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O Viajante - Capítulo III - Mikael - Janeiro de 1973

Eu estava imerso na neblina. Algum tipo de luz esverdeada iluminava tudo, como se ela fosse o próprio sol. Um ruído agudo e constante tornava aquele lugar ainda mais caótico. Eu não entendia o que estava acontecendo.

Caminhei por entre a névoa, buscando algo ou alguém que pudesse me explicar o que era tudo aquilo. De longe, vi uma pessoa. Devido à neblina cinzenta, não foi possível identificar quem era.

Corri, apressadamente, até àquela pessoa. E quem se revelou foi o garçom do bar. Aquele que desmaiou na minha frente. Wolfgang era o seu nome. Um nome bastante diferente.

Ele me olhou. Seu rosto estava iluminado pelo brilho verde. Os olhos escuros e brilhantes se mantiveram sobre mim. Wolfgang franziu as sobrancelhas, dando uma expressão confusa àquele rosto de feições delicadas.

— Eu te conheço. Tenho certeza disso. — Ele disse com uma voz sufocada pelo som constante.

Meus olhos abriram. A minha respiração estava ofegante e meu corpo suado. Não havia nada essencialmente assustador naquele sonho, mas senti um medo intenso.

Ainda era cedo. O relógio na mesa de cabeceira marcava 6h da manhã. Era a segunda vez que eu tinha um sonho como aquele. A primeira fora no cochilo que tirei à tarde, no dia anterior, após chegar em casa depois de 12h de plantão. Desde que o garçom desmaiou perto de mim, eu passei a sonhar com ele.

Não entendia a razão daquilo. Sequer tinha sido a primeira vez que socorri alguém fora do hospital. E, comparado ao que eu via no meu trabalho no pronto socorro, um desmaio não era nada demais.

Tentei não pensar nos sonhos. Respirei, calmamente, até o pavor se dissipar. Levantei da cama. Apesar de tudo, eu ainda tremia. Minhas roupas estavam ensopadas de suor. Devido a isso, tomei um minucioso banho. Entretanto, nem mesmo a água morna do chuveiro conseguiu me relaxar.


A porta do meu quarto, que era uma suíte, dava para o corredor. Ao fim do corredor, tinha uma abertura para a sala de estar. A casa inteira era pintada de um verde acinzentado. Uma pintura impecável que era sempre retocada. Novas camadas de verde sempre cobriam as imperfeições das camadas anteriores.

Caminhei até a sala de estar, onde dois grandes sofás estavam dispostos em frente a uma pequena TV.  No canto, encostada à parede, estava uma mesa com um telefone azul sobre ela. Um corredor curto dava para a cozinha, onde minha mãe estava. Nosso pequeno fogão era amarelo. Os azulejos na parede da cozinha eram verdes, tal qual o restante da casa, mas tinham um tom mais suave.

— Bom dia. — Cumprimentei. Sara estava diante do fogão, fazendo café.

— Bom dia, meu bem. — Ela me olhou sobre o ombro e sorriu. Era uma mulher de estatura baixa e acima do peso. Suas bochechas rechonchudas e coradas davam um aspecto amigável ao seu rosto. Somado ao doce sorriso e aos olhos verdes e brilhantes, demonstrava imensa ternura ao sorrir. — Dormiu bem?

— Sim. — Menti. — E você ?

— Dormi muito bem. — Eu sabia que ela também mentia. Nós dois mentíamos muito um para o outro, pois estávamos sempre escondendo os nossos incômodos um do outro.  — O café tá quase pronto.

— Eu te ajudo. — Aproximei-me do fogão. Sara pegou a jarra de alumínio, que estava sobre o olheiro, e a colocou no balcão da pia. O coador na abertura do bule, cheio de pó de café, aguardava a água.

— Cozinha não é lugar de homem. — Minha mãe falou em um tom de sermão. — Ajuda de um filho pra fazer café? Que tipo de mãe e de esposa eu sou?

— Mãe, isso é um pouco antiquado.

— Antiquado nada! As coisas são assim e sempre foram. — Ela sempre dizia isso de maneira severa e dura. Preferi ficar em silêncio

— Você precisa descansar, dona Sara ou vai acabar doente de novo. — Sara tivera uma pneumonia há cerca de dois meses.

— Eu tô bem, meu anjo.

— É sério, mãe. — Falei com firmeza.

— Eu tô bem, Mikael. — E minha mãe respondeu tristemente.

Assenti, dando-me como vencido. Queria poder levar minha mãe comigo quando eu saísse daquela casa. Mas eu sabia que ela não iria. Não abandonaria meu pai e meu irmão mais novo.

Ouvi um som do corredor e percebi que meu pai tinha se levantado. Seus passos firmes ficaram cada vez mais altos, até que ele surgiu na entrada da cozinha.

Olhei para Sara com o canto dos olhos. Um semblante aflito se formou no rosto da mulher. Ela olhou para o marido.

— Bom dia, meu amor. — O cumprimento carinhoso ao cônjuge soou triste.

— Bom dia, pai. — Encarei Isaac. Éramos muito parecidos. As únicas característica que nos diferenciavam, além das rugas, era que ele usava a barba cheia e os cabelos estavam começando a cair pela calvície, revelando entradas. Além disso, o homem já apresentava um acúmulo de gordura visceral na barriga.

— O café já tá pronto? — Sua voz era rouca por conta dos longos anos do uso do cigarro.

— Já tá quase, amor. Mikael, pega o pão, o presunto, a mussarela e a manteiga pro seu pai?

Isaac me olhou com o canto dos olhos. Caminhei até a geladeira e coloquei o que Sara pediu sobre a mesa. Em seguida, levei a cesta de pães franceses até ele, que pegou um. Depositei a cesta sobre a mesa, ao lado do pote de manteiga.

— Só tem isso pra comer? — O patriarca indagou.

— Não deu tempo de fazer mais coisa...

— Você acordou tarde demais. — O homem resmungou.

— Ela tá acordada desde antes de 6 horas. — Aquilo escapou da minha boca. Minha mãe me encarou com os olhos marejados e Isaac a olhou com o cenho franzido.

— Esse daí tinha que ter vindo mulher. — E acenou, com a cabeça, em minha direção. — Ele é igualzinho a você.

— Mikael, vai chamar o seu irmão. — Percebi a lágrimas dela começando a ceder. Sara se virou para o fogão a fim de disfarçar o choro.

Assenti e caminhei até a passagem da cozinha. Dei uma última olhada para Sara e então segui pelo corredor, atravessei a sala de estar e alcancei o quarto de Samuel.

Meu irmão estava embrulhado no cobertor, adormecido em um sono invejável. Queria conseguir dormir daquele jeito, sem sonhar aqueles sonhos estranhos que eu vinha tendo.

Nossos quartos eram praticamente iguais. Uma cama de solteiro no meio do cômodo, com a cabeceira encostada na parede. Uma mesinha de madeira envernizada encostada na cabeceira e um guarda roupa pequeno, também de madeira pintada com verniz avermelhado. A única exceção era o fato de que o quarto de Samuel não tinha banheiro. A organização dos quartos era impecável, assim como a de toda a casa. Sara fazia questão disso.

Fui até às janelas e afastei as cortinas brancas. Sentei-me no canto da cama e cutuquei o ombro do menino.

— Acorda, preguiçoso.

A criança resmungou alguma coisa.

— Azar o seu, então. Porque eu vou na praça hoje sozinho. — Falei de maneira alta e caricata.

E, abruptamente, ele abriu os ombros e se sentou na cama, encarando-me com uma expressão surpresa.

— A gente vai na praça hoje? — Eu era muito parecido com o Isaac e Samuel era muito parecido com a Sara. Ele também estava um pouco acima do peso e tinha bochechas rechonchudas. Seus olhos eram ainda mais verdes do que o de nossa mãe. E os cabelos eram castanhos e escorridos como os dela.

— Só se você parar de enrolar e ir tomar café em cinco minutos. — Ele se levantou apressadamente e correu para fora do quarto, provavelmente em direção ao banheiro. Queria oferecer uma infância feliz para o meu irmão. Algo que eu nunca tive.

Maldita promessa que eu fizera. Mas teria que a cumprir. Eu gostava de passar longas horas fora de casa e, quando eu levava o Samuel junto, não temia que ele sofresse. 

Após um café da manhã silencioso, com todos sentados à mesa, resolvi levar Samuel para passear naquela praça que eu prometi que iria com ele. Era sábado, o garoto não tinha aula e, quanto mais tempo ficasse longe de casa, melhor seria.

A tão adorada praça nada mais era do que um extensa área de concreto, com bancos de madeira e um campinho de futebol de terra em um canteiro onde o cimento não fora assentado. Nós a alcançamos após andarmos algumas ruas.

Samuel tinha levado sua bola de futebol. Ao ver o campo, seu corpo agitou-se de maneira eufórica, como sempre fazia.

— Mikael, joga bola comigo? — Pediu de maneira afoita. Eu tinha me esquecido de sugerir que ele chamasse o Joca, um vizinho nosso da mesma idade que o meu irmão. Os dois brincavam juntos na rua.

— Tá, mas eu tô velho. — Sorri. Ou melhor, tentei sorrir. — Canso rápido.

— Assim não vale!

— Jogo com você por 15 minutos.

— Velho! — Samuel me mostrou a língua e correu para o campo de futebol. Eu deveria dizer que aquela atitude dele era errada. No entanto, eu não conseguia.

Andei até o campinho e tirei os chinelos. Corri em direção ao Samuel. O menino, quando me viu, chutou a bola para mim. Parei-a com o pé. O garoto de 10 anos tentou tomá-la usando os seu pés. Nesse momento, foi como se eu me tornasse um moleque. Driblei-o e corri, chutando a bola, enquanto Samuel tentava tomá-la.

Não vi o tempo passar enquanto jogava bola com meu irmão. Passamos incontáveis minutos brincando de uma espécie de futebol de um a um. Sem regras. Tudo que fazíamos era roubar a bola um do outro e tentar chutá-la para dentro de um gol cercado por uma trave de madeira apodrecida. Nossos pés se afundavam na terra escura, cada vez mais encardidos.

Quando, enfim, paramos de jogar, estávamos ofegantes e cansados. Nossas roupas estavam imundas de terra, assim como nossas peles e cabelos.

— Ei, Mikael... — Samuel disse conforme tentava recuperar o fôlego. — A mamãe vai matar a gente.

— Por causa da roupa suja?

— E porque a gente tá todo sujo também.

— É só você obedecer ela e ir tomar banho quando ela mandar. E a roupa... Eu lavo.

— O pai não gosta...

— Deixa isso comigo. — Tentei passar segurança na minha voz. Meu irmão desviou os olhos e fitou o chão.

— Tô com sede. — Reclamou após um silêncio doloroso. — Quero refrigerante.

— Tem um bar aqui perto, vamos lá beber. Mas é só dessa vez que eu vou pagar refrigerante pra você.

O maldito bar ficava há três ruas daquela praça. Imediatamente, a imagem do Wolfgang invadiu a minha memória. Pude-o ver nitidamente com sua constituição magra e baixa. Seu rosto de traços delicados, queixo suave e com as maçãs do rosto evidentes, a pele clara e a palidez nos lábios finos e nas bochechas, evidenciada pelos volumosos cabelos pretos como carvão. O mais nítido na minha memória eram os olhos arrendados e escuros. Fitavam-me como se soubesse de alguma coisa.

Senti medo. Um enorme medo injustificado.

— Ei! Mikael! — Samuel me cutucou, tirando-me daquela lembrança nítida. Olhei para meu irmão menor. — Vamos tomar refrigerante!

— Acho que... É melhor sorvete. — Tentei disfarçar o medo. Eu era muito bom nisso. Tão bom que Samuel, de fato, não notou o meu pavor.

— Sorvete... — O garoto pressionou os lábios, pensativo. — Tá. Vamos tomar sorvete. — E sorriu de maneira sincera. — É melhor que refrigerante.

— Muito melhor. — Respondi, aliviado. Calcei os pés sujos nos chinelos, tornando-os tão empoeirados quanto ao resto das roupas e segui com Samuel até à sorveteria. Meu coração batia violentamente em meu peito. Era um medo visceral, primitivo. Sentia-me como uma presa prestes a ser caçada.

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