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O Viajante - Capítulo XXXV - Mikael - Abril de 1973

O sangue começou a gotejar do nariz do Wolfgang. Isso já tinha acontecido mais cedo, naquele mesmo dia. Eu sabia que era relacionado ao fenômeno que enfrentávamos, mas isso não me impedia de ficar preocupado.

Agachei ao lado dele, toquei a parte de trás da sua cabeça e a empurrei, com leveza, para frente, de modo que ele abaixasse o rosto.

O sangue escapava por entre seus dedos. O Wolfgang me olhou com o canto dos seus olhos escuros.

Senti tristeza por o ver sangrar mais uma vez.

Levi levantou, entrou na casa com pressa e voltou com um rolo de papel higiênico em mãos. Ele o entregou para Wolfgang, que tirou um pedaço do papel e o colocou contra o nariz.

Isabelle o encarava com preocupação.

Ficamos em silêncio por um tempo. Minhas mãos ainda estavam contra a sua cabeça, os fios negros do seu cabelo cobriam os meus dedos.

Não conseguia mais negar que o que sentia por ele era amor, embora não entendesse por que me apaixonei.

— Sua mãe tá envolvida nisso, então? — Levi quebrou o silêncio.

— Eu não sei. — A voz do Wolfgang estava anasalada por causa do papel que apertava o nariz. Seu rosto estava vermelho devido ao choro e os olhos estavam marejados. — Mas ela me viu e falou comigo.

— É melhor você não falar agora, Wolfgang. — Eu disse com calma. Ele devia ficar parado e quieto para o sangramento diminuir.

Isabelle levantou, foi até a cadeira em que ela estava sentada e pegou umas fotografias que deixou ali. A jornalista entregou as fotos para Levi e sentou na cadeira.

— Ué, gatinha, por que essas fotos tão pretas? — O mecânico perguntou.

— Não sei. O rapaz que revelou disse que as câmeras não tiram fotos quando não tem luz e que, mesmo quando alguém tira uma foto no escuro, elas não saem pretas desse jeito. — Ela explicou. Levi levantou, veio até mim e entregou as fotografias. Eu tirei a mão da cabeça do Wolfgang para pegá-las.

Segurei as imagens de forma que tanto o rapaz de cabelos pretos quanto eu pudéssemos enxergar o que havia nelas.

A primeira foto era da rua 18, tirada em frente a Alves Discos. A segunda também era da tal rua, tirada da esquina.

A terceira estava toda preta. A quarta e a quinta também.

— Cacete. — O Wolfgang falou. Eu fiquei em silêncio. Minha cabeça estava zonza de tantas informações.

— Seu relógio voltou a funcionar, Levi? — Isabelle perguntou.

— Sim. Depois que tudo voltou ao normal, ele funcionou. — Levi respondeu.

— O meu também. — Ela olhou para o Wolfgang. — O relógio para, as fotos não saem… É estranho. Parece que aquela… Coisa não existe.

O Wolfgang franziu a testa e fez uma expressão incômoda no olhar.

— O que foi? — Perguntei.

— Nada… — Ele afastou o papel higiênico do nariz. — Porra… Pensar nisso tudo me assusta.

— Se eu entendi direito, você viaja pro passado e sua mãe tá envolvida nisso. — Repassei as informações de forma lenta para que eu mesmo as entendesse.

— E ele impediu o acidente. — Isabelle continuou. — Quando a gente vai na rua 18 e, aquela coisa de luz verde e neblina acontece, todos os registros de lá somem. As fotos saem totalmente pretas, o relógio para…

— E ninguém vê. Aqueles cornos, que falaram que a gente tava drogado, só viram a gente desmaiando. — Levi comentou.

— Ainda tem muita coisa sem resposta. — A moça falou olhando com o canto dos olhos para o mecânico. Levi a contemplava com paixão. Ele podia se apaixonar sem qualquer dúvida ou medo, invejei-o por isso.

— Eu vou voltar naquela merda de rua. — A voz do Wolfgang soou como um chiado irritado. — Não quero saber das consequências, eu quero descobrir o que aconteceu com a minha mãe.

E quem poderia julgá-lo por isso? Porém, eu tinha medo do que poderia acontecer.

— Tá, a gente vai. Mas precisamos de um tempo. — Isabelle falou com calma.

— Você, principalmente, Wolfgang. — Eu precisava falar aquilo, mesmo que isso o irritasse. — Ontem você cortou sua mão e demorou pra parar de sangrar e hoje, teve uma convulsão e foi pro hospital. Sem contar as hemorragias nasais.

Levi e Isabelle o olharam com certa surpresa.

