1 ⌘ 𝕿𝖗𝖆𝖎𝖈𝖆𝖔 ⌘
PERSONAGENS INSERIDOS NESSE CAPÍTULO:
╭═────═⌘═────═╮
⌘Adele: Humana⌘
╰═────═⌘═────═╯
╭═────═⌘═────═╮
⌘Aisha: Humana⌘
╰═────═⌘═────═╯
╭═────═⌘═────═╮
⌘Dário: Humano⌘
╰═────═⌘═────═╯
╭═────═⌘═────═╮
"O mundo já está cheio de feridas e infortúnios mesmo sem guerras para multiplicá-los." – J.R.R. Tolkien
╰═────═⌘═────═╯
╭═────═⌘═────═╮
— Adele, acorda — Adele abriu os olhos com dificuldades ao escutar sua irmã chamando-a, olhou ainda com os olhos embaçados para fora da janela e bocejou.
Ela havia dormido de novo sentada na cadeira de sua escrivaninha da biblioteca enquanto estudava.
Adele e Aisha eram irmãs gêmeas e suas semelhanças pareciam ir muito além de suas peles negras e olhos amendoados. As duas igualmente tinham mais de 200 de QI, apesar de igualmente não se considerarem tão inteligentes assim.
— Você não pode continuar vivendo desse jeito — Aisha reclamou encostando no ombro da irmã — Vamos, você precisa ir se deitar.
Adele não reclamou e nem resmungou, apenas deixou seu corpo se arrastar pelo corredor até seu quarto.
Ela precisava seguir com a sua pesquisa e praguejou baixo pela falta de horas no seu dia. Ela caiu na cama e dormiu sem nem mesmo ajeitar o corpo. Sua noite foi agitada e seu sono inquieto. Ela estava com febre, sabia que estava, mas nem tentou se levantar para resolver a situação. Quando acordou, já era quase hora do almoço e sentiu como o mau humor aumentava. Ela não acreditava que tinha dormido tanto.
Sentiu o cheiro do almoço sendo feito e irritada consigo mesma foi tomar banho para acordar de vez.
Quando voltou para perto da cama, notou o sol penetrando através da cortina e suspirou. Apesar de ter acordado tarde, ela seguia extremamente cansada.
A dor em sua perna inexistente começou a ficar presente de novo. Ela odiava aquilo, dor fantasma. A irritação aumentou, não queria ir ao médico, lembrava bem dos olhares estranhos em sua direção toda vez que ela relatava esse tipo de dor.
— Bom dia, Adie — sua irmã a cumprimentou assim que ela entrou na cozinha.
— Bom dia, Ash — ela respondeu tentando controlar o humor — você deveria ter me acordado.
— E você deveria descansar mais — Aisha resmungou — ao menos se lembra que teve febre durante a noite inteira?
Ela lembrava, lembrava de haver acordado sentindo a boca ressecada e com um gosto amargo. Lembrava de sentir a pele pegajosa e ter dores no corpo ao tentar se mover.
Sua irmã havia cuidado dela, enxugou sua testa diversas vezes durante a noite e pacientemente ajudou ela a tomar os remédios, mesmo que seus lábios tremessem mais do que um terremoto de alta escala. Adie suspirou.
— Obrigada por cuidar de mim — ela encostou na mesa e fechou os olhos.
— Adie, me escuta — sua irmã abaixou na sua frente para que pudesse olhar em seus olhos — Sei que está frustrada, que está tentando e sei que se dará muito bem. Você só tem dezenove anos, é uma menina prodígio e deveria se orgulhar, mas não deveria deixar de viver por isso.
— Olha só quem fala, a menina que fez um projeto de nervos artificiais em tempo recorde com 18 — Adie riu de maneira fraca.
— E tive a sua ajuda para isso, mas você se recusa a aceitar ajuda. Passei por isso há um ano atrás e lembro do quanto era difícil... me deixa te ajudar, Adie, por favor.
