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Capítulo 2 ISAAC


Olá meus amores.

 Vou deixar aqui o link da Play list  que está no Spotify, caso queiram ouvir ela completa, mas por enquanto vou deixar uma das principais, que é do Isaac, Creep que está no youtube com legenda, para que possam entender um pouco dos sentimentos dele quando criança.


VOU DEIXAR AQUI COMO ACESSAR  A PLAY, SEI Q A MAIORIA SABE, MAS TALVEZ ALGUMAS DE VOCÊS NÃO, E É SEMPRE BOM DEIXAR TUDO BEM EXPLICADINHO, NÃO?

PARA OUVIR A PLAY.

1- ABRA O APP DO SPOTIFY NO CELULAR.

2- SELECIONE BUSCAR  (A lupinha)

3 - CLIQUE NA CÂMERA.

4- APONTE ELA PARA O CODE ALI EM CIMA.

5- BOA DIVERSÃO

BOM ENQUANTO OUVEM APROVEITEM PARA LER O CAPÍTULO DAS LEMBRANÇAS DO NOSSO MENINO ISAAC. 

E SINTAM O MESMO QUE ELE SENTE.

📖

Isaac

Treze anos antes.

Os cascos da minha velha égua Arizona estancaram, levantando uma nuvem de cascalho e poeira com o forte puxão que eu dei nas rédeas, tal era minha felicidade e ansiedade para contar as novidades para meu pai. Desmontei rápido e já estava correndo em direção à casa, quando me lembrei de que antes deveria levá-la ao pequeno estábulo nos fundos da casa, tirar a sela, trocar a água velha por outra fresca, e só depois eu estaria livre para entrar em casa, caso contrário, minha pele seria marcada com novas cicatrizes.

Antes de sair, dei uma última olhada, tudo estava certo e nos lugares correspondentes, eu vivia em um estado de pavor contínuo, já que tudo para ele era motivo de castigo. Feliz de que pelo menos ali ele não encontraria motivos para me surrar, corri em direção à nossa cabana, uma das muitas que faziam parte da vila dos funcionários. Nosso grupo era dos que viviam fora do perímetro da sede, fazíamos parte dos que trabalhavam direto com os animais.

Havia outra vila que eu não conhecia, era a que ficava dentro da sede da fazenda Thompson. Eu chamava os que viviam ali de grupo da elite dos funcionários. Imaginava que um dia nós também poderíamos fazer parte daquele seleto grupo. Meu sonho era ser um dos capatazes, ou até mesmo administrador, trabalhar nos escritórios, ter uma namorada que fosse professora.

Aquele pensamento trouxe para mim a velha nostalgia, minha mãe tinha sido diretora da escola da fazenda, ela tinha sido contratada direto da Inglaterra para montar e dirigir o projeto de alfabetizar as dezenas de crianças que viviam ali, assim como nas redondezas. Meu pai viera acompanhando-a para aprender o ofício de peão e depois o de capataz. Porém tudo mudou quando, logo depois do meu nascimento, ela morreu em um acidente, e ele pouco a pouco passou de funcionário sem experiência para péssimo, perdeu o posto de subcapataz e passou a ser apenas um dos muitos peões. Assim tínhamos deixado de pertencer a elite como eu imaginava e passado a viver fora da sede.

⸺ Pai! ⸺ gritei, feliz. Aquele era um sonho que eu vinha perseguindo, se eu conseguisse boas notas, talvez conseguisse uma bolsa para a faculdade. Com um título, eu poderia trabalhar na sede e algum dia ter minha própria fazenda, meu pai teria orgulho de mim. ⸺ Veja. ⸺ Exultante, coloquei o envelope sobre a mesa na sua frente.

⸺ Quando vai aprender a ter respeito, moleque? ⸺ Bateu o punho sobre a mesa e logo me empurrou com força, ao mesmo tempo em que jogava longe o documento. ⸺ Não vê que estou comendo?

⸺ Desculpe. ⸺ Levantei-me, peguei a carta que tinha ido parar em um canto. ⸺ Vou esperar.

Ele não respondeu, só continuou comendo, apertando todos os botões dos canais da TV em frente a ele, enquanto ria, resmungava e xingava como se eu já não estivesse mais ali. Com o documento em mãos, esperei que ele terminasse de comer, pois eu só comeria se sobrasse. Se ele comesse tudo, eu tinha direito a um ovo com pão. Rezei para que ele deixasse pelo menos um pouco, pois vi que tinha feito bife e o cheiro estava muito bom.

Mesmo que todas as crianças tivessem refeições completas na escola e houvesse um galpão onde serviam almoços, ele nunca se juntava aos demais e me obrigava a fazer o mesmo. Assim que ele terminou, me apressei a retirar o prato usado e buscar sua cerveja, deixando-a junto com a carta em frente aos seus olhos.

⸺ Que porcaria é essa? ⸺ perguntou, sem pegar e muito menos se dignar a abrir.

⸺ É um documento. ⸺ Tentei fazer com que minha voz soasse firme, mas ao mesmo tempo suave, já que ele sempre dizia que existia nela um tom arrogante. ⸺ Uma carta convite, fui escolhido para representar a escola em uma competição de matemática na cidade.

Continuei tentando fazê-lo sentir orgulho de mim, afinal eu tinha certeza de que eu seria a salvação da nossa pequena e destruída família. Estava decidido a trazer de volta o brilho ao seu olhar, que eu tinha certeza de que um dia existira. Fazer com que ele parasse de se autodestruir com a perda da minha mãe. Cada vez que ele me espancava, eu o perdoava, pois sabia que eram as lembranças dela que vinham à sua cabeça e o faziam agir com brutalidade comigo, eu tinha certeza de que era a dor que fazia com que ele me odiasse, por ser eu e não ela a estar ali.

⸺ Se eu ganhar esse ⸺ prossegui ⸺, poderei participar de outros. Quando eu for maior, irei competir contra todos em Camberra, e o prêmio será uma bolsa de estudo na universidade de...

Sem conseguir me conter, prossegui com meu entusiasmado discurso adolescente, já me imaginando o dono do mundo.

⸺ Não será o máximo, papai? Imagina, eu, com um diploma, vou poder chegar a capataz, talvez até a administrador, e ganhar uma das regiões para comandar....

E aquele entusiasmo foi meu grande erro, pois não percebi o furacão de ódio que minhas palavras estavam provocando. A dor da bofetada me tomou de surpresa, e a força com que ela me alcançou fez com que meu corpo magro de criança fosse parar contra a parede, minha boca ardeu com o gosto de sangue se espalhando por seu interior. Antes que eu conseguisse me recuperar, a ponta da sua bota já tinha encontrado minhas pernas. Engoli o choro, pois sabia que cada lágrima derramada significaria um tapa, um soco ou coisa pior.

⸺ O que você está pensando, garoto idiota? ⸺ Puxou-me pelo braço, encurralando-me contra a parede, enquanto eu rezava apenas para que ele não decidisse tirar o cinto. ⸺ Que é capaz de conseguir o que eu não consegui?

⸺ Não, pai, eu... ⸺ Eu sabia que naqueles momentos o melhor era ficar calado, porém ainda acreditava que ele estava entendendo tudo errado. ⸺ Eu só queria ajudar.