— Você sabe que é tudo por causa dessa merda! — A voz do magro rapaz sibilou de forma irritada e seus olhos negros me olharam com raiva.

— Eu sei. Mas o seu corpo sofre com isso. — Busquei ser paciente para não aumentar a sua raiva. — Você pode ter sequelas.

Estranhamente, a raiva se desfez do seu semblante e ele só assentiu.

— Não brinca com a sorte, não, moleque. — Levi alertou.

— Vamos dar um tempo pra você se recuperar, Wolfgang. — Isabelle se posicionou.

— Uma semana. — Wolfgang disse com firmeza.

— Só uma semana? — Indaguei.

— É, só uma. — Reiterou. Eu sabia que não dava para insistir muito mais que aquilo.

Um silêncio pairou no ar. Olhei para o Wolfgang e ele me olhou de volta. Seus olhos demonstravam medo.

Não conversamos muito mais. Tínhamos feito uma descoberta importante: o Wolfgang foi para o passado e salvou nossas vidas. Isso soava absurdo e ridículo, mas todos nós víamos aqueles fenômenos com nossos próprios olhos.

Antes de ir embora, reforcei com o Levi que iria conversar com o doutor Antônio sobre a sua mãe.

O Wolfgang e eu seguimos em silêncio por grande parte do percurso até sua casa.

Ao chegarmos, nos deparamos, como sempre, com o Wilhelm na sala, ouvindo rádio.

O cumprimentei com um aceno de cabeça. Ele retribuiu o gesto e encarou o Wolfgang.

— Sentiu mais alguma coisa hoje? — Perguntou ao filho. Eu achava o Wilhelm um bom pai. Bem diferente do Isaac. Eu nem mesmo sabia que um pai podia amar um filho até o conhecer. Sempre pensei que só as mães os amassem, enquanto os pais os viam como uma obrigação.

— Não, tá tudo bem. — O Wolfgang respondeu. A única pessoa capaz de o amansar era o Wilhelm.

Os olhos do estrangeiro foram até mim.

— Mikael, conversei hoje com um colega lá na fábrica que tá com uma casa pra alugar.

Aquela informação agitou o meu peito com esperanças.

— O nome dele é Luís. Falei que você vai amanhã à tarde olhar a casa. Consigo escapar do trabalho pra te mostrar onde é. — O austríaco continuou. Eu nem mesmo encontrava palavras para o agradecer. Fiquei sem reação por alguns segundos antes de conseguir responder o pai do Wolfgang.

— Ótimo! — Eu estava paralisado pela surpresa, enquanto meus lábios formavam um sorriso involuntário. — Muito obrigado. — Só consegui agradecer com essas palavras. Eu não podia acreditar que teria um local para refugiar minha mãe e meu irmão.

Wilhelm também não era muito caloroso. O homem assentiu com o seu olhar triste e voltou sua atenção ao rádio.

O Wolfgang estava me olhando. Encarei-o com o canto dos olhos e ele sorriu. As covinhas se evidenciaram. Eu gostava desse detalhe em seu rosto e era impossível não sorrir em resposta.

Se ele fosse uma mulher, com certeza eu diria a essa moça que a amava. Pediria ela em namoro e, caso ela aceitasse, após meros meses, faria dela minha noiva. Com toda a convicção de que eu não me arrependeria de nada.

Mas o Wolfgang era um homem.

Por que eu me apaixonei tanto por um homem? Não estava certo, nunca imaginei que eu fosse homossexual. Já namorei mulheres no passado e eu as desejava.

E, ainda que eu fosse gay, que futuro teríamos? Minha mãe não aceitaria e o Wilhelm, provavelmente, também não. O que eu mais queria era salvar a Sara das mãos do Isaac. E o Wilhelm era tudo para o Wolfgang. Ele sofreria se fosse rejeitado pelo pai. Nós dois afundaríamos em dor nesse cenário.

O Wolfgang desviou os olhos e foi em direção ao seu quarto. Aproveitei a deixa para ir à cozinha e comer alguma coisa.

Me alimentei e preferi ir tomar banho. Era sempre delicado dividir o quarto com o Wolfgang. Desde o que aconteceu entre nós, eu evitava passar muito tempo acordado lá dentro.

As lembranças daquela noite eram guardadas cautelosamente em um espaço da minha memória que eu evitava alcançar.

Acelerei o banho e me arrumei rapidamente para evitar lembranças dos momentos íntimos que tive com Wolfgang. Tudo ao redor trazia pequenas ameaças de recordações.

Apoiei os braços na pia e tentei respirar com calma. As lágrimas pesaram em minhas pálpebras e percorreram pelo meu rosto. Me senti ridículo por isso.

Eu estava chorando porque eu o amava. Porém, era cruel e irresponsável dar vazão ao meu amor. Apesar disso, não deixava de ser doloroso o olhar, perceber um sentimento recíproco em seus olhos, e meramente o ignorar. A sensação era de ter aprisionado um animal que lutava para ser livre e ouvir os seus uivos clamando por liberdade a todo momento.

Além disso, o Wolfgang estava ressentido comigo. Até ele mesmo foi vítima desse sentimento que eu nutria.

Esperei as lágrimas cessarem, limpei o rosto e fui até o quarto.

Para o meu alívio, o Wolfgang já estava dormindo quando entrei. Me apressei em guardar as minhas roupas na mala e me deitei no colchão, tentando esquecer que foi nele que transamos e, depois do sexo, dormimos juntos, há algumas noites atrás.

Foi difícil conter a ansiedade no dia seguinte. Saí para caminhar de manhã para que meu corpo parasse de tremer pela expectativa de alugar a casa do amigo do Wilhelm.

Pouco depois do almoço, o pai do Wolfgang chegou em casa. Nós dois fomos andando até o imóvel do tal Luís.

— Você e o Wolfgang brigaram? — Wilhelm indagou enquanto caminhava e fumava. Um vento suave levava a fumaça do cigarro embora.

— Não. — Respondi surpreso com a pergunta. Temi que ele pudesse desconfiar que algo aconteceu entre nós. — Por quê?

— Ele anda muito distraído. — Seus olhos azuis me fitaram de relance. — E triste. Meu filho sempre fica assim quando briga com alguém que gosta. Inclusive, comigo.

— A gente… Não brigou. — Senti uma inquietação se formando no meu peito. Tudo isso aconteceu pelo meu descontrole naquela noite. Era tudo minha culpa. — Posso falar com ele pra ver se tá tudo bem.

Wilhelm assentiu e olhou para o horizonte com tristeza, tragando o cigarro e soltando a fumaça em seguida.

— Eu tô preocupado com a saúde do Wolfgang... — Ao austríaco confessou. — Você tem alguma ideia do que ele tem?

Eu sabia que as convulsões eram por causa do fenômeno sobrenatural. Mas os sangramentos me preocupavam. Mesmo que também fossem por causa daquela coisa estranha, seu corpo sofria as consequências, podendo até desenvolver uma grave anemia.

— Acho que é o que o doutor Antônio falou. — Menti. Era amargo mentir para o Wilhelm, eu o respeitava muito. — A gente tem que esperar o resultado do exame.

O homem não respondeu. Em meio aquele silêncio, senti um nó na garganta.

— Eu tô aqui pra ajudar ele, seu Wilhelm. — Meus olhos marejaram. Eu não podia amá-lo, mas ao menos me era permitido protegê-lo.

O pai do Wolfgang esboçou o seu sorriso triste e nos calamos.

Não demorou para alcançarmos a residência. Ela ficava há um quarteirão da casa do Wilhelm. O Luís, dono do local, aguardava na frente do imóvel.

Tratava-se de uma casa bem pequena. Era cercada por um muro baixo de concreto e tinha um portão pequeno e de grades pintadas de azul.

Wilhelm se despediu de nós e foi embora, ele precisava voltar ao trabalho e Luís me guiou para dentro da casa para me mostrar sua estrutura.

As paredes da casa eram azul celeste. A porta da frente era de madeira, recém pintada de branco. As janelas eram grandes, também de madeira e tingidas da mesma cor. A sala de estar era pequena e com o chão coberto por cerâmica cor de creme, cujos detalhes florais estavam desbotados. Havia uma ampla abertura da sala para a cozinha, que ostentava alguns armários pregados na parede e uma pia. Uma porta, aos fundos da cozinha, dava para a diminuta área de serviço, totalmente apertada e com um tanque de concreto.

Um corredor curto que iniciava na sala, se ramificava em três portas, também pintadas de branco. Uma no meio, que era a do banheiro, uma à esquerda e outra à direita. Ambas davam para quartos pequenos e idênticos.

Era uma residência bem pequena, mas perfeita para as minhas necessidades.

Acordei um valor com o Luís e, dali três dia, o encontraria para assinar o contrato de aluguel e resolver demais pendências burocráticas. Eu também iria precisar fazer alguns reparos na casa, mas isso não era um problema.

Há muito tempo eu não sentia tanta felicidade quanto senti ao fechar o negócio com o dono da casa.

Entretanto, a felicidade era um sentimento perigoso. Eu queria contar para o Wolfgang sobre a casa, porém as minhas ações corriam um grave risco de serem descuidadas por causa da alegria. O meu autocontrole era crucial, eu já tinha o feito sofrer demais.

Era tarde da noite quando ele foi dormir. Eu estava acordado, sentado no colchão. Não sabia exatamente se era por causa da euforia ou porque eu queria falar com o rapaz.

Wolfgang parou, em silêncio, diante da sua cômoda de roupas e olhou para a fotografia dos seus pais.

Não quis interromper o momento, apenas o observei.

Ouvi ele fungar discretamente, o que indicava que estava chorando. Quando o Wolfgang chorava, eu nunca sabia o que fazer. O meu desejo era o abraçar, mas não era certo.

A dor em seus olhos, quando mencionou a sua mãe na casa do Levi, marcou a minha memória. Foi doloroso assistir. Eu quis limpar suas lágrimas…

Mas não era certo.

A luz do quarto piscou rapidamente, fazendo um estalido típico de uma lâmpada que está prestes a queimar. Isso chamou a minha atenção e a dele.

— Tomara que não acabe a energia… — Ele comentou com uma voz embargada, enquanto limpava as lágrimas.

A luminosidade diminuiu e aumentou mais uma vez. E o ruído e o fulgor verde, característicos do fenômeno que envolvia o rapaz, apareceu nos milésimos de segundos em que a lâmpada falhou.

— Que porra é essa? — Ele indagou, surpreso.

— Que estranho… — Encarei-o confuso.

— Essa porra tem a ver com a minha mãe, eu tenho certeza. — Wolfgang andou até o meu colchão e se sentou na borda, mantendo certa distância de mim. — Eu tava olhando ela na foto e lembrando da voz dela quando a luz falhou.

— Sua mãe parece ser uma parte muito importante dessa história. — Inferi.

— Eu tenho certeza de que é. — Ele me encarou de relance e ficamos em silêncio.

Nada ocorreu nos minutos em que não dissemos nada um para o outro.

— Deu certo da casa? — O rapaz de cabelos pretos perguntou, quebrando a quietude.

— Eu tava te esperando pra contar. — Deixei escapar e me amaldiçoei por isso. — Daqui três dias eu assino o contrato de locação.

Ele sorriu.

— Vai tirar sua mãe e seu irmão de perto do babaca do Isaac. — Senti uma animação genuína em sua voz.

— Eu tenho que pensar em como resgatar eles dois.

— Eu te ajudo. — Wolfgang se prontificou.

— O Isaac é perigoso, Wolfgang. Não vou te colocar no meio disso.

— Eu já tô no meio disso. — O rapaz respondeu com raiva.

— Ele anda armado e disse que ia me matar se me visse de novo. Eu não duvido que o Isaac faça isso mesmo.

— Mais um motivo pra te ajudar, imbecil.

— Wolfgang, se ele tá disposto a matar o próprio filho, eu nem sei o que faria com você.

Ele não respondeu, apenas olhou para baixo.

— Vai ser estranho quando você for pra casa nova. — O rapaz falou sem me olhar.

Com certeza eu teria saudade de o ver todos os dias.

— Vai… — E eu não podia dizer a ele que sentiria sua falta.

Não era certo.

O silêncio entre nós se tornou triste. Todas as palavras e gestos contidos gritavam dentro do meu peito.

O Wolfgang se levantou, tomou o seu remédio junto de um copo de água que passou a deixar sobre a cômoda, apagou a luz, foi até a própria cama e se deitou.

Ninguém disse nada. Soltei um boa noite triste e ele respondeu com a mesma tristeza na voz.

Acordei com um barulho alto. Alguém gritava o meu nome do portão. Levantei e percebi que a luz do quarto estava acesa e a porta aberta. Calcei os chinelos e saí do quarto com pressa.

O céu estava pálido, com partes do horizonte ainda escuras. O dia estava amanhecendo.

O Wilhelm estava na sala, olhando pela porta aberta e o Wolfgang estava abrindo o portão.

Era o Levi que gritava o meu nome. Corri até os dois e o mecânico me segurou pelo colarinho da camiseta. Seu olhar estava desesperado e repleto de lágrimas. Senti apreensão ao vê-lo daquele jeito e meu coração acelerou pelo medo.

— Mikael, minha mãe tá morrendo. Me ajuda, pelo amor de Deus! — Ele suplicou aos gritos e eu assenti.

— Vem, vamos. — Falei com pressa. Não me importei em estar com uma bermuda e camiseta velha, chinelos e o cabelo bagunçado. Levi soltou a minha camiseta e acelerou o passo rua afora. Eu o segui no mesmo ritmo e não foi surpresa constatar que o Wolfgang nos acompanhou.

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