— Eu preciso fazer isso sozinha — Adie virou os olhos para o outro lado — quero que o papai se orgulhe de mim.
— Ele sempre esteve orgulhoso de nós duas — Aisha acariciou as costas da irmã – ele nunca deixou espaço para duvidarmos disso.
— Acha que ele virá para a minha defesa? — Adie não queria criar esperanças, seu pai estava sempre viajando, sempre ausente...
— Eu não sei — Aisha falou sinceramente — mesmo assim, sei que não sou o papai, mas eu vou estar lá, com certeza. Vou fazer um cartaz cor de rosa com margaridas para te apoiar.
— Você não está louca — Adie riu, mas seu riso durou pouco — minha perna dói. Consegue ver isso para mim, Ash?
— Para minha irmãzinha? Sem dúvidas.
— Temos a mesma idade, boba — Adie revirou os olhos — vamos comer.
— Sim, depois você deveria voltar a descansar, mas como sei que você não vai me ouvir e vai se enfiar no laboratório do papai para seguir estudando, fiz algumas coisas para você poder comer nas suas escassas pausas. Eu deveria inutilizar sua perna para ver se assim você para um pouco.
— Eu ainda posso usar o cabo de vassoura para me apoiar.
— Você não é uma máquina, sabia? — Aisha se levantou e colocou as duas mãos na cintura.
— Minha perna discorda disso — Adie falou e as duas acabaram rindo de novo.
— Aproveitando — Aisha colocou um prato na frente da irmã e se sentou — hoje vamos ter uma recepção aqui para o setor de robótica.
— Ah, não Ash — Adie já se prontificou — você não espera que eu fique com vocês, não é?
— Não sou eu que estou pedindo. O Dário virá e quer te ver.
Pensar nele fez Adie ter um novo interesse na festa, estava com saudades de passar um tempo com o namorado.
— Melhor não criar expectativas — Adie suspirou ao lembrar de novo a quantidade de coisas que ainda tinha para fazer — irei falar que não vou, mesmo assim vou tentar arrumar um tempo para descer, pelo menos dar um oi para ele.
Aisha sorriu para a irmã e acenou com a cabeça. O restante do almoço passou tranquilo e Adele subiu novamente para o laboratório. Deixou seus dedos passarem pela prateleira de livros de pesquisas do seu pai deixando a saudade apertar um pouco mais. Ela sabia que seu pai não tinha muitas escolhas, sua profissão exigia esse tanto de viagens e ela sabia que não era muito maduro ela reclamar daquilo. Olhou a lombada de um livro conhecido e sorriu, mas não o tirou do lugar.
O tempo de nostalgia havia acabado e ela precisava retomar o trabalho.
O dia, como sempre, passou muito mais rápido do que ela havia previsto. O barulho do que deveria ser uma pequena recepção começou a atrapalhar sua concentração. A festa sem dúvidas estava boa. Ela olhou a hora no canto da tela do seu notebook e se espreguiçou, nove horas da noite, talvez fosse uma boa ideia ir pelo menos dar um oi para todos.
Escutou sua barriga roncar e lembrou que não tinha comido o lanche que sua irmã tinha feito. Ela tinha esquecido de pegar durante o almoço e decidiu que iria buscá-lo mais tarde, mas não o fez.
Olhou para a própria roupa e deu de ombros. Ela estava usando uma camiseta regata e um short. Primeiro ela pensou em colocar uma outra roupa, mas desistiu. Arrumou a mala grande que ela colocava materiais e ferramentas para as suas pesquisas e deixou de canto. Ela iria para a universidade no dia seguinte e seria bom manter tudo preparado.
A música estava alta, e apesar de ninguém parecer de fato bêbado, estava mais do que claro que alguns estavam um pouco alterados.
