Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

O Viajante - Capítulo IV - Wolfgang - Janeiro de 1973

O maldito lugar já estava ficando familiar. Eu sonhava com aquele cenário todas as noites. E o enfermeiro estava sempre lá, olhando-me assustado.

Ele estava parado, fitando ao redor, como se procurasse alguma explicação. Meus olhos perceberam uma movimentação distante. Vultos caminhavam entre a névoa. O Mikael pareceu não os enxergar. Mas eu os via, nitidamente. Cada vez mais próximos e se movendo. Caminhei em direção a um vulto que parecia a silhueta de uma mulher. Meus pés tinham pressa em a alcançar. O enfermeiro ficou para trás.

E eu andei… Andei muito….

Andei e ainda não era capaz de alcançar aquela silhueta na neblina…

Até que abri os olhos e vi o teto do meu quarto. Mais um pesadelo. Dessa vez, algo diferente aconteceu. Eu vi vultos em forma de pessoas. Tudo aquilo estava ficando cada dia mais estranho.

Tentei respirar fundo e, nesse momento, notei minha garganta dolorida. Há muito tempo eu não adoecia. Entretanto, desde o dia que desmaiei, sentia-me mais fraco. Talvez já fosse um sinal daquela inflamação na garganta.

Minha voz estava rouca e fumar era doloroso. Porém eu não conseguia ficar sem os cigarros. Meu corpo tremia e meu coração acelerava caso eu não fumasse. Acendi um cigarro e fumei, fechado no meu quarto, recostado na cômoda. As cinzas caíam no cinzeiro ao lado do retrato do casamento dos meus pais. Fitei o rosto da minha mãe. O nome dela era Rosa. Queria saber para onde ela tinha ido.

O cigarro todo se desfez. Saí do quarto, fui ao banheiro e depois para a cozinha. Não achei o meu pai. Peguei um limão na fruteira e fiz um chá com aquela fruta ácida. Não tinham pães para eu comer naquele desjejum. Sentei-me à mesa e tomei o chá, enquanto franzia nariz para toda aquela acidez.

Domingo era um dia de descanso. O único dia que eu não trabalhava no bar. Silva o gerenciava sozinho no primeiro dia da semana.

Ouvi um barulho no portão e ouvi a voz do meu pai… e dela.

— Puta que pariu, nem fodendo. — Tia Norma era a irmã do meu pai. Ela cuidava de mim quando eu era uma criança bem pequena e ainda não conseguia frequentar uma escola. Wilhelm me levava para a casa dela e ia trabalhar. Norma me tratava bem, mas com certa frieza. Na época, eu não percebia sua indiferença.

Os meus primos, Ana e Joaquim, e eu éramos distantes. Minha doce prima Ana até tentava brincar comigo na época, entretanto, eu era uma criatura estranha desde pequeno. Um exemplar de filhote de aberração.

A porta da casa se abriu e ouvi meu pai e tia Norma se aproximando. Eles chegaram na cozinha. Wilhelm carregava uma sacola de pães.

— Bom dia, Wolf. — Norma me saudou secamente. Olhei-a com o canto dos olhos. Era uma mulher bonita. Parecia-se com meu pai. Cabelos castanho-avermelhados, olhos azuis, postura altiva e traços fortes. Entretanto, a força de seus traços não lhe dava um aspecto masculino. Pelo contrário, ela parecia uma versão mais velha de alguma atriz de Hollywood. Meu pai se tornava um pequeno plebeu perto dela, ainda que se parecessem. Porém, o que Norma tinha de bonita, tinha de intragável.

— Bom dia. — Cumprimentei-a com a mesma apatia que ela me cumprimentou.

— Tá tudo bem, Wolfgang? — Wilhelm perguntou, olhando-me com preocupação. Ele puxou uma cadeira para Norma se sentar e se manteve de pé.

— Eu tô com dor de garganta. — Respondi, bebericando o resto do chá.

— Deve ter sido a chuva que você pegou naquele dia. — Meu pai palpitou. Involuntariamente, olhei para minhas mãos. Os ferimentos já estavam sarando. Tentei não pensar naquele dia e nem nos sonhos perturbadores.

Wilhelm colocou a sacola de pães sobre a mesa junto de uma garrafa de manteiga que ele tirou da geladeira. Em seguida, abriu os armários e pegou os ingredientes para fazer café, depositou-os sobre o balcão da pia e começou a preparar a bebida quente. O som da água da torneira batendo na jarra de metal fez meus ouvidos doerem.

— Trabalhando demais? — Minha tia perguntou, olhando-me.

— É, um pouco. — Peguei um pão e mordi, sem passar a manteiga. Eu tinha um gosto peculiar por pães sem nenhum adicional, como manteiga, queijo ou presunto. Minha garganta doeu para engolir aquele pedaço de pão.

— Aquele bar tá caindo aos pedaços, não é? — Ela estava se preparando para dar um bote, tal qual o gato da vizinha fazia quando via pequenos pardais na rua.

— Nem tanto. — Eu só queria que a conversa acabasse ali.

— Não pensa em arrumar um emprego na indústria, como o seu pai?

— Norma, não começa com isso. — Wilhelm a advertiu com sua voz grave.

— Willi, só tô dando uma sugestão pro meu sobrinho.

— Tia… — Chamei-a com aquela voz fraca e rouca pela dor na garganta. — Eu sou a porra de um palito. Não aguento o trabalho braçal que o pai aguentou antes de virar supervisor. Sirvo pra trabalhar em outras coisas.

— Olha a boca, Wolfgang! — E dessa vez, a advertência do senhor Wilhelm Dietze foi para mim.

— Ah, o Willi sempre foi muito dedicado… Trabalha desde que era um garoto. — Maldita víbora aquela mulher era.

— Diferente de mim, não é? — A resposta me escapou.

— Chega! — Wilhelm gritou antes que minha tia me respondesse. — Se vão ficar brigando como duas crianças, saiam de perto de mim!

— Willi… — A mulher esfregou o rosto e arrumou a sua longa trança com a mão, jogando-a para trás do seu ombro.

— Norma, eu já pedi pra você parar com essa conversa. O meu filho trabalha onde ele achar melhor. — Meu pai falou com mais calma. — Por favor, para com essa insistência. — A mulher assentiu ao que o irmão disse. Os olhos azuis e severos dele foram, então, até mim. — E você, eu exijo que respeite a sua tia!

Restou-me também assentir ao que ele disse. Fiquei em silêncio até o café ficar pronto.

Após meu pai se sentar à mesa, ele e sua irmã conversaram sobre Ana. Ela tinha se casado há alguns meses. Norma contou que minha prima já queria ter um filho. Eu os ouvia em silêncio.

— E o Joaquim? — Wilhelm indagou. — Não quer casar?

— Ele tá namorando. — Ela respondeu. — Troca de namorada como quem troca de meia.

Percebi um lampejo de tristeza no semblante do meu pai. Porém, rapidamente, ele voltou a si.

— Um hora ele encontra alguém. — O homem disse de maneira automática e apática. Perguntava-me se, nesses momentos abruptos de tristeza, ele pensava na Rosa.

— Quem nunca aparece com namorada é você, não é, Wolf? — Minha tia me olhou com o canto dos olhos.

Senti minhas mãos começarem a tremer e apenas assenti. Wilhelm tomou um gole de café, sem dar muita atenção à conversa.

O silêncio imperou. E os dois irmãos desataram a falar sobre outros assuntos. Em dado momento, senti a mão do meu pai sobre os meus cabelos e ele os bagunçou. Ele me olhou de relance. Percebi o seu semblante terno. Vez ou outra, Wilhelm fazia isso. Uma demonstração contida de afeto que existia desde que me entendia por gente.

Sorri ao gesto dele e aproveitei para sair da mesa. Lavei a xícara com pressa na pia da cozinha e fui até o meu quarto.

Eu fugi da presença de Norma. Sempre fugia. Ela era uma serpente extremamente venenosa.

Abri a gaveta da cômoda e peguei o livro. Era A Metamorfose de Franz Kafka. Geraldina, a simpática senhora que trabalhava na biblioteca da escola que estudei, me deu de presente quando eu tinha 15 anos.

O livro já era velho quando ela me presenteou com ele. Estava amarelado. Folheei-o, encontrando anotações que fiz nas páginas naquela época. Geralmente, eu sublinhava alguns trechos e escrevia algo nos  cantos das folhas.

Sou igual ao Gregor Samsa — Anotei em algum momento ao lado do trecho que contava uma das tentativas de Gregor de se esconder da vista de todos após sua metamorfose em uma enorme criatura repulsiva.

Em seguida, fitei a face da minha mãe no retrato. A última vez que perguntei dela para o meu pai foi quando eu tinha 12 anos. Ele não quis responder e eu insisti. Wilhelm perdeu a paciência comigo. Ele gritou e ameaçou me bater se eu não calasse a boca. Meu pai nunca levantou a mão para mim, sua reação - na época - me assustou. Após aquele evento, ele me suplicou desculpas com os olhos marejados e pediu para eu não perguntar mais sobre a Rosa. Depois, perguntei para a tia Norma. Ela me contou, em tom de segredo, que minha mãe nos abandonou e pediu para eu nunca mais falar do assunto. E eu nunca mais falei.

Ainda assim, mesmo sem a conhecer e sem saber nada sobre ela, queria minha mãe ali comigo.

Por que ela tinha nos abandonado? Naquela foto, com o meu pai, Rosa parecia tão feliz. Ela não olhava para a câmera e sim para o marido, com um sorriso genuíno no rosto. De certo, tudo desandou quando eu nasci.

— Wolfgang. — A voz grave de Wilhelm me chamou. Olhei-o. Ele estava parado, encostado na soleira da porta.

— Eu sempre fujo pro quarto quando faço alguma merda. E o senhor sempre aparece na porta, de fininho, pra falar comigo. Eu quase me cagava de susto quando era criança. — Tentei soar jocoso.

— Sua tia já foi embora. — Meu pai falou de forma apática.

—  Aleluia. Já posso sair daqui, então.

— Eu sei que a Norma não é fácil. Ela… — Seus olhos azuis desviaram dos meus. — É muito difícil pedir isso pra alguém, mas… Tenha paciência com ela, filho.

— Eu não consigo. Ela começa com aquela merda dela de ficar insinuando…

— Respeita a sua tia! — Sua voz saiu com tom de censura. Parei de falar no mesmo instante. — Eu só peço isso.

— Tá, pai.

— Ela é minha irmã. — Os olhos dele voltaram a me encarar. Dessa vez, sem hesitação. — E você é meu filho.

— Não se preocupa. — Senti um nó na garganta e voltei a olhar o retrato de casamento de Rosa e Wilhelm. — Não vou colocar o senhor no meio de embate nenhum.

— Não, Wolfgang. Não é isso. Olha pra mim. — Obedeci-o. — Uma pessoa decente sempre… — O homem engoliu seco. — Vai priorizar os próprios filhos.

O nó em minha garganta se tornou mais intenso. Eu não merecia aquela consideração.

O silêncio imperou e meu pai se afastou dali, sem dizer mais nenhuma palavra. Apesar da culpa, senti também um acalento em meu peito.


O meu dia de descanso foi recheado de indisposição. Passei boa parte do dia sentado no sofá pela fraqueza que veio junto da inflamação na garganta.

Resolvi ir me deitar cedo. Eu teria que trabalhar como um burro de carga no dia seguinte de qualquer modo. Assim que me deitei na cama e me enrolei no cobertor, meus olhos pesados se fecharam.

Continuei a correr por entre a névoa naquele maldito lugar. Corri tanto… Tanto… Até minhas pernas falharem.

E, no meio da noite, acordei daquele sonho em sobressalto com um barulho alto vindo da sala. Meu coração estava tão acelerado que eu o sentia bater contra meu peito. Após aquele estrondo, ouvi sons de passos. Senti medo. Apesar da crescente violência na cidade, ninguém nunca tinha invadido a minha casa.

Tentei ter calma no momento em que me levantei da minha cama. Meus pés tremiam e hesitaram em tocar o chão. Eu estava descalço e o chão estava gelado. Fiquei de pé e, em passos leves, tateei o escuro. Eu sabia que não havia nada lá que eu poderia usar para me defender e assustar a pessoa que invadiu a casa. Mas eu não queria que meu pai se levantasse, eu temia que essa pessoa o machucasse.

Tentei me aproveitar da minha baixa estatura e baixo peso. Talvez eu pudesse atravessar a sala e ir para a cozinha sem ser visto. Minhas mãos suavam e a ideia parecia idiota demais. Porém, quando me dei por mim, já estava abrindo a porta do quarto. Fiz isso com o máximo de leveza que consegui. Temi que a porta velha de madeira pudesse ranger, mas naquela noite, ela estava do meu lado.

A porta do meu quarto dava direto para a sala de estar. Tudo estava tão escuro que eu não conseguia ver nem a silhueta da pessoa ali. Mas ouvi seus passos, como se ela não parasse de andar em círculos. Esgueirei-me pela parede até a abertura da cozinha. O invasor continuava com seus passos sem sentido, sem me perceber.

Ao entrar na cozinha, tateei o escuro até encontrar o balcão. Toquei sua superfície toda e alcancei as gavetas. Minhas mãos deslizaram para os lados até identificar que havia uma gaveta à direita e outra à esquerda. Eu estava parado, então, diante da gaveta do meio. Os dedos trêmulos abriram aquela gaveta velha e todos os meus músculos contraíram quando ela estalou ao ser puxada. Senti minhas entranhas geladas e meu coração a mil. Fiquei parado, embora pudesse jurar que era capaz de ouvir meu próprio coração.

Porém, os passos na sala continuaram a seguir o mesmo padrão. Ele não ouviu.

Coloquei a mão dentro da gaveta e senti vários talheres frios e algumas lâminas afiadas nas quais eu não arriscava pressionar a mão. E, finalmente, encontrei. A maior faca que tinha ali. Deslizei o dedo até seu cabo de madeira e a retirei de lá. Segurei a empunhadura com toda firmeza e força que consegui. Quase que, nas pontas dos pés, corri até a sala e coloquei a mão contra o interruptor, apontando a faca em direção ao som repetitivo.

— Sai da minha casa, seu filho da puta! — Gritei.

A pessoa se virou.

Meu coração gelou naquele momento. Era um menino de cerca de doze anos. Cabelos volumosos, pretos e pouca coisa mais curtos que os meus. Olhos brilhantes, grandes e escuros…

Era eu.

Há alguns anos atrás.

Minhas mãos tremeram tanto que deixei a faca cair no chão. Ele também parecia espantado ao me ver.

— Você… —Só consegui dizer isso.

— Idiota. — A expressão do garoto foi de espanto para raiva. — Você vai fazer o quê?

— Que porra é essa?

— Ou você mata ou você morre. E os dois são uma merda. Eu fiz os dois! Eu fiz os dois! — A respiração daquele versão menor de mim se tornou mais ofegante e seu rosto pálido se tornou vermelho e repleto de ira. — EU FIZ OS DOIS!

— O que você fez?

Meus olhos foram tomados por uma luz forte e aquele maldito som agudo, como um guinchar, ensuderceu meus ouvidos. Eu tapei os ouvidos e me encolhi no chão, sentindo as pernas enfraquecerem.

Não sei quanto tempo fiquei ali, mas assim que a luz e o som se dissiparam, pude abrir os olhos e me levantar e não havia mais ninguém na sala. Tateei meu próprio corpo, pensando se tratar de um sonho. Mas não era. Havia sido bem real.

Levantei-me assustado e levei a faca para cozinha, apaguei a luz e corri para meu quarto, temendo acordar meu pai. Senti medo. Um medo genuíno de estar enlouquecendo

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro