelos meus péssimos modos — ele falou com a voz amena — seja bem-vinda ao Centro de Pesquisas. Agora, se me dão licença, eu preciso cuidar de outras coisas.
E assim, ele passou pelas duas e seguiu pelos corredores sem ao menos esperar uma resposta de Adele.
— Não acredito que esqueci de separar aqueles relatórios — Maeline encostou em uma das prateleiras — estou tão ocupada ultimamente que está sendo difícil dar conta de tudo... enfim, isso não importa agora. Venha, irei te mostrar o laboratório, que acredito que seja o lugar que você está querendo conhecer.
Apesar de ser, de certa forma, verdade o que Maeline havia dito sobre ela querer conhecer o laboratório, tudo o que se passava na cabeça de Adele era a terrível vontade de ir até o centro de infectados, o que mais ela poderia fazer ali? Talvez ela pudesse dispensar Maeline e seguir seus estudos pelos livros? Enquanto elas finalmente tentavam chegar no laboratório, elas ouviram uma pequena explosão.
— Ah, de novo não... — Maeline suspirou, negando com a cabeça.
— O que foi isso? — Adele perguntou curiosa.
— Alguém deve ter feito bagunça no laboratório de novo.
— É normal isso acontecer? — Adie arqueou uma sobrancelha.
— Infelizmente tem sido bem comum — a feérica respondeu — nós temos trabalhado dia e noite para tentar encontrar uma cura, ou pelo menos algo que possa controlar a doença. A maioria dos pesquisadores já estão bastante cansados, mesmo assim estão se esforçando para continuarem trabalhando.
— Então é óbvio que esse tipo de acidente irá acontecer — Adie respondeu, o que fez a feérica arquear uma sobrancelha — Veja bem, a exaustão faz com que os pesquisadores percam o foco e isso pode ser um combustível para que eles errem algum ingrediente ou fórmula, gerando assim uma maior probabilidade de acidentes.
— Tem razão — Maeline respondeu — É melhor eu ir até lá, alguém pode ter se machucado.
Assim que as duas entraram no laboratório, puderam ver uma bancada extremamente bagunçada e com vários frascos quebrados. O cheiro de agrião estava forte e Adele, ao invés de se preocupar com o que ela poderia fazer para ajudar, inicialmente apenas tentou olhar o que havia nos frascos, mas sem de fato encostar neles.
— Vocês estão usando agrião?
— É para a tosse — Maeline respondeu — os doentes têm tossido muito e parece que o agrião ajuda.
Ela se virou para uma mancha escura que cobria parte da bancada e do chão, provavelmente aquele era o resultado da explosão que ouviram. Felizmente, parecia que as pessoas ali não tinham se machucado muito, apenas alguns cortes por causa dos frascos quebrados. Maeline mandou todos para a enfermaria para cuidar dos ferimentos e encarou a bagunça no laboratório.
— Vou ter que dar um jeito de arrumar isso tudo — Maeline deu um suspiro cansado e começou a juntar os cacos espalhados pelo chão — além disso, preciso ver o que foi quebrado e preencher um formulário para pedir mais material para repor o que foi perdido.
— Vocês não têm outras pessoas para cuidar disso? — Adele perguntou — E por favor, Maeline, coloque uma luva.
— Luvas? Para quê? — ela perguntou parando momentaneamente.
— Presta atenção, o que vocês fazem aqui é importante e usar luva é uma precaução — Adie falou como se tentasse explicar o óbvio para uma criança. Como era possível que não entendessem a importância de usarem uma simples luva? Vendo a cara de confusão da jovem feérica, ela resolveu continuar sua explicação — Algumas substâncias, mesmo sendo naturais podem causar reações alérgicas ou irritações na pele, além disso, mesmo organismos naturais podem conter microrganismos prejudiciais, como bactérias ou fungos, que podem ser transmitidos para a pele e causar infecções. Agora vamos pensar no experimento em si e nos pacientes, não usar uma luva e não manter uma boa higienização pode levar a contaminação cruzada, onde os resíduos dos ingredientes podem se acumular nas mãos e serem transferidos para outros materiais ou superfícies, afetando a precisão do experimento e podendo colocar em um risco maior os nossos pacientes. Usar luvas também é uma precaução para proteger o experimentador. Em alguns casos, os ingredientes podem ser corrosivos, tóxicos ou reativos em determinadas situações, e as luvas fornecem uma barreira física que reduz o risco de contato direto com a pele.
Maeline observou Adele por um longo período, com a boca entreaberta e olhos arregalados. Eventualmente, ela se ergueu e apanhou um par de luvas que, para a surpresa de Adele, eram simples luvas de borracha, muito semelhantes à borracha nitrílica, e incrivelmente parecidas com as utilizadas na Terra.
— Se vocês têm luvas, por que não a usam? — Adele perguntou espantada.
— Conway já nos havia dito para usar — ela admitiu — não explicou tantas coisas como você, acho que não falou nem metade.
— E por que não o ouviram? — ela voltou a perguntar — deveriam ter obedecido.
— Não achei que tivesse realmente todos esses riscos, mas com você falando agora, me pareceu bem sério.
— Vocês não têm outra pessoa para cuidar da limpeza? — Adie preferiu trocar de assunto. Se ela fosse arrumar tudo o que parecia errado ali, ela estaria perdida e aparentemente o único que entendia um pouco sobre o que estava fazendo era Conway, que parecia lotado de coisas para fazer.
— Outras pessoas para limpar essa bagunça? — Maeline perguntou ao se abaixar de novo — Infelizmente estamos com poucas pessoas aqui no momento e eu preciso garantir que nada atrase o trabalho dos pesquisadores, então eu acabo ajudando com essas pequenas coisas.
Ela voltou a se concentrar na limpeza enquanto Adele apenas repensava nas suas opções, mas no fim, ajudá-la parecia sem dúvidas o mais natural. Maeline sem dúvidas precisava de apoio e naquele momento, Adie podia proporcionar isso para ela. Pacientemente Adie pegou uma luva, sentindo o toque da borracha contra a pele e segurou a saudade que sentiu da sua casa. Ela se abaixou e começou a ajudá-la a recolher os cacos.
— Você não precisa fazer isso, Adele — a feérica retrucou — pode deixar que eu cuido disso.
— Pode me chamar só de Adie — Adele sorriu para Maeline — e não me custa nada ajudar. Vamos conseguir arrumar as coisas mais rápido se dividirmos o trabalho.
Maeline relaxou visivelmente e sorriu para Adele. Maeline naquele momento, sentiu um grande apreço pela jovem humana, de um jeito que nunca havia sentido por outro humano que não fosse Anna.
— Obrigada, Adie.
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