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O Viajante - Capítulo XXVI - Mikael - Abril de 1973

O corpo do Wolfgang tremia em espasmos. Seus olhos reviraram e sua boca expelia saliva. O nariz sangrava, manchando sua blusa branca.

Isabelle e Levi olhavam para ele com medo nos olhos e eu sentia dor. O Wolfgang não merecia sofrimento algum.

Toquei os ombros dele e o virei de lado para que ele não se engasgasse com o sangue e com a saliva.

— Porra, o que a gente faz? — O Levi perguntou.

— A gente precisa levar ele pro hospital que eu trabalho. — Respondi. Meus olhos embaçaram com algumas lágrimas e notei que eu estava tremendo.

— Vem, vamos. — Isabelle se levantou ao dizer isso. Ela respirava aceleradamente.

Bruscamente, o Wolfgang parou de se debater. Senti mais medo ainda, mas eu não podia paralisar por causa dele. Nunca pude.

Levei os dedos, com leveza, até o seu pescoço, sobre sua artéria carótida e senti os batimentos cardíacos pulsantes no vaso sanguíneo. Fitei o relógio na parede enquanto os contava em um intervalo de um minuto.

Senti as pulsações regulares, o que me causou alívio. O mundo ao meu redor desapareceu. Só existia o relógio, o Wolfgang e eu. O ponteiro maior se moveu e eu contei 110 batimentos. Ele estava com taquicardia, mas era esperado para alguém que convulsionava.

Seus olhos escuros abriram e o Wolfgang me fitou com um semblante confuso. O rosto estava manchado de rubro e os olhos marejados. Tirei os dedos da carótida, levemente saliente, na lateral do seu pescoço.

Seu peito arfou e ele puxou o ar em um guincho alto.

— Você tá bem? — Isabelle se aproximou de nós, ajoelhando-se ao lado do Wolfgang.

— Eu pensei que tava morto… — Ele sussurrou, esfregando a mão debaixo do nariz e espalhando o sangue para as mãos e bochechas.

— Como assim? — Indaguei.

— Antes de apagar, eu tive a sensação de que tava morrendo. — Ele se apoiou, pelos cotovelos, para se sentar e eu o ajudei.

— Quanta coisa. Aquela merda no ônibus e agora isso. — Levi falou com uma voz alta e agitada. — Eu tô confuso. E tô assustado, não vou mentir.

— A gente precisa documentar tudo. — Isabelle sugeriu. — São muitas informações. Isso não pode ficar só na nossa cabeça.

— Eu concordo. — Verbalizei. Isabelle era muito inteligente, suas ideias sempre eram boas.

Olhei o Wolfgang com o canto dos olhos. Ele estava cabisbaixo.

— Minha cabeça tá explodindo. — O rapaz se queixou, colocando os dedos por entre os fios de cabelos negros.

A jornalista se levantou com pressa e logo retornou com um copo de água para o Wolfgang. Ele consumiu o líquido todo em um gole, embora eu temesse que ele pudesse se engasgar. Sua resistência após as convulsões era incomum. Ele não teve sequelas dos 30 minutos de convulsão, quando foi para o hospital, e também não parecia sonolento ou debilitado ali na sala da Isabelle. Seus olhos estavam atentos ele e bebeu a água com uma facilidade extrema, bem como conseguiu se firmar sentado sem letargia.

— Porra, eu tô todo ensanguentado. — O rapaz se queixou após beber a água.

— Tá parecendo um cachorro doido. — Levi provocou.

— Vai se foder. — Wolfgang rebateu. Sua voz saiu jocosa. Levi riu com a reação dele.

— Você pode tomar banho se quiser, Wolfgang. Eu acho que tenho algumas camisas do meu ex aqui. — Isabelle sugeriu.

Senti um desconforto estranho. Olhei de relance para o Levi e ele tinha um semblante sério. Talvez estivesse com ciúmes, pois nutria sentimentos pela Isabelle.

Mas eu não tinha sentimentos românticos pela Isabelle. Não entendia a razão do meu desconforto.

Wolfgang aceitou a sugestão. Ele foi em direção a um corredor junto da Isabelle. Meu incômodo se tornou ainda mais intenso e senti o meu rosto queimar.

Logo, a jornalista voltou para a sala de estar e se sentou onde estava antes, ao lado do Levi e encostada na parede.

O Levi não disse nada. Permaneceu com um semblante taciturno, fitando o horizonte. Eu também ainda me sentia desconfortável. Não por Isabelle ter um ex-namorado. Ela era bonita e inteligente, com certeza muitos homens queriam algo com ela. Entretanto, esse não era o meu caso. A navalha que me perfurava era ela entregar a camisa para o Wolfgang. O meu amigo iria vestir a roupa de um homem que a jornalista amou e já foi para a cama. Isabelle teria aqueles mesmos desejos para com o Wolfgang?

O desconforto era idiota. Eu era idiota. Tantas coisas aconteceram e eu me sentia incomodado por Isabelle entregar uma camisa para o Wolfgang.

Todos permanecemos em silêncio. Aquele desconforto foi se tornando mais idiota até parecer ridículo e se dissipar. No lugar dele, a imagem do meu cadáver invadiu a minha cabeça e eu senti náuseas.

Lembrei nitidamente do meu corpo morto coberto por sombras. Pude sentir as minhas mãos sobre o seu crânio afundado e o sangue ainda quente.

Aquele sangue ainda estava nas minhas mãos.

Meu peito arfou. Respirar se tornou difícil, eu não conseguia puxar o ar para os meus pulmões.

Não sei quanto tempo aquilo durou. Ouvi discretos estalidos vindos do chão e olhei em direção ao barulho. Eram gotas de água. Levantei os olhos e vi o Wolfgang diante de mim. O líquido escorria de seus cabelos molhados. A camisa branca de linho, do ex-namorado da Isabelle, ficou folgada nele. As clavículas apareciam e era possível ver o seu pescoço com nitidez. A pele pálida era fina por ele ser magro. O pomo de Adão também se tornava evidente e seu cabelo preto e molhado grudava no pescoço. Havia ainda resquícios de água em sua pele. Eu subi os meus olhos até seu queixo delicado e seus lábios finos. Meu rosto se aqueceu novamente. O calor se espalhou pelo meu corpo todo e minha respiração acelerou.

Abruptamente, me senti assustado. Desviei os olhos do rapaz e olhei para o chão. Eu estava atormentado.

— Você tá bem? — O Wolfgang indagou. Eu senti vergonha e angústia por aquele caos na minha cabeça.

— Sim. — Era mentira.

— Que camisa fina essa do seu ex, hein, Isabelle. — Levi falou e Wolfgang e eu direcionamos o olhar até ele. O tom de voz do rapaz de cabelos raspados era jocoso. Talvez ele fosse aquele tipo de pessoa que mascarava o desconforto com humor, como fez quando provocou o Wolfgang após confessar que estava assustado com os eventos estranhos que aconteceram mais cedo.

— E ainda largou ela aqui. Ele sempre foi irresponsável… — Isabelle respondeu em um tom irritado.

A jornalista nos chamou para sentarmos no sofá. Ela se acomodou da poltrona e pegou uma caderneta e uma caneta da escrivaninha que ficava contra uma parede da sala de estar.

— Um acidente de ônibus na rua 18 em 1966. — Ela lia conforme escrevia. — O Mikael foi uma vítima fatal.

— Agora a gente tem que saber o que aconteceu comigo e com você. — Levi observou. Ele estava fumando, assim como o Wolfgang.

— A gente pode ir na rua 18 de novo. — O garçom sugeriu e tragou o cigarro em seguida. Ao lado do sofá, estava uma mesa de canto com um cinzeiro e um aparelho de telefone sobre ela. Após tragar e soltar a fumaça, o Wolfgang ergueu o braço para depositar as cinzas no cinzeiro.

Aquela possibilidade me congelou por dentro e a lembrança do meu cadáver me assombrou.

— E se você passar mal de novo? — Indaguei. Eu não podia dar atenção ao medo de me ver morto no ônibus.

Wolfgang franziu o cenho e suspirou.

— Mas eu preciso ir pra gente descobrir o que tá acontecendo. — Ele rebateu.

— O Mikael tá certo, Wolfgang. — Isabelle observou.

— Eu reparei em uma coisa. — Observei. — Sua recuperação depois das convulsões é incomum.

Os olhos escuros do Wolfgang me fitaram com curiosidade.

— Eu não tô dizendo que é seguro você ir. Não mesmo. — Reiterei antes de continuar. — No hospital, foi difícil parar sua hemorragia e suas convulsões, mas eu fiquei surpreso com a ausência de qualquer sequela. Na verdade, você teve uma convulsão de mais de 30 minutos. Não tiveram intervalos entre elas. Isso é muito perigoso.

Senti os olhos de todos muito atentos sobre mim.

— Eu pensei que você tivesse tido sorte, Wolfgang. Então, hoje você convulsionou de novo. E quando acordou, parecia que nada tinha acontecido. Você bebeu água, levantou sem dificuldade e agora tá acordado, prestando atenção no que eu tô falando. Você tá sentindo alguma coisa?

— Não… — Ele ainda parecia confuso. Após tragar o cigarro, soltou a fumaça mais uma vez.

— Tudo isso pode ser só coincidência. E se for, é perigoso voltar lá. — Observei.

— Eu só tenho convulsões quando vou na rua 18. Não é uma coisa normal ou… Desse mundo. — O Wolfgang rebateu.

— Mas não deixa de ser perigoso. — Respondi.

— Convulsões sem sequelas e que só aparecem na rua 18. — Isabelle leu sua anotação em voz alta.

— Eu vou voltar lá. — O rapaz me olhou com o canto dos olhos com certa tristeza. — Não dá pra parar agora.

Eu assenti ao que ele disse. Era uma decisão do Wolfgang e tudo o que podia fazer, e iria fazer, era estar por perto para o ajudar.

— Eu vou registrar tudo. Consigo uma câmera fotográfica pra gente tentar fotografar o ônibus e o fenômeno. — A jornalista parecia inspirada.

— Você me deu uma ideia, princesa. — Levi verbalizou. — Vou pegar umas ferramentas, do corno do seu Jorge, pra tentar abrir a lataria do ônibus. — Julguei que Jorge fosse o patrão dele. Levi nunca disse o que fazia da vida, mas provavelmente era mecânico.

— Puta que pariu. — O Wolfgang observou. — As ideias de vocês são muito boas. — Ele gritou, como fazia em momentos de entusiasmo.

— Não precisa gritar no meu ouvido, porra. — Levi reclamou.

— Vai à merda. — O mais magro cerrou os olhos e desviou o olhar.

— É uma boa ideia mesmo, Levi. — Isabelle interviu, sem dar muita atenção à reclamação do Levi ou a resposta do Wolfgang. — Vou datilografar tudo o que a gente sabe e conseguir a câmera essa semana ainda.

A aflição ainda me deixava nauseado. Entretanto, não dava para fugir naquela altura do campeonato. Tinha algo nessa história que parecia ser vital para todos nós, apenas não sabíamos ao certo o que era.

Logo Wolfgang, Levi e eu fomos embora. No ônibus, conversamos um pouco mais do que no caminho de ida. Às vezes eu tinha a impressão de que viver momentos ruins juntos acabava unindo as pessoas.

Levi reclamou do seu patrão durante quase todo o caminho e, em dado momento, confirmou ser mesmo mecânico. Wolfgang e eu também soltamos algumas queixas sobre os nossos respectivos empregos. Estavam surgindo boatos sobre a minha vida privada no hospital. O motivo era eu ter aparecido machucado novamente em um intervalo curto de tempo.

O Wolfgang e eu descemos na estação do quarteirão em que ele morava. O silêncio e a escuridão das ruas passavam uma sensação de insegurança.

Caminhamos por uma avenida repleta de estabelecimentos fechados. Ao final da avenida, vi as luzes acesas de um bar.

O que aconteceu no ônibus acidentado me fez sentir medo. Eu não era um homem covarde, disso sabia muito bem. Entretanto, o que vivi era capaz de assustar qualquer pessoa. E apesar de não ser covarde, eu ainda uma pessoa repleta de vulnerabilidades.

— Wolfgang… — Chamei.

— Oi? — Ele me olhou. Estávamos cobertos pela penumbra com discretas fontes de luz amarelada vindas do bar e de um poste solitário.

— Eu vou parar aqui e ligar pra minha mãe. — Avisei.

— Tá. Eu te espero. — O Wolfgang pegou um maço de cigarros do bolso das calças, pegou um cigarro e o acendeu, levando-o até os seus lábios. Os mesmos lábios que fitei mais cedo.

Meu coração acelerou e me apressei para dentro do bar. Ele me seguiu. Pedi ao dono do estabelecimento para usar o telefone e paguei algumas moedas por isso.

Fui até o caixa, uma pequena mesa envernizada em que o telefone ficava ao lado da caixa registradora, e disquei o número da minha antiga casa.

A linha chamou três vezes. Nesse meio tempo, foi como se meu coração fosse explodir dentro do meu peito.

— Alô. — Ouvi a voz da minha mãe e senti alívio por ter sido ela que atendeu.

— Mãe, não fala nada, só me escuta. — Era a segunda vez que eu ligava para ela após sair de casa. — Eu tô bem, não se preocupa. Se você precisar de qualquer coisa, liga no hospital e me deixa um recado, já te falei isso. Eu prometo que vou buscar você e o Samuca o mais rápido possível. Eu juro pela minha vida. — As lágrimas pesaram em meus olhos. — Amo você e amo o Samuel. Só aguenta um pouco mais. Só isso.

Ouvi o soluço do choro da minha mãe do outro lado da linha. Ela não falou nada, como eu pedi. Se Isaac percebesse que ela estava falando comigo, iria machucá-la. Desliguei o telefone enquanto eu mesmo lidava com minhas lágrimas.

O Wolfgang e eu saímos do bar e seguimos caminho em silêncio. Enquanto caminhávamos, ele me olhou e eu o olhei de volta. Era bom não estar sozinho

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