Aquele com o soldado inglês
ELENA
Em meio ao nervosismo, apresso meus passos, e dúvidas advindas do meu medo surgem, '' e se for uma tropa de exército nazista?'' então muito provavelmente eu morreria pela minha estupidez. Mas graças ao bom Deus, quando chego ao local, a sensação de medo logo é substituída pela adrenalina ao ver uma aeronave de guerra destruída, com seus pedaços espalhados pelo chão. Entretanto, não é isso que prende minha atenção, e sim o homem preso entre uma parte metálica do avião que imagino ser uma das asas, e as plantas com folhas pontiagudas, que também imagino ser uma das plantas inseridas no local pelo vovô, já que esse tipo de vegetação é exótica na localidade.
Respiro fundo e tento manter a calma, nenhum dos meus treinos me prepararam para tal situação. Assim que penso nisso, uma voz interna zomba de mim mesma, me lembrando o quanto estou sendo hipócrita por pensar nos meus treinamentos justamente agora, sendo que eu deveria ter voltado para casa no mesmo minuto em que ouvi o estrondo, e não ter entrado na floresta -mas já está feito-. Então tento pensar friamente ''o que vovô Jonh faria?'' com certeza ele se certificaria de que não há mais ninguém no local espionando, pois isso tudo pode ser uma armação. Mas vejo que essa é uma hipótese furada, já que o soldado preso nas plantas, parece realmente ferido, e seria muito desumano se seus companheiros de equipe estivessem aqui e não prestassem socorro.
Então ignorando por completo os ensinamentos do vovô, me aproximo do homem, verifico se ainda a batimentos cardíacos pelo seu pulso, e vejo que sim, ele ainda está vivo. Então rapidamente tiro a parte metálica da aeronave que está pressionando o corpo dele, com muito esforço, e assim que o objeto é completamente retirado, uma vermelhidão em seu abdômen me assusta. Provavelmente durante a queda, ele foi perfurado na região, fazendo-o perder muito sangue -acredito que por conta da tensão no momento, meu corpo esteja liberando muitas doses de adrenalina, pois mais uma vez, penso rápido no que devo fazer- logo, rasgo uma parte do meu vestido e pressiono o tecido no ferimento, prendendo o pano envolta dele, para que assim o sangramento diminua -não sou especialista em nenhuma área da saúde, mas tenho certeza que perder muito sangue é algo negativo- então espero estar ajudando.
Passaram-se no mínimo horas, pois vejo que já está anoitecendo e provavelmente vovó deve ter mandado alguém a minha procura. Nesse tempo de espera, aproveito para bisbilhotar se a algo nas vestimentas do rapaz, e noto que na sua DOG TAG contém que ele se chama Harry, nacionalidade britânica, e solteiro. Continuo minha investigação, encontrando no bolso externo da calça uma arma, a qual imediatamente retiro e escondo embaixo do meu vestido. E quando verifico o bolso interno, do casaco do uniforme, uma fotografia de uma mulher rouba minha atenção, não sei porque fico observando por tempo demais tal pertence, mas vejo de primeira mão o que tanto falam nos livros de romances que leio. Uma mulher digna do flerte, a qual possui cabelos nos ombros, um chapéu delicado, e um sorriso contido, sem citar o fato de que ela ainda está usando luvas, chegava a exalar a feminilidade londrina conservadora e frágil, e inevitavelmente penso comigo mesma com certo desapontamento ''então é essa a mulher almejada pelos protagonistas dos livros? ''.
Perante a minha distração, com o retrato, só percebo que o soldado despertou quando o mesmo me golpeia, mobilizando o meu corpo com o seu, e mantendo meu pescoço no seu antebraço, dificultando minha respiração e meus movimentos dos membros inferiores.
Harry
Assim que abro os olhos, sinto uma puta dor no abdômen, a qual piora quando tento me mexer. E então a queda do avião aparecem como flashes na minha mente.
Após o choque, reparo que tem uma mulher de cabelo longos e pretos, praticamente em cima de mim, olhando fixamente para a foto da minha futura esposa, fotografia essa que foi colocada no meu uniforme pelo meu avô, como um lembrete de que eu tinha que voltar o quanto antes para o Reino Unido.
Olho mais uma vez para a garota e me pergunto -O que ela está fazendo aqui no meio do nada? - Mas não tenho tempo para isso, tenho que focar em fugir enquanto ainda há tempo. Se eu tiver um pouco de sorte, talvez consiga consertar meu rádio e encontrar ajuda de algum grupo da resistência polonesa, os quais estão esperando ajuda da Inglaterra e França, contra o domínio da Alemanha no país deles, mas para isso tenho que me livrar da garota, pois provavelmente ela deve ser alguma russa. Tendo em vista que estamos perto de Vilna, o qual no momento está sobre o controle soviético, logo ela já deve ter notificado alguma tropa sobre o seu achado de um soldado inglês.
Nossos países não são inimigos, apesar de possuírem uma base ideológica distinta. No entanto, a Rússia possui um tratado de não agressão com a Alemanha, logo imagino que eles estão mais próximos do Eixo do que dos Aliados. De qualquer forma não irei arriscar.
Então, aproveito a distração dela para armar meu plano de fuga, observo que meu avião já era, e vejo que minha barriga está enrolada por um pano cheio de sangue, que provavelmente é meu mesmo, ''então ela salvou a minha vida'' logo penso, entretanto vejo que não foi por puro altruísmo, pois afinal qual é a graça de entregar um inimigo morto a sua nação. Mas nem fodendo irei virar prisioneiros deles, prefiro morrer pelo inverno russo, do que ser torturado por seus nativos, tenho que agir rápido.
Com agilidade, e ignorando minhas dores, aproveito a descuido da menina, e aplico um golpe de imobilização nela, a mesma tenta se livrar mas é em vão.
Quando suas tentativas de resistência diminuem, e ela perde suas forças parando de se debater, noto que seu pescoço está ficando em uma coloração azul para roxo, então alívio um pouco a pressão do meu braço, permitindo que ela respire um pouco, e encaro seus olhos azuis como o mar, assustados e raivosos, e antes que eu possa continuar com minha atitude covarde mas de sobrevivência, ela me surpreende com a voz falha sussurrando:
"Por favor, não faça isso, me deixe viver" . Seus bonitos olhos arregalados, com a voz rouca por minha culpa, me forçam a parar. Aliviando meu braço do seu pescoço, me questiono o porquê de uma russa fluente da minha língua estaria ali, ou seria ela alguma agente infiltrada e por isso sabe falar tão bem o inglês?
Nesse momento muitas dúvidas passam por minha cabeça, afinal ela também poderia ser uma espia alemã? Ou até mesmo russa ou polonesa? Ou poderia estar do lado dos aliados, o meu lado, assim justificando o fato dela ter me ajudado? Porra estou confuso pra caralho, olhando novamente para ela agora, só vejo uma menina inocente perdida, que por alguma razão- a qual não faço ideia- salvou a minha vida, e eu retribuí machucando-a.
O meu silêncio e meu olhar sério perante a menina, ainda mantendo ela presa a mim, -não com tanta brutalidade como anteriormente- possibilita que ela fale, e a mesma com os olhos presos aos meus diz : "sei que você deve estar assustado, no mínimo machucado com a queda do seu avião, sim eu vi tudo, e vim ajudar, não sei exatamente o porquê, mas minha mãe me ensinou que devo seguir meus instintos, e eles disseram para vir ao seu encontro, então por favor me solte, não sou sua inimiga". Ela diz tudo de maneira rápida, e confesso que meu olhar suavizou, não confio nela, mas também não desacredito, então decido usar as técnicas de treinamento do exército. Interrogação, só assim poderei saber se ela representa perigo ou não.
''De onde você é? A qual exército pertence?''- pergunto de maneira grosseira-
E então sou surpreendido. Como aliviei meu golpe de mobilização nela, a mesma usa o feitiço contra o feiticeiro, me golpeando com seu punho na região do meu machucado, provocando uma puta de uma dor intensa, que me faz solta-la imediatamente, livrando minhas mãos dela para pressionar a ferida agora mais exposta.
A desconhecida solta uma risadinha convencida, e se levanta, pressionando o pé no meu pescoço, e me encara com certa arrogância e orgulho no olhar ao dizer em um tom de superioridade "Sou eu quem faz as perguntas aqui inglês! Você é quem está no meu território!'' e então apertando mais o meu pescoço com o seu pé nenhum um pouco delicado, ela praticamente usa o mesmo tom de voz que eu usei com ela anteriormente quando pergunta :
''O que faz em território inimigo espião? Qual a sua missão?'' -de maneira irônica a resposta para essas perguntas são bem simples, estou aqui por um erro de merda do meu parceiro de equipe Steven, não tenho nenhuma missão secreta como ela pensa, mas não direi isso e ela- continuo em silêncio, o que a faz pisar mais forte no meu pescoço, e proferir com indiferença ''Não quer falar, por mim tudo bem, não é meu pescoço que será quebrado''.
Dizer que fiquei surpreso seria um eufemismo, que menina atrevida. Assim, opto em me entregar, - já que aparentemente ela não está blefando- ,então com uma das mãos faço sinal de rendição, e a mulher que aparenta estar gostando de estar no controle da situação diz de forma irônica ''Então o soldado está pronto para falar? Maravilha. Mas preste atenção britânico, não tente nenhuma gracinha, ou eu mato você.'' Então após sua ameaça, a mesma se afasta, me permitindo respirar,- e mesmo que eu quisesse aprontar alguma gracinha- seria impossível, pois ela literalmente acabou com minhas forças.
Então me arrastando até um toco de árvore, no qual me apoio, e decido contar a ela o que ela quiser saber, obviamente ocultando as informações que são segredos de Estado.
''Sou soldado do exército britânico como você já sabe, e só estou aqui porque meu avião caiu, como você também já sabe.'' -respondo de forma irônica-
Então a mulher se aproxima de mim, e me encara com seus olhos azuis penetrantes, que agora estão mais calmos do que quando ela estava tentando me matar, e me pergunta: '' Não sabe mesmo então o como fez para chegar aqui?''
''Não, eu realmente não sei, em um minuto estava perto do corredor polonês, mas peguei uma nevasca que me fez perder a direção, agora não faço ideia de onde estou'' - o que é uma meia verdade, sei que próximo daqui á uma cidadezinha que no momento esta abrigando alemães, mas que tem um grupo de resistência polonesa, sei disso porque fazia parte da minha missão achar um lugar seguro, perto e estratégico para que minha tropa, a qual chegará em alguns dias, possa concluir a nossa missão, que é escoltar esses poloneses até a França- No entanto, jamais diria isso a ela. Já ela, parece satisfeita com a minha resposta, soltando um suspiro de alivio. Então, a minha interrogadora aproxima-se de mim, sentando ao meu lado, e olha meu machucado.
'' Temos que cuidar disso antes que infeccione, e vire um problema maior'' diz a mulher com um tom de voz, que eu diria até preocupado, e eu só assinto com a cabeça, enquanto ela faz papel de enfermeira.
''A senhorita por acaso faz ideia do local exato em nós onde estamos?'' Também suavizo minha voz, e quem sabe sendo um pouco mais gentil, consigo saber a quantas milhas estou do meu do meu objetivo.
''Sim, estamos em uma região quase inóspita ao norte da Rússia, provavelmente alguém lá de casa deve estar vindo a minha procura, acredito que irão te aceitar como hóspede, os donos da casa tem uma certa empatia por ingleses'' -Donos da casa? Que casa? Afinal quem são essas pessoas, quem é ela? São fugitivos de guerra, ou ciganos?- mas ao invés de encher a garota com perguntas, só lhe questiono.
''Qual o seu nome?''
''Elena. Elena Murray, mas todos me chamam de Lena'' diz ela de forma simpática. Tento puxar na minha mente a origem desse sobrenome, mas nada vem, mas suponho que pela terminação seja russo.
''Me chamo Harry, Harry Mackenzie'' Assim que as palavras saem da minha boca, me arrependo, -burro, não poderia ter dito meu sobrenome, pelo menos não esse, tendo em vista que meu avô é foi um politico famoso na Inglaterra, logo tem muitos inimigos, qualquer associação minha a ele pode ser perigoso- No entanto Elena não aparenta perigo, e também não deve ter noção do que se passa no parlamento inglês, então me acalmo.
''Obrigado por me salvar senhorita Elena, ou seria senhora?'' pergunto franzindo a sobrancelha.
''Oh, por favor, me chame apenas de Lena'' diz ela um pouco envergonhada.
''Tudo bem, obrigado Lena, e também peço desculpas por ter te atacado, não sabia exatamente o que estava fazendo'' digo sinceramente. Me sinto um merda quando vejo seu pescoço ainda marcado pelo sufocamento. E ela só sorri, dizendo baixinho que não foi nada.
''Então, Lena, já que eu disse o que está fazendo perdido pelo seu território -falo de maneira brincalhona- porque não me diz o que fazia aqui sozinha? Não sou nenhum estudante aplicado de geografia, mas sei que nessa região além de soldados perdidos -digo com um risinho- há ursos também.''
''Bom, esse é o resultado de ser uma das meninas mais velhas da casa, trabalhos extremamente perigosos, ficam por nossa conta''. Impossível não soltar uma risada do modo totalmente irônico em que ela respondeu. Também noto que ela disse meninas, seria uma casa somente com mulheres? -o que não seria tão inviável assim, tendo em vista que estamos em guerra.
''Mas não esqueça inglês, sou em quem faz as perguntas aqui'' Diz ela novamente brincalhona, não a conheço direito, mas diria que além de bonita, é muito pessoa legal.
''Entendido Murray, por favor deixe seus pés longe do meu pescoço'' respondo da mesma maneira, com o braço em rendição, ganhando um sorriso dela.
Após minutos de silêncio, Lena termina o meu curativo improvisado com pedaços de pano do seu vestido, sentando-se de frente a mim, apoiada em outro toco de árvore. Nessa posição, posso analisar melhor ela, vejo que tem um rosto bem bonito, sardas espalhadas por toda região, o que é considerado por muitos um defeito genético - e se de fato for, é um dos erros mais belos que já tive o prazer de ver- também possui cabelos longos e volumosos, bem diferente do que sou acostumado a ver em Londres. Eu diria que Lena é uma gata selvagem, pois além de linda com seus olhos azuis grandes, tem uma personalidade feroz. Tento ver algo por seu corpo também, mas a abundância de tecido do seu vestido longo e feio, me impedem de ver qualquer coisa.
''E então Harry, como foi parar no meio dessa guerra, foi forçado a servir a pátria?'' diz ela de modo sem graça, olhando para os lados, provavelmente por ter notado meus olhos saindo do seu rosto, e tentando avaliar um pouco mais de seu corpo.
Então mantenho meus olhos fixados aos dela, para evitar constrangimentos. Eu sinceramente não sei como responder a essa pergunta, que embora pareça ser simples. A questão é, que eu não precisava servir ao exército, na verdade meu pai e principalmente meu avô, um antigo integrante do parlamente britânico, são muito influentes em Londres por serem podres de rico -e quem tem voz nesse mundo, infelizmente são aqueles detentores do dinheiro- não queriam que eu entrasse no exército, e sim que me casasse logo. Desse modo eu estava duplamente fodido, pois tanto meu pai como meu avô, manipulavam minha vida em todos os sentidos. Tanto é que, comecei a merda do curso de direito por conta deles, aceitei me casar com a Marquesa, filha de outra família influente da cidade, por conta deles também, para que assim a família Mackenzie tivesse mais votos no parlamento.
A verdade é que eu não passava de um fantoche nas mãos deles, e todas minhas tentativas de fugas anteriores foram em vão. Lembro de quando me apaixonei por Clarice, eu era apenas um moleque, mas estava de fato apaixonado - e o melhor, era correspondido- mas por ela pertencer a uma classe social inferior a minha, meu avô fez questão de acabar com meu namoro, sem que houvesse a mínima chance de resistência da minha parte. Conhecendo a situação miserável da família de Clarice, meu avô ofereceu muito dinheiro a eles, e obviamente eles aceitaram -se eu tivesse no lugar deles, faria o mesmo- mas meu avô não deixava pontos soltos, então em troca de tanto dinheiro, Clarice tinha que se mudar. Não deu uma semana, e ela estava partindo para algum lugar da América.
Então obviamente a guerra foi meu suspiro de liberdade, a poderosa família Mackenzie tentou impedir, falaram com comandantes e mais um caralho de pessoas, mas não deu em nada, estavam recrutando o quanto de homens podiam, e eu tinha porte para ser um bom soldado, então não seria dispensado sem que eu solicitasse. Mas não posso dizer isso tudo a Lena, para ela não faria sentido - para ninguém faz- e eu entendo plenamente o julgamento. Consigo compreender inclusive a revolta de meus companheiros de equipe, que a maioria fora forçada a ingressar no exército, enquanto eu, um nobre, me alisto por vontade própria, então acredito que revolta deles é compreensível. No entanto, prefiro morrer por inimigos do Eixo, do que morrer aos poucos preso na Inglaterra pelo meu próprio avô.
''De certo modo fui forçado sim'' acabo por fim respondendo.
''Quando penso na guerra, não vejo sentido nela, ela é muito imprevisível. Ainda bem que a União Soviética permanece neutra, já perdi muito para a guerra, se eu perder mais, fico sozinha, literalmente sozinha.'' Comenta Lena, não parece estar dizendo tais palavras exatamente para mim, parece que está apenas refletindo em voz alta, e também não parece aquela mulher feroz que não pensou duas vezes antes pisar no meu pescoço. No fim, acho que todos temos nossas fragilidades, inclusive a gata selvagem.
E antes que eu possa responder algo, um grito raivoso muito perto de nós, nos interrompe.
Elena arregala os olhos, e sai de perto de mim rapidamente. Os gritos por seu nome, tornam-se mais próximos. Então um senhor com uma espingarda surge entre as árvores, apontando de imediato a arma em minha direção. Antes que eu possa dizer qualquer coisa, Elena inicia uma conversa em russo com o senhor, o qual parece irredutível a ouvir seja lá o que for que ela esteja dizendo. Já eu, permaneço imóvel, com as mãos levantadas, afinal Lena aparentemente escondeu minha arma, então estou em desvantagem.
Então o homem decide a dialogar com Lena, e após uma discussão curta, vejo que o velho está determinado a me matar, pois como um atirador também, reconheço quando é momento de atirar , e para ele, o momento é agora. Mas Lena, por algum motivo sai em minha defesa mais uma vez, não entendo suas palavras dirigidas ao velho, mas seu gesto de ficar na minha frente, com um dos braços levantados, como se pedisse para o homem não avançar, demonstram sua coragem, e empatia perante a mim, pois por mais que tivemos uma conversa agradável de alguns minutos, não temos vínculo algum, mas acredito que ela é gentil demais para deixar alguém morrer na sua frente sem que ela faça nada.
Ainda com a espingarda na mão, e apontada em minha direção, ele começa gritar em russo com a menina, eu obviamente não entendo nada da conversa deles, mas vejo que Lena consegue convencer o velho de me deixar vivo, pois ele esbraveja alto, palavras que imagino não serem gentis, e então após um olhar surpreso seguido de um sombrio dirigido a mim, o mesmo abaixa a arma, e me olha mais uma vez friamente, antes de voltar pelo mesmo lugar que adentrou na floresta.
Parece que Elena, foi minha salvadora duas vezes por hoje, ainda não sei o porque dela ter feito isso, mas estou feliz que tenha feito. Mas algo estava errado, um filha da puta sem sorte como eu não sairia disso fácil, sei disso pelo modo angustiado que Elena olha para mim, como se fosse dizer que estou com alguma doença que irá me matar em poucos dias. E então, a minha felicidade momentânea é tão rápida quanto a evaporação de água em panela quente. Sabia que o velho não ia me liberar facilmente, tinha muito ódio no seu olhar perante a mim.
De certo modo, meio que já esperava as palavras de Lena, de que serei levado para a casa deles, não como hóspede como ela pensava, e sim como um prisioneiro. Não tento lutar mais, seria uma causa perdida, e na minha situação preciso de aliados, e algo me diz que em um futuro próximo terei que usar Lena para conseguir minha fuga, mas deixo para pensar nisso depois.
Dessa maneira, arquiteto um plano rápido na minha mente, vou até o avião mancando -Elena me olha curiosa, e digo que só vou me livrar de algumas informações que não podem chegar em mãos alemãs, e ela assente - mas na verdade pego meu rádio e o escondo no meu uniforme. Provavelmente meu pelotão chegara em menos de três semanas na Polônia, logo ficarei na casa de Lena durante esse período, me recuperando e tendo um lugar para me proteger do frio, e então irei fugir dois dias antes da chegada da minha equipe, e caminharei até achar algum sinal de rádio, para então poder pedir ajuda.
Vovô John
Assim que saio a procura de Lena, levo Mary, Charlote e uma espingarda comigo, afinal seria burrice procurar por ela sozinho. E as meninas como sendo as mais velhas dentre as outras, poderiam me ajudar. Ao chegarmos no início da floresta, achamos várias lenhas espalhadas pelo chão. Obviamente Elena ao se deparar com algum perigo durante seu retorno a casa, largou as madeiras e refugiou-se na floresta. Então decido que Charlote pegue as lenhas e retorne para a casa, e que Mary fique aqui na entrada caso seja necessário que ela busque ajuda, com certeza ouvirá meu sinal.
Então, após dez minutos de busca, me deparo com algo que nunca imaginei, Elena próxima a um soldado, e contrariando meus pensamentos, não parecia nenhum pouco em perigo.
''Elena'' falo em voz alto e tom rigoroso. A mesma corre até mim, dizendo que temos que socorrer logo o rapaz, pois ele está com um ferimento, o que pouco me importa.
Ignoro suas palavras, apontando minha arma na direção do homem, dizendo que não somos amigos de soldados, que além do fato de estarmos neutros na guerra, não gosto de franceses, o que imagino que ela seja, por conta da cara de galanteador dele. Mas Elena, novamente interfere, dizendo afobada: ''vovô, ele assim como o senhor é britânico, converse com ele o senhor mesmo, e veja que ele não é uma ameaça''
''Você não atreveu-se a contar a ele, que eu sou um inglês não é mesmo?'' -Pois se atreveu, executo ele agora mesmo. Ainda sou um refugiado do meu país, ninguém do parlamento britânico pode desconfiar do meu paradeiro.- ''E então Elena, responda'' a mesma balança com a cabeça negativamente.
''Não vovô, não contei nada a ele, mas por favor abaixe essa arma, não tem razões para matar um homem, que caiu aqui por acaso. Eu já me certifiquei que ele não é uma ameaça a nossa segurança, vamos ajuda-lo. ''
''Qual o nome do cidadão?'' pergunto, ainda com a arma apontada na sua direção.
''Harry, Harry Mackenzie'' Nesse momento raiva me preenche. Mackenzie, mesmo sobrenome do filha da puta, que perseguiu eu e minha família por meses na Inglaterra. Não pode ser uma mera coincidência, mas só de citar o nome dessa família, não consigo mais pensar de forma racional. Raiva me consome, e estou pronto para atirar, no entanto antes que eu possa fazer o disparo, Elena entra na minha frente, e com a mão levantada, praticamente implora para eu não atirar.
''Não, por favor não vovô. Entendo que o senhor está preocupado com a nossa segurança, sei que agi por impulso, ignorando todos seus ensinamentos, mas não mate ele. Vamos levar ele para casa, e lá com o auxilio da vovó, sentamos todos e conversamos sobre o que vamos fazer. O senhor está de cabeça quente, por isso quer partir para violência, mas sei que você não é um assassino a sangue frio, só não está pensando direito.''
E então eu abaixo a arma, não por causa de Elena, e sim porque ela esta certa quando disse que não estou pensando direito. Se ele for parente, de quem eu realmente estou pensando que é, esse sujeito pode ser na verdade uma dádiva, que irá proporcionar a minha vingança a um antigo ''amigo'' do parlamento britânico. Por hora, digo a Lena que o rapaz está a salvo, mas que por segurança, vou mantê-lo como prisioneiro no porão. Pela expressão de Lena, ela não esperava isso, do jeito que é inocente e tola como seu pai, achou que eu deixaria ele como um convidado na casa, mas se ele não fosse parente de alguém que eu penso que ele é, teria revolvido o problema ali mesmo, com a minha espingarda. No caminho de volta para a casa, passo por Mary e informo a ela paradeiro de Elena, e peço que ajude minha neta, a levar o nosso mais novo prisioneiro para a casa.
Olá, como vocês estão?
Queria dizer que tenho vontade de guardar Elena em um potinho de tão maravilhosa que ela é.
Enfim, espero que tenham gostado, qualquer dica ou críticas construtivas serão bem recebidas. E saibam que os próximos capítulos terão maior interação entre Elena e Harry.
Sei que esse capítulo ficou um pouco puxado, por conta de muitas explicações nas falas dos personagens, mas eram necessários, para dar embasamento nos acontecimentos futuros.
Então é isso, beijos e até a próxima. 😘
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