Coisas Estranhas
Na manhã seguinte levantei sentindo uma dor de cabeça insuportável, não havia conseguido dormir direito a noite pois tive medo de que houvesse algum maníaco por perto, acabei deixando o cão dormir no tapete da sala da minha minha mãe, ele parecia não ter dono pois não tinha uma coleira ou algo que identificasse sua origem e eu fiquei com pena de deixá-lo ir embora.
- Eu nunca vi esse cachorro pela região, acho que devemos anunciar na internet que o encontramos, pode ser que ele esteja perdido. - Minha mãe falou olhando para o cão que apenas permanecia deitado no mesmo lugar que eu havia deixado madrugada de ontem.
- Sim, pode ser uma boa idéia. - Respondi concordando com ela.
Já estava pronta para o meu primeiro dia de aula na escola nova, se dissesse que não estava nervosa estaria mentindo pois eu estava tão nervosa que nem consegui acabar o meu café da manhã. Minha mãe disse que tudo ficaria bem e que eu não precisava me preocupar, a mesma até havia se oferecido para me deixar na escola no primeiro dia mas eu disse que não era preciso, ela havia acabado de chegar do plantão e deveria estar muito cansada.
Sai de casa seguindo as instruções que minha mãe havia me dado, andaria uns dez minutos até chegar no cruzamento, precisava virar a direita e então encontraria o ponto do ônibus escolar, não era nada muito difícil de fato mas a única coisa que me incomodou mesmo foi a rua ser tão deserta, havia árvores e mais árvores e nenhuma casa durante o caminho, os únicos sons eram os que vinham da mata, minha respiração, meus passos e os pássaros que às vezes passavam cantando, fora isso não havia mais barulho algum, era como um lugar abandonado e perfeito para um filme de suspense mesmo durante o dia.
Ouvi um som vindo da mata e olhei bem para o lugar da onde o som vinha mas não consegui ver nada por densa e fechada demais. O latido de um cão acaba tirando o meu foco dali e eu olhei para trás vendo o pastor alemão vir correndo em minha direção, ele parecia estar alegre, na verdade eu nunca tive um cachorro então nunca sei realmente quando estão alegres ou não.
- Aonde você vai? - Perguntei como se ele fosse me responder o mesmo apenas seguiu o meu ritmo de caminhada. - Ok, você quer me acompanhar até o ponto de ônibus? Você deve ser um gentleman.
Não demorou muito para que eu visse o cruzamento que minha mãe havia dito, virei a direita e então a alguns metros havia uma placa indicando que ali passava o ônibus escolar. Fiquei parada olhando para o lado de onde o ônibus deveria vir e o pastor alemão estava ao meu lado sentado em silêncio como um bom sentinela.
Depois de um tempo o ônibus enfim apareceu e eu senti meu estômago se revirar em nervosismo, a cada momento que passava eu estava mais perto de chegar na escola nova e desconhecida por mim e isso me causava pânico. Quando o ônibus parou no ponto em que eu estava, respirei fundo e fiz uma leve carícia entre as orelhas do cão antes de entrar no ônibus.
- Bom dia. - Disse o motorista com um pequeno sorriso.
- Bom dia..- Falei baixo dando um sorriso pequeno.
Olhei para o interior do ônibus e tinha ainda muitos lugares vazios, mas já haviam pelo menos seis alunos no interior do ônibus. Caminhei pelo corredor e cheguei até um dos últimos lugares vazios e me sentei na janela, ainda pude ver o pastor alemão no mesmo lugar de onde estava quando o ônibus ainda não havia chego.
Esse cachorro é estranho.
Fiquei olhando a paisagem pela janela e o ônibus parou ainda muitas vezes em vários pontos e aos poucos o mesmo foi ficando cada vez mais lotado. O assento ao meu lado era um dos poucos vazios e eu torci mentalmente para que ninguém de sentasse ali mas aparentemente meus pedidos aos céus foram todos ignorados e tudo o que menos gostaria de ter era um mal entendido logo em meu primeiro dia de aula.
- Olá, esse lugar é meu, querida! - Uma garota loira que havia acabado de subir no ônibus falou ao cutucar meu ombro com a ponta de sua unha comprida.
Ela estava parada no meio do corredor e haviam alguns outros alunos atrás da mesma me encarando como se eu fosse uma idiota enquanto que a garota possuía um sorriso cínico direcionado a mim. Para não deixar aquela situação assim tão constrangedora e me passar pela errada, apenas sorri sem graça.
- Ah, me desculpe, eu não sabia que os lugares tinham dono. - Respondi já me preparando para me levantar quando uma voz me faz parar.
- Não precisa sair, os lugares não tem dono. - Um garoto falou ao fim da fila que havia no corredor de passagem, ele parecia ser coreano, assim como eu.
- O quê? Taeyong, esse lugar é meu, a gente sempre senta aqui. - Ela respondeu incrédula.
- Trisha, tem lugares vazios no fundo, se sente de uma vez e para de atrapalhar a passagem dos outros. - Ele parecia estar entediado e talvez realmente estivesse.
- Ei, se sentem em seus lugares! - O motorista falou em alto e bom som.
A garota apenas me lançou um olhar mortal e foi se sentar em um dos lugares vagos do fundo fazendo então o outros ocuparem os lugares que sobravam e o tal Taeyong se sentou ao meu lado. Ele não disse nada e eu também não, apenas fiquei olhando a paisagem pela janela.
Seria um dia bastante longo.
[...]
Havíamos acabado de chegar na escola, eu esperei que todos saíssem do ônibus para só então sair também, o motorista ainda me desejou um boa sorte assim que desci do ônibus.
Obrigada, vou precisar.
Olhei para o lugar que agora faria parte da minha rotina do meu último ano escolar. Haviam muitos alunos e todos pareciam estar bastante enturmados, me misturei em meio a multidão e adentrei o interior da escola que era o típico cenário de filmes americanos, havia um corredor com armários em cada lado e alunos encostados no mesmo. Precisava ir até a secretaria ver meus horários de aulas e o número do meu armário.
Minha mãe havia me dito que a secretaria ficava no térreo, era só seguir o primeiro corredor a esquerda e então a encontraria e eu fiz exatamente isso e cheguei lá sem nenhuma dificuldade. A secretária me deu todos os meus horários e o número do meu armário e senha.
- Bons estudos!
A mulher desejou com um sorriso e eu agradeci com um acenar de cabeça saindo em seguida da secretaria, fui procurar pelo meu armário mas percebi que não daria tempo de encontrá-lo pois o sinal já havia tocado e todos se encaminharam para suas respectivas salas de aula. Minha primeira aula era de história, tive que subir as escadas indo até o segundo andar e ao chegar no mesmo todas as salas já tinham as portas fechadas.
Ótimo.
Procurei pela minha classe e não tinha como eu errar havia uma placa bem grande em cima da mesma com a palavra HISTÓRIA, por isso dei dois toques leves na porta e não demorou muito para que a mesma fosse aberta por um homem barbudo, ele parecia ter mais de quarenta anos e possuía um semblante assustador.
- Está atrasada. - Ele foi logo dizendo sem me dar qualquer chance de justificativa.
- Me desculpe.
- Irei deixar passar por ser seu primeiro dia. - O homem deu passagem para eu adentrar a classe e assim o fiz. - Hoje temos uma aluna nova, o nome dela é Park Sooyoung e só Deus sabe o quanto tentei decorar esse nome. - Ele anunciou fechando a porta e vindo para a frente da classe. - Sente-se naquele lugar atrás da senhorita Delevingne.
A tal senhorita Delevingne não era ninguém mais ninguém menos que a garota do incidente do ônibus mais cedo, e ela não era o único rosto conhecido por mim naquele dia a estar ali. Ao passar pela mesa da garota a mesma me olhou dos pés a cabeça e eu soube que ela já me detestava apenas por ter ficado com o lugar "dela" no assento do ônibus essa manhã. Porém penso que isso pode ter haver com o garoto, talvez ela apenas fosse ciumenta mas eu nem sei se são realmente namorados e eu espero não ter nada haver com nenhum dos dois algum dia. Não quero confusões com ninguém, apenas quero ter um fim de ano escolar tranquilo e sem aborrecimentos.
- Vamos continuar o assunto da aula anterior, mas irei fazer uma breve revisão do que já havia dado para que nossa nova colega não se sinta confusa. - O Professor anunciou e todos reclamaram. - Silêncio, quem manda nesta classe sou eu! - O homem fala sério e todos se calam.
Um professor é realmente como um maestro.
[...]
As aulas que se seguiram foram tranquilas e fiquei feliz em saber que não tinha mais aulas com a garota do ônibus, assim que o nosso quarto tempo acabou, fui até o refeitório, ainda estava um pouco duvidosa do que poderia ocorrer ali já que não havia me enturmado com ninguém e isto parece que não será uma tarefa fácil para mim.
Entrei na fila do almoço e após pegar tudo o que iria comer procurei por uma mesa acabando por não encontrar nenhuma vazia, não queria ter que entrar em um círculo aleatório só para ter lugar onde sentar, por isso fui almoçar nas mesas que tinham do lado de fora do refeitório onde tinha menas gente e muitas mesas desocupadas.
O céu estava nublado denunciando que em alguma parte do dia cairia uma tempestade e eu apenas torci para que não fosse no momento em que eu precisaria ir para casa pois não tinha um guarda chuva para percorrer o caminho de dez minutos do ponto de ônibus até em casa sem ficar molhada.
- Olá, você é nova aqui, certo? - Uma garota perguntou a mim após se aproximar.
- Oi, sim sou nova aqui.
- Meus amigos gostariam de saber se você não quer se juntar a nós no horário de almoço. - Ela perguntou sorrindo e parecia ser simpática mas eu não sei se seus amigos são assim tão simpáticos.
- Ah, muito obrigada mas eu não quero ser um incômodo.
- Não será incômodo algum, ficar sozinha no horário de almoço não é legal. - Ela pontua e eu tenho que lhe dar razão.
- Tudo bem então.
- Meu nome é Emma, como você se chama?
- Sooyoung.
- Ok, irei lhe chamar de Soo. - Ela concluiu.
Me levantei da mesa e peguei minha bandeja acompanhando a garota e ao adentrarmos o interior do refeitório, ela caminhou até uma das mesas que ficava quase que no centro do refeitório. Haviam quatro rapazes e três garotas, uma dessas garotas era a Trisha e eu comecei a pensar que aceitar sentar com eles fora uma péssima idéia.
Eu poderia apenas ter dado meia volta e fingir que nada havia acontecido.
- Bem, acredito que já deva conhecer a Trisha e o Taeyong, eles disseram que você tem aula de história com eles. - Ela comentou com um sorriso sem graça. - Aquele é o Henry. - Ela apontou para o garoto moreno que possuía um topete e este apenas sorriu. -Este é o Robert e aquele é o Josh. - Ela apresentou os dois garotos que tinham porte de atletas, ambos eram loiros e acredito até que sejam irmãos por serem idênticos. - Essa é a Louise e a Johanna. - Ela apontou respectivamente para uma morena de cabelos e olhos escuros e para morena de olhos azuis, ambas sorriram simpáticas. - Sente-se aqui ao meu lado. - Emma falou indicando o assento ao seu lado e ao lado de Johanna.
- Olá, é um prazer conhecê-los. - Sorri timidamente e logo a Louise começou a falar.
- De onde você é? - Ela parecia estar curiosa.
- Coréia do Sul.
- Nossa, o Taeyong também é de lá, não é mesmo?
- Sim. - O garoto respondeu terminando de comer.
- O que está achando de Bar Harbor? - Emma perguntou me olhando com um olhar de expectativa.
- Eu ainda não vi muita coisa da cidade, então não tem como dizer se gosto ou não.
- A gente pode sair qualquer dia desses, não é mesmo Louise? - Johanna perguntou a garota que apenas assentiu.
- É, havíamos combinado de ir ao cinema amanhã. - Louise comentou e Trisha ficou ainda mais séria.
- Pensei que seria um programa só nosso. - Trisha reclamou e eu encolhi os ombros.
- Não precisam se incomodar em me levar junto.
- O que? Não é incômodo algum, não ligue para a Trisha, ela já havia dito que não iria e agora está dizendo outra coisa apenas para fazer os outros se sentirem desconfortáveis.
- Trisha sendo Trisha, nada novo sob o sol. - Henry falou rindo e a garota lançou um olhar mortal ao mesmo.
- Cala a boca, Henry.
- Você está muito nervosinha hoje. - Ele rebateu e os outros se entreolharam vendo que as coisas estavam ficando sérias.
- Vocês é que estão se fazendo de legais apenas por que ela é nova aqui. - Trisha se levantou da mesa irritada e todos ao redor já tinham suas atenções direcionadas a nós.
- Trisha, qual é o seu problema? Estamos sendo nós mesmos e foi a mesma coisa quando Emma e Taeyong chegaram à escola. - Louise estava brava e isso era bastante nítido.
- Ok, fiquem com sua nova amiguinha. - Trisha falou e ainda jogou sua bandeja no chão do refeitório antes de deixar o mesmo.
Ninguém mais disse nada e Louise apenas suspirou e continuou comendo. Talvez entenda o temperamento difícil de sua amiga ou já tenha se acostumado mas eu não, penso que Trisha exagerou e que aquela cena era desnecessária pois agora todos os seus amigos estavam constrangidos com o comportamento dela.
[...]
Já me encontrava dentro do ônibus escolar, as aulas já haviam acabado, Louise até se ofereceu para me deixar em casa mas acabei negando ao ver que Trisha também estaria com ela e obviamente não gostava de minha presença e eu me sinto até melhor sabendo que ela não está no mesmo ônibus que eu.
Por outro lado, Taeyong estava e ele não me dirigiu uma palavra sequer, faltando apenas três paradas para mim descer começou a chover bastante forte e eu apenas suspirei vendo que provavelmente chegaria toda encharcada em casa. Taeyong do nada se levantou e eu acredito que ele já iria descer mas do nada ele abriu sua mochila e tirou de lá um guarda chuva pequeno e entendeu em minha direção e eu olhei pra ele confusa.
- Acredito que não tenha um.
- Obrigada, mas não precisa.
- O ônibus irá parar em frente a minha casa, não irei precisar mas penso que você irá. - Ele explicou e eu apenas me dei por vencida.
- Obrigada. - Respondi pegando o guarda chuva de sua mão.
- Tenha sempre um consigo, o tempo em Bar Harbor é bastante instável e costuma ser uma cidade chuvosa. - Ele avisou antes de se virar e andar pelo corredor dos assentos até a frente do ônibus.
Assim que o ônibus parou ele desceu e saiu correndo em direção a sua casa. Faltava apenas uma parada para mim chegar enfim em casa, o dia já havia escurecido bastante e o meu medo no caminho até em casa apenas aumentou. Me levantei quando percebi que estava chegando em meu ponto de descida, agradeci ao motorista quando o mesmo parou no ponto e abri o guarda chuva, acabei me surpreendendo ao ver o pastor alemão ali.
- O que você está fazendo aqui? - Perguntei e o mesmo que estava sentado perto da placa do ponto de ônibus se levantou e me acompanhou.
Ele estava todo molhado, eu ao menos sei se ele voltou para casa após eu ter ido para a escola mas o que me preocupa é o fato dele poder ficar doente por ter pego uma chuva daquelas. Caminhamos juntos até em casa e assim que cheguei a mesma, as luzes estavam todas apagadas e a porta estava aberta pois girei a maçaneta e entrei sem nenhum tipo de dificuldade.
Minha mãe precisa aprender a trancar as portas de casa mesmo ela dizendo que a cidade era segura e que ninguém trancava as portas, não consigo me sentir segura desta forma.
Deixei o guarda chuva de Taeyong na lavanderia e depois de me trocar peguei algumas toalhas secas para secar o cão já que ele parecia não gostar de secadores de cabelo e tive medo de acabar queimando o couro dele.
- Você deve estar com fome, você ao menos comeu? Espero que tenha comido. - Murmurei após terminar de seca-lo e o mesmo se deitou no tapete da sala.
Fui até a cozinha e vi que havia um bilhete na porta da geladeira e era de minha mãe. Ela teve que ir para o trabalho mais cedo mas disse que já havia alimentado o cão e que ele era muito inquieto. Iria fazer algo para comer quando ouvi um som vindo do andar de cima, andei até a sala e vi o cachorro olhando em direção a escada com as orelhas levantadas e antes que eu pudesse ir ver o que era, ele já estava subindo as escadas.
Apenas o segui e assim que cheguei ao corredor o vi olhando para a porta do meu quarto e eu senti meu estômago revirar em nervosismo e medo de que alguém pudesse ter entrado em casa e eu não vi. Respirei fundo antes de colocar a mão na maçaneta da porta e girá-la.
Quando a porta foi aberta apenas senti um vento frio e vi que era a minha janela que estava aberta e que provavelmente eu havia me esquecido de fechar e algumas coisas que estavam em cima da escrivaninha havia ido ao chão com a força do vento. Fechei a janela rapidamente me acalmando e ao olhar para o lado de fora vi o mesmo para de olhos da noite anterior olhando em direção a minha janela, fechei as cortinas assustada e sentindo meu sangue gelar me sentei em minha cama enquanto que o pastor alemão me olhava da porta do meu quarto.
- Eu não sei o que é mais estranho, a criatura dos arbustos ou você. - Falei para o cão que me deu as costas em seguida saindo da porta do meu quarto e indo para a sala, acredito eu.
Espero que nada mais nada de estranho ocorra essa noite.
[...]
Os capítulos desta fanfic tendem a ser bastante longos, então me desculpem se ficar cansativo demais lê-los.
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