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Da Lama ao Caos


Nelson Avaritia atravessa o salão sem dizer uma palavra. Passa por entre jovens possuídos, aleijados, gays e estupradores convertidos. Sobe os degraus que o levam ao púlpito, retira o pó do terno e ajusta a gravata; aperta bem o nó, de modo que a carótida palpita com dificuldade. Corre a língua sobre os lábios, saúda uma de suas auxiliares com uma piscadela e cola o cabelo ao crânio com a palma da mão.

O rosto adota feições sérias, as pálpebras cobrem os olhos incandescentes, o queixo toca o peito e os dedos das mãos se entrelaçam. As luzes ferem a pele, a língua queima e os dentes sobem e descem mordendo o nada. A parte interna das bochechas arde, o palato superior solta um gosto amargo, o corpo fervilha.

O fedor de ovo podre paira no ar.

Nelson coleciona pensamentos sórdidos, diabólicos.

O desejo de romper sua prisão de ossos e devorar seus seguidores alimenta o ódio crescente.

Mas é preciso ter paciência.

Diante de Avaritia o mar de gente se espreme. Disputa os potes contendo o esperma miraculoso e ostentam escrituras de terrenos adquiridos no céu. Adoram e observam o religioso com pares de olhos dormentes e sem vida.
Choram, gritam, fingem louvores. Esperam as profecias da noite, um caminho a seguir.

A voz da multidão cresce e se amontoa no ambiente emitindo palavras desconhecidas. Eles disputam para ouvir, e se possível até tocar, o homem de branco diante deles. Não reclamam dos odores que se desprendem do pastor e nem de sua aparência indigesta.

Arrumam desculpas cegas para tudo: o hálito que fede a bosta é por conta de uma gastrite, a carne com bolhas de sangue é o resultado de uma alergia a vinho e o rosto que bruxuleia entre jovialidade e velhice em diversas ocasiões, é apenas uma ilusão de ótica causada pelas luzes fluorescentes.

Ignorância é uma bênção e Avaritia personifica a perfeição para o povo de São Luís. Surgiu como o verdadeiro líder para o rebanho. O salvador das nações que livrará a todos da danação eterna.

Mãos ossudas se desatam e numa imitação nazista, se espalmam em direção ao povo. O burburinho se desfaz, olhos se fixam em sua direção.

Aleijados voltam a andar, cegos voltam a ver e ateus continuam ateus.

O povo está em êxtase; treze fiéis desmaiam de emoção e Avaritia desvia o olhar para baixo.

Os dedos esguios folheiam páginas amarelas no livro que trouxe oculto sob a axila. Busca o evangelho correto para este dia especial.

Diante de Avaritia a plateia permanece sedenta pelo saber: ouvidos abertos, a mente presa a grilhões, a liberdade se liquefazendo e o orgulho tão flácido como bolsos vazios. Muitos deles sentem sede e fome, mas priorizam estar ali diante do pastor.

Nelson olha para o povo e sorri. As mãos tocam o peito onde deveria bater um coração, fazem um sinal de reverência e arrumam o suporte do microfone.

Lábios secos se desunem. Um leve pigarro brota na garganta e ao lampejar a língua como uma serpente a voz resolve sair. Soa áspera como se ardesse ao falar.

Os olhos dos servos se arregalam, lágrimas umedecem suas faces e joelhos se dobram. Um dos fiéis ejacula na cueca e o outro esvazia o intestino.

— Queridos e amados irmãos! Nos reunimos aqui mais uma vez, para adorar a Deus, nosso senhor. Peço por vocês e suas famílias quando digo que podemos sim servir a dois senhores... seremos mais felizes assim, sem dúvida alguma!

Os fiéis fazem suas orações e ouvem as palavras do pastor. Não percebem o vapor escapar através do terno ou os lábios embranquecidos rachando ao pronunciar o nome do pai de Adão. Ignoram o brilho fumegante em seus olhos ao ler os evangelhos e a língua bífida lambendo a bíblia.

Nelson sorri e defeca sobre a inocência humana, gargalha ao recordar o espanto das fiéis ao se deparar com seu falo invadindo-as, inundando as vaginas com pus. Ele domina a todos com rédeas curtas no caminho tortuoso da perdição.

Isso até hoje, a última quarta feira de Dezembro.

O líder da congregação exigiu a contribuição taxativa, os tais dez por cento. Entretanto, não ouve resposta.

Seus auxiliares repetem a ordem a plenos pulmões, gesticulam e ameaçam.

Nada.

Avaritia já tem as almas dos fiéis, seus bens, a vida. Mas ele quer mais.

O desejo é voraz, incontrolável.

Os olhos do pastor coçam, inflamam e queimam. Tudo desmorona quando o tilintar de moedas não é ouvido.

Os fiéis juram não ter dinheiro. Todos ou apenas um deles, não faz diferença.

Nelson olha para a multidão. Há anos os fiéis subnutridos investem tempo e dinheiro para alicerçar a subida aos céus e agora se recusam a ascender. O sorriso de escárnio se apaga, os olhos dispersam faíscas e enxofre escapa das narinas do homem de fé.

A mão direita esmaga o microfone, a esquerda soca o púlpito e o destrói.

A multidão permanece inerte.

Olham para o altar e testemunham o deus de branco agindo como profano.

Nelson aferra as unhas no próprio pescoço; afunda, escava e arranca um pedaço. A traqueia surge latejante, borbulhando viscosidade. A boca se abre e dos lábios a saliva ácida pinta o terno de preto. O rosto magro fica pálido e o pastor tenta falar. A voz sai encharcada, afundando em jatos de sangue.

O que escapa das cordas vocais machuca os tímpanos, estilhaça os vidros e trinca o chão. Alguns fiéis levam as mãos aos ouvidos, berram, choram, sentem dor. Outros continuam de joelhos sofrendo em silêncio.

O religioso despeja um líquido escuro que emana vapor. O mesmo fluido mela o fundo das calças e escorre para os joelhos, desce por trás das coxas e alcança o par de sapatos caros.

Nelson cambaleia gritando em uma língua antiga.

As portas da igreja se fecham. Janelas são inúteis.

Não há rota de fuga.

Luzes oscilam, a temperatura sobe e Avaritia cai de joelhos. Uiva como um cão em agonia e os assistentes correm em seu auxílio. O primeiro a tocá-lo tem a mão direita imersa em chamas; o fogo avança e devora o antebraço. A perna esquerda é possuída por úlceras e a epiderme se solta em cascas podres.

O jovem chora e implora a Jeová que o cure enquanto vê o pastor com a face adotando sua versão original.

David é o nome do auxiliar; sua vida se despedaça em uma dor excruciante bem a tempo de testemunhar duas mulheres alcançando o pastor de fogo. Elas caem lado a lado; vomitam o estômago, os seios se desligam da carcaça, as costelas perfuram os pulmões e o útero implode. Vira uma pasta gosmenta. Escorre pela vagina.

O caos se instala na assembleia e a multidão se apavora. Correm e pisoteiam, esmagam. São como cegos no deserto sucumbindo sob o sol.

Os idosos se tornam pó, crianças convulsionam, mulheres menstruam até a morte e homens batalham para chegar a uma saída de emergência.

Avaritia não os deixará sair, precisa do que lhes pertence. Não passou eras construindo um palácio com veios de ouro ardente em honra a Satã para abrir mão de tesouros inimagináveis. Veio para a superfície em busca da avareza de uns e da alma de muitos. A coceira na garganta, o cérebro com inchaço, o fedor da fé e os conselhos exigidos por seres abaixo de sua importância só eram suportáveis por causa do tilintar das moedas.

Sem o roçar das cédulas, o riscar das canetas nos cheques e as ligações feitas a gerentes de banco a vida na superfície é horrível como servir no paraíso. Uma monotonia além do suportável, sem dinheiro e pecados não há Avaritia.

Num ritmo infernal o pastor prossegue.

Inicia a mutação.

As narinas se alargam e deixam o ar tóxico, sufocante. Amônia, ovo podre e carniça. Gordura, cabelos, ossos.

Tudo irá queimar.

Nelson Avaritia rosna, o rosto descasca, os ouvidos sangram, os olhos são duas bolas de fogo e a boca uma cratera com espinhos. As mãos se tornam patas, as unhas agora são garras e o bípede se torna quadrúpede. O terno se abre nas costas junto com os músculos; rasgam-se para dar lugar a asas de morcego com membranas cor de lodo.

A fera geme e do orifício abaixo da cauda que começa a brotar, segue um zumbido.

Os poucos fiéis que restam estão roucos, feridos e sem nenhuma esperança. O medo está em seus olhos, estuprando suas almas e entupindo as veias.

Vômitos se misturam a fezes, lágrimas e suor. O demônio galopa em ziguezague destroçando tudo pela frente, sem piedade. Salta sobre o povo; as presas estraçalham, as garras esquartejam almas. Pedidos de socorro banham o focinho da fera, órgãos enchem o estômago e labaredas nascem das trincas no chão.

O fedor de carniça é submetido à supremacia do enxofre. As paredes balançam, o teto ameaça cair. Os zumbidos se tornam vespas e escapam do ânus da fera enquanto gafanhotos saem de sua boca.

O último dos discípulos sufoca com o enxofre que polui o ar.

Cadáveres são devorados pelos insetos satânicos, lâmpadas se apagam, o fogo come as paredes e a fumaça engole o demônio que deixa para trás o crepitar dos cadáveres em brasa.

Do lado de fora mendigos observam as labaredas rompendo o teto do templo.

A noite é de lua nova, poucas nuvens testemunham o acontecimento monstruoso.

Quando os repórteres e os bombeiros chegarem, os pedintes irão narrar o que viram. Exigirão bebidas e drogas na troca por relatos em primeira mão. Farão questão de incluir o fato de terem visto um velho de terno caminhando entre as carcaças humanas, levantando escombros com apenas uma mão, avolumando os bolsos e sacos de estopa com o dinheiro que as labaredas não consumiram. Revelarão que os olhos dele eram chamas vivas e que de sua boca uma palavra fugia cada vez que encontrava algo de valor.

E quando lhes perguntarem o que o velho falava, dirão:

— "MAMON!"

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