⸺ Você nunca conseguirá ajudar nem a você mesmo, sempre será um ninguém. ⸺ Apontou o dedo para mim e uma nova chuva de violentas bofetadas alcançou meu rosto e minha cabeça, fazendo com que levantasse meus braços, tentando me proteger.⸺ Vai morrer aqui, seco, sem nada, e eu cuidarei para que isso aconteça. Assim como eu, você também nunca terá nada.

Dito aquilo, deu a volta, saindo rápido e, pela fúria estampada em seu olhar demoníaco, imaginei que talvez fosse para não dar um fim à minha vida ali mesmo. Assim que vi as ancas do seu cavalo desaparecerem na rua de terra batida, eu saí pela porta dos fundos. Corri, sem ver nada em minha frente, tanto pelos olhos inchados dos tapas, como pelas lágrimas que eu tinha desistido de segurar e corriam livres pelo meu rosto. Peguei minha égua e a montei em pelo. Segurando firme na crina, disparei pelo caminho contrário ao que ele havia tomado.

Forcei Arizona a seguir por um caminho diferente e desconhecido, já que ele sabia onde eu me refugiava quando as coisas ficavam violentas, e eu, pelo menos naquele dia, não queria ser encontrado. Imagens borradas das plantações foram passando rápido em frente aos meus olhos, que continuavam tendo suas lágrimas espalhadas com o vento. Quando o caminho em frente a mim se fechou com um verde escuro, percebi que estava em um lugar totalmente novo, que parecia uma reserva de mata nativa, o caminho de terra virava à esquerda.

Sem duvidar, bati meus tornozelos contra os flancos de Arizona, incitando-a a seguir adiante, adentrando no estreito e desconhecido caminho da mata, ainda mais rápido, e aquele foi meu segundo erro do dia. Se no primeiro, meu entusiasmo não me permitiu ver a tempestade se aproximando, no segundo, eu estava desesperado. Quando o caminho voltou a se abrir, senti meu corpo sendo jogado para trás com a força que Arizona empinou os cascos, ao quase se chocar com um enorme garanhão que cruzou nosso caminho vindo do nada.

Mesmo assustado, cravei meus tornozelos e embrenhei meus dedos ainda com mais força em sua crina, tentando não ser lançado ao chão. Todavia meu susto se intensificou quando vi que quem montava a montanha de músculos e ossos em minha frente era apenas uma garotinha. Na primeira empinada, ela conseguiu manter a fera sob controle, se aferrando assim como eu, só que nas rédeas do animal, enquanto gritava para que ele se acalmasse, porém, na segunda vez, não teve a mesma sorte e, horrorizado, vi seu corpo ser lançado no ar antes de cair sobre pedras, terra e a vegetação que havia no lugar, ficando instantaneamente imóvel.

⸺ Menina! ⸺ Desmontando, ajoelhei-me apressado ao seu lado. ⸺ Fale comigo.

Desesperado, coloquei meu ouvido perto do seu coração, numa tentativa de saber se ainda estava viva. Aliviado, afastei-me ao perceber que ela não tinha morrido, ainda dava para ouvir os batimentos, baixinhos, mas firmes. Eu não sabia muito de primeiros-socorros, só o que tinha aprendido na escola, e o que sempre diziam era para não mexer nos feridos.

Sem saber o que fazer, sentei-me nas folhas ao seu lado, fazendo sombra com meu corpo e rezando para que ela não demorasse muito a acordar, já que eu não podia deixá-la ali e também não tinha como pedir ajuda, pois nem celular eu tinha. Puxei minhas pernas e as abracei, apoiando meu queixo sobre os joelhos. Enquanto mais lágrimas caíam, eu a observava. Sua pele morena contra a terra vermelha, assim como os cabelos negros com um emaranhado de folhas que iam do verde intenso ao marrom escuro, davam a ela a aparência de um anjo caído, um anjo todo bagunçado, mas ainda assim um anjo.

⸺ Hum. ⸺ Ouvi-a gemer e dei um pulo, voltando a me ajoelhar ao seu lado.

⸺Menina! ⸺ gritei. ⸺ Você está bem?

⸺ Acho que sim. ⸺ Fui encarado por um par de olhos tão claros que no primeiro instante tive certeza de que eram duas pedras de gelo. ⸺ Ajude-me aqui.

Não respondi, apenas a olhei, sem saber o que fazer.

⸺ Você é mudo, moleque? ⸺ Encarou-me com a cara feia.

⸺ É que acredito que tenha quebrado alguma coisa. ⸺ Continuei ao seu lado, com o coração disparado. ⸺ Então é melhor ficar quieta.

⸺ Aiiiii! ⸺ berrou alto, ao tentar sentar-se. ⸺ Acho que me quebrei toda, isso sim. Ah, que inferno! Ela vai me matar.

⸺ Eu disse que era melhor ficar quieta ⸺ apontei para o chão ⸺, afinal foi um tombo bem grande.

⸺ Fique você quieto, eu não. ⸺ Estendeu-me a mão.⸺ Ajude-me a ficar de pé.

Novamente, eu fiquei sem ação.

⸺ Você é surdo, moleque?⸺ esbravejou, deixando-me indignado, afinal quem ela pensava que era?

⸺ Não, não sou! ⸺ vociferei de volta. ⸺ E pare de falar assim comigo.

⸺ Então pare de agir como um idiota. ⸺ Fechou a cara e ficou me encarando; eu fiz mesmo, ficamos um olhando feio para o outro.

⸺ Ei, o que aconteceu com sua cara? ⸺ perguntou de repente, como se só naquele momento estivesse me vendo de verdade.

⸺ Nada ⸺ respondi, apressado, virando o rosto e passando a manga da camisa sobre ele, tentando limpar as lágrimas secas. Com o susto, eu tinha me esquecido da minha desgraça e, principalmente, do meu estado. ⸺ Briguei na escola.

⸺ Sabe? ⸺ Riu e, mesmo com as caretas, seu riso era lindo. ⸺ Você não deveria mentir, já que mente muito mal.

⸺ Tudo bem. ⸺ Dei de ombros. ⸺ Não é da sua conta.

⸺Tudo bem ⸺ imitou minha fala e gesto. ⸺ Se não quiser falar, não fale.

⸺ Venha. ⸺ Tentei pegar seu braço e dar apoio para que se levantasse. ⸺ Deixe-me ajudá-la. Temos que sair rápido daqui, você precisa de um médico.

⸺ Me empreste seu celular. ⸺ Estendeu a mão em minha direção. ⸺ Vou pedir ajuda.

⸺ Por que não usa o seu? ⸺ perguntei, sem querer dizer a ela o óbvio.

⸺ Porque, se você não reparou ⸺ franziu a testa, com raiva ⸺, meu cavalo idiota levou minha mochila. Agora me empreste seu celular e pare de fazer perguntas estúpidas.

⸺ É que eu não tenho um. ⸺ Desviei meu rosto, envergonhado da minha pobreza. ⸺ Nunca tive.

⸺ Como pode existir pessoas que ainda andam sem celular? ⸺ Não percebi um tom de superioridade em sua voz, apenas curiosidade, como se eu fosse um bicho a ser estudado. E, ainda falando, começou a tentar se levantar. ⸺ Nunca conheci uma pessoa que não tivesse um... Aiiii! ⸺ berrou, interrompendo o que estava dizendo, assim como os movimentos, e o grito fez com que eu caísse sentado com a bunda no chão, longe dela. ⸺ Agora sim tenho certeza de que me quebrei toda.

⸺ Sim, parece que seu braço está quebrado. ⸺ Apontei para o lugar que já começava a inchar. ⸺ Vamos, que logo vai piorar.

Levantando-me, comecei a passar as mãos pelos cabelos, eu tinha conseguido me encrencar ainda mais do que já estava, com certeza no final da noite eu estaria morto.

⸺ Maldição, isso sim é o que eu chamo de merda das merdas ⸺ amaldiçoou, colocando a mão sob o braço, segurando-o com cuidado, e eu, na minha desgraça, quase ri, já que nunca tinha visto uma garota tão pequena amaldiçoar daquela forma. ⸺ Agora sim tenho certeza de que ela vai me matar.

⸺ Ela não vai te matar. ⸺ Meus lábios se repuxaram, querendo soltar o riso, ao observar todas as caretas que ela fazia. Imaginando que estava se referindo à sua mãe, completei: ⸺ Vai ficar muito preocupada, isso sim.

⸺ Isso porque você não conhece dona Arora ⸺ disse e, levantando-se com muito esforço, seguiu em direção à minha égua. Naquele momento, percebi que também mancava. ⸺ E, como você me atropelou, vou levar seu cavalo. Afinal, como anda correndo sem olhar para onde vai?

⸺ Como assim? ⸺ Passei na sua frente. ⸺ Você não vai levar minha égua, afinal que culpa tenho eu, se você rouba cavalos e sai como louca por aí?

⸺ Você é burro, moleque?⸺ Parou no lugar onde estava e, num esforçado gesto teatral, levantou um braço e girou devagar o corpo, terminando em um círculo de trezentos e sessenta graus. ⸺ Eu sou dona de tudo isso, assim como do cavalo.

⸺ Como? ⸺ Caí de joelhos, querendo voltar a chorar. Ela tinha razão, eu era muito burro. Como não percebi que estava na frente da herdeira das terras? Suas roupas, aquele cavalo lindo, tudo indicava riqueza. Mas como que ia saber, se eu sequer sabia que existia uma? ⸺ Desculpe-me, senhorita Thompson, me perdoe, eu não queria invadir.

⸺ Pare, moleque. ⸺ Afastou-se, mancando, e, colocando a mão em frente aos olhos, começou a procurar por seu cavalo no horizonte. ⸺ Você é muito medroso.

⸺ É que eu não sabia que estava dentro da área proibida. ⸺ Baixei minha cabeça, me desculpando. ⸺ Pode levar minha égua, e eu prometo tomar mais cuidado.

⸺ Não sei de que área proibida você está falando. ⸺ Olhou séria para mim. ⸺ Não sabia que existia uma, mas vou perguntar ao meu pai.

⸺ Existe, sim ⸺ afirmei. ⸺ Mas por favor não conte que invadi, prometo que não irá se repetir.

⸺ Parece que Pequeno Demônio resolveu me abandonar mesmo. ⸺ Parecendo não se importar com minhas súplicas, voltou a olhar para o horizonte, tentando avistar o cavalo fujão. ⸺ Maldito! Que falta de consideração.

⸺ Pequeno Demônio? ⸺ Olhei-a, incrédulo. ⸺ Quem em sã consciência coloca um nome desses em um animal?

⸺ Fui eu quem colocou ⸺ disse, orgulhosa, e prosseguiu: ⸺ Acontece que eu o vi nascer. ⸺ Mais uma burrice minha, como podia criticar sem saber? ⸺ Ele parecia um pequeno demônio, todo negro, fazendo barulho com as narinas.

⸺ Bem ⸺ tentei consertar meu erro ⸺, mas acredito que já está na hora de mudar, não? Para Grande Demônio? ⸺ Sorri, encabulado.

⸺ Grande Demônio? ⸺ Bufou, raivosa. ⸺ Talvez eu mude mesmo, mas seria para Grande Medroso ou melhor Grande Covarde, acredito que combinaria mais com ele. Como pôde me jogar no chão e fugir como um cagão?

Enquanto ela falava, eu fiquei admirando-a. Pequena, frágil, com um braço possivelmente quebrado, outra em seu lugar estaria chorando, mas ela não, desde que acordou, não chorou nenhuma vez. Tinha apenas feito várias caretas, xingado, amaldiçoado, porém nem uma lágrima, decidi que também já era hora de parar de chorar e agir como ela.

⸺ Venha, vou enfaixar seu braço, assim não vai doer tanto. ⸺ Devido ao susto, ela não estava sentindo muita dor, mas eu sabia como funcionava, com o passar das horas a dor começaria e com o tempo só pioraria. ⸺ Sente-se aí que vou pegar uns gravetos para fazer uma tala.

⸺ Mas como? ⸺ Em vez de fazer o que mandei, apenas me encarou com um olhar interrogativo. ⸺ Não temos nada, nem em minha mochila, que se foi, eu tinha algo para usar, nela havia apenas elásticos para o cabelo, água e algumas frutas. E meu celular, claro.

Sem me importar com seu falatório, coloquei-a sentada em um pequeno monte de terra e fui em busca de alguns galhos retos. Com eles em mãos, voltei e sentei-me em frente a ela. Retirei minha camisa e me dispus a rasgá-la, não foi difícil transformá-la em tiras, já que o tecido velho e fraco não impunha nenhuma resistência aos meus puxões.

⸺ Por que você fez isso? ⸺ Olhou para cima. ⸺ O sol está alto, vai se queimar todo, e à noite vai arder.

⸺ Ah, eu.... ⸺ Naquele momento, ela tinha todo o direito de me chamar de mudo, já que eu nunca ouvira uma palavra de preocupação direcionada a mim, minha garganta travou e quase esqueci a promessa de não voltar mais a chorar.

⸺ O sol não está tão forte ⸺ disse, como desculpa ⸺ e também já estou acostumado.

⸺ Nunca conheci uma pessoa que mentisse tanto ⸺ riu alto ⸺ e tão mal.

Eu queria ficar bravo por ela rir de mim a cada minuto, mas não consegui, aqueles momentos conversando com ela estavam sendo tão bons. Eu não tinha amigos, até na escola nunca me convidavam para nada, e nas minhas tarefas só recebia ordens, broncas e até alguns tapas, então conversar estava sendo uma novidade. Evitando entrar em uma nova discussão, que eu já sabia que perderia, prossegui com meu trabalho de enfaixar seu braço.

Coloquei uma das partes rasgadas em cima das minhas pernas, depois dispus as pequenas lascas de madeiras que eu tinha conseguido, acomodei seu braço e, com todo cuidado do mundo, fui dando voltas com as tiras da camisa até ficar firme. Por último, amarrei as pontas das mangas, fiz uma tipoia, que passei por seu ombro, e descansei o braço quebrado. Terminando, me afastei feliz para admirar meu trabalho.

⸺ Por que seu corpo tem tantas manchas? ⸺ Ela trouxe a mão em minha direção, querendo tocar as marcas. Afastei-me rápido, arrependido de ter tirado a camisa, mas não tinha como ela fazer a viagem de volta sem ter o braço firme. E aquela era a única opção.

⸺ Nada ⸺ menti de novo ⸺, é que sou descuidado e vivo me machucando.

⸺ Vamos fazer uma coisa ⸺ ela disse, séria. ⸺ Você não mente mais para mim, e eu não conto ao papai que você quase me matou.

⸺ Aceito. ⸺ Mesmo ela tendo exagerado, eu aceitei rápido, já que tinha certeza de que não voltaria a encontrá-la. Assim me livrava da surra, tanto do meu pai como do dela.

⸺ Como é o seu nome, moleque? ⸺ perguntou de repente. ⸺ O meu é Amiha, mas você já deve saber.

⸺ Isaac. ⸺ Evitei dar meu sobrenome, eu tinha vergonha dele. ⸺ Seu nome é lindo, nunca tinha ouvido.

⸺ Minha mãe disse que meu nome significa vento que traz o inverno, ou seja, esfria as pessoas, deixa tudo triste. ⸺ Mais uma vez, deu de ombros e eu já estava percebendo que aquele era um gesto natural dela. ⸺ E o seu, o que significa?

⸺ Não sei. ⸺ Na realidade, eu nunca soube em que minha mãe estava pensando quando deu o nome a mim, se era de algum parente ou se ela simplesmente decidiu. ⸺ Acho que não significa nada.

⸺ Mas é bonito também ⸺ concluiu, pensativa.

⸺ Agora que está tudo certo, podemos ir. ⸺ Acariciei o rosto de Arizona para acalmá-la.

Enquanto a puxava do chão, eu me preocupava, não queria chegar em casa depois do meu pai, já que eu tinha saído sem lavar a louça, assim como também não tinha comparecido para fazer a limpeza dos currais, nem escovar os cavalos. Deixei meus ombros caírem, nem se eu chegasse cedo, iria conseguir fazer tudo, já sabia que iria dormir com mais uma surra ardendo em minha pele.

⸺ Acho que não vou conseguir ⸺ ela disse, desistindo depois de várias tentativas infrutíferas. ⸺ Vá você e consiga ajuda para vir me buscar. Ou posso ir caminhando.

Ao ouvir aquilo, eu ri, como ela pensava em chegar em casa caminhando? O tempo de uma cavalgada rápida não era igual ao de pequenos passos, ainda mais que estava mancando, demoraríamos pelo mesmo um dia. Aquilo se conseguíssemos chegar.

⸺ Precisamos encontrar um tronco caído em que você possa subir ⸺ resmunguei, olhando ao redor.

⸺ Ah, como sou burra. ⸺ Bateu com a mão na testa. ⸺ Venha ⸺ ordenou, decidida.

Sem esperar por minha resposta, voltou a caminhar. Percebi que seus pequenos passos continuavam mancos e inseguros, como se estivesse sentindo muita dor, mas seguiu caminhando como se nada pudesse impedi-la. Seguimos nosso caminho por uns cem metros, onde mais uma vez a mata voltava a se fechar, no entanto, ao nos aproximar, vi que tinha um espaço aberto e pouco circulado, parecido com o que eu tinha entrado.

Quase me choquei com ela, quando parou e ficou olhando séria para mim, parecendo decidir seguir ou não adiante, mas logo deu novamente de ombros e, afastando as folhagens que caíam das árvores amarradas em cipós, seguiu em frente. Pouco depois, o caminho mais uma vez se abriu em frente a um curso de água clara e transparente, o lugar estava limpo como se fosse bastante usado, e o sombreado da mata quase fechada deixava o espaço fresco e agradável.

⸺ Este é o meu esconderijo ⸺ confidenciou-me e, tentando dissimular a dor, seguiu até o curso de água, onde encheu uma das mãos e a jogou no rosto. ⸺ Não conte para ninguém.

⸺ Não vou contar. ⸺ Com toques suaves em Arizona, a empurrei até a água para que pudesse beber e se refrescar. ⸺ Eu também tenho um esconderijo confidenciei.

⸺ Um dia vou querer conhecer. ⸺ Sorriu e foi em direção ao tronco de uma árvore caída, onde se sentou, segurando o braço.

⸺ Sim, um dia. ⸺ Percebi que seu rosto, apesar de moreno, estava pálido. ⸺ Mas agora tenho que te levar para casa ou logo vai chorar de dor.

⸺ Eu não choro. ⸺ Olhou furiosa para mim enquanto se levantava.

Sem parar para discutir, levei Arizona até o tronco onde ela estava, seria bem mais simples e seguro se pudesse levá-la na frente, mas, como não tínhamos sela nem rédeas, ela teria que ir atrás. Assim que subi na frente e depois de estar seguro, estendi minha mão a ela, que a tomou e, ajudada por mim e o tronco alto, saltou, sentando-se apoiada em minhas costas, prendendo rápido seu braço são em torno do meu corpo.

⸺ Você está bem? ⸺ perguntei, antes de avançar com Arizona. ⸺ Está segura?

⸺ Sim ⸺ respondeu, apertando seu corpo contra o meu. ⸺ Mas estou preocupada, porque, assim que sairmos no sol, ele vai começar a te queimar, e à noite não vai poder dormir.

Eu sabia que ela tinha razão, porém não podíamos fazer mais nada. E foi como previsto, aquele parecia estar sendo um dos dias mais quentes do ano. Uma da tarde, olhei para cima, o céu limpo sem nenhuma nuvem, o sol parecia uma chuva de fogo se derramando sobre a terra, e eu sabia que, até para mim, que estava acostumado com os dias quentes, seria difícil. Assim que deixamos a proteção do bosque, o sol castigou sem piedade minha pele branca de inglês puro. No começo, tentei forçar um galope moderado, porém logo desisti, já que cada vez que as patas de Arizona tocavam o chão, por mais que ela não reclamasse, eu conseguia ouvir um gemido abafado. Então moderei os passos e seguimos de forma lenta, ora atravessando longas seções de pastos, outras vezes espaços arborizados ou cultivados.

Quando senti o peso da sua cabeça sobre meu ombro, seguido do lento afrouxar do seu aperto na minha cintura, comecei a falar rápido, com medo de que ela acabasse dormindo, ou pior, desmaiando, e, claro, as consequências só piorariam seu já delicado estado. Assim, comecei a fazer perguntas, primeiro aleatórias, logo sobre ela e sua família, tudo para mantê-la acordada, e ela ia respondendo sem nenhuma reserva. Foi daquela forma que eu fiquei sabendo que tinha um irmão mais velho, que, ao contrário dela, que gostava de programas ao ar livre, era apaixonado por desenhos, então passava horas no quarto, se divertindo, entre lápis, ceras, tintas e papéis.

Soube também que sua mãe não permitia que fizessem amizade com os filhos dos funcionários, assim como frequentassem a escola da fazenda; mesmo que fossem os mesmos professores, eles estudavam em casa. Segundo ela, era apenas preocupação e cuidado de mãe zelosa. Segui perguntando, e ela, vez ou outra, fazia uma pergunta para mim e, quando era sobre a minha família, eu tentava me esquivar. No entanto, orgulhoso, contei sobre o convite para o concurso de matemática que tinha recebido naquela mesma manhã e logo ouvi um som de vomitar.

⸺ Não acredito que você gosta de números ⸺ surpreendeu-se. ⸺ Números são chatos.

⸺ Eu gosto ⸺ devolvi, encabulado. ⸺ Números são simples e fáceis.

⸺ Então quando as provas chegarem, você vai ter que me ensinar, pode ser lá no meu esconderijo. ⸺ Riu antes de completar: ⸺ Se você for bom, ela nem vai acreditar quando eu tirar uma nota boa com os números. ⸺ Riu alto.

Seguimos conversando, rindo, gargalhando, e aquele tempo, apesar do desastre, tinha sido a melhor coisa que acontecera nos meus curtos treze anos.

⸺ Vire aqui. ⸺ Apontou quando um palácio, na minha concepção, apareceu um pouco adiante.

⸺ Aqui? ⸺ perguntei, pois, de onde estávamos, já podíamos avistar a mansão, que se destacava entre a vegetação e os jardins que a cercavam, e eu imaginava que era sua casa. Quem mais teria uma casa daquele tamanho? E ela, no entanto, estava me indicando para nos afastar. ⸺ Mas aquela não é a sua casa?

⸺ Sim, mas a essa hora meu pai deve estar em seu escritório. ⸺ Riu e seu hálito morno no meu pescoço fez com que todos os pelinhos se eriçassem. ⸺ Pretendo chegar a ele antes que ela me veja.

Seguimos com passos lentos. Quando nos aproximamos, eu fiz menção de descer, já que não sabia o que pensariam quando vissem a princesinha Thompson chegando toda descabelada, com um braço quebrado e com o outro agarrado na cintura de um garoto sujo, seminu, montado em uma égua velha. Melhor evitar danos maiores.

⸺ Vou descer aqui. ⸺ Parei em uma sombra. ⸺ Vou te guiar até a sua casa, depois te ajudo a descer e vou embora.

⸺ Não! ⸺ retrucou. ⸺ Você também está cansado.

Bateu os pés nos flancos de Arizona, incitando-a a continuar.

⸺ Tudo bem ⸺ aceitei. Primeiro, porque, no pouco tempo que tínhamos conversado, eu já havia percebido que não adiantava discutir com ela; segundo, porque, como ela mesma já tinha dito, eu também estava cansado.

⸺ É ali. ⸺ Apontou para um pequeno espaço aberto na cerca viva que rodeava o casarão e, se não fosse por ela dizer que ali havia uma falha nos arbustos, eu não teria notado. ⸺ Vamos rápido antes que alguém nos veja.

Porém não foi o que aconteceu e, assim que chegamos ao outro lado, nossos ouvidos foram alcançados por gritos histéricos.

⸺ AMIHA!! ⸺ O som alto assustou tanto a mim, como Arizona, e até mesmo ela. No entanto, enquanto uma voz era grossa e tinha um tom de desespero e alívio, a outra era de indignação.

⸺ Filha, o que aconteceu? ⸺ Um senhor, que eu imaginei ser seu pai, correu em nossa direção. Tirando-a de cima do cavalo, sentou-se com ela no chão, onde começou a examiná-la, em busca de mais ferimentos, além dos que já estavam à mostra. ⸺ Chamem o dr. Crum.

⸺ Amiha! ⸺ Um novo grito, e um garoto muito parecido com ela saiu correndo da casa e se ajoelhou ao seu lado, levando a mão à boca ao ver o estado em que ela se encontrava. ⸺ O que aconteceu?

⸺ Caí do Pequeno Demônio e parece que quebrei o braço ⸺ disse com valentia, apontando para a tala. ⸺ Mas papai já mandou chamar o doutor.

⸺ E como foi isso, filha ? ⸺ a senhora disse, olhando-a com aflição. Ao ouvi-la, eu não pude entender o porquê de ela querer encontrar primeiro com o pai, e não com a mãe.

Quando percebi que um círculo de funcionários já estava se formando ao nosso redor, dei alguns passos para trás, tentando sair do grupo e voltar para casa, já imaginando a dor da surra que com certeza iria levar. Se doía com a pele saudável, eu não fazia ideia de como seria com ela toda ardida.

⸺ Seu cavalo chegou há horas, filha. ⸺ A voz carinhosa do senhor Thompson soava rouca de preocupação. Aquele som fez com que eu parasse, era algo que não existia em meu cotidiano. ⸺ Conte para mim como foi que caiu.

⸺ Pequeno Demônio se assustou. ⸺ Fechou a cara com raiva. ⸺ Ele se assustou, como uma estúpida lesma covarde, me jogou longe e fugiu, me abandonando no meio do nada.

⸺ E como caiu? ⸺ a senhora voltou a inquirir. ⸺ Já que aprendeu a montar muito antes de caminhar.

⸺ Na verdade, a culpa foi minha ⸺ eu disse, pois sabia que era melhor dizer de cara. Se eles descobrissem depois, talvez o castigo fosse pior. ⸺ Não olhei meu caminho e meu cavalo quase se chocou com o dela.

⸺ E quem é você, garoto? ⸺ Dirigiu a mim o mesmo olhar de preocupação que dirigia à filha. ⸺ Sabe o que aprontaram? Todos os trabalhos da tarde foram interrompidos para sair em busca dessa pequena travessa. Por que não avisou o que tinha acontecido, Amiha? — concluiu, olhando para a filha com ternura.

⸺ É que meu celular ficou na mochila. ⸺ Mais uma vez, ela deu de ombros.

⸺ E você? ⸺ Seu dedo longo e enfeitado com anéis apontou em minha direção. ⸺ Por que não emprestou o seu para ela?

⸺ Eu sinto muito, senhora ⸺ balbuciei, aterrorizado.⸺ Mas eu não tenho um.

⸺ Pois não sinta. ⸺ Vindo em minha direção, fez menção de me tocar, porém parou. ⸺ O importante é que você a trouxe para casa.

⸺ Arora tem razão. ⸺ O senhor também olhou para mim. ⸺ Afinal, você trouxe nossa filha de volta.

Olhei para o senhor Thompson e pude pegar o sorriso de Amiha, encaixada em seu colo.

⸺ Mas ainda assim, mocinho ⸺ ela voltou a se dirigir a mim ⸺, deveria ser mais cuidadoso, sua falta de cuidado quase os matou.

⸺ A culpa foi minha também, mamãe ⸺ ela tentou me defender. Mais uma vez, eu tive que segurar minhas lágrimas, ela estava toda machucada, e era eu quem acabaria chorando, então engoli o choro. ⸺ Assim como ele, eu também estava galopando sem olhar meu caminho.

⸺ Duas crianças inconsequentes. ⸺ Mesmo com seu olhar severo direcionado a mim, sua voz era branda, preocupada. ⸺ Diga-me, menino, filho de quem você é, e eu mesma me encarregarei de agradecer aos seus pais por tê-la trazido para casa. Qual o seu nome?

⸺ Isaac, senhora. ⸺ Tremi, imaginando a dor das cintadas que viriam assim que ela contasse a ele o que eu havia aprontado. ⸺ Isaac Libourne, filho de Henry Libourne.

⸺ Libourne!? ⸺ Novamente os dois sons, agudo e grosso, porém ambos assustados e incrédulos, e naqueles poucos segundos, ao olhar para o senhor Thompson, pude pegar uma nuvem escura apagando o brilho dos seus olhos azuis, todavia logo desapareceu, e eu entendi o porquê.

⸺ Você é filho de Amélia ⸺ limpou a garganta ⸺, eu sinto muito por sua mãe, garoto.

⸺ Sim ⸺ afirmei ⸺, mas eu não tenho nenhuma lembrança dela.

⸺ Bom, Isaac ⸺ a senhora cutucou meu braço, me indicando o caminho da saída ⸺, pode ir agora, verei uma forma de recompensá-lo pelo que fez. Mas ainda assim eu o aconselho a ser mais cuidadoso.

⸺ Sim, senhora, não voltará a acontecer. ⸺ Com medo de que pudesse se arrepender de estar sendo tão gentil, apressei meus passos para sair do grupo e voltar para casa. Logo escureceria e eu já tinha minha surra garantida.

⸺ Garoto! ⸺ o pai de Amiha me chamou, se levantando e levando-a presa em seu pescoço. ⸺ O doutor já está vindo, acho melhor que ele dê uma olhada em você também.

⸺ Ah, eu ⸺ gaguejei, e só naquele momento lembrei que estava sem camisa ⸺, eu não me machuquei, senhor, apenas a senhorita Thompson caiu, eu não, agora, se me permite, tenho que voltar para casa, meu pai deve estar preocupado ⸺ terminei com uma mentira.

⸺ Viu? ⸺ A senhora colocou a mão em meu ombro, empurrou-me em direção à abertura no cerco. ⸺ Ele está bem, e seu pai, assim como nós, também está preocupado com ele.

⸺ Sim, preciso ir. ⸺ Apressei meus passos.

⸺ Isaac! ⸺ A voz firme do senhor Thompson fez com que eu parasse e desse a volta para vê-lo. ⸺ Vou pedir a alguém que avise a seu pai que você está aqui, está bem e que irá para casa assim que o doutor o examinar, agora venha.

Sem opção, o segui, e a casa, que eu já achava maravilhosa pelo lado de fora, claro, me deixou ainda mais encantado quando a vi por dentro. Na minha opinião, ela não era uma casa, e sim um castelo, tudo era grande, limpo, perfumado. Me senti completamente fora do lugar e ainda mais miserável, não apenas por estar cercado de todo aquele luxo, mas porque, enquanto eu seguia caminhando atrás do pai de Amiha, percebi que não me lembrava de algum dia ter sentido um abraço ou carinho do meu pai.

⸺ Ash! ⸺ Ele parou no final da escada. ⸺ Leve Isaac para tomar um banho e veja se encontra alguma roupa para que ele possa se trocar, depois disso leve-o até o escritório, vou esperar por ele lá.

⸺ Sim, papai ⸺ ele respondeu, me indicando o caminho.

⸺ Tchau, Isaac ⸺ Amiha disse, me olhando por cima do ombro do seu pai. ⸺ Obrigada!

Levantei minha mão e enviei a ela um sorriso, despedindo-me, pensativo, depois de tudo que ela tinha dito sobre a mãe, eu esperava que ela soltasse todos os cachorros em cima de mim, mas ela me tratou bem, diria eu que foi até carinhosa, parecia apenas um pouco mais rígida e severa que o seu pai. No fundo, ela me pareceu uma boa mãe, mesmo que eu não soubesse muito bem como deveria ser uma.

Ao entrar no quarto do irmão de Amiha, meu queixo novamente caiu, já que toda minha casa caberia dentro dele e ainda sobraria espaço.

⸺ Tome. ⸺ Ele estava ao meu lado, me entregando um conjunto de roupas dobradas, e eu, embobado como estava, sequer tinha percebido que ele tinha saído e voltado. ⸺ Acho que vão servir, pode ficar com elas, eu não as uso mais, ficaram pequenas para mim.

⸺ Obrigado. ⸺ Senti a suavidade do tecido perfumado. Por mais que ele tivesse dito que as roupas eram usadas, para mim eram novinhas e aquilo me fez repetir o agradecimento. ⸺ Obrigado.

⸺ Venha.

Ainda admirando tudo ao meu redor, o segui, quase tropeçando, até o banheiro. Depois de levar um tempo explicando o funcionamento das torneiras de água fria e quente e me entregar uma toalha, ele saiu e eu me dispus a me deliciar com meu banho em um banheiro de príncipe.

Porém não foi como eu esperava, o choque da água tocando minha pele me fez abafar um grito de dor. Eu não tinha percebido como estava queimado, Amiha tinha razão, eu não ia conseguir dormir nada à noite. Não tendo forma de aproveitar, apressei-me em terminar o mais rápido possível, antes de mais uma vez começar a chorar.

Desliguei a água e me sequei com um cuidado todo especial, já que cada toque era uma dor que eu recebia de volta. Peguei as roupas que eu tinha deixado sobre uma banqueta, vesti a cueca novinha, ainda na embalagem. Foi um alívio sentir o toque suave do algodão da camisa de manga longa sobre a pele ardida, o jeans parecia ter sido feito para mim, mesmo usado, parecia novo, não era como os meus, que, mesmo quando novos, tinham cara de usados, velhos e ásperos.

Completamente vestido e sentindo todo o corpo em chamas, tentei ajeitar meus cabelos passando várias vezes as mãos por eles para logo desistir, já que eles nunca ficavam como eu queria. Enrolei minha muda de roupa suja e, com ela em mãos, deixei o banheiro. Já de volta ao quarto, encontrei Ash sentado diante de uma mesa de escritório, concentrado em algo na frente dele. Aproximei-me para admirar, Amiha tinha razão, ele desenhava muito bem, percebi que algumas paredes do seu quarto estavam decoradas com seus desenhos.

⸺ Estou pronto, podemos ir? ⸺ Queria voltar para casa o quanto antes e tinha percebido que a tarde já estava indo embora.

⸺ Sim, vamos ⸺ assentiu, deixando o lápis e fechando o caderno no qual estava trabalhando, mas, assim como sua irmã, ele parou, me olhando, curioso. ⸺ O que aconteceu com seu rosto?

⸺ Ah ⸺ balbuciei, tomado pela surpresa ⸺, foi o tombo do cavalo menti de forma mecânica, já acostumado a sempre mentir, era uma defesa inútil que eu usava contra meu pai.

⸺ Pensei que somente Amiha tinha caído do cavalo ⸺ respondeu, olhando-me nos olhos e sabendo que o que eu havia dito era mentira. Ela tinha razão, eu devia mentir muito mal, talvez aquele fosse o motivo de tantas surras.

⸺ Vamos? ⸺ insisti, ele não precisava saber a verdade. ⸺ Seu pai deve estar esperando.

Ele tombou a cabeça para o lado, por um instante, apenas ficou quieto, como se não estivesse acostumado a não ter sua curiosidade saciada. Porém, depois de um tempo, decidiu me acompanhar e guardou o caderno que estava usando, assim como todos os demais itens. Só depois de deixar tudo organizado, se levantou e se dirigiu à porta.

⸺ Sim, vamos.

Descemos pela mesma escada, mas, em vez de seguir pelo caminho por onde havíamos entrado, ele seguiu por um longo corredor. Parou em frente a uma porta e deu pequenas batidas, entrando logo em seguida, sem esperar resposta. No entanto, quando vi um senhor todo de branco sentado em uma cadeira, conversando com o senhor Thompson, minha vontade foi de sair correndo.

⸺ Venha, Isaac. ⸺ O pai Amiha acenou, me chamando, enquanto se levantava da cadeira onde estava sentado, atrás da mesa do escritório, porém eu continuei parado, sem me mexer. ⸺ O doutor Crum não morde.

⸺ Eu já estou bem, senhor ⸺ respondi, dando dois passos para trás. ⸺ Só tenho que ir para casa.

Enganei-me ao pensar que ele não tinha notado meu pavor, pois, mesmo parecendo não perceber meu olhar de súplica, veio até onde estávamos parados.

⸺ Obrigado, Ash. ⸺ Colocando a mão sobre seu ombro, o empurrou com carinho para fora. ⸺ Mas já pode voltar para o que você estava fazendo.

Ouvi o barulho da porta se fechando em minhas costas, e mil coisas passaram por minha cabeça. O que será que iriam fazer comigo?

⸺ Venha, meu filho. ⸺ O toque suave e carinhoso em minha cabeça, junto com a palavra meu filho, quase foram demais, só não chorei porque tinha prometido a mim mesmo ser forte como Amiha. ⸺ Ele só vai dar uma olhada nessas queimaduras, apenas para ter certeza de que você está bem, antes de mandá-lo para casa.

⸺ Sim, venha, garoto. ⸺ O médico riu. ⸺ Como disse James, eu não mordo.

Ainda tremendo, mas confiando nas palavras de Amiha de que seu pai era uma boa pessoa, segui até parar em frente ao médico.

⸺ Bem, vamos tirar essa camisa e ver o estrago. ⸺ Quando sua mão veio em minha direção, eu pulei tão rápido para trás que teria caído contra os móveis, se o senhor Thompson não estivesse atrás de mim.

⸺ Calma. ⸺ Eu me sentia encurralado, o coração batia com tanta força que eu pressentia que em pouco segundos pararia, meus dedos se aferraram com força contra os botões. ⸺ Você nunca se consultou com um médico?

Neguei com a cabeça.

⸺ Ele não vai fazer nada, mas precisa que você tire a camisa para examiná-lo. ⸺ Ele sentou-se na ponta de um sofá na minha frente. ⸺ Faça o que ele pediu, prometo que não doerá e será rápido, não ficarei tranquilo se o mandar para casa sem que ele o veja.

Depois daquelas palavras, meus dedos trêmulos começaram a mexer nos botões e, um a um, os desabotoou. Retirei a peça, fechei meus olhos e fiquei parado em frente a ele, esperando seu escrutínio. A cada toque da sua mão fria sobre minha pele quente, eu tremia, e toda vez que ele perguntava sobre um dos tantos desenhos que cobriam meu corpo esquelético, eu respondia com um "caí da escada", "caí no banheiro", "bati contra a mesa" e, para cada mentira minha, ele assentia com um "uhum".

⸺ Posso ir? ⸺ perguntei ao terminar, pegando minha camisa de volta.

⸺ Não ⸺ ele respondeu, indo até sua valise. ⸺ Vou passar uma pomada para aliviar a dor, que com certeza você já deve estar sentindo, e vou dar também um comprimido analgésico e antifebril, você conseguiu fazer um bom estrago em seu corpo.

Sem esperar por uma resposta da minha parte, abriu a valise e retirou um pote de dentro dela, além de um pequeno envelope. Antes que eu pudesse reagir, ele já estava espalhando o unguento e, no mesmo instante, soltei o ar, aliviado com o frescor que foi tomando conta de cada lugar onde o remédio era colocado.

⸺ Obrigado ⸺ disse e pela primeira vez um sorriso se espalhou pelo meu rosto de forma instantânea. Devagar, vesti minha camisa, pensando apenas em chegar o mais rápido possível em casa. ⸺ Mas agora eu preciso ir, já é tarde.

⸺ Sim, mas leve a pomada e passe cada vez que arder, não se esqueça de tomar o remédio. ⸺ Colocou os dois produtos em minhas mãos, mas eu não tinha como pagar e muito menos podia pedir ao meu pai.

⸺ Ah, desculpe ⸺ eu empurrei de volta ⸺, mas eu não tenho dinheiro.

⸺ Leve o remédio, Isaac, você vai precisar dele. ⸺ Mais uma vez o senhor Thompson entrou na conversa, com um tom que eu já percebia que me acalmava e fazia com que eu me sentisse seguro.

⸺ Obrigado, senhor. ⸺ Pegando o pote e a pastilha, baixei minha cabeça, agradecendo, e fui em direção à porta.

⸺ Não se preocupe, só espere mais um pouco. ⸺ Ele levantou o tubo de um telefone que estava sobre mesa, disse algo que eu não consegui ouvir e desligou. ⸺ Antes vou conversar um pouco com o doutor e já te deixo ir, enquanto isso Ava o levará para fazer um lanche.

No primeiro momento, eu quis negar, porém a palavra lanche fez meu estômago roncar e percebi que estava apenas com o pão seco que tinha comido antes de ir para a escola.

⸺ Sim, senhor ⸺ respondi, feliz, e esperei.

Pouco depois, ouvimos batidas contra a madeira e em seguida uma senhora apareceu na porta.

⸺ Vamos, menino. ⸺ Ela tocou meu braço e me afastei. ⸺ Vou preparar algo bem gostoso para você.

⸺ Vá com ela, filho. ⸺ Mais uma vez, aquela palavra dita com carinho estava tendo o poder de fazer com que eu aceitasse tudo o que ele dizia. ⸺ Enquanto come, eu vou resolver alguns problemas aqui com o doutor e logo estarei com você.

Respondi com mais um "sim, senhor" e segui a senhora por um labirinto de corredores. À medida que avançávamos, o cheiro de limpeza ia mudando, dando lugar ao de comida e, quando entramos, percebi como meu mundo era pequeno. A cozinha não era apenas grande, limpa e brilhante, mas tinha o melhor cheiro de comida que eu já tinha sentido na vida.

Indicando-me um lugar onde me sentar, colocou um prato com fatias de pão em minha frente, junto com várias travessas com todos os tipos de recheios, e perguntou o que eu queria. Um pouco envergonhado, apontei para a carne fatiada, ela colocou e eu perguntei se podia colocar um pouco do queijo; quando ela respondeu dizendo que eu podia colocar tudo de que gostasse, eu exagerei. Quando meu sanduíche ficou pronto, eu olhei e preferia que ela não tivesse me dado tal liberdade.

Mesmo assim, comecei a comer como se nunca tivesse visto comida na minha frente, na realidade, isso não estava muito longe da verdade, aquele tipo de comida eu nunca tinha visto mesmo. Mas a senhora não parecia satisfeita e, antes que eu terminasse, deixou em frente a mim uma garrafinha de Coca-Cola eu nunca tinha tomado uma e uma porção de fatia de caramelo, que apenas ao vê-la eu quase enlouqueci. Um pensamento passou pela minha cabeça, pensei que depois de comer todas aquelas gostosuras eu até poderia aguentar uma surra feliz. Ainda assim, com cuidado, dividi a porção em duas partes e comecei a embrulhar uma delas com o guardanapo de papel que estava sobre a mesa.

⸺ Vai guardar para depois? ⸺ Levei um susto com a voz do senhor Thompson, não o tinha visto entrar. ⸺ Se gostou, Ava pode preparar outra para viagem.

— Como a senhorita Amiha está? — perguntei por ela sem responder sua pergunta, mesmo com medo de levar uma bronca. — Ela vai ficar bem?

— Sim — respondeu, ainda olhando para o meu prato. — O doutor já a medicou. Obrigado mais uma vez por trazê-la para casa, em segurança. E o bolo, separou para quem?

⸺ É para o meu pai. ⸺ Baixei a cabeça, envergonhado, quando vi seus olhos azuis se escurecendo, passando para um tom quase negro. ⸺ Achei que ele iria gostar, me desculpe.

Quando pensei que levaria uma bronca por estar afanando, ele simplesmente continuou me olhando com a respiração pesada, como se estivesse se segurando para não brigar comigo.

⸺ Tudo bem, leve esse pedaço para ele, e Ava irá separar outra porção para você. ⸺ Cruzou os braços em frente ao corpo, esperando que eu terminasse de comer o que estava no prato.

⸺ Obrigado, senhora Ava ⸺ disse, levando meu prato sujo até a pia ⸺ e obrigado também, senhor Thompson.

⸺ Se terminou, venha que eu vou levá-lo para casa. ⸺ Aquela notícia me deixou gelado.

⸺ Senhor ⸺ disse, parando onde estava ⸺, se me disser onde está minha égua, eu posso voltar sozinho.

⸺ Sua égua já está no estábulo, amanhã alguém irá levá-la até sua casa. Hoje eu o levarei.

Ouvindo a firmeza em sua voz, eu sabia que não tinha como fazê-lo mudar de ideia, então o segui. Subi no banco do passageiro que ele me indicou, no carro que já estava parado em frente à casa. Era o veículo mais lindo que eu já tinha visto, porque subir mesmo era o primeiro. Retraí-me quando ele de repente se inclinou em minha direção, porém tudo que fez foi puxar o cinto e me prender ao banco. Nos primeiros minutos, meu medo era tanto que eu estava praticamente congelado no assento. No entanto, pouco a pouco, mesmo com ele dirigindo sério e calado durante todo o caminho, eu fui relaxando e pude começar a apreciar o curto passeio.

⸺ Obrigado por me trazer, senhor ⸺ falei, indicando qual era a minha casa.

Ela era uma das mais feias do lugar e aquilo me deixou mais uma vez envergonhado, já que a maioria, mesmo que fossem todas iguais, era bem-cuidada, com plantas e jardins; a nossa, no entanto, parecia abandonada. Quando fiz menção de descer, ele me ignorou e abriu a porta do lado oposto ao meu, saiu e ficou parado, olhando para ela com as mãos nos quadris. Quando pensei que ele iria me dizer "já está entregue", ele se virou para mim, com a cara séria.

⸺ Espere um pouco aqui, filho, enquanto eu tenho uma conversa com seu pai.

Ele entrou e eu fiquei ali parado no meio da ruela escura e empoeirada, esperando, não sabia o que conversavam, ou o que decidiam ao certo. Depois que ele se foi, eu ainda fiquei um bom tempo sem ter coragem para entrar, já que não sabia até que ponto sua vinda à minha casa e a conversa entre eles teria piorado minha situação. Naquele momento, eu imaginava que nem a porção da fatia de caramelo que eu tinha trazido, na tentativa de amolecê-lo, atenuaria a raiva com que seria surrado.

Entretanto, meu medo foi em vão, depois de vários minutos e sem ter mais nenhuma desculpa, respirei fundo, criando coragem. Entrei, no entanto, nada aconteceu, ele sequer se dignou a me olhar, apenas seguiu com o maxilar trincado e os olhos vidrados nos canais à sua frente, como se estivesse em transe. No dia seguinte, novamente esperei pelos socos, cintadas e pontapés, o que mais uma vez não aconteceu. Com o passar dos dias, fui relaxando, semanas, meses se passaram até eu ter certeza de que não voltaria a acontecer.

Eu nunca soube que tipo de conversa ele teve com o médico dentro das portas fechadas do escritório, ou com o meu pai, já que não me atrevi a perguntar. Mas, com os anos passados e já adulto, entendi que aqueles poucos minutos tiveram uma grande influência em meu futuro. Sempre quis saber o que o senhor Thompson disse a ele para que as surras parassem, porém nunca tive coragem de perguntar.

No entanto, a mão, a cinta e os outros objetos que ele usava para me agredir foram trocados apenas pela boca. A voz não deixava vestígios em meu corpo, todavia eram marcas indeléveis, deixadas de forma ainda mais profunda, já que alcançavam a alma, um lugar onde ninguém podia ver. Quando ele percebeu que palavras bem usadas feriam muito mais que as fivelas dos cintos, as usou com ainda mais sanha. Todavia, eu ainda tinha meu refúgio, e ele se encontrava nos olhos de Amiha, que era para onde eu fugia cada vez que novas feridas eram abertas.

****

⸺ Vá. ⸺ Ouvi mais uma vez que James insistia.

Eu queria ir, sabia que deveria ir, que ele tinha razão, era o melhor para nós dois, mas minhas pernas não se moviam, e eu fiquei ali assistindo ao passado voltando, vindo em minha direção para me dizer que estava tudo errado, que não podia ser ou não precisava ser da forma que foi. Todavia, somente eu sabia que não importava o quanto nosso amor fosse lindo, ele sempre seria feio, destrutivo e, ainda que eu sofresse, sangrasse por dentro, eu a protegeria de ver toda a sordidez que vivemos, eu a deixaria apenas com as lembranças puras do tempo inocente que tínhamos vivido.

⸺ Isaac? ⸺ O timbre que dançava em meu passado era firme, porém doce e alegre, mas, naquele momento, sua voz soava fria, ríspida e ácida. ⸺ Como vai?

😥😥😥

Então meninas, o que estão achando?

gostaram de saber um pouco do que sofreu nosso mocinho. 

E nossa Amiha, desde cedo, forte, decidida, alegre,  parece que não condiz com essa que começou a história, não? 

Se gostaram, antes de sair deixe uma estrelinha para mim, não custa nada para você, mas me ajuda muito, além de que, me deixa super feliz e agradecida.

🍰

1] A fatia de caramelo crocante é constituída de uma base de shortbread,(Bolo seco). Aparentando ser um biscoito denso, com uma espessa camada de caramelo amanteigado e coberto com uma camada de chocolate.



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