Ela não curtia muito essas festas e sabia que Aisha também não, mas elas precisavam manter as relações e contatos com as outras áreas da faculdade. As duas queriam seguir com as suas pesquisas e para isso, se manter na universidade após acabar seus estudos era o meio mais seguro.
— Ah, você veio! — Aisha correu e deu um abraço apertado na irmã — Você comeu?
— Ainda não — Adie respondeu um pouco sem graça — esqueci de subir com o lanche. Vou comer daqui a pouco, prometo. Você viu o Dário por aí?
— Ah — Aisha deixou o semblante cair um pouco — ele ficou bravo quando eu disse que você não desceria e sumiu. Acho que foi embora.
— Ele podia ao menos ter ido me dar um oi — Adie deixou os ombros caírem um pouco — era só um pequeno lance de escadas, pelo menos para me avisar que tinha chegado. Eu teria tentado descer antes. Vou procurar ele, talvez ele ainda esteja por aqui — ela deixou sua irmã ainda no salão e saiu para o jardim. O ar estava gelado e seu corpo arrepiou inteiro. Ela deu uma volta rápida e desistiu de procurá-lo ali fora, talvez ele tivesse ido embora mesmo e ela precisava no mínimo colocar uma blusa se quisesse procurar ele na parte da piscina.
Deixou que seus pés seguissem pela grama até perto da entrada quando escutou o nome de uma mulher falando baixo.
— Dário, aqui não — escutar o nome dele sussurrado assim fez seu coração quebrar.
Ela tinha duas opções, entrar e fingir que não tinha ouvido nada ou ir até onde ela tinha ouvido essa pequena frase. A razão lhe dizia para ir até lá e depois esquecê-lo, mas seu emocional dizia para ela entrar e fingir que não tinha acontecido nada.
Com suas pesquisas, ela e Dário se viam cada vez com menos frequência, mesmo assim ela sempre tentava arrumar um tempo para ele, a única pessoa que ela fazia questão de realmente conseguir esse tempo, era ele, além da sua família.
Com um frio na barriga intenso e um tremor no corpo que já não era resultado do frio, ela chegou até o canto da voz. Dário estava tão entretido beijando o pescoço da moça, que nem havia notado Adele chegar.
— Talvez vocês queiram um quarto? — sua voz saiu muito mais fria do que ela esperava — temos vários disponíveis.
— Adie? — Dário empurrou a menina com tanta força que por um segundo Adele achou que a moça iria chorar. Ela estava seminua, o que a deixou com vergonha, fazendo-a se arrumar rapidamente e correr dali sem nem falar nada para o Dário.
— Minha irmã tinha me dito que você viria, arrumei um tempo para descer — ela falou olhando para ele. Em seu interior a raiva e a tristeza ameaçava afogá-la, mas ela fez o possível para não demonstrar isso.
— Eu não queria... — ele começou gaguejando. Típico de quem estava tentando arrumar uma desculpa qualquer. Isso a fez se irritar ainda mais, se ele achava que arrumar qualquer desculpa o ajudaria, sem dúvidas Dário não a conhecia.
— Não queria o que? Me trair? — ela falou já se virando para ir embora — parabéns, agora pode ficar com quem quiser.
— Adie, espera — ele a chamou, mas ela seguiu andando — Adie, volta aqui!
Adie entrou no salão cheio deixando o ar quente aquecer seu corpo. Alcançou as escadas com certa dificuldade, mas antes que ela pudesse sequer subir o primeiro degrau, Dario a alcançou e a puxou de volta pelo braço.
— Eu mandei você esperar — ele gritou fazendo com que todos os olhares se voltassem para eles.
— Não precisa gritar, eu escutei perfeitamente, mas como você não manda em mim, resolvi que não queria obedecer. Agora me solte que voltarei para as minhas pesquisas.
— Viu só? Esse é o problema — ele gritou de novo — você está sempre ocupada com essa maldita pesquisa.
— Sério que você vai jogar a culpa em mim agora? — ela arqueou uma sobrancelha ciente da vergonha que estavam passando, pôde ver de canto até algumas pessoas com celulares em suas mãos e suspirou — depois do que eu vi você vai tentar me convencer que a culpa é minha?
— Você nunca tem tempo para mim, nunca quer sair... e quando sai está sempre cansada ou falando dessa droga dessa sua pesquisa e das merdas de curas de doenças que eu não dou a mínima.
Adele sentiu o sangue ferver... droga de pesquisa?
— Engraçado que quando eu te perguntava, você sempre falava que estava tudo bem. Quando disse que deixaria a pesquisa e daria um tempo nos estudos você disse que eu não deveria fazer isso. Quando disse que podíamos passar um fim de semana fora, você disse para eu não me preocupar que você entendia o fato de eu estar cansada e do importante que era essa pesquisa para mim. Então, como do nada isso virou um problema?
— Eu achei que você fosse inteligente e entenderia que eu não estava sendo sincero — ele forçou o dente — queria que você quisesse me dar prioridade, mas a pesquisa sempre vinha primeiro.
— Você que não foi sincero e a culpa é minha? — ela questionou — posso ser inteligente, mas não tenho bola de cristal, Dário. Quando há algo errado, um diálogo costuma resolver.
— Então vamos conversar? — ele cruzou os braços — vamos ter esse diálogo que você tanto quer. Vamos começar falando o porquê você não está com uma calça?
Adele olhou para baixo, vendo seu short um pouco curto realmente. Uma das suas pernas inteira a mostra e a outra mostrando a prótese com nervos artificiais que a sua irmã havia criado.
— E o que a minha roupa tem a ver com tudo isso? — Adele encostou no corrimão e esperou.
— Eu não gosto quando você usa shorts — ele falou — não gosto quando mostra sua perna mecânica porque muitos perguntam se eu estou com você por pena.
— E está? — Adele olhou para ele.
— Você sabe que não — ele falou alto de novo — mas droga, ninguém precisa saber que a minha namorada não tem a droga de uma perna.
— Vai embora, Dário — Adele falou respirando fundo — sai da minha casa.
— Você não queria conversar? — ele a puxou de novo — disse que um diálogo pode resolver.
— Primeiro, isso não é um diálogo, é só mais uma das nossas brigas e o diálogo resolve antes da merda toda acontecer. Você já deixou a merda acontecer.
— Dário, sai daqui — a voz da Aisha chegou firme até nós — some da minha casa.
— Não se intromete em um assunto que não te diz respeito — Dário nem olhou para Aisha — isso é entre mim e a sua irmã.
— Não — Aisha falou — isso é um assunto que daria um processo por capacitismo e violência e se não sair da minha casa, irei chamar a polícia.
Ele olhou de maneira raivosa primeiro para Adele, mas vendo que ela não o defenderia, ele a soltou.
— Vou esperar você se acalmar para conversarmos — ele não deixou tempo para que ninguém respondesse e abriu caminho entre todos os presentes, indo embora da festa.
— Você está bem, Adie? — Aisha perguntou.
— Vou voltar para o laboratório para seguir com a minha pesquisa — assim que ela viu Dário sumir da sua frente, a vontade de chorar se instalou nela... "ninguém precisa saber que a minha namorada não tem uma perna", aquilo doeu muito mais do que ela gostaria de admitir.
— Não se tranque, Adie. Vamos conversar — Aisha insistiu.
— Obrigada por me ajudar, mas não se preocupe, eu estou bem — Adie sorriu para a irmã e o esforço fez com que a primeira lágrima rolasse por seu rosto — eu só preciso ficar um pouco sozinha.
— Se precisar, me promete que irá me chamar? — Aisha não estava convencida de que seria o melhor para Adele ficar sozinha, mas também queria respeitar a vontade da irmã. Aisha não poderia proteger sua irmã de tudo, por mais que quisesse fazê-lo.
╰═────═⌘═────═╯
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro