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O Viajante - Capítulo LX - Mikael - Maio de 1973

A ida ao São Francisco de Assis foi péssima. Era a terceira vez que eu aparecia arrebentado. Doutor Antônio sabia que tinha algo errado e me alertou para que eu não aparecesse assim de novo, pois estava causando uma impressão ruim ao hospital.

Recebi pontos no supercílio, ganhei um afastamento de um mês por conta da luxação no cotovelo e precisei engessar o braço. Não era tempo suficiente para me recuperar, mas eu não tinha escolha. Se eu não obedecesse, seria demitido e não conseguiria manter uma vida digna para o Samuel e a minha mãe.

Quando me lembrava de tudo o que estava acontecendo, me sentia sendo soterrado por pedras em um abismo. Eu não era capaz de digerir o caos ao meu redor e, por mais que eu tentasse, não podia fugir dele.

Naquela ida ao hospital, tive um lampejo de vontade de pegar algum sedativo na farmácia para apagar por horas, em um profundo sono sem sonhos. Porém, isso me faria quebrar todas as minhas promessas.
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Dediquei a minha tarde para comprar lençóis e dois colchões novos e os transportar até à casa. Precisei da ajuda do vendedor da loja de móveis para isso devido ao meu braço. Acabei por gastar o restante do meu dinheiro guardado com essas aquisições e isso me preocupou.

No início da noite, o Wolfgang chegou em minha casa. Ele tinha me pedido para não me preocupar e confiar nele e assim eu fiz.

O rapaz parecia agitado e falava rapidamente, atropelando as palavras. Chamei para irmos até o quarto, e, ao chegar lá, nos sentamos na beira do meu colchão velho. Eu pedi para que ele respirasse fundo e devagar.

— Eu fui na casa do Levi e falei com ele e com a Isabelle... — Contou após se tranquilizar. — Ela fez um plano pra hoje à noite.

Senti um acalento junto da aflição. O Wolfgang me trazia uma tranquilidade indescritível, porém a ameaça de Isaac não a permitia ficar.

Se tudo desse errado e aquele verme ferisse ele, o Samuel ou minha mãe, eu não seria capaz de responder por mim.

Era um fato que o patriarca viria atrás de nós e eu devia estar preparado para o momento em que isso acontecesse. Não era possível ter paz enquanto se esperava a guerra.

— Ela e o Levi vão passar aqui mais tarde. — O Wolfgang continuou. — E explicar pra você o que a gente tem que fazer.

Minhas mãos estavam geladas e sentia o suor se acumular debaixo do gesso em meu braço.

Estava muito perto do momento em que eu tiraria minha família da mão do meu genitor desgraçado. Cada descuido aumentava o risco das pessoas que eu amava se ferirem.

Ao mesmo tempo, se tudo desse certo, eu poderia trazer dias tranquilos para a Sara e, principalmente, para o Samuel. Ele era só uma criança e merecia paz.

— Obrigado por ter feito isso por mim, Wolfgang. — Agradeci o Wolfgang, toquei o seu queixo e depositei um beijo em seus lábios.

— Eu falei pra confiar em mim. — Retrucou com orgulho e esboçou um sorriso triste, que eu retribuí.

— Eu sempre confiei em você. — Meu sorriso se intensificou e o afeto me consumiu.

Acariciei os cabelos dele e beijei sua testa, no que o Wolfgang tocou o meu rosto, com ambas as mãos, e me beijou até que nosso fôlego findasse.

Minha mão foi até sua nuca e o puxei para perto, seus braços envolveram os meus ombros e ele encaixou seus lábios calorosos no meus de novo.

Com cuidado, o rapaz de cabelos negros se sentou no meu colo, evitando esbarrar no braço engessado. Sua boca foi até o meu pescoço e o ar quente, de sua respiração, tocou a minha pele, que se arrepiou.

Ele deixou vários beijos quentes e úmidos naquela região. Meus dedos deslizaram até as suas costas, a toquei por cima da camiseta e senti o corpo magro, mas ainda firme, do Wolfgang.

Não pude resistir à tentação de tocar sua pele nua, portanto desci até a borda da camiseta e passei a mão por dentro dela. Ao alcançar aquela pele alva eu afundei, delicadamente, meus dedos nela.

Nossos gestos eram de medo. Junto da ternura, do amor e do desejo, estávamos com medo, o que se refletia nas carícias afoitas. Eu o tocava como quem segura algo fugaz, que logo vai embora.

O Wolfgang se afastou do meu pescoço e fitou com aqueles olhos negros, confusos e brilhantes. Desejei poder ficar com ele aquela noite e fingir que o mundo ao nosso redor não existia.

Não teríamos um local para ficarmos sozinhos juntos após Sara e Samuel virem morar comigo, porém eu encontraria algum lugar secreto para nós. O tempo era curto demais para desperdiçar as mínimas chances.

E o que seria de mim quando esse tempo acabasse?

Parecemos nos dar conta, simultaneamente, que teríamos que sair dos braços um do outro. Trocamos um olhar triste e o Wolfgang se afastou de mim e tornou a se sentar no colchão.
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Não tardou para que Isabelle e Levi chegassem.

A jornalista me explicou o plano que arquitetou: no alto da madrugada, eu iria, junto do Levi e do Wolfgang, buscar o Samuel e a minha mãe. O Wolfgang iria na minha frente para me dar suporte em qualquer adversidade e Levi iria na retaguarda, para evitar que alguém nos seguissem.

Minha mãe e irmão seriam levados até o bar do Silva e abrigados lá durante o resto da madrugada. Eu iria para a casa no primeiro ônibus, quando ainda estivesse escuro. No início da manhã, o Samuel pegaria um ônibus junto do Wolfgang e Sara pegaria o veículo seguinte com Levi.

Isabelle nos esperaria em minha casa e se certificaria de manter a discrição da chegada da minha família.

— Eu trouxe o revólver. — A jornalista olhou para o Wolfgang de soslaio. — Algum de vocês sabe atirar?

Wolfgang negou com a cabeça e Levi franziu o cenho, com uma feição incomodada.

— Atirei uma ou duas vezes quando era moleque. Mas não sei mexer nisso não. — Contou, sem olhar para a Isabelle. Ele, nitidamente, tinha vergonha do próprio passado.

— Eu sei. — Me manifestei. O Isaac me fazia atirar em pássaros, na infância, e me batia caso eu me recusasse. Ele tinha um prazer sórdido em me ver implorar por misericórdia. Aquele animal era doente.

Percebi os olhares surpresos sobre mim.

— O Isaac me ensinou. — Me expliquei enquanto meu estômago revirava.

— É difícil atirar com uma mão só. — Isabelle observou.

— É melhor do que nada. — Respondi, embora soubesse que atiraria muito mal naquelas circunstâncias. Eu nem mesmo era canhoto e tinha apenas a mão esquerda à minha disposição.

— Eu não tenho coldre, você vai ter que levar na bolsa. — Isabelle me entregou uma bolsa preta e pequena com uma alça comprida. — O revólver tá carregado com as seis balas. Só atira se não tiver como fugir e, se precisar atirar, você tem que apertar o gatilho antes da outra pessoa. — Os olhos da moça não saíram dos meus durante a explicação.

Assenti em resposta. Era hora de colocar os planos em prática. Eu estava nervoso com a ideia. Minhas entranhas estavam frias e minha pele úmida pela suor. E o que mais me apavorou foi o desejo de usar aquela arma contra o meu próprio pai.
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Wolfgang, Levi e eu seguimos um caminho silencioso até o bar do Silva. Pegamos o último ônibus da noite. Ele estava vazio e, pelas janelas, só víamos as ruas escuras, com os postes de lâmpadas amareladas as iluminando.

O breu e o silêncio nos acompanhou no trajeto à pé em direção ao bar. O meu nervosismo se intensificou e minhas mãos começaram a tremer. Imaginei o quão patético seria usar o revólver em meio à tremedeira. Definitivamente, eu não conseguiria acertar o alvo naquelas condições.

Dentro do estabelecimento do Silva, aguardamos a madrugada cair. O silêncio foi quebrado quando Levi, em uma postura constrangida, puxou uma conversa qualquer. Nós três nos engajamos em assuntos frívolos, em voz baixa, como se nunca tivéssemos tido diferenças ou rancores.
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Cerca de 2 horas da manhã, saímos de lá em direção à minha antiga casa. Passei a alça da bolsa da Isabelle ao redor do meu ombro e a deixei caída sobre o lado esquerdo do quadril.

Senti um toque ligeiro na minha bochecha. Era o Wolfgang, que fez um tênue carinho com os dedos e logo voltou a sua atenção à rua. Um sorriso genuíno se formou em meus lábios, mas durou míseros segundos.

Ao chegar à esquina da rua em que eu morava, meu coração acelerou a ponto de eu o ouvir pulsar.

Paramos naquele ponto. O meu peito estava pesado e era difícil respirar. Entretanto, não dava para ceder à fraqueza naquele momento.

A escuridão, mesmo que combatida com postes, já tornava difícil enxergar e as minhas lágrimas deixaram minha virão ainda mais turva.

Eu precisava me controlar. Não existia espaço para as lágrimas e a hesitação.

O Wolfgang saiu na frente e seguiu pela rua, eu fui atrás e o Levi veio no encalço.

Eu já tinha feito aquele caminho milhares de vezes e, apesar disso, minhas pernas tremiam e o meu coração parecia se comprimir dentro do meu tórax.

A garganta, quase sufocada, buscava desesperadamente o ar. E eu guiei o meu corpo como se fosse um operador de trem, apenas o direcionando ao que deveria ser feito.

Andei até à calçada, da casa dos meus pais, e parei diante do portão. Pude ver silhuetas, através do muro baixo, na porta da frente.

Assobiei e notei as sombras se moverem. O Wolfgang e o Levi estavam há alguns metros de mim e eu sentia os olhares deles sobre a situação.

Sara e Samuel se revelaram pelas luzes dos postes ao se aproximarem do portão. Minha mãe segurava uma mala grande e o meu irmão uma menor. Ela colocou a mala no chão, destrancou o portão e pegou a bagagem de volta.

— Mikael! — Samuel falou com animação, embora tivesse o cuidado de sussurrar.

Ao ouvir a voz dele algo doloroso se desfez e me senti feliz. A compressão, em meu peito, diminui até sumir e o ar pareceu entrar, livremente, pelos meus pulmões.

— Vim te buscar, Samuca. — Respondi também aos sussurros. — Eu prometi, não foi?

— Meu anjo, eu senti tanta saudade de você. — Minha mãe falou em uma voz chorosa e eu me continha para não ceder às lágrimas. — O seu braço... — Ela disse ao ver o gesso e fitar minha face. — Você tá todo machucado, o que aconteceu?

— Depois eu explico. Vem.

Os dois atravessaram o portão e, no momento em que Sara o fechou, ouvi um som de vários objetos caindo vindo da casa.

Minha mãe e o Samuel me olharam assustados e o meu tremor aumentou. Por alguns segundos, paralisei, sem saber como reagir.

Com o canto dos olhos, vi o Levi e o Wolfgang se aproximarem, vindos de direções diferentes.

Abri a boca e, com esforço, as palavras saíram em um sopro fraco.

— Wolfgang... — Chamei e o meu namorado me olhou. — Leva eles pro bar!

— E você? — O Wolfgang indagou.

As luzes da casa acenderam. O desgraçado viria até mim.

— Cara, vamos só fugir. — O mecânico sugeriu. — Deixa esse filho da puta pra lá.

— Você ficou maluco? O Isaac vai te machucar! — A voz do Wolfgang saiu firme.

— Leva eles. Por favor. — Quase supliquei ao meu namorado.

— Mikael, não faz isso. — Sara implorou com a voz embargada. — Vem! Deixa o seu pai aí...

— Ele vai atrás de gente, mãe. Eu vou resolver isso.

— Não! — Ela implorou. — Vamos embora, Mikael. Vem!

Olhei para o Samuel, que chorava em silêncio e fitei o Wolfgang que me olhava com o cenho franzido.

— Wolfgang, eu confio em você. Então, cuida deles. — Meu olhar foi para a Sara, que chorava. — Mãe, o Samuel precisa de você. Vai!

O Wolfgang me encarou com incredulidade e certa revolta. Eu sabia o que ele pensava e o quão desesperado estava por minha decisão.

— Por favor. — Pedi com todas as minhas forças.

Percebi que algumas lágrimas escorreram dos seus olhos.

— Vem. — Ele pediu ao olhar para a minha mãe e, gentilmente, pegou a mala de suas mãos.

Sara segurou o Samuel pela mão, me olhou com o semblante repleto de dor e então começou a andar para descer a rua junto do Wolfgang.

O Levi permaneceu parado ao meu lado.

— Vai com eles. — Pedi enquanto tirava o revólver da bolsa e via a porta da minha casa abrir.

— Deixa de ser otário, galã. — O mecânico retrucou. — Você não sabe dar nem um soco decente.

Deixei uma risada escapar, em uma rajada débil de ar pelo nariz. Por algum motivo, o meu senso de humor, que não era grande coisa, apareceu naquela situação caótica.

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