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O Viajante - Capítulo VIII - Wolfgang - Fevereiro de 1973

Eu olhei tudo ao meu redor conforme caminhava entre a neblina. Percebi que se tratava de uma avenida. Cada passo ali me deixava mais cansado. Meu peito estava arfando. Vi uma placa que anunciava uma faixa de pedestre e, sobre ela, um panfleto.

Acordei em meio a um soluço. Eu estava chorando. Não sabia a razão, mas senti um profundo sofrimento. As lágrimas vieram de forma incessante. Só consegui chorar, deitado em minha cama, por muito tempo.

A coragem para me levantar apareceu quando o pranto acabou. Eu tinha melhorado da inflamação da garganta, mas ainda me sentia fraco e sonolento. Julguei ser por causa daqueles sonhos que não me deixavam descansar.

Levantei da cama enquanto secava as lágrimas, que ainda estavam sobre o meu rosto, com os dedos. Fui ao banheiro, tomei banho e escovei meus dentes. Lavei os cabelos, tentando tirar de mim a tristeza que senti como se ela fosse feita de poeira. Saí do banheiro com os cabelos pingando, molhando a camiseta listrada, em um padrão de azul e branco, que eu vesti. 

Fui até a cozinha e vi que meu pai estava preparando o café.

— Bom dia. — Cumprimentei o senhor Dietze e abri a geladeira, procurando algo para comer.

— Bom dia. — Ele respondeu. — Você vai ter que comer no trabalho. O pão, o presunto e o queijo acabaram.

— Porra, que pobreza. — Fechei a porta da geladeira.

— Olha a boca. — Desde que eu era criança, meu pai verbalizava aquele rito ao me ouvir xingar. — Eu recebo amanhã. Assim que eu receber, vou fazer a feira.

— Não sobrou nada do meu salário?  — Sentei-me à mesa.

— Não. Paguei a conta de luz e comprei um pouco de comida pra aguentar até o fim do mês. — Justificou-se. — Tá tudo anotado na agenda, se você quiser olhar.

— O senhor sabe que eu não vou entender se olhar. Eu sou burro. — Quem cuidava das finanças era o meu pai.

— Para de falar bobagem. — Sua censura veio em uma fala ríspida. — Você aprendeu a ler e a escrever muito antes dos seus primos e sempre tirava notas boas na escola.

— Mas eu sou um imbecil com cálculos. — A minha dificuldade com números beirava o absurdo. Apesar de sempre ter sido um aluno estudioso na época da escola, minhas notas nas matérias que exigiam cálculos eram vergonhosas. Eu era incapaz de fazer contas básicas. Esse era o motivo pelo qual meu pai cuidava do meu dinheiro.

— Deixa de conversa fiada. — Wilhelm disse secamente como quem quisesse finalizar o assunto. — Eu vi no jornal que o vandalismo por essas bandas aumentou… — Meu pai voltou a falar após um breve silêncio.

— Vandalismo? — Questionei com sarcasmo. O severo e sério senhor Dietze pegou a água quente que estava no fogão e a despejou no coador, sobre o pó de café.

— Tem policiais rondando por aqui. Você sabe como eles são, Wolfgang.

— Não vou fazer merda, pai.

— Você é descuidado. — Wilhelm tinha um profundo asco de governos repressivos e militarizados. Uma ferida de sua origem austríaca. Sua família fugiu para o Brasil no ano em que a Áustria foi anexada à Alemanha Nazista. — E não tem medo de irritar as pessoas.

— Pai, eu não sou uma criança e nem um idiota.

— Wolfgang, presta atenção! — Ele disse de maneira firme e ríspida. — Controla o que você fala e faz na rua.

— Eu nunca mais arrumei problema…

— Então, continua sem arrumar. — Como resposta, apenas assenti. Eu odiava quando ele agia como se eu fosse uma criança sem juízo.

Meu pai levou o bule, cheio de café, até a mesa e o colocou sobre ela. Em passos firmes, andou até o armário e pegou duas xícaras. Entregou uma para mim e se sentou à mesa. Wilhelm se serviu do café e eu fiz o mesmo. Bebemos em silêncio. Após tomar o seu café, meu pai se levantou, lavou a xícara na pia, se aproximou de mim e bagunçou os meus cabelos.

— Tô indo pra fábrica. Juízo, rapaz.

— Juízo, seu Wilhelm. — Retruquei.

A amabilidade em seu rosto era sutil, mas estava ali. Ele esboçou um sorriso discreto e deixou a cozinha. Continuei a beber o café enquanto o ouvia destrancar a porta da casa e, em seguida, o portão.

Após o último gole do café, também precisei partir da minha casa até aquele exaustivo trabalho.

A manhã no bar foi caótica. Um bêbado chamado Erasmo, cliente assíduo, chegou assim que abri o bar. Em uma de suas bebedeiras, começou a brigar com o Silva. Precisei ajudar a apaziguar o conflito e mandar o Erasmo embora. Aquela confusão rendeu muito esforço da minha parte.

Meu corpo estava cansado. Fui até à cozinha para preparar um misto quente. Já estava perto das onze horas. Pensei que desmaiaria naquele dia de tamanha vertigem.

Após tirar o misto quente da chapa de alumínio com um guardanapo, andei até o telefone, que ficava na cozinha, e liguei para a casa do Mikael. Tinha deixado o número anotado na agenda que ficava do lado do aparelho de telefone que algum dia já fora branco.

— Alô. — Uma voz infantil atendeu.

— O Mikael tá aí? — Indaguei e mordi o misto quente.

— Quem tá falando?

— É o Wolfgang. — Respondi após engolir o pedaço com pressa.

— Que nome estranho. Não entendi.

— Wolfgang. — Repeti mais lentamente. Eu estava acostumado a precisar repetir o meu nome. Por muito tempo, condenei Wilhelm por ter me batizado de Wolfgang ao invés de escolher um nome simples para o filho.

— Wolf…Gang. — A criança disse lentamente. — Vou chamar o Mikael. — Escutei um ruído abafado ao fundo. Mikael mencionou que morava com os pais e com o irmão. Inferi que aquele era o irmão.

— Oi, Wolfgang. — Mikael disse de maneira apressada. — Quem atendeu foi meu irmão, o Samuel. Ele é criança. Desculpa…

— Até pareceu que ele xingou a minha mãe. — Falei com sarcasmo.

— Ele saiu falando que uma pessoa com o nome estranho tava no telefone.

— Seu irmão não é o primeiro e nem o último a falar que meu nome é esquisito. — Mordi mais um pedaço do meu lanche da manhã. Houve silêncio do outro lado da linha. — Eu descobri uma coisa sobre aquele lugar do sonho.

— O quê?

— É uma avenida. Andei pra caralho e olhei em volta. Eu vi um anúncio em uma placa.

— Eu vou passar aí à tarde pra gente conversar melhor. Acabei de chegar do plantão…

— Tá bom. 

Eu não sabia como terminar aquela conversa. Os pequenos rituais de começar e terminar uma ligação telefônica me deixavam confuso.

— Tá… — Mikael disse de forma hesitante.

— Tchau. — Quando dei por mim, já tinha colocado o telefone no gancho. Eu era muito idiota. Incapaz de manter uma conversa como se fosse um ser humano funcional. Quando eu pensava em mim mesmo, vinha-me à mente que eu era como um carro que veio com defeito. Minhas rodas não giravam, meu freio não brecava e meu volante não se movia. Enquanto isso, todos os outros estavam em perfeito estado, vagando em um tráfego calmo e sem intercorrências. Não existia nada, no meu modo de agir, que fosse normal. Pensar naquele assunto me causou uma melancolia que já me era conhecida.

No meio da tarde, o movimento estava calmo. Silva deixara um jornal no balcão do bar e acabei me envolvendo na leitura de uma notícia acerca de um acidente de carro. Até mesmo uma notícia qualquer era capaz de ser mais interessante que o meu trabalho

— Wolfgang? — Assustei-me, de tão concentrado que eu estava. Reconheci a voz do Mikael. Coloquei o jornal sobre o balcão. O enfermeiro estava sentado em um banco diante do balcão.

— Que susto, porra. — Sorri de maneira nervosa, como um reflexo.

— Te chamei três vezes. — O enfermeiro olhou para o jornal. — Parece que tava interessante… 

— Essa bosta? — Indaguei. A risada nervosa se tornou mais intensa. — Não. É que qualquer coisa é mais interessante do que trabalhar aqui.

Mikael riu como o fez na cafeteria.

— Você disse que viu um anúncio naquele lugar. — Ele disse após se recuperar de sua breve risada.

— Sim… — Olhei em volta e encontrei a caderneta do Silva ao lado da caixa registradora. O patrão a usava para anotar vendas fiadas. Peguei a caderneta e a caneta que ficava ao lado dela.

Abri o caderno e, na última página, tentei desenhar o anúncio da maneira mais fidedigna que consegui. Primeiro, fiz um círculo maior com um círculo menor ao meio. Era um disco de vinil. Depois, uma chave de Sol em meio ao disco. Embaixo dele, escrevi as letras: A, L e V.

Entreguei o caderno para o Mikael.

— O anúncio tava rasgado, só consegui ver isso. Ele tava colado em uma placa do lado de uma faixa de pedestre.

Quando fitei o rapaz, vi um par de olhos castanhos arregalados.

— Eu conheço esse lugar… — Ele estava pálido.

— Conhece?! — Falei tão alto que os poucos clientes no bar me encararam. Eles que fossem cuidar de suas próprias vidas.

— Sim. É de uma loja de discos. Alves Discos. Eu ia muito lá quando era mais novo.

— É muito longe daqui?

— É no centro. Meio longe. — Mikael esboçou um sorriso breve. Quanto mais o tempo passava, mais espontaneidade ele demonstrava. A ideia de que ele insosso se desfez em minha cabeça. O enfermeiro, na verdade, parecia ser um cara legal. — Mas vou tentar pegar o carro do meu pai e a gente vai…

— Eu pensei que… — Parei de falar quando percebi o quão inconveniente era o que eu estava dizendo. Se eu fosse minimamente normal, talvez eu pudesse ter ficado de boca fechada.

— Pensou o quê?

— Esquece. Eu ia falar merda.

— É sobre o meu pai? — Mikael indagou após um tempo em silêncio.

— Eu tive a impressão que vocês não se davam bem quando você me falou da sua família. — Meus lábios doeram. Percebi que os mordi com força após confessar o meu pensamento.

— Você tá certo. A gente não se dá bem. — Sua fala se tornou insossa, como nas primeiras vezes que falei com ele.

— Desculpa. Eu não tenho nada a ver com isso.

— Meu pai… É um babaca. — Dessa vez, senti uma faísca de raiva na voz do Mikael.

— Que merda… — Novamente, percebi que mordi os lábios. Eu não consegui sustentar o olhar sobre o enfermeiro e desviei meus olhos, encarando a superfície do balcão. — Tomara que você encontre logo um lugar, então. Eu… Vou procurar melhor lá onde eu moro. Talvez ajude.

— Obrigado. — Senti minhas mãos suarem frio. Levantei os olhos de forma hesitante. Mikael me olhou de volta.

— De qualquer forma, eu vou pedir o carro pro babaca… — Ele disse após o silêncio. Eu sorri de forma aliviada. Queria, por tudo, que aquela tensão de um assunto delicado sumisse. — E a gente vai nessa rua.

— Tá certo. — Eu estava batendo os dedos no balcão. Notei pequenas gotas de suor na superfície. Elas vinham dos meus dedos.

— Amanhã depois do seu expediente?

— Às 6h. Se depender do Silva, eu só saio daqui umas 9h da noite.

— Não vai dar problema?

— Eu me entendo com ele. — Silva era um cachorro que ladrava, mas nunca mordia. Mikael assentiu ao que falei.

Eu não sabia o que dizer. O pior momento na conversa com uma pessoa era aquele em que eu deveria fazer algo. Algo que não foi dito, mas que o outro esperava que eu fizesse. Nesses momentos, ocorria-me de simplesmente congelar ou agir de maneira estúpida.

— Quer uma Coca-Cola? Faço por conta da casa. — Aquela frase sem contexto me escapou. O enfermeiro me olhou confuso e meu rosto queimou. Eu era uma aberração social.

— Quero… — Ele falou de forma tão confusa como o seu semblante denunciava. — Obrigado…

Andei até o freezer, peguei a garrafa de vidro da Coca e a coloquei sobre o balcão. Peguei o abridor de lata e abri. Busquei um copo e coloquei ao lado do refrigerante.

— Pega mais um. A gente divide. — Mikael sugeriu. Eu estava me sentindo extremamente idiota. Ainda com o rosto quente, peguei um copo para mim e bebemos a Coca-Cola em silêncio.

Ao fim, Mikael pegou alguns cruzeiros na carteira e os colocou sobre o balcão.

— É por conta da casa. — Reiterei.

— Não quero te colocar em problema.

— Pode ir guardando essa merda. — Acenei com a cabeça para as moedas.

Em uma reação espontânea, Mikael riu. Não foi uma risada breve, mas uma gargalhada um tanto longa. Algo surpreendente humano e natural.

— Vai ficar aí então. Até amanhã, Wolfgang. — Seu tom foi jocoso. O maldito se levantou e caminhou até à saída do bar. Fitei-o se afastar Foi quando percebi que Mikael tinha  senso de humor. 

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