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O Viajante - Capítulo LIV - Wolfgang - ?

Passado, presente e futuro se misturavam em minha mente. Eu estava confuso e muito ferido. A memória da minha mãe, se desfazendo e virando pó, era uma merda de um parasita que se infiltrou em cada pedaço meu.

Parecia que eu estava submerso. Os ruídos estavam distantes e distorcidos, meus olhos captavam imagens embaçadas e eu mal sentia os pés tocando o chão.

E eu era asfixiado pelas lembranças, elas eram capazes de comprimir o meu sufocar os meus pulmões como a água faz com um afogado.

O pedido do Mikael, para eu eu fugisse, chegou em um sopro fugaz.

— Não dá pra te deixar sozinho... — Foi o que consegui responder.

Encarei o Levi. O que pude notar, em meio à visão embaçada e cinzenta, foram as lágrimas escorriam pela face ao mesmo tempo em que ele carregava fúria nos olhos.

O rapaz estava acabado, à beira de colapsar, assim como todos nós. Eu sabia que precisava o enfrentar, porém eu também me sentia mal por ter causado todo esse caos.

— Eu não sei como tirar a gente daqui. — Para falar aquilo, abri a boca e usei todo o meu fôlego. Porém, o que consegui foram sussurros apáticos.

A Isabelle segurou o braço do Levi para o impedir de avançar em minha direção. Ele a olhou de relance e relaxou o semblante quando ela o tocou.

— Calma! Brigar não vai ajudar a gente vai sair daqui. — Ela interviu.

— Porra, vai se foder, moleque! — O Levi gritou para mim. — Que porra é essa? Por que você começou essa merda? Para! Só tira todo mundo daqui!

Eu não soube o que responder e, no breve silêncio, me recordei da minha mãe se desfazendo em meus braços, com seus ossos se revelando debaixo da carne.

Não era hora de me afundar em lembranças, mas elas não iam embora. Eu queria parar de lembrar daquela merda de visão, queria esquecer.

— Foge... — Mikael suplicou e tocou o meu braço, o que fez eu me assustar e sair do espiral de lembranças horríveis.

Olhei-o com o canto dos olhos e fitei sua face machucada, com um corte no supercílio, nariz sangrando e um dos olhos roxo e inchado. Ele mantinha o braço, que Levi golpeara, encolhido contra o corpo.

Mikael era como um edifício que, mesmo naa ruínas, mantinha suas bases imponentes.

Doía vê-lo machucado e eu sofria, ainda mais, por saber que foi para me proteger. Ele não precisava fazer aquilo, a última coisa que eu queria era o machucar, mesmo que indiretamente.

— Não tá me ouvindo, porra? Tira a gente daqui! — Os gritos do mecânico ecoaram e eu os ouvi distantes, por mais que ele estivesse próximo.

— Eu te vi, ainda pequeno, na sua casa. E aquele merdinha disse que tava decidindo se ia matar a gente ou não! — Levi continuou.

Encarei o rapaz que gritava e, por mais que eu o enxergasse e o ouvisse, sua fúria não chegava até mim. Eu sentia meus braços e pernas como nuvens, que flutuavam, e a realidade palpável era feita das horríveis recordações da minha mãe.

Tentei desviar os pensamentos e me concentrar em responder algo ao Levi, mas era difícil.

A dor ardia no meu peito e eu já não suportava mais carregar essa lembrança. Meu estômago revirava, a todo tempo, e eu só não vomitava mais porque já não havia nada para ser expelido.

Meu corpo também não me obedecia totalmente, os braços e pernas estavam tremendo, de maneira tão violenta, que meus passos estavam trôpegos.

ANDA, FAZ ALGUMA COISA! — Os gritos do Levi eram estrondosos.

Eu precisava agir e deixar de lado, na minha mente, a imagem do corpo da minha mãe se decompondo.

De sua pele se desprendendo, dos músculos atrofiando... De seu corpo virando pó, deixando os meus dedos vazios e indo embora para sempre.

Do pai infeliz, do filho sem mãe...

A MINHA MÃE MORREU NA MINHA FRENTE, PORRA! — E isso saiu, dolorsamente, da minha garganta, como uma explosão. Eu queria vomitar o horrível fim da Rosa, fazê-lo sair de mim como se fossem as vísceras de um animal abatido.

Com o meu horror, o vento retornou, não tão forte como antes, mas furiosos o suficiente para uivarem.

Houve um silêncio entre nós. Ninguém ousou falar nada nos segundos que se seguiram.

Um toque terno, do Mikael, alcançou os meus cabelos e ele os acariciou como forma de conforto.

— Sinto muito... —  O enfermeiro sussurrou. Embora tenha escolhido palavras simples, tinha uma tristeza esmagadora na voz.

Ele recostou a face na minha cabeça e a beijou, suavemente, por entre os meus cabelos. — Sinto muito... — Repetiu.

Tudo que eu queria era poder chorar ao lado dele.

— Wolfgang... — Ouvi Isabelle dizer com pesar. Ela soltou o Levi, se aproximou de mim, com pressa, e me abraçou.

Era inegável que a maior afinidade da jornalista era com o Levi, mas eu tinha, por Isabelle, uma amizade recheada de admiração e ternura, o que fez aquele abraço não precisar de palavras.

Quando a moça se afastou do abraço, notei que o Levi se aproximou. Ao perceber a proximidade, o Mikael passou o braço ao redor dos meus ombros e me puxou, ligeiramente, para trás.

— Grilo, só tira a gente daqui. — Levi falou com seriedade na voz, mas não conseguiu disfarçar as oscilações causadas pelo desespero. — Eu também perdi a minha mãe. É uma merda, é horrível! Então, me deixa chorar pela morte dela e vai chorar pela morte da sua.

Quem poderia julgar o mecânico? Ele estava certo quanto à própria dor, Levi também merecia chorar pela morte da Tereza.

Entretanto, ele não conseguiria compreender o caos que acontecia em meu cérebro. Ninguém poderia, apenas a minha mãe, que era amaldiçoada como eu.

— Não dá... — Voltei aos sussurros. Como eu podia ser tão fraco àquela altura?

Eu ao menos valia o sacrifício de uma jovem mulher que tinha a vida toda para viver?

O meu pai e a minha mãe se amavam, eram jovens, poderiam ter outros filhos. Por que ela se matou por mim?

Rosa pediu para eu me amar e morreu. Como ela tinha coragem de me pedir aquilo?

Senti raiva. Ela sabia como isso era difícil? Rosa, ao menos, se amava? Minha mãe pediu o impossível e se foi. Que eu me fodesse com esse fardo.

Senti o meu colapso chegando. O desastre se iniciou como a faísca que toca a gasolina. Os pensamentos dolorosos se alastraram.

Tudo se misturou e eu agarrei os meus próprios cabelos, com uma das mãos, enrolei os fios em meus dedos e os apertei, em um movimento sem razão.

Minha mente escureceu por milésimos de segundo e retornei à realidade com meu corpo sendo jogado para trás. Não consegui me equilibrar por conta das pernas trêmulas.

Caí sentado no asfalto e vi Levi segurando o Mikael pelo colarinho da camisa. Isabelle encarava tudo com um semblante confuso, alternando o olhar entre os dois e eu, que estava jogado no chão.

Ela correu até mim e se ajoelhou ao meu lado.

— Corre. — Pediu. — É um único jeito, Wolfgang. Foge.

Embora eu a ouvisse, não obedeci.

Meus olhos permaneceram no Mikael. Eu não podia deixar o Levi o machucar. Por mais que eu desejasse arrancar o meu próprio coração, existiam coisas boas nele. O amor que eu sentia pelo Mikael era a maior delas.

Levantei, com a cabeça desnorteada, tirei o canivete do bolso e o abri. Eu ouvia a minha própria respiração e captava o mundo de maneira vertiginosa, movido apenas por instintos primordiais.

Quando dei por mim, estava apontando a lâmina em direção ao Levi. O mecânico olhou para mim com seus olhos lacrimejando. O Mikael segurava o pulso dele como uma tentativa de se desvencilhar.

— Solta. — O sibilo das minhas palavras saiu sem eu me dar conta. — Solta o Mikael!

O mecânico obedeceu e o soltou o loiro, que cambaleou e, em seguida, andou até mim e parou do meu lado.

Antes de eu soltar o próximo suspiro aliviado, o mecânico agarrou o meu pulso, cuja mão eu carregava o canivete, e o apertou.

Levi era forte e sua mão quase comprimia meus ossos. Ele desferiu um chute em meu joelho direito, o que me fez cair.

Mikael, rapidamente, deu um soco na cara dele. Sua mão tremeu e afrouxou o aperto em meu pulso, porém ele não me soltou. Quando puxei o meu braço para trás, Levi tornou a colocar força.

O enfermeiro deu outro soco nele, mas o oponente usou o antebraço para se defender. A reação do meu namorado foi chutar a perna do Levi, o que o fez tropeçar, mas não cair.

A constrição em meu pulso se tornou mais intensa, a dor se espalhou pelo meu braço e o mecânico aumentou, gradativamente, a força.

Até conseguir o que queria: que eu soltasse o canivete.

Meus dedos se abriram e o presente, que o Mikael me dera, caiu no chão em um estalido agudo.

Uma figura, mais rápida do que eu podia prever, se aproximou do objeto e o pegou.

Encarei, perplexo, ao perceber que Isabelle tomou o canivete para si, sem entender o que exatamente ela pretendia.

Levi me soltou e, nisso, o Mikael parou de o atacar e nós três encaramos a mulher com incredulidade.

— Babacas! — Ela gritou. Seus óculos haviam sumido, decerto os perdeu na ventania, e com isso, seus olhos se tornaram ainda mais expressivos. Eles brilhavam pelas lágrimas. — Vão à merda, seus animais! Chega! Vocês não vão se matar com essa merda de canivete!

—  Eu só quero que esse filho da puta do Grilo tire a gente daqui! Olha a bagunça que ele tá fazendo! —  Levi rebateu. — Seus braços tão machucados, eu tô machucado, tudo tá fodido por causa dele!

— Levi, para! Você não é assim, não é esse homem cruel! — A jornalista gritou. — Olha a bagunça que vocês três tão fazendo!

Eu não sabia o que dizer, nem como argumentar. Olhei para o Mikael, de soslaio, e vi seu semblante cansado. Ele respirava fundo, estava sujo de sangue e suado. Seu corpo tremia, principalmente as pernas, que pareciam lutar para ficarem de pé.

Junto da tristeza, me veio, novamente, aquela terrível memória. O vermelho do sangue, que escorria do nariz da minha mãe, era muito vívido em minhas lembranças.

— Wolfgang, por favor, tenta tirar a gente daqui. — Isabelle suplicou em palavras lentas e passadas.

A pergunta não me alcançou, pois me lembrei de como o rubro manchava a pele da Rosa, escorria-lhe o queixo e manchava o seu vestido amarelo.

Os ventos, que já uivavam, se tornaram mais violentos.

— Wolfgang? — Ouvi Mikael e Isabelle me chamarem quase que ao mesmo tempo.

Pele. Carne. Ossos. Pó.

Aquela ordem mórbida repetia-se dentro da minha cabeça.  Desferi um soco contra a minha têmpora e tentei parar aquele filme aterrorizante.

Alguns gritos, de Isabelle, Mikael e Levi surgiram. Eles estavam discutindo, mas eu não conseguia entender o que diziam.

As lembranças me levavam para o fundo de um rio e eu não conseguia sair delas. Aquele evento não parava de se repetir. Bati mais uma vez em minha têmpora e o Mikael segurou o meu braço para me impedir de continuar com aquilo.

Algo saiu do controle. Tudo ficou tão longe que se apagou e, quando voltei à superfície e conseguia encarar o mundo, recebi um soco em meu rosto e caí, de bruços, no chão.

Olhei, por cima do ombro, e vi o Levi chutando o Mikael, que também estava caído. O enfermeiro não reagiu, ele parecia inconsciente.

Vê-lo daquele jeito me despertou. Eu voltei ao mundo como quem acorda de um pesadelo e meu corpo reagia ao desejo de lutar.

De sobreviver.

Eu não queria morrer, ainda era jovem, eu só queria viver um pouco mais.  Só mais um pouco...

Levantei, corri até o Mikael e me ajoelhei ao seu lado. Toquei o seu rosto, ferido e caído contra o chão, e o vi abrir os olhos.

— Eu tô aqui, meu amor. — Sussurrei, apressado. — Tá tudo bem.

Levi, surpreendido pela minha intromissão, agarrou os meus cabelos e me puxou para trás.

Ouvi Mikael murmurar algo, imaginei que estivesse me chamando.

— Vai ficar tudo bem... — Continuei a assegurar.

Com o canto dos olhos, vi a Isabelle em um choro desesperado, com o canivete dobrado, guardado em sua mão, como se fosse um tesouro precioso.

Naqueles segundos, em que Levi me arrastou pelos cabelos e me jogou contra o chão, me recordei da razão de ter me desculpado com ela, naquela noite chuvosa.

— Desculpa, Isabelle. — Falei entre as lágrimas.

Eu sentia muito. Ela era uma grande amiga, mas eu não suportava mais aquela dor, aquela luta, a fúria do Levi, os sinais da morte...

Talvez eu devesse sujar as minhas mãos.

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