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Aquele com o plano de fuga



ELENA

FEVEREIRO DE 1940

Hoje completa 23 anos desde a partida dos meus pais, não sei como é possível eu sentir tanta falta de algo que eu nem me lembro, mas acho que esse vazio que eu sinto, é resultado da carência de afeto. Na minha mente criei uma versão de que se meus pais tivessem aqui, eu receberia todo o amor do mundo, e não iria nunca mais me sentir sozinha. Meus avós me deram um lar, comida e estudo, pelo o qual sou eternamente grata, no entanto, não aprendi nada sobre relações afetivas, afinal ambos são muito reservados, nunca trocamos carinhos, nem em dias de comemorativos, tanto é que no dia do meu aniversário quando Harry me abraçou, foi o mais próximo de laço amoroso que já recebi, fato que no início do gesto fiquei assustada, não sabia como agir, mas rapidamente aprendi, e gostei.

No dia de hoje, reúno todas as informações que tenho dos meus pais, tenho a necessidade de conhecê-los melhor, saber realmente como eles partiram. Vovô John sempre diz que eles morreram fuzilados, mas não diz como ele soube de tal informação, e me ignora quando começo com mais perguntas. Vovó Louisane embora não demonstre, em todos os inícios de ano, fica acuada, sei que sente falta de minha mãe, e tal vulnerabilidade fez com que esquecesse da proibição de vovô sobre falar dos meus pais, e acabou me cedendo algumas informações, pequenas, mas que já eram alguma coisa. Assim descobri, que minha mãe fugiu com meu pai quando tinha apenas 17 anos -pois John não aceitava o relacionamento deles-, que ela amava literatura inglesa, e tinha iniciado a faculdade de letras com o apoio do vovô , sempre fora curiosa, amava conhecer mais do mundo. Diante de pequenos detalhes como esses, foi inegável não me comparar a ela, o que me deixou contente, afinal me pareço com minha mãe não só fisicamente.

Então nesse mês, decidi comunicar aos meus avós sobre minha vontade de fazer faculdade, sei que aqui na Rússia muitas universidades já aceitam mulheres, basta não me rebelar contra o governo Stalinista. Talvez vovó não aceite muito bem minha vontade, mas sei também que vovô me apoiará, afinal ele é um defensor da educação para todos, e ajudou minha mãe no passado. Então ao entardecer já estava com um discurso pronto, e fui atrás dos meus avós na sala de estar.

''Com licença vovô, podemos conversar? Será breve. '' Pergunto, recebendo um sinal positivo de John para que eu entre.

''Bom, como eu já estou com 23 anos, estava pensando que já é hora de eu começar a planejar minha vida, não posso morar com vocês para sempre. Então andei pesquisando sobre universidades, sei que terei que estudar muito para ser aceita em Moscou, mas eu acho que consigo, e se eu tiver um bom desempenho, consigo bolsas oferecidas pelo governo, que podem me manter na cidade, e o senhor não gastará nada comigo, sem falar que a duração do curso de filosofia não...'' E então meu discurso é interrompido pelo vovô.

''Chega, já ouvi muito. '' diz ele bruscamente.

''Você sonha mais do que pode Elena, mas ainda bem que eu estou aqui para te trazer de volta para a realidade. Eu proíbo você de sair dessa casa, quantas vezes terei que repetir que não é seguro lá fora? '' Diz ele irritado.

''Bom, considerando que eu escuto isso desde criança, imagino que o mundo sempre será perigoso, mas mesmo se o senhor estiver certo – o que eu não acredito- o que espera de mim? Que eu fique aqui com vocês para sempre? '' pergunto igualmente irritada.

''Não seja tola, não espero nada de você além da obediência, se quiser sair por aí, que ao menos tenha um marido, e que ele autorize você a cursar filosofia. Mas se depender de mim, você não sai dessa casa. '' Diz John carregado de deboche.

''Seria fácil arrumar um marido para fugir daqui, no entanto, como eu não posso sair da região, advinha só vovô, eu não conheço ninguém. '' Devolvo as palavras da mesma forma que ele anteriormente.

''Elena, já deu. Você consegue ser mais ingrata e louca que sua mãe, mas não irei cometer os mesmos erros que cometi com ela, então preste bem atenção. Você está proibida de sair dessa casa, você acha que sabe das coisas do mundo, mas não sabe, seus livros só te iludem, a realidade é mais cruel. Então para acabar de vez com essas suas ideias absurdas de faculdade, está proibida de ler também. Agora você irá focar em aprender a cozinhar e cuidar da casa com a sua vó, até o final do mês terei arrumado um casamento para você. '' Após tais palavras de vovô, sinto meu coração dar uma falhada.

''O que? Você não pode estar falando sério, o senhor sempre foi a favor da educação, o que mudou? '' Digo segurando o choro.

''Sou a favor da educação minha neta, mas não irei cometer com você o mesmo erro que cometi com a sua mãe. Se ela não tivesse ido para faculdade, não teria conhecido aquele patife do seu pai, e nem entrado para o partido bolchevique, logo, não estaria morta. E quanto ao casamento, estou falando sério, na verdade já estava pensando nisso a um tempo, tenho alguns aristocratas em mente, que te colocaram nos trilhos. Mas por hora você não irá entender, mas no futuro você será grata por eu estar fazendo isso, agora irei recolher seus livros e você ajudará sua avó nos afazeres. '' John diz calmamente e se retira.

Assim que ele sai, minhas lágrimas caem. No final Harry estava certo, sou prisioneira dessa casa, só com alguns luxos a mais que ele, mas ainda sim prisioneira. Não posso e nem quero me casar, mas sei que meu avô não estava blefando quando disse que até o final do mês eu estaria casada. No momento não consigo respirar, estou com muita raiva acumulada, como eu queria ter uma vida diferente, odeio meu avô agora, e entendo o porque minha mãe ter fugido, mas também não entendo o porque ela ter me deixado justamente com a pessoa da qual ela fugiu, não faz sentido, mas no momento nada na minha vida faz sentido. Passei a tarde toda chorando naquela sala pequena, até que vovó Louisane aparece, com uma bandeja de comida na mão que suponho que seja para eu levar para o Harry.

''Oi minha neta, como você está? Seu avô me contou o que aconteceu. ''

''Vovó por favor, me ajuda, não quero me casar com alguém que eu nem conheço. '' Me ajoelho perante a ela, praticamente implorando.

''Ei querida, pare de chorar, sei que parece apavorante mas vai dar tudo certo, a maioria dos casamentos são arranjados e no final da tudo certo, foi assim com minha mãe, comigo e será com você, está tudo bem.'' diz ela acariciando meu cabelo, o que me deixa com mais raiva, prefiro morrer do que ter uma vida como a dela. Vovó é no fundo uma boa pessoa, mas não percebe o quanto é submissa e oprimida pelo meu avô.

''Vovó, se a senhora convencer o vovô a não me casar, eu juro que esqueço essa história de faculdade e nunca mais reclamo de nada. '' Faço minha última tentativa, já sabendo a resposta.

''Elena você conhece seu avô, não posso fazer nada. Afinal ele saiu agora a pouco para já resolver o seu casamento e a questão do soldado britânico. ''

''Como assim? O que ele vai fazer com o soldado? '' Pergunto já me preocupando com Harry.

''Bom, eu não posso te contar detalhes, mas parece que nosso prisioneiro é parente de alguém que prejudicou seu avô no passado. Então seu avô o usará como vingança. ''

''Como assim? O Har..., quero dizer, o britânico não fez nada para o vovô, não é justo que ele sofra consequências de algo que ele não fez. '' Digo seriamente, recebendo um olhar severo de minha avó.

'' Não é assunto nosso Elena, respeite mais as decisões de seu avô, até o final da semana ela já terá resolvido essa pendência. Agora limpe essa cara e leve a refeição do prisioneiro. E saiba que as vezes é melhor aceitar seu destino do que tentar mudá-lo, veja sua mãe, olhe para que lugar o desejo de mudança levou ela. '' Após essa fala de efeito, a qual eu considero covarde, vovó se retira.

Droga, não sei como dizer a Harry que até o final da semana ele provavelmente servirá de vingança para algum plano maligno de meu avô. Não sei o que fazer, nos aproximamos muito nos últimos dias, compartilhamos angústias, contamos histórias, e vimos que temos muito em comum, somos amigos até, e não posso deixar um amigo nas mãos de meu avô.

Vou até a cozinha e pego um pedaço grande do bolo de cenoura com cobertura de chocolate que a Charlote fez, e vou em direção ao porão. Assim que adentro no cômodo, Harry grita:

''Nem mais um passo Lena, e por favor, feche os olhos até eu dizer que está tudo bem''. Diz ele com uma voz empolgada.

''Sim senhor prisioneiro, me dê ordens no meu território, que eu obedeço. '' Falo brincando com os olhos já fechados, mas mesmo assim consigo imaginar Harry revirando os olhos.

''Muito engraçada Murray, agora sim, pode abrir os olhos e entrar. ''

''Você está muito misterioso hoje, me diga o que estava fazendo? '' pergunto entregando a bandeja a ele.

''Surpresa. Nem adianta arregalar esses olhos que até o final da semana provavelmente você saberá o que é. '' Inevitavelmente meu sorriso some, pois acredito que Harry não estará aqui até o final da semana.

''Ei, o que foi? Aconteceu alguma coisa? ''. Pergunta ele preocupado, provavelmente notou meu desanimo ou minha cara inchada de tanto chorar de tarde.

''Não foi nada, olha trouxe um pedaço de bolo para você, eu te garanto que esse é o melhor bolo do mundo, experimente. '' Tento disfarçar, mudando de assunto. Harry me encara por um momento, avaliando se vale a pena insistir para saber o que há de errado comigo, ou respeitar meu espaço.

''Bom, ele está com a cara ótima, diferente de você, mas se não quer falar, tudo bem. Irei comer o meu pedaço de bolo e tentar adivinhar o que aconteceu. E saiba Murray que eu posso ser bem persistente. '' Diz Harry me dando uma piscadinha, e se sentando na ponta da cama.

''Você realmente é muito abusado. Não aconteceu nada, sério. '' Apesar dessa mentira, meu dia já melhorou com esse momento com ele, Harry tem uma leveza a qual não sei explicar, ele é o tipo de pessoa tranquila, que faz bem para alma.

''Ok. Já sei, chegou alguma outra menina na casa mais bonita que você, e te deixou com raiva? '' Diz imitando voz de menina mimada, o que me arranca um sorriso involuntário.

''Não, e pode parar, não vou te contar o que aconteceu. E que palpite mais sem noção foi esse? '' Pergunto rindo.

''Ah então você admite que algo aconteceu. Vamos lá Lena, me conte ou eu vou continuar tentando adivinhar. '' Diz ele de maneira presunçoso, e eu apenas balanço a cabeça negativamente.

''Está bem, já sei, chegou outro prisioneiro do velho maluco, mas ele não foi tão legal com você, por isso você chorou a tarde toda? Não, esquece, você não aparenta ser do tipo que choraria por homem, deixa eu pensar direito. ''

Nesse momento, ele coloca a mão no queixo ignorando o bolo, e me encarando por um tempo, antes de praticamente berrar:

''Já sei, como não pensei nisso antes. -diz com certa obviedade- você provavelmente percebeu que sua comida não é tão boa quanto pensa, e acha que por isso não irá conseguir se virar sozinha quando for para Universidade? Se for isso Lena, não se preocupe, lá tem restaurantes, e como você vive em um país comunista, provavelmente essa refeição será de graça. ''

''Não é bem isso, seu bobo. Mas está bem, irei te contar. '' Recebo um sorriso vencedor de Harry, e me sento na outra ponta da cama.

''Na verdade, eu não vou mais para faculdade, pelo menos não por agora''

''Não? Por que? '' Pergunta ele terminando de comer o ultimo pedaço de bolo, e deixando o prato em cima da mesa.

''Descobri hoje a tarde que...Bom, que não temos condições para eu ir estudar na cidade sabe. '' Por fim, resumo de uma forma meio mentirosa a situação.

''Como assim? Você é inteligente, provavelmente vai conseguir alguma bolsa, e vai passar de primeira em qualquer prova de ingresso universitário da União Soviética. Então fique tranquila, seus avós não irão gastar dinheiro. ''

Enquanto Harry diz tais palavras, lágrimas novamente saem dos meus olhos. E ele quando percebe, se aproxima preocupado, se sentando ao meu lado da cama, e me abraçando de lado.

''Ei Lena, o que foi? Pode me dizer, você sabe que eu estou aqui por você''

''Você estava certo Harry, eu também sou uma prisioneira nessa casa, só não tinha me dado conta antes, parece que nem depois da guerra eu poderei sair daqui.'' Digo aos prantos, me agarrando na blusa dele, como se isso fosse me ajudar a amenizar minha dor.

''Calma, não chore. Eu estou aqui, e vamos dar um jeito. '' Diz Harry sussurrando enquanto faz carinho no meu cabelo, e me abraçando mais forte com seus braços. Atitude essa, que com passar os minutos me acalma.

Ainda abraçada a ele, lado a lado na pequena cama de solteiro. Pergunto com a voz meio rouca por conta choro:

''Qual a primeira coisa que você gostaria de fazer quando a guerra acabar, e voltar para casa? ''

''Fácil. Encontrar uns amigos e encher a cara no barzinho do Joe. ''

''Uau, pensei que fosse ir querer ver a família primeiro. ''

''Com a minha família as coisas são mais complicadas, eu diria que tirando o laço sanguíneo, não temos nada em comum. ''

''Mas e a sua noiva? '' E então Harry para de acariciar meu cabelo, e fica mudo por um tempo. O que me obriga a virar o corpo em sua direção para encará-lo, e esperar por uma resposta.

''Não tenho noiva Murray. '' Diz me encarando.

''Mas...mas e a fotografia daquela mulher no bolso do seu uniforme? '' Pergunto um pouco confusa.

''Bom, aquela não é minha noiva. '' Diz de forma contida, o que me motiva a ficar encarando-o em buscas de respostas, e ele logo se explica.

''Aquela é minha irmã, meu avô quem colocou a fotografia no meu bolso. Não entendo o motivo, mas é isso. ''

''Você tem irmã? Que legal, eu gostaria de ter tido pelo menos uma. ''

''Vai por mim Murray, a minha irmã não é nada divertida. Mas aqui na casa pelo o que você já me disse, é cheia de meninas, não é como se fossem todas irmãs? '' Volto a apoiar minha cabeça em seu ombro, e decido explicar a situação aqui de casa.

''Na verdade não, nenhuma delas são irmãs de sangue, e muito menos de consideração. Mas todas possuem história semelhantes, perderam os pais para a guerra. Por conta do acordo de Stálin e Hitler, muitos territórios foram anexados para benefício deles, e parece que os pais de todas foram resistentes, e sabemos muito bem o que ambos lideres nojentos fazem com a resistência. ''

''Sei bem, infelizmente vi com meus próprios olhos. Mas e você, qual a história de seus pais? '' Pergunta ele calmo, ainda fazendo carinho no meu cabelo.

''Bom, eu perdi meus pais para outra guerra. A revolução Russa, ambos foram chamados para o avanço bolchevique em fevereiro de 1917, exatamente um mês após meu nascimento. E desde então nunca mais voltaram, vovô diz que eles foram fuzilados, mas não sei como ele soube de tal informação, mas deve ter ocorrido isso mesmo. A revolução deixou milhares de mortos. ''

''Eu sinto muito Lena. Sei como é a sensação de perder alguém. Também perdi minha mãe ainda bebê, na verdade ela morreu no mesmo dia em que eu nasci. ''

''Nossa, também sinto muito Harry. '' 

E ficamos em um silêncio agradável por minutos, ainda abraçados. Impossível não comparar a minha vida com a dele, somos mais parecidos do que pensava. E pelo jeito Harry também fez tal comparação, pois logo ele quebra o silêncio.

''Se tivesse uma competição de quem está mais fodido pela vida, quem ganharia, eu ou você? ''

''Quando elegância -falo sorrindo- Mas provavelmente você ganharia, afinal eu não estou sendo perseguida por alemães. ''

''Puta merda, já tinha me esquecido disso. É parece que eu ganhei. '' diz de forma conformada, e ambos rimos.

''Já deve estar bem tarde, é melhor eu ir indo. '' Falo tentando me afastar dele, mas o mesmo me segura.

''Não, fica mais um pouco. Gosto da sua companhia''. Pede ele de forma manhosa.

''Até ficaria contente em ouvir isso, mas pelo que eu saiba eu sou sua única opção aqui soldado. '' Respondo por fim.

''Depois o abusado sou eu. Quem disse que você é a minha única opção? Você é a que eu mais gosto, mas não a única. '' Responde ele simplesmente, o que me provoca uma certa pontada de ciúmes.

''Como assim? Qual outra opção você tem? ''

''A loirinha que vem na hora do almoço, Mary. Tadinha, está praticando inglês todos os dias, para tentar falar comigo, hoje mesmo tivemos uma conversa por mimica acredita? Foi hilário. ''

Harry diz como se não fosse nada – o que eu entendo perfeitamente que não foi—mas não consigo evitar esse sentimento novo que estou tendo, não queria que ele tivesse um momento hilário com Mary, na verdade não queria que ele tivesse momento nenhum com ela. Meu Deus, que tipo de pensamento distorcido estou tendo? Eu não sou assim, e além do mais Harry não é minha propriedade. É melhor eu sair desse porão antes que eu fique paranoica de vez.

''Ah sim, Mary. Bom, está tarde mesmo é melhor eu ir logo. '' Me afasto de Harry e o mesmo me olha por um momento, antes de soltar uma gargalhada alta e dizer:

''Sério que você está com ciúmes de mim? Não acredito Murray. '' Diz ele enchendo meu saco.

''Claro que não estou com ciúmes, só que esta tarde e eu tenho que ir. Até amanhã soldado. '' Obviamente não irei confessar a ele do meu surto de ciúmes momentâneo e sem lógica.

''Tá bom, você não está com ciúmes, acredito. '' Diz ele de forma debochada, o que me irrita ainda mais.

''Da para acreditar que eu não estou com ciúmes soldado. O mundo não gira ao seu redor. '' Digo com mais raiva ainda, o que provoca outra crise de riso nele.

''Tudo bem admitir que está com ciúmes Elena, somos humanos, temos esses sentimentos bobos. '' Diz ele calmamente me olhando.

''Sei que é humano isso, mas isso não se aplica ao nosso caso. Afinal somos apenas colegas de prisão, eu com algumas vantagens a mais, mas ainda sim prisioneira. '' Digo por fim, arrancando mais uma risada de Harry,

''Humor ácido, gostei. Mas voltando ao nosso assunto, não tem motivos para ter ciúmes da Mary, gosto muito mais dos meus momentos com você, e ela é só uma adolescente, jamais tentaria nada com ela.'' Diz ele com olhos fixados em mim, olhos esses com um tom verde escuro que especificamente nesse instante, está com um brilho diferente.

''O que você quer dizer?'' Pergunto baixo, com o coração acelerado, enquanto ele se aproxima mais de mim, ouso a dizer que estamos tão colados, que consigo sentir o cheiro da fragrância do sabonete que emana de seu corpo.

''Que você mexe comigo, e não sei, as vezes eu acho que eu também mexo com você, mas sinto que se eu tentar algo levarei um fora tão elaborado, que por fim decido, por deixar quieto. Não quero que você se assuste e se afaste de mim.'' Ele diz isso de uma maneira tão sincera, sem desviar os olhos dos meus por um segundo sequer, o que me deixa com um formigamento na barriga, não sei dar nome ao que estou sentindo, mas estou gostando.

''Harry, eu... – não sei como agir, nunca passei por isso antes, o que me deixa com muita vergonha, então respiro fundo e tomo coragem para terminar a fala--  eu...não sei flertar.'' Digo a última parte baixinho e com tanta vergonha, que sinto até meu rosto ficar vermelho. Odeio não saber das coisas, ainda mais essas, que todos da minha idade provavelmente já sabem e que com certeza Harry também sabe.

''Ei olha para mim. '' Harry gentilmente levanta minha cabeça com a sua mão e completa: ''Ninguém nasce sabendo nada, todos tem seu tempo ok.'' Diz ele fazendo carinho no meu rosto, o que me deixa ainda mais ansiosa. Não sei exatamente como pedir, mas quero que ele me ensine, sinto confiança nele para tal. Acho que ele percebeu meu olhar nada discreto na sua boca, pois ele solta um sorriso cafajeste antes de dizer:

''Se você continuar me olhando desse jeito, eu vou acabar te beijando antes de poder usar algumas das minhas técnicas de flerte, para que você se encante comigo.'' Ele sussurra perto demais do meu rosto, e em seguida sinto sua respiração junto a minha. Meu Deus, meu primeiro beijo vai ser agora? Não estou preparada.

''Calma, espera, eu...eu nunca beijei ninguém, não sei o que fazer. '' Digo envergonhada olhando para ele.

''Se você não tivesse passado a vida toda escondida nessa casa, eu acharia isso um absurdo. Você é muito linda Lena, pode ter certeza que muitos iriam querer te beijar, assim como eu quero. Confia em mim? ''

Com borboletas no estômago, e com o coração a mil, apenas faço que sim com a cabeça e fecho os olhos. Mantendo os olhos fechados, sinto Harry muito próximo a mim, suas mãos seguram delicadamente minhas bochechas, nos deixando praticamente colados. E quando estou prestes a abrir os olhos e perguntar se há algo de errado, eu sinto seus lábios tocando os meus.

Harry pressiona sua boca junto a minha, consigo sentir o leve gosto de cigarro que ele possui, o que eu acabo achando bom. Ele coloca a mão na minha nuca e afasta rapidamente sua boca da minha para dizer:

''Relaxa Lena, deixa eu te guiar. '' Sussurra ele, voltando a juntar nossos lábios, não sutilmente como no início, agora ele mexe seus lábios devagar, o que me impulsiona a fazer o mesmo, e por fim abro minha boca, sentindo mais seu gosto, que confesso que estão me deixando com uma inquietação gostosa na barriga.

Acabo dando alguns passos para trás e ele me acompanha, pressionando meu corpo com o dele, e apoiando minhas costas na parede ao lado da porta. O beijo torna-se mais intenso, e supera todas minhas expectativas, não fora ruim como eu imaginava. Quando o ar se faz necessário, afastamos nossos lábios, mas continuamos próximos, e um sorriso involuntário surge.

''Eu...--solto uma risada nervosa— nós...a gente precisa conversar. '' Acabo por fim dizendo, e Harry com um sorriso grande no rosto, segura meu rosto, obrigando a manter nossos olhares e diz em um tom brincalhão:

''Tem certeza? Agora? '' Pergunta enquanto beija carinhosamente meu rosto, e descendo rumo ao meu pescoço.

''Não, mas...—respiro com dificuldade— é importante, tenho que te contar uma coisa.''

''Que esse beijo foi melhor do que você esperava? Porque para mim, foi o melhor. ''

''Para, você está me deixando sem graça –falo escondendo meu rosto em seu peito, e sinto ele me apertando mais forte e rindo— e de propósito seu abusado. ''

''Está bem, não precisa falar, eu já sei. Mas então, o que você tem para me dizer? ''

Nesse momento, o ambiente muda de astral, o sentimento de paz é substituído por uma tensão negativa. Não sei como contar a Harry sobre o que vovó me disse mais cedo, mas ele precisa saber, no lugar dele eu ia querer que me falassem, e além do mais ele é meu amigo, talvez até mais que um amigo depois de hoje. Então me afasto dele, e me sento na ponta da cama, ele percebe a mudança de clima, e se senta ao meu lado, com uma expressão preocupada no rosto, me pergunta:

''Ei, o que foi? ''

''Eu estou pensando em um bom jeito em te dizer algo, mas acho que não há uma maneira melhor, então só vou falar está bem?'' Falo, recebendo um sinal positivo dele.

''Vovô John parece que tem pendências com você, ou com sua família, não entendi muito bem, são coisas do passado. Mas ele quer vingança, e vai usar você para isso, e até o final dessa semana parece que ele já vai ter resolvido. '' Falo por fim, recebendo um olhar sério de Harry.

''Vingança? Como assim? Nunca nem vi esse velho, e o que minha família tem a ver, nunca pisamos na Rússia antes. ''

''Vocês talvez não, mas meu avô é britânico Harry, não sei muito de seu passado, só sei que ele é um refugiado político de seu país. '' Harry fica quieto por um tempo, e depois suspira como se tivesse decifrado o impasse.

''Você arrumou seu rádio? '' Pergunto para ele, recebendo um olhar surpreso.

''Como você ...'' Solto uma risada e digo antes de ele completar sua pergunta.

''Não sou idiota Harry, eu vi você pegando-o aquele dia, só decidi ignorar. Mas me diz, arrumou ou não? ''

''Sim, mas o que você está pretendendo? '' Pergunta ele confuso.

''Você precisa sair dessa casa Harry, o quanto antes, e eu vou te ajudar. Sei que esse lugar é péssimo, mas sinto que o lugar para o qual Jhon irá te levar é pior. '' Ele me olha por alguns segundos antes de dizer:

''Provavelmente meu pelotão já deve estar próximo do corredor polonês, ou armando outra estratégia. Era para eu ter enviado um sinal semana passada, o qual não dei, então provavelmente devem ter me dado como morto. Tentei achar algum sinal de rádio aqui, mas foi um fracasso. ''

''Provavelmente não irá funcionar aqui, estamos isolados de tudo, e a montanha dificulta também. Mas eu tenho um plano. ''

''Qual? '' Indaga Harry.

''No final desse mês, meu avô irá arrumar um casamento para mim, vou tentar fazer com que ele adiante isso para essa semana ainda, assim ele terá que ir até Petersburgo, o que nos dará uns dois dias, e aí nesse intervalo eu te ajudo a sair dessa casa.'' Decido me sacrificar por ele, afinal eu já ia ser mandada para forca de qualquer forma, não tem necessidade de nós dois sofrer.

''Casamento? Que história é essa? Desde quando você quer se casar? ''

''Sério que foi nisso que você focou? Isso não interessa agora Harry, você não está entendendo a gravidade. Meu avô provavelmente irá te matar, e mandar seus pedaços para Inglaterra. ''

''Claro que eu entendi a gravidade Lena, mas não entendo porque você quer se casar, pensei que nós, sei lá...'' Diz ele parecendo mais chateado do que bravo.

''Não quero me casar Harry, nunca quis na verdade, mas não é uma escolha, esqueceu que prisioneiros não opinam nessa casa? E que eu sou uma prisioneira privilegiada? '' Ele ignora meu sarcasmo e me pergunta:

''Esse era o verdadeiro motivo de estar chorando mais cedo? ''

''Sim. Mas não vamos pensar em mim agora, só estou adiantando algo que já ia de fato ocorrer, temos que pensar em como tirar você daqui. ''

''Qual dia você acha que consegue convencer seu avô a sair da casa? '' Pergunta Harry um pouco contrariado.

''Bom, ele não está em casa no momento, mas acredito que amanhã mesmo ele estará de volta, então direi a ele que quero casar o mais rápido possível –usarei a desculpa que um marido é menos pior que ele—então, é muito provável que ele saia na quarta e volte na sexta. Já que ele cuidará de você no final de semana. ''

Harry parece acompanhar meu raciocínio e pergunta:

''Então a fuga será depois de amanhã? Quinta-feira? ''

''Isso, já que na sexta ele estará focado em você, então ele só pode ficar no máximo dois dias fora. Então partiremos na madrugada de quinta, não podemos arriscar sermos vistos pela vovó ou pelas meninas. ''

Ficamos mais de meia hora discutindo sobre o plano de fuga, e parece que está tudo certo. Em menos de dois Harry irá fugir, irei levá-lo até Vilnius, e voltarei antes do amanhecer. Ele não parecia estar de acordo com essa ideia de casamento, na verdade mostrou-se muito contra, mas não achamos outra solução, essa era a única maneira. Só espero que ocorra tudo como o previsto, agora eu só preciso convencer o meu avô com o adiantamento do meu casamento para essa semana, o que não será muito difícil, basta eu só falar de faculdade novamente que ele me aparece com um marido na hora.

Quando retorno ao meu quarto já de madrugada, me permito pensar no meu primeiro beijo, e um sorriso aparece de imediato, sei que eu e Harry não somos apaixonados um pelo outro, mas para um beijo ser bom, isso não é necessário, basta ter atração, e pelo jeito temos. Sentirei muita falta dele, afinal nos aproximamos muito nesse último mês, diria que tenho mais confiança nele do que em qualquer outra pessoa, sinto que nos conhecemos a anos, e é por isso que vou ajudá-lo, porque não se prende quem a gente gosta.

Oii, como vocês estão?
Coloquei como capa a maravilhosa da Yennefer, pois sempre imaginei a aparência da Elena assim.
Decidi adiantar um pouco a história. E como vocês virão a relação de Harry e Elena avançou bastante (e eles são lindos, mesmo com algumas mentiras de Harry, como a de não contar a ela que possui uma noiva, mas deixa isso para as problemáticas futuras). Bom, obviamente o próximo capítulo será tenso, pois terá muita ação. 
Não sei se vocês estão gostando ou não, e queria muito uma devolutiva  quanto a isso, como já disse antes, estou aberta a críticas construtivas, podem chamar no privado ou comentar aqui mesmo.
Enfim é isso, espero que gostem e até semana que vem. 😘

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