O inimigo do meu inimigo é meu amigo
31 de maio de 1941
-Em algum lugar do território soviético
HARRY
Vamos lá Harry, você precisa sobreviver, vamos, lembre-se das suas aulas de natação com o professor Foxer, você sabe nadar, só precisa bater as pernas e voltará para superfície. Isso era o que meu lado de sobrevivência falava, o corpo humano tem essas funções fisiológicas, ele libera adrenalina em casos extremos de medo, quando estamos entre a vida e a morte. O corpo sempre escolhe pela vida, em todas circunstâncias.
Mas e eu? Quero mesmo continuar vivendo? Seria tão mais fácil acabar com tudo agora, nessas águas frias do rio Volga. Por aqui, parece-me menos aterrorizante do que lá fora, em que os gritos de comandantes mandando os soldados descerem dos barcos é absurdo, e em que os gritos de soldados feridos são aterrorizantes, mas ainda pior que tudo isso, é a superioridade bélica alemã, a qual está bombardeando stalingrado nesse momento.
Diante desse cenário caótico, minhas alternativas são escassas. Viver, e lutar uma guerra que de início não era minha, mas que me tirou tudo que eu mais amava, ou morrer, e quem sabe me encontrar com aqueles que já partiram.
A segunda opção me parece mais atrativa, mas acho que Lena teria mais orgulho de mim, se eu morresse lutando, não me afogando em um rio. E só a ideia de deixá-la orgulhosa, me faz finalmente me movimentar nessas águas frias e chegar à superfície.
''Vão, vão, vão.́ ́ Foram as primeiras ordens que eu escutei quando cheguei na margem, comandantes russos gritando para os soldados saírem dos barcos, e entrarem na cidade, ou o resto dela.
́ ́Avante pelotão. Está na hora de matar nazistas. E aos covardes que optam por desertar, aqui minha resposta para vocês .'' E nisso, tiros soviéticos são disparados, a aqueles que permanecem na inércia de não acatarem as ordens.
Então logo me apresso para chegar a margem do rio e fazer o meu papel aqui, matar nazistas. Os gritos não paravam, comandantes mandando os soldados para a luta, aviões alemães bombardeando a cidade, e a esperança morrendo. E isso era tudo que eu via, enquanto caminhava seguindo a multidão de soldados que assim como eu, estavam perdidos.
Conforme vou andando, vejo um caminhão dos soviéticos distribuindo armas aos seus soldados, de cara reconheço um deles. Senhor Karev, comandante de guerra, ex colega de Mark.
''Harry?'' Indaga ele meio surpreso.
''O que você está fazendo aqui? Achei que tivesse mort...Enfim, não importa o que eu acho, pega esse rifle, estamos precisando de um sniper por aqui.'' Diz ele suspirando, enquanto olha ao redor, sem um pingo de esperança no rosto.
Olho para o rifle e assinto. Não que eu tenha prazer em dizer que sou bom em atirar em pessoas, mas como já entendi nesses últimos anos, nazistas não são pessoas, logo, eu tenho sim a satisfação em matar esses projetos errados de humanos.
Olho o cenário, e vejo um prédio destruído com uma boa visão no terceiro andar, adentro ao prédio, e percebo que a área está limpa. E volto a recordar tudo que aconteceu naquele dia, aquele fodido dia, que me dá coragem para segurar esse rifle, e não desperdiçar nenhuma bala.
Lembro o porquê de eu estar aqui, foco nos motivos que me obrigam a atirar nesses vermes que se denominam de raça ariana. E logo, pego meu rifle e faço o que realmente vim fazer aqui. Os barulhos externos são todos ignorados pela minha mente, não há barulhos de avião, tanques, e soldados gritando, só há na minha mente lembranças, malditas memórias.
A cada nazista que atiro com precisão, lembro-me dos meus amigos que se foram, a maldita lembrança dos gritos deles sendo executados friamente, do outro lado da sala. Primeiro o Alex, seguido de Steven, Mark e ela...Elena.
''Harry, acorda!'' Escuto um grito distante, e familiar.
''Vamos filha da puta, acorda aí antes que o seu sogro entre aqui e faz pipoco da gente.''E finalmente sou desperto, com um copo de água sendo jogada no meu rosto. O que me faz despertar rápido e assustado. De novo essa merda de pesadelo.
́ ́Outro pesadelo?́ ́ Questiona Steven, me olhando preocupado, já que essa situação está cada vez mais recorrente.
''Sim, a mesma merda de sempre. O prédio aos pedaços, aviões, o rio, e lembrança de vocês sendo executados.'' Respondo suspirando.
́ ́Você acha que é algum tipo de premonição?'' Pergunta Steven enquanto amarra os cadarços da bota.
''Sei lá, espero que não. De qualquer forma, não quero mais pensar nisso.'' Respondo suspirando e levanto da cama, percebendo que a mesma está alagada por conta do meu suor.
''Harry, sei que já falamos disso antes...mas você não acha melhor falar para Lena, o que está acontecendo?́ ́ Questiona meu amigo um pouco hesitante, pois só discutimos sobre essa merda de pesadelo uma vez, quando ainda estávamos presos, mas logo disse que não queria mais falar no assunto, achando que era algo isolado. Iludido.
''Não, só de lembrar daqueles olhos azuis apavorados me olhando na noite anterior, quando acordei ela aos gritos, como se eu fosse uma criancinha medrosa. Finalmente entendi que é algo que não se deve ser conversado.'' Digo meio abalado, enquanto tiro minha camisa suada.
́ ́Talvez, ela sabendo do que está acontecendo, ela pode ajudar. Achei que quando você encontrasse ela, sei lá, achei que essa merda ia acabar.'' Comenta meu amigo meio perplexo.
''Isso não é um romance, em que a personagem principal é a resposta para tudo Steven.'' Respondo revirando os olhos.
''Mas poderia ser, sua falta de crença me deixa triste.'' Diz Steven rindo, recebendo um xingamento frustrado meu.
''Bem, já que você não aceita minha ajuda não falarei mais. E não seja estupido com ela, você sabe que ela vai querer saber, não é burra, e não vamos esquecer do fato de você ter corrido dela o dia todo.'' Murumura meu amigo com o semblante preocupado.
''Steven, não to afim de conversar agora, nem de pesadelo e muito menos sobre eu estar fugindo dela.''
''Está bem, está bem, mas quem avisa amigo é. E você deveria conversar com ela.'' Diz ele levantando os braços, como se estivesse certo.
''Não....não agora, acabamos de voltar. Não precisamos de mais estresse, e não quero mais falar nisso. Vou tomar uma ducha, minhas costas estão pregando.'' Mudo de assunto, e vou em direção ao armário de acessórios.
́ ́Você quem sabe...bom você tem exatamente dez minutos para a ducha, Mark pediu para que ninguém se atrasasse, teu sogro anda estranho ultimamente. Vou indo, quero tomar um café antes.'' Comenta Steven, e eu só confirmo com cabeça, enquanto ele sai do alojamento.
Vou em direção ao chuveiro, e tento organizar meus pensamentos. Sei que eu não estou bem, e sei que isso pode acabar afetando Elena. Antes de ontem quase afetou. E a ideia de machucar ela, mesmo que inconsciente, me mata por dentro.
Estava tudo certo, levamos Denise até Alex, depois ficamos um pouco na cantoria dos soldados bêbados, chegamos até dançar, e partimos para o dormitório dela, namoramos um pouco, e acabamos pegando no sono. E aí a merda começou, não lembro bem o que aconteceu, só sei que acordei com os gritos dela, com seus olhos nublados me encarando, ela diz que não estava com medo, mas sim preocupada, mas eu não acreditei. Seus ollhos nublados naquela noite não mentiam, ela estava com medo, medo de mim.
Lembro dela me dizendo que foi só um pesadelo, e que podíamos conversar, mas minha vergonha era grande, e o medo também, o desconhecido é aterrorizante, e meu sonho é o pior deles. Então pedi desculpas, e saí praticamente correndo do seu quarto, e sumi ontem o dia inteiro, até cheguei a pedir um quarto só para mim, não queria conversar nem com Steven, mas não foi possível. Elena por ser orgulhosa demais não me procurou, e eu por ser um babaca medroso, também não a procurei.
Caralho, o que está acontecendo com minha mente? Será que só eu estou tendo esses colapsos que alguns soldados tem?
Evito pensar nisso agora, e saio da ducha, me trocando rapidamente, já que Mark está à espera de todos. Mark....outro está bem estranho, como Steven comentou. Além das nossas divergências do dia que cheguei, achei ele muito esquisito, deu para perceber que ele estava preocupado. E isso era visível, não só pelo seu semblante, mas também pelo reforço da guarda. Mas tento evitar pensar nisso agora também. Por hora, só quero evitar problemas, e tentar falar com Lena, sem mencionar a noite anterior, sei que ela fará perguntas, mas irei tentar distraí-la quanto a isso também, dizer que foi apenas naquele dia, e que estou bem.
Assim que chego na área em que a reunião vai ocorrer, percebo que estou atrasado, e na sala só há um silêncio constrangedor.
''Licença, peço perdão pelo atraso.''
''Está bem filho, entre. Acho que podemos começar senhores. Esse aqui é o senhor Thomson, irá traduzir para você, Joel e Steven, o que o senhor Karev falar aqui..'' Diz Mark apontando para o tradutor, que só me cumprimenta com o olhar.
senhor Karev...esse nome...olho para a figura, e sinto algo ruim, é ele. Ele é comandante de guerra da merda do meu sonho.
''Bom dia senhores, trago informações lamentáveis do meu agente infiltrado. Então nem preciso dizer que o que for falado aqui é extremamente secreto. Entenderam?́ ́ Questiona o velho barbudo com a voz severa, e todos aqui presentes concordamos. Percebo que o tradutor é ágil, Mark foi muito gente boa, em incluir eu e meus amigos nessa reunião.
''Dito isso, devo lembrá- los que a União Soviética e outros governos de linha capitalista, nunca foram amigáveis. E com a Alemanha não seria diferente, embora tínhamos um pacto de não agressão estabelecido, o qual deu vantagens para ambos. Mas dizer que nossas Nações são amigáveis por conta disso, é tolice.́ ́ E então o Major começa a explicar a geopolítica do leste europeu, dizendo o quanto os países de ideologia fascista demonizam o comunismo para a sua população.
́ ́À vista disso, parece-me que Hitler quebrou esse tratado em dezembro do ano passado. Senhores sabiamos que a qualquer momento seriamos alvos deles, o pacto de não agressão foi um mero suspiro de tranquilidade falsa. Estamos na grande guerra agora meus camaradas.'' Assim que o tradutor termina sua fala, sinto o olhar de Steven sobre mim. Tenho certeza que ele deve estar relacionando isso com os meus pesadelos, e olha que ele nem sabe que esse Major Karev, estava no meu pesadelo. Confesso que estou começando a ficar assustado.
''E tem mais...'' Diz o chefe de guerra suspirando.
́ ́Para os nazistas, nós soviéticos somos todos iguais, para eles não há diferença se seguimos os ideais natos de Marx e Hegel, ou se somos seguidores do nosso amado falecido Lenin, ou se apoiamos o regime de Stálin. Para eles, não temos diferenças. Para eles, todos nós devemos morrer. Então soldados, nossas indiferenças com nossos irmãos de nação terão que ser superados, se a Alemanha, vê apenas um povo, então eles enfrentarão apenas um povo, um povo com um inimigo em comum, o qual não se curvará ao nazismo. Hoje nos juntamos ao exército de Stalin.'' E assim, o comandante encerra seu discurso, causando inúmeras reações nos outros aqui presentes.
́ ́Senhor Mark, perdão, mas você está de acordo com isso? Estamos fugindo dos stalinistas desde a morte de nosso camarada Lênin. Há muita coisa que não pode ser ignorada.'' Questiona um dos homens mais antigo da resistência.
́ ́Eu mais do que você meu amigo, sei disso. Mas infelizmente, não vejo outra saída, não temos forças suficientes para enfrentar o exército alemão. Não sozinhos.'' Diz Mark suspirando, dá para sentir a tensão no ar.
́ ́Comandante, mas o que nos garante que os Stalinistas não irão nos matar? Estamos com divergências a anos. E se isso não for mais uma tática para nos levarem para algum desses Gulag?'' Questiona outro homem.
́ ́Stálin é um merda meu camarada, mas não é estupido. O exército vermelho já está convocando vários jovens de 18 anos, que nunca tiveram contato com uma arma para participar do exército. Não nos mataria, nós homens de guerra, que sabemos como lutar.'' Responde dessa vez o comandante, sem deixar a voz vacilar.
''E o que te faz ter tanta certeza, que ele irá reconhecer nossas vantagens?'' Devolve o homem a pergunta.
''Ele sabe meu camarada, eu, Mark, Karensk, e mais alguns presentes aqui, lutamos lado a lado com ele, na revolução de 1917. Então eu afirmo, nosso inimigo em comum, trará a trégua entre nós.'' Responde o comandante, e logo mais perguntas são feitas, e ele responde a todas calmamente. Vejo que Mark está calado, e não fica para a discussão, pois logo se retira da sala, e eu vou atrás dele.
'''Veio aqui fora fumar, ou admirar minha beleza filho?'' Questiona Mark com as costas viradas para mim, com seu típico tom de ironia.
''Na verdade, nenhuma das opções. Vim saber como é que você está?'' Falo, enquanto me aproximava mais dele, ficando ao seu lado.
''Me sinto vazio. Parece que esses anos todos, de resistência, guerrilhas, e estudo, foram anulados, como se tivesse sido uma perda de tempo. O meu tempo no caso.'' Responde Mark, com uma voz calma, que encobre toda sua revolta.
''Não foi atoa. Veja bem Mark, você mudou vidas, todos esses jovens que estão aqui hoje, é porque acreditam em um futuro melhor para a União Soviética, e isso é por causa de você.''
''E então, após conseguir a confiança deles, eu simplesmente peço a eles que se juntem ao sistema que tanto criticamos. Isso é hipocrisia.'' Responde Mark puxando mais um cigarro.
''Não Mark, isso é sobrevivência. Às vezes para viver temos que nos sujeitar a isso.''
''Você não percebe a ironia de sua fala não é mesmo meu jovem?'' Questiona Mark após um tempo, finalmente se virando para mim.
''Você estava bem na Inglaterra, nem precisaria se alistar, tinha casa, comida, nenhuma preocupação de invasão. Mas mesmo assim escolheu isso, escolheu morrer em uma guerra, a qual não precisava de você.'' Murmura ele, como se não compreendesse meus motivos.
''Sua definição de 'estar bem' é curiosa. Porque qualquer merda que estou vivendo aqui é melhor que minha vida na Inglaterra. Mas acho que para você entender o que estou dizendo terei que fazer uma comparação. ́ ́
''Elena também não precisava estar aqui, ela estava bem, tinha casa, comida, e nada de preocupações geopolíticas, de acordo com sua definição, ela estava bem. Entende agora?'' Questiono com uma sobrancelha levantada para ele.
́ ́Nossa, Elena. Não faço ideia de como irei contar isso a ela. Só de imaginar o que ela passou naquele Gulag, a mando do puxa saco de Stálin, também conhecido como seu avô, me dá vontade de quebrar tudo, e cancelar todos esses acordos.'' E então o pai urso volta, e toda a calmaria estranha se evapora.
''Você acha que nos encontraremos com John?'' Questiono um pouco atordoado.
''Com toda certeza meu filho. Esse homem é mais sujo do que eu pensava, estou com inúmeras pastas de relatos sobre ele e seu passado na Inglaterra, que me deixaram assombrado, e olha que eu já vi muita coisa.'' Diz Mark friamente, o que me deixa assustado.
''Mas não irei vacilar mais, aquele filho da puta não chegará a um metro de distância da minha filha. Disso você pode ter certeza, e só não irei me encarregar da morte dele pessoalmente, pois ele é um covarde de merda, que se esconde, não irá em nenhum encontro, e muito menos em batalhas.''
''Mas isso o torna mais perigoso, sem saber do seu paradeiro, e ele sabendo do nosso, sua superioridade é evidente, ele pode simplesmente mandar alguém atrás da gente.'' Argumento um pouco atordoado.
''Pois é por isso que eu digo: sempre ande com sua arma, até mesmo para dormir. E quanto a Lena, já estou deixando soldados perto dela, além disso, solicitei a Luca para que treine ela, caso ocorra alguma eventualidade que exija defesa pessoal. Todos os cenários são possíveis.'' Comenta Mark naturalmente, como se tivesse a solução para todos os problemas.
''Luca? O senhor solicitou isso ao Luca? Por que não pediu para mim? Na verdade, pode dispensar Luca, eu mesmo irei treinar Elena.'' Respondo pelo ciúmes que me consome, odeio esse Luca, ele já deixou mais do que claro seus interesses pela Elena.
''Que bicho te mordeu Harry? Não vamos mudar isso, já está decidido. Enquanto Lena aprende manuseio de armas e lutas, você e Steven irão aprender o russo e alemão. Já eram para ter aprendido na verdade.'' Diz Mark meio que me julgando.
''Eu já sei um pouco de russo, se falar pausadamente, eu compreendo.'' Respondo bufando.
''Claro, em guerra, com a emoção controlada, ninguém irá gritar e falar rápido com você não filho.'' Diz ele ironicamente para mim.
''E eu farei essas aulas de alemão junto com Elena? Já soube que ela está aprendendo o idioma. Com Luca.'' Digo com raiva.
''Obviamente que não, minha filha está bem mais avançada do que você. Prática com o Luca todos os dias, ele já diz que ela está fluente no idioma.'' Responde meu amigo rindo.
''Então Elena terá mais um tempo com Luca? Beleza.'' Respondo fechando a cara.
''Harry, preciso de você aqui comigo, montando táticas, e para isso, você precisa praticar o russo, para poder debater. Sei que você quer ficar perto da Elena, sei disso, e vocês vão ter bastante tempo para isso. Mas agora, estamos em guerra, e sim, isso é uma merda.'' O meu sogro diz com calma, e percebo que estou perdendo tempo aqui com ele.
''Sim senhor, então se me dá licença, irei ficar com Lena, antes que o Luca monopolize todo o tempo dela, com licença.'' Respondo a ele, e saio indo em direção ao dormitório de Elena.
Que se foda o meu medo, e o orgulho dela. Passamos muito tempo longe, para ficarmos sem se falar por escolhas nossas.
''Oi. Posso entrar?'' Pergunto a ela, assim que apareço em sua porta.
''Claro.'' Responde ela meio triste. E logo larga seu livro em cima da cama, e me encara.
''E qual a programação de hoje?'' Tento puxar um assunto com ela, para quebrar esse silêncio constrangedor.
''Estava indo me encontrar com Lauretta.'' Percebo pelo tom de voz sério dela, que está brava.
''Bom, então depois eu volto.'' Respondo já indo em direção a porta. Que situação chata.
''Harry, não. Espere, eu posso encontrar ela depois, fica.'' Diz Lena, me puxando pelo braço.
''Sei que você não quer conversar sobre o que aconteceu ontem.'' Começa ela calma, mas para assim que arregalei meus olhos.
''Não faz essa cara, não precisa ser um gênio para saber que você estava fugindo de mim. Não vou mentir, quero saber sim o que aconteceu...Mas, mas se você não preferir contar, tudo bem, não vou invadir seu espaço.'' Diz ela de forma simples e calma. Acho que ainda não sei compreender de onde vem essa maturidade misturada com gentileza que é algo só dela, sei que não veio dos seus avós, acho que é algo inato.
''Eu vou contar...não hoje, mas quando eu estiver preparado. Está bem?'' Pergunto gentilmente enquanto beijo uma de suas mãos.
''Está bem. Já entendi que você é um homem misterioso.'' Responde ela sorrindo, e logo se sentando na cama.
''Eu? Misterioso? Gostaria de saber como você chegou a essa conclusão.'' Falo em falso tom de indignação, enquanto me jogo na cama ao seu lado.
''Vamos começar pelo fato de você ter caído de um avião do nada, e ter virado prisioneiro. Em segundo, temos sua fuga da Inglaterra, o que até hoje não sei o motivo real. Em terceiro, bom, você conhece minha família, e eu não faço ideia de quem são seus familares.'' Argumenta ela com tanta seriedade, que me assusta um pouco.
''Bom, sua família meio que me capturou, seu avô foi um lance meio tenebroso, seu pai foi mais amável, mas mesmo assim, não conheci eles de maneira espontânea.'' Respondo rindo, e recebo um tapinha fraco no meu braço.
''Estou falando sério Harry.''
''Está bem, senhorita Murray...Quanto à Inglaterra, não estava fugindo, estamos em guerra, e estavam precisando de homens.'' Minto para ela, e logo desvio meu olhar do seu.
''Está bem, finjo que acredito. E quanto a sua família? Não sente falta deles? Você nunca fala deles.́ ́ Murmura ela em tom de curiosidade.
Penso em responder que estou cagando para minha família, e que quero que eles se fodam. Mas isso iria dar mais abertura para perguntas. E minha família, não é um dos meus assuntos preferidos.
''Bom da minha mãe você já sabe, já comentei com você. Quanto ao resto, não somos muito próximos, mas também não temos problemas.'' Respondo murmurando, a qual me olha com cara de tédio.
"E quanto a sua irmã, no dia em que conhecemos vi uma fotografia dela. Isso quer dizer que você se importa, não é?" Essa pergunta dela me deixa um pouco receoso, porque aquela foto não é da minha irmã e sim da minha noiva, ou ex noiva no caso, já que não pretendo voltar para Londres, então Elena não precisa saber do meu passado. Porque eu jamais vou voltar para ele.
"E eu te respondi na época que é coisa do meu avô. Quando éramos crianças, éramos amigos, mas aí quando eu cresci logo ela se casou e eu fui para Oxford, enfim, nunca mais nos vimos." E também ela ficou do lado do meu avô...(lembra minha mente perturbada).
''Ahhhh.'' Murmura ela, o que me provoca
risos. Ela esperava mais, tem mais, mas se depender de mim, eu nunca irei precisar ver meus parentes de novo, logo ela nem irá conhecê-los.
''Vai dizer que você estava esperando uma história épica, tipo daqueles romances ruins que você lê, dos tempos da ascensão aristocrata inglesa do século XVIII?'' Questiono rindo, a qual me olha com o cenho franzido.
''Não seu bobo, não esperava isso. Até porque você não se comporta como um aristocrata, então imagino que sua família seja mais tranquila que a dos meus livros.'' Responde ela, me dando uma piscadinha...mal ela sabe que minha família é pior, bem pior que a dos seus livros.
''Sinto muito decepcionar a senhorita. Mas acho que devo lembrar a você, que a sua família é bem mais interessante que a minha.'' Falo, tentando deixar o assunto mais leve, e tirar o foco de mim.
''É nisso eu concordo. Meu avô é um pseudo fascista de direita, que é amigo de Stálin , líder do partido comunista! Seria cômico, se não fosse contraditório.'' Resmunga ela de forma ranzinza, e ficamos quietos por segundos, antes de soltarmos gargalhadas altas.
''Humor ácido. Mandou bem Murray.'' Dou uma piscadinha para ela, a qual bate sua mão com a minha, como cumprimento.
''Mas eu não estava falando de seu avô...apesar da história dele ser bem interessante, não sei se é essa a palavra.'' Comento meio confuso, rindo.
́ ́Estava falando dos seus pais, eles são incríveis.'' Termino meu argumento.
''Sim, eles foram muito corajosos . Às vezes, eu me pergunto, tipo...minha mãe foi uma revolucionária, uma mulher extraordinária, e meu pai...após perder tudo, continuou lutando por aquilo que acreditava...tenho medo, de sei lá, de não ser a metade igual a eles.'' Comenta ela envergonhada.
''Eu diria que você é tão incrível quanto, ou até mais.'' Constato esse fato, e ela me encara desconfiada, o que faz com que eu explique melhor meu ponto.
''Veja bem, você é absurdamente inteligente, e se preocupa com todos ao seu redor, você é gentil Lena, dá para perceber que é uma boa pessoa. E o fato de você ter sido educada por um psicopata, cujo a ideologia é contraditória, você se saiu muito bem. Pela lógica, era esperado que você fosse uma mini fascistinha, mas não, é por isso que você é incrível. ́ ́
́ ́Obrigada pelas palavras, sério. Mas não é nesse sentido que eu estou falando, tipo, eu acho que as pessoas já vem boas ou más, e que o modo como é criado, é claro que pode interferir, mas não muda de todo a índole da pessoa...mas não estou falando disso.'' Responde ela, dá para sentir seu nervosismo.
''É sobre o que então?''
''Sinto que a guerra já está nos alcançando, e eu sempre me pergunto. Será que terei a coragem de minha mãe para enfrentar tudo isso, de pegar em armas? Não sei se já comentei com você, mas minha mãe me deixou uma carta, na qual dizia que um dia eu teria que lutar, e que iria ter que ser corajosa. Sinto que esse dia está próximo, mas que não estou preparada.'' Suspira ela e me encara, aguardando alguma resposta. Tento evitar pensar no meu sonho, e na reunião de hoje, até porque não tem como Elena saber que Hitler está avançando sobre nós.
''Bom, então eu te digo, por experiência própria: ninguém, nunca está preparado para uma guerra, até você estar em uma. E você Murray, é uma sobrevivente, com um namorado bom de mira, e um pai louco. Eu diria que você está segura.'' Digo sinceramente para ela, que está me olhando com um sorriso bobo no rosto.
''Hm, namorada é?'' Questiona ela em tom zombateiro, com uma das sobrancelhas arqueadas.
''Eu achei que já tínhamos deixado isso claro antes de ontem, com aquele papinho se um ser a pessoa do outro...você sabe...'' Respondo envergonhado, parece até que tenho 12 anos de novo, e que fico sem jeito perto da menina que eu gosto.
''Você fica fofo envergonhado.'' Comenta ela rindo, enquanto avança sobre mim, beijando meu rosto.
''Bom, não tinha ficado claro para mim na verdade, na minha cabeça, éramos amigos com mais afinidade, você sabe...'' Diz ela tranquilamente, como se isso fosse normal, Elena é sem dúvidas uma mulher à frente do seu tempo.
''Acho que seu pai não iria gostar muito do termo, então melhor deixarmos namorados.''
''Não ia mesmo. Então acho melhor eu esclarecer para ele logo que somos mais que amigos.'' Diz ela, um pouco receosa, o que me preocupa.
''Quer que eu peça sua mão em namoro para o seu pai?'' Questiono com o cenho franzido.
''Para Harry, já te disse que não estamos em nenhum romance do século XVIII.'' Responde ela rindo, e eu reviro os olhos.
''Mas acho que Mark merece essa consideração, ele está sendo um pai maravilhoso. Tadinho, até tentou ter assuntos que segundo ele, eu deveria ter tido com a minha mãe, mas como ela não está mais presente, ele iria tentar ser o menos invasivo possível.'' Comenta ela sorrindo, o que me deixa curioso.
''E que assuntos são esses?'' Arqueio a sobrancelha para ela.
''Ah, ele queria saber se você já tinha tirado minha virtude.'' Diz ela rindo, e logo completa um pouco mais séria.
''Foi muito engraçado, quando eu disse que não, ele deu um suspiro alto de alívio, e disse que ainda bem, porque se não teria que te castrar, e que seria uma pena já que ele gosta de você.́ ́ Completa ela, rindo alto agora, sem perceber o meu pânico em saber que Mark poderia me castrar me deixou aterrorizado.
''Nesse caso, acho melhor deixarmos seu pai no escuro, o grande Harry não quer sofrer lesões irreversíveis.'' Digo sério, e noto que Lena está segurando a risada.
''Grande Harry?'' Pergunta ela confusa, mas com um olhar divertido do rosto.
Antes de responder, fico olhando ela por alguns segundos, quero gravar esse momento para sempre. Ela está tão linda, tão feliz. Não que eu seja algum narcisista nem nada do tipo, mas porra, eu tenho quase certeza que ela está tão radiante por causa de mim, e isso me deixa orgulhoso. Sei que é por causa de mim, sei disso, porque a presença dela me deixa assim também.
''Sim, grande Harry, o qual gosta muito de você.'' Respondo com malícia, e ela logo entende do que realmente estamos falando e fica sem graça.
''Harry seu safado.'' Diz ela dando um gritinho enquanto esconde seu rosto com as mãos envergonhada, o que me dá mais vontade de rir.
''O safado que você gosta, vem cá Murray.'' Puxo, os braços dela para mim, fazendo com que seu corpo fique sobre o meu.
''Ta vendo, o grande Harry já despertou com você aqui...é só você encostar nele que...'' E antes que eu possa completar minha frase, ela me beija.
''O que acontecer nesse quarto hoje, você deve me prometer que não contará a Mark, não sei lidar com ameaças.'' Falo brincando, e recebo um sorriso lindo dela.
''Você é mesmo muito ridículo.'' Diz ela em tom provocador.
''Você gosta.'' Respondo antes de apertar sua bunda com minha mão, deixando seu corpo ainda mais colado ao meu. É, talvez seja hoje que eu saio da seca, e com a mulher mais gostosa que eu já vi na vida. Minha namorada.
Oii gente, como vocês estão?
Bom, preciso da opinião de vocês. Querem que eu escreva um 'hot'da primeira vez deles (o que seria o próximo capitulo) ou acham desnecessário?
Beijos, e até a próxima.
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