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O Viajante - Capítulo XVII - Isabelle - Março de 1973

Wolfgang estava inconsciente, caído nos braços do Mikael. O nariz do rapaz de cabelos cor de carvão sangrava intensamente. Jatos de sangue vazavam de suas narinas, manchando sua pele alva de rubro, bem como a blusa branca de listras azuis que ele usava. Parte do sangue também gotejava na camisa azul do Mikael.

O corpo do Wolfgang se debatia em espasmos. Seus dedos magros se contorciam e uma saliva espumosa lhe escorria da boca. Ele estava tendo uma convulsão.

— Ele tem que ir pro hospital! —  Eu vi pânico nos olhos do Mikael quando ele gritou isso.

Assenti e corri em direção ao meu Opala, que estava estacionado na frente da loja de discos. Entrei no carro e o dirigi até onde os três rapazes estavam.

Levi abriu a porta traseira esquerda do Opala e Mikael colocou Wolfgang deitado nos bancos de trás. O enfermeiro entrou pela porta traseira direita e Levi entrou pelo lado do passageiro, na frente.

— Você sabe onde é o Hospital São Francisco? — Mikael perguntou. — Eu trabalho lá.

Wolfgang ainda convulsionava e seu nariz ainda estava sangrando. O sangue, que escorria de suas narinas, molhava o couro do banco do carro. Além das gotas de sangue na camisa, Mikael também tinha manchas de sangue nos dedos trêmulos devido ao nervosismo. Observei que os olhos castanhos do enfermeiro estavam marejados.

— Sei onde é. — Respondi ao dar partida no carro. Pisei com força no acelerador. Senti-me observada e, com o canto dos olhos, vi Levi me olhando. Ele tinha uma expressão diferente no semblante.

Dirigi o mais rápido que pude até finalmente chegar ao hospital. Conduzi o carro até o estacionamento e o parei ali.

Fitei o prédio pela janela. Aquele hospital era muito antigo.  Tratava-se de um grande prédio de arquitetura colonial, com três andares e pintado de branco. Ele tinha portas gigantes de madeira escura por toda a sua extensão. As portas da frente estavam abertas.

As janelas eram do mesmo material das portas, com quatro vidraças retangulares em cada uma delas. Todas estavam fechadas. Uma garagem que, nitidamente, tinha sido construída muitos anos mais tarde, era anexada ao lado direito do enorme edifício e uma ambulância estava saindo de lá.

O hospital era cercado por uma calçada de paralelepípedos, com um canteiro cheio de  arbustos. Uma imagem de São Francisco de Assis estava sobre um suporte de concreto, em frente à entrada. Esse suporte ostentava uma placa escura com o nome Hospital São Francisco de Assis entalhado em letras cinzentas.

Mikael abriu a porta do carro e correu em direção à enorme porta de entrada do hospital.

— Ele tá desesperado. — Levi observou, fitando Wolfgang de relance. — O Grilo ainda tá se debatendo, o que a gente faz?

— É melhor a gente não mexer nele. — Ver aquele rapaz pálido se debatendo e sangrando me causou muita pena. Eu realmente queria saber o que fazer.

Pela janela do carro, vi Mikael voltar correndo junto de duas pessoas. Uma delas era uma mulher usando uma camiseta comprida e calças folgadas, ambas brancas. Ela empurrava uma maca, provavelmente era uma enfermeira. O outro era um homem de meia idade, trajando um jaleco branco por cima de uma camisa e de uma calça social da mesma cor. Deduzi que era um médico.

Rapidamente, Mikael e a mulher tiraram o Wolfgang do banco de trás do carro e o colocaram sobre a maca. O enfermeiro correu até a janela do lado do motorista. Ele estava ofegante, com os cabelos bagunçados e a face suada. O pavor em seu olhar continuava ali.

— Isabelle, o Wolfgang mora há dois quarteirões da casa do Levi. — Ele respirou profundamente, recuperando o fôlego. — Tem algum papel pra anotar o endereço dele?

Ergui o braço até o porta luva e o abri. Retirei de lá uma caderneta e uma caneta e entreguei para Mikael. Apressadamente, o enfermeiro escreveu o endereço do Wolfgang e me entregou a caderneta junto da caneta.

— Eu sei que é pedir muito, mas ele não tem telefone. Você pode avisar o pai do Wolfgang? O nome dele é Wilhelm…

— Não é pedir muito, Mikael. Claro que eu posso avisar.

— Obrigado. — Ele agradeceu e se afastou do carro. O rapaz alcançou a enfermeira e o médico, que levavam o Wolfgang na maca, e entrou no hospital junto deles.

Li o endereço na caderneta. A folha estavam com discretas manchas de sangue causadas pelos dedos do Mikael. Entreguei a caderneta para o Levi e pisei no acelerador, conforme meu coração se comprimia dentro do meu peito.

O silêncio perdurou por boa parte do percurso. A situação era assustadora e não havia espaço para conversas. Minha concentração estava voltada a chegar o mais rápido possível até a casa do Wolfgang para avisar o seu pai.

— Princesa… — Levi me chamou. Preferi não comentar nada acerca daquele tratamento para comigo e, simplesmente, olhei-o com o canto dos olhos como resposta.

— Que porra foi essa? — Indagou de forma abrupta. Se a situação toda não fosse tão alarmante, eu teria rido da maneira como Levi perguntou.

— É uma história muito longa, Levi.

— Adianta um pouco essa história aí pra mim, boneca.

— Não dá. — Respondi em meio a um suspiro. Como eu poderia resumir tudo aquilo que estava acontecendo?

— Porra…

— A gente vai conversar. Primeiro, eu quero ver como o Wolfgang vai ficar. E então, a gente se encontra e eu explico tudo pra você.

— Qual é a do Grilo?

— Eu não sei, Levi. Tô tão confusa quanto você.

O rapaz assentiu e recostou no assento do passageiro. Ele olhou pela janela em direção ao céu. O sereno havia embaçado os vidros do carro. Levi levou sua grande mão calejada até a janela, deixando a marca dela ali. Um gesto sutil e delicado para alguém que falava e agia de maneira tão bruta.

O silêncio perdurou pelo resto do trajeto. Dirigi por ruas desertas e mal iluminadas até alcançar a casa do Levi. Não tinha uma única viva alma naquela rua.

O rapaz puxou a maçaneta do Opala e abriu a porta. Antes de sair do carro, Levi me olhou com seus olhos escuros e cansados.

— Foi bom conhecer você, princesa. — Ele sorriu. Seu sorriso era genuinamente feliz a ponto de seus olhos se iluminarem. — Não some. Eu quero entender que porra foi aquela na rua e saber se o moleque tá bem…

Ele olhou ligeiramente para baixo e voltou a me encarar.

— E eu quero ver você de novo. — O rapaz saiu pela porta carro e colocou a caderneta sobre o banco do passageiro. —  Tchau, Isabelle.

— Tchau, Levi. — Ele voltou a sorrir com extrema felicidade e fechou a porta.

Eu tinha acabado de o conhecer, mas eu via pureza naqueles olhos amendoados. Presumi que pudesse ser um pensamento infantil da minha parte, já que eu sabia que não podia confiar nas pessoas.

Dei partida no carro e percorri as ruas escuras em alta velocidade. Fitei a caderneta vez ou outra, para conferir o endereço do Wolfgang.

Cheguei a uma casa de muro cinzento com pedras entalhadas nele. A casa tinha portãozinho vermelho de grades com um pouco de ferrugem no metal. Pelo muro baixo, pude ver uma casa branca e pequena, com uma porta de madeira também pintada de vermelho. Pelas janelas translúcidas, via-se a luz acesa ali dentro.

Bati palmas no portão.

A porta da casa se abriu, revelando um homem alto, de pele muito clara e cabelos de um tom de ruivo escuro e acastanhado. Seus olhos eram tristes, mesmo de longe era possível notar isso.

— Oi. — Cumprimentou-me de maneira seca ao se aproximar.

— Você é o Wilhelm? — Indaguei, um tanto nervosa. Ter que dar a notícia de que o filho dele estava no hospital fez meu peito doer.

— Sou eu.

— Eu sou a Isabelle, uma conhecida do Wolfgang. O Mikael, ele e eu estávamos dando uma volta… — Eu não iria explicar toda a situação para o Wilhelm. Ninguém, em sã consciência, acreditaria naquilo.

— O que aconteceu com o Wolfgang? — Ele me interrompeu. Os olhos do Wilhelm se arregalaram e se encheram de lágrimas.

Respirei fundo. Meu coração estava acelerado e minhas mãos tremiam.

— O Wolfgang tá no hospital.

Com pressa, ele abriu o portão e saiu por ele, um tanto confuso. Sua respiração estava ofegante.

— O que aconteceu com ele? Em que hospital o meu filho tá?

— Calma! — Ergui as mãos para tocar os ombros dele, mas hesitei. — Calma.

— Me fala a verdade, menina! O que aconteceu com ele? Eu quero ver o meu filho! — Wilhelm tinha uma voz grave e que não combinava com o desespero que ele transparecia naquele momento. Era como assistir um enorme edifício desmoronando diante dos meus olhos.

— Ele tá no Hospital São Francisco. O Wolfgang…. Ele teve uma convulsão.

A respiração dele se tornou ainda mais pesada e as lágrimas transbordaram dos seus olhos.

— Não! Não tem como isso ter acontecido! Ele não tem problemas de saúde. Isso não aconteceu… — O homem negou com a cabeça. — Como ele pode ter passado mal desse jeito?

— Eu não sei… — Algo apertava o meu coração e o esmagava. — Vim pra levar o senhor pro Hospital São Francisco. O Mikael pediu pra eu te avisar. Ele trabalha lá e conseguiu levar o Wolfgang pro pronto socorro.

Wilhelm assentiu.

— Tá… — Seus olhos estavam perdidos. — Um minuto…

Ele entrou apressadamente pelo portão e atravessou a porta da casa correndo. Algo úmido escorreu pelas minhas bochechas e eu percebi que estava chorando.

Aquele era um pai que amava desesperadamente o filho, assim como o meu pai me amava quando era vivo.

Logo, Wilhelm retornou. Ele estava vestindo um casaco azul e seus pés estavam calçados com sapatos ao invés dos chinelos que usava quando me recebeu. Em suas mãos, tinha um molho de chaves. O homem saiu pelo portão e o trancou.

Caminhamos até o meu carro. Destranquei a porta e o pai do Wolfgang entrou do lado passageiro. Entrei pela porta do motorista, liguei o carro e saímos em direção ao hospital.

O trajeto foi atormentado pela angústia e pelo silêncio. Algo gélido e frio me sufocava e fazia as minhas lágrimas transbordarem discretamente.


Assim que chegamos ao hospital, saímos do carro e corremos, pela calçada de paralelepípedos, até a entrada do grande prédio antigo.

Demos de cara com uma ampla recepção. O chão era coberto por uma cerâmica cor de creme, com algumas manchas que preferi não cogitar o que as causou. Tinham muitas cadeiras naquele espaço, com pessoas abatidas, cansadas e feridas esperando sentadas sobre elas.

Duas recepcionistas estavam sentadas atrás de um grande balcão de madeira. Sobre ele, via-se um telefone branco. Uma das recepcionistas estava concentrada na leitura de um documento datilografado, a outra tinha uma pasta aberta diante de si, sobre o balcão, e escrevia algo nela com uma caneta.

Wilhelm atravessou a recepção com pressa, cortando o caminho do corredor que se formava entre as fileiras de cadeiras. Ele parou diante da recepcionista que estava lendo e os dois trocaram algumas palavras. O homem ruivo estava exaltado, com a respiração pesada e o corpo nitidamente trêmulo.

Após a troca de palavras, Wilhelm caminhou até mim. Seus olhos azuis e tristes estavam avermelhados pelas lágrimas.

— O senhor conseguiu alguma notícia do Wolfgang? — Perguntei, sentindo medo da resposta.

— Ele tá na enfermaria… — O homem recuperou o fôlego após responder com uma voz embargada. — Disseram que vão me chamar quando eu puder ver ele.

— Ele vai ficar bem.

— Obrigado, Isabelle. — Agradeceu com enorme gentileza, embora seus olhos ainda carregassem desespero.

— Imagina…

— O Wolfgang… — Wilhelm se calou por uns instantes — Ele é tudo o que eu tenho.

— O senhor ama muito o seu filho. Meu falecido pai era assim… — Engasguei-me com meu choro. Eu tinha decido compartilhar a minha fragilidade com o Wilhelm, pois me compadecida dele e o entendia. — Comigo e com minhas irmãs. Ele tava sempre preocupado com a gente… E tentava fazer o melhor que conseguia pra que a gente ficasse bem…

— Não existe amor maior do aquele que sentimos pelos filhos… — Ele olhou para baixo. — Seu falecido pai sabia disso, de certo. — Wilhelm esboçou um sorriso triste. — E ele teve sorte de poder amar assim.

Mais uma vez, minhas lágrimas cederam. O pai do Wolfgang me surpreendeu em sua compreensão e ternura. Sequei minhas lágrimas com meus dedos e retribuí o sorriso. Certamente, um sorriso triste como o dele.

— O senhor é muito gentil, seu Wilhelm… — Calei-me e ficamos em silêncio. Ambos tínhamos os olhos chorosos. — Bom, agora eu preciso ir pra minha casa. O Wolfgang e o Mikael têm o meu número. Me dá notícias do Wolfgang.

Wilhelm assentiu e nos despedimos com um simples tchau. Entretanto, aquela breve conversa reverberou em minha memória, trazendo lembranças do meu pai.

Dirigi com meus sentidos anestesiados até chegar no prédio em que eu morava. Subi as escadas e destranquei a porta. Acendi a luz da sala e caminhei até a escrivaninha em que estava o retrato do meu pai.

Fitei sua face na fotografia. Álvaro estava sorrindo, com os olhos levemente cerrados devido a luz do sol contra o seu rosto. Vislumbrei sua face. A pele dele era retinta, seus lábios carnudos e seus olhos transmitiam alegria. As maçãs do rosto dele eram levemente proeminentes, assim como as do meu próprio rosto. Ele usava os cabelos muito curtos, quase sempre os raspava quando cresciam um pouco mais.

Ao olhar para a foto dele, lembrei-me do seu constante cantarolar de músicas antigas, do perfume forte que usava, das piadas propositalmente ruins seguidas de uma risada intensa… Eu sentia falta dele e toda a sua alegria.

Peguei o porta retrato em minhas mãos e o olhei de perto. Toquei minha testa contra o vidro que cobria a fotografia, como se assim, eu ainda pudesse receber um afago do meu pai.

— Eu te amo tanto, pai… — Murmurei em meio aos soluços do meu pranto, conforme peito era invadido por uma tristeza gélida e aguda, que estraçalhou cada milímetro do meu coração